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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 10, 2012

A cachoeira pode se transformar em tsunami

Espera-se, para as próximas horas, a libertação do mafioso Carlinhos Cachoeira, que mandava no governo de Goiás, presenteava senadores, controlava delegados e era um doador universal da política. O pânico: ele pode ter feito acordo de delação premiada para reduzir sua pena
247 – O pedido de habeas corpus já foi apresentado pelo advogado Ricardo Sayeg, que defende o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Nele, sugere-se que o mafioso deixe a prisão de segurança máxima onde se encontra, em Mossoró (RN), e passe a ser monitorado por tornezeleira eletrônica, em prisão domiciliar. Em Goiânia, dá-se como líquido e certo que o bom amigo de todos os políticos goianos voltará para casa neste sábado. Já estão até sendo preparadas faixas para esperá-lo no aeroporto.
Ocorre que a cachoeira de lama em Goiás tem tudo para se transformar numa tsunami – exatamente um ano depois da tragédia de Fukushima. Isso porque se especula que ele tenha feito um acordo de delação premiada, que permite a redução de até dois terços da pena. Se isso for verdade, Cachoeira terá seguido o exemplo de outro homem-bomba que foi capaz de abalar um governo: o policial Durval Barbosa, que era um dos maiores corruptores de Brasília, mas se encontra em liberdade por ter aberto as comportas da Operação Caixa de Pandora.
Sem a delação premiada, Cachoeira corre o risco de passar o resto da vida atrás das grades. As acusações que pesam com ele vão de formação de quadrilha a corrupção ativa, passando por espionagem clandestina e exploração ilegal do jogo. Prato cheio para uma condenação exemplar, que poderia mantê-lo preso pelo resto da vida. Num cenário de delação, o quadro seria outro. E eis algumas dúvidas que ele poderia esclarecer:
- Quais foram os nomes de todos os delegados indicados por ele na polícia militar de Goiás?
- Como foi sua participação na campanha que elegeu o governador tucano Marconi Perillo?
- Qual foi o material preparado pelo sargento Idalberto Martins, vulgo Dadá, na campanha eleitoral de Perillo?
- Quais são suas relações com o senador Demóstenes Torres (DEM/GO) e que assuntos foram tratados nas 298 ligações telefônicas?
- Por que decidiu presentear o senador com uma cozinha completa avaliada em R$ 47 mil?
- Quais foram os políticos, de todos os partidos, que receberam doações, por dentro e por fora, de suas empresas?
- Qual é sua relação com a Delta Engenharia e por que tinha livre acesso ao caixa da empreiteira em Goiás? Havia alguma sociedade?
- Qual é a sua relação com o delegado e deputado Protógenes Queiroz (PC do B) e como foram seus encontros, com a presença do sargento Dadá?
Por essas e outras, já dá para imaginar o pânico que a eventual soltura de Carlinhos Cachoeira provoca nos meios políticos.
E não apenas de Goiás.

Documentos da Delta tiram sono de Perillo e Demóstenes

Material colhido durante a Operação Monte Carlo na sede de construtora de Fernando Cavendish (centro), onde Carlinhos Cachoeira dava expediente, ainda pode comprometer tanto o governador de Goiás quanto o senador do DEM

247 - Carlinhos Cachoeira fazia da sede da Delta Construções, de Fernando Cavendish, em Goiânia, seu escritório. Seu lugar-tenente, Wladmir Garcez, também despachava de lá. O diretor regional da Delta, Cláudio Abreu, era sócio de Cachoeira em diversos negócios, pegava dinheiro graúdo do esquema (remessas R$ 400 mil) e negociava apoios com o “abre-portas” dele. Tudo isto já foi revelado pela Polícia Federal.
O que não se sabe ainda é o teor dos registros eletrônicos e documentos que a PF colheu na sede da empresa. Foram computadores portáteis, papéis, pendrives e outras coisas que interessaram aos investigadores.
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Mais:
http://brasil247.com/pt/247/poder/46672/Documentos-da-Delta-tiram-sono-de-Perillo-e-Demóstenes.htm

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