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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, setembro 05, 2014

Leonardo Boff, sobre Marina: “Pobres perderam uma aliada e os opulentos ganharam uma legitimadora”


leonardoboff1
por Conceição Lemes
Leonardo Boff é um dos mais brilhantes e respeitados intelectuais do Brasil. Teólogo, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação. Ficou conhecido pela sua história de defesa intransigente das causas sociais. Atualmente dedica-se sobretudo às questões ambientais.
Ele conhece Marina Silva, candidata do PSB à Presidência da República, desde os tempos em que ela atuava no  Acre e estava muito ligada à Teologia da Libertação. Acompanhou toda a sua trajetória.
Em 2010, chegou a sonhar com uma representante dos povos da floresta, dos caboclos, dos ribeirinhos, dos indígenas, dos peões vivendo em situação análoga à escravidão,  chegar a presidente do Brasil. Hoje, não.
“Está ficando cada vez mais claro que Marina tem um projeto pessoal de ser presidente, custe o que custar”, observa Boff em entrevista exclusiva ao Viomundo.
Para Boff, Marina acolheu plenamente o receituário neoliberal. 
“Ela o diz com certo orgulho inconsciente, sem dar-se conta do que isso realmente significa: mercado livre, redução dos gastos públicos (menos médicos, menos professores, menos agentes sociais etc), flutuação do dólar e contenção da inflação com a eventual alta de juros”, alerta.  “Como consequência, arrocho salarial, desemprego, fome nas famílias pobres, mortes evitáveis. É o pior que nos poderia acontecer. Tudo isso vem sob o nome genérico de ‘austeridade fiscal’ que está afundando as economias da zona do Euro”.
Sobre a  autonomia do Banco Central prevista no programa de Marina, Boff detona:  “Acho uma falta total de brasilidade. Significa renunciar à soberania monetária do país e entregá-la ao jogo do mercado, dos bancos e do sistema financeiro capitalista nacional e transnacional. A forma como o capital se impõe é manter sob seu controle os Bancos Centrais dos países”.
Veja a íntegra da nossa entrevista. Nela, Leonardo Boff aborda o  recuo de Marina em relação à criminalização da homofobia, a sua trajetória religiosa, a influência de Silas Malafaia, Neca Setúbal (Banco Itaú), Guilherme Leal (Natura) e do economista neoliberal Eduardo Gianetti da Fonseca. Também a autonomia formal do Banco Central e o risco de ela sofrer impeachment.
Viomundo — Na última sexta-feira, Marina lançou o seu programa de governo, que previa o reconhecimento da união homoafetiva e a criminalização da homofobia. Bastou o pastor Malafaia tuitar quatro frases para ela voltar atrás. O que achou dessa postura? É cristão não criminalizar a homofobia, que frequentemente provoca assassinatos?
Leonardo Boff — Está ficando cada vez mais claro que Marina tem um projeto pessoal de ser presidente, custe o que custar. Numa ocasião, ela chegou a declarar que um dos objetivos desta eleição é tirar o PT do poder, o que faz supor mágoas não digeridas contra o PT que ajudou a fundar.
O Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus à qual Marina pertence, é o seu Papa. O Papa falou, ela, fundamentalisticamente obedece, pois vê nisso a vontade de Deus. E, aí, muda de opinião. Creio que não o faz por oportunismo político, mas por obediência à autoridade religiosa, o que acho, no regime democrático, injustificável.
Um presidente deve obediência à Constituição e ao povo que a elegeu e não a uma autoridade exterior à sociedade.
Viomundo — Qual o risco para a democracia brasileira de alguém na presidência estar submissa a visões tão retrógradas em pleno século XXI, ignorando os avanços, as modernidades?
Leonardo Boff — Um fundamentalista é um dos atores políticos menos indicado  para exercer o cargo da responsabilidade de um presidente. Este deve tomar decisões dentro dos parâmetros constitucionais, da democracia e de um estado laico e pluralista. Este tolera todas as expressões religiosas, não opta por nenhuma, embora reconheça o valor delas para a qualidade ética e espiritual da vida em sociedade.
Se um presidente obedece mais aos preceitos de sua religião do que aos da Constituição, fere a democracia e entra em conflito permanente com outros até de sua base de sustentação, pois os preceitos de uma religião particular não podem prevalecer sobre a totalidade da sociedade.
A seguir estritamente nesta linha, pode acontecer um impeachment à Marina, por inabilidade de coordenar as tensões políticas e gerenciar conflitos sempre presentes em sociedades abertas.
 Viomundo — Lá atrás Marina Silva esteve ligada à Teologia da Libertação. Atualmente, é da Assembleia de Deus. O que o senhor diria dessa trajetória religiosa? O que representa essa guinada para o conservadorismo exacerbado?
Leonardo Boff – Respeito a opção religiosa de Marina bem como de qualquer pessoa. Eu a conheço do Acre e ela participava dos cursos que meu irmão teólogo Frei Clodovis (trabalhava 6 meses na PUC do Rio e 6 meses na igreja do Acre) e eu dávamos sobre Fé e Política e sobre Teologia da Libertação.
Aqui se falava da opção pelos pobres contra a pobreza, a urgência de se pensar e criar um outro tipo de sociedade e de país, cujos principais protagonistas seriam as grandes maiorias pobres junto com seus aliados, vindos de outras classes sociais. Marina era uma liderança reconhecida e amada por toda a Igreja.
Depois, ao deixar o Acre, por razões pessoais, converteu-se à Igreja Assembleia de Deus. Esta se caracteriza por um cristianismo fundamentalista, pietista e afastado das causas da pobreza e da opressão do povo. Sua pregação é a Bíblia, preferentemente o Antigo Testamento, com uma leitura totalmente descontextualizada daquele tempo e do nosso tempo. Como fundamentalista é uma leitura literalista, no estilo dos muçulmanos.
Politicamente tem consequências graves: Marina pôs o foco no pietismo e no fundamentalismo, na vida espiritual descolada da história presente e quase não fala mais da opção pelos pobres e da libertação. Pelo menos não é este o foco de seu discurso.
A libertação para ela é espiritual, do pecado e das perversões do mundo. Com esse pensamento é fácil ser capturada pelo sistema vigente de mercado, da macroeconomia neoliberal e especulativa.
Isso é inegável, pois seus assessores são desse campo: a herdeira do Banco Itaú Maria Alice (Neca), Guilherme Leal da Natura e o economista neoliberal Eduardo Gianetti da Fonseca. Os pobres perderam uma aliada e os opulentos ganharam uma legitimadora.
E eu que em 2010 sonhava com uma representante dos povos da floresta, dos caboclos, dos ribeirinhos, dos indígenas, dos peões vivendo em situação análoga à escravidão, dos operários explorados das grandes fábricas, dos invisíveis, alguém que viria dos fundos da maior floresta úmida do mundo, a Amazônia, chegar a ser presidente de um dos maiores países do mundo, o Brasil?! Esse sonho foi uma ilusão que faz doer até os dias de hoje. Pelo menos vale como um sonho que nunca morre!
Viomundo — O programa de Marina prevê autonomia ao Banco Central. O que acha dessa medida?
Leonardo Boff — Eu me pergunto, autonomia de quem e para quem?
Acho uma falta total de brasilidade. Significa renunciar à soberania monetária do país e entregá-la ao jogo do mercado, dos bancos e do sistema financeiro capitalista nacional e transnacional. Um presidente/a é eleito para governar seu povo e um dos instrumentos principais é o controle monetário que assim lhe é subtraído. Isso é absolutamente antidemocrático e comporta submissão à tirania das finanças que são cada vez mais vorazes, pondo países inteiros à falência como é o caso da Grécia, da Espanha, da Itália, de Portugal e outros.
Viomundo — Essa medida expressa a influência de Neca Setúbal, herdeira do Itaú, no seu futuro governo?
Leonardo Boff — Quem controla a economia controla o país, ainda mais que vivemos numa sociedade de “Grande Transformação” denunciada pelo economista húngaro-americano Karl Polaniy ainda em 1944 quando, como diz, passamos de uma sociedade com mercado para uma sociedade só de mercado. Então tudo vira mercadoria, inclusive as coisas mais sagradas como água, alimentos, órgãos humanos.
A forma como o capital se impõe é manter sob seu controle os Bancos Centrais dos países. A partir desse controle, estabelecem os níveis dos juros, a meta da inflação, a flutuação do dólar e a porcentagem do superávit primário (aquela quantia tirada dos impostos e reservada para pagar os rentistas, aqueles que emprestaram dinheiro ao governo).
Os bancos jogam um papel decisivo, pois é através deles que se fazem os repasses dos empréstimos ao governo e se cobram juros pelos serviços. Quanto maior for o superávit primário a alíquota Selic mais lucram. Pode ser que a citada Neca Setúbal tenha tido influência para que a candidata Marina acreditasse neste receituário, velho, antipopular, danoso para as grandes maiorias, mas altamente benéfico para o sistema macroeconômico vigente.

Viomundo — As avaliações feitas até agora mostram que o programa econômico de Marina é o mesmo de Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência. São neoliberais. O que representaria para o Brasil o retorno a esse modelo? O senhor acha que, se eleita, o governo Marina teria conotações neoliberais?

Leonardo Boff — Marina acolheu plenamente o receituário neoliberal. Ela o diz com certo orgulho inconsciente, sem dar-se conta do que isso realmente significa: mercado livre, redução dos gastos públicos (menos médicos, menos professores, menos agentes sociais etc), flutuação do dólar e contenção da inflação com a eventual alta de juros.
Como consequência, arrocho salarial, desemprego, fome nas famílias pobres, mortes evitáveis. É o pior que nos poderia acontecer. Tudo isso vem sob o nome genérico de “austeridade fiscal” ,que está afundando as economias da zona do Euro e não deram certo em lugar nenhum do mundo, se olharmos a política econômica a partir da maioria da população. Dão certo para os ricos que ficam cada vez mas ricos, como é o caso dos EUA onde 1% da população ganha o equivalente ao que ganham 99% das pessoas. Hoje os EUA são um dos países mais desiguais do mundo.
Viomundo – Foi amplamente divulgado que Marina consulta a Bíblia antes de tomar decisões complexas. Esta visão criacionista do mundo é compatível com um mundo laico?
Leonardo Boff — O que Marina pratica é o fundamentalismo. Este é uma patologia de muitas religiões, inclusive de grupos católicos. O fundamentalismo não é uma doutrina. É uma maneira de entender a doutrina: a minha é a única verdadeira e as demais estão erradas e como tais não têm direito nenhum.
Graças a Deus que isso fica apenas no plano das ideias. Mas facilmente pode passar para o plano da prática. E, aí, se vê evangélicos fundamentalistas invadirem centros de umbanda ou do candomblé e destruírem tudo ou fazerem exorcismos e espalharem sal para todo canto. E no Oriente Médio fazem-se guerras entre fundamentalistas de tendências diferentes com grande eliminação de vidas humanas como o faz atualmente o recém-criado Estado Islâmico. Este pratica limpeza étnica e mata todo mundo de outras etnias ou crenças diferentes das dele.
Marina não chega a tanto. Mas possui essa mentalidade teologicamente errônea e maléfica. No fundo, possui um conceito fúnebre de Deus. Não é um Deus vivo que fala pela história e pelos seres humanos, mas falou outrora, no passado, deixou um livro, como se ele nos dispensasse de pensar, de buscar caminhos bons para todos.
O primeiro livro que Deus escreveu são a criação e a natureza. Elas estão cheias de lições. Criou a inteligência humana para captarmos as mensagens da natureza e inventarmos soluções para nossos problemas.
A Bíblia não é um receituário de soluções ou um feixe de verdades fixadas, mas uma fonte de inspiração para decidirmos pelos melhores caminhos. Ela não foi feita para encobrir a realidade, mas para iluminá-la. Se um fundamentalista seguisse ao pé da letra o que está escrito no livro Levítico 20,13 cometeria um crime e iria para a cadeia, pois aí se diz textualmente:  “Se um homem dormir com outro, como se fosse com mulher, ambos cometem grave perversidade e serão punidos com a morte: são réus de morte”.
Viomundo — Marina fala em governar com os melhores. É possível promover inclusão social, manter políticas que favorecem os mais pobres com uma política econômica neoliberal?
Leonardo Boff — Marina parece que não conhece a realidade social na qual há conflitos de interesses, diversidade de opções políticas e ideológicas, algumas que se opõem completamente às outras.
Lendo o programa de governo do PSB de Marina parece que fazemos um passeio ao jardim do Éden. Tudo é harmonioso, sem conflitos, tudo se ordena para o bem do povo. Se entre os melhores estiver um político, para aceitar seu convite, deverá abandonar seu partido e com isso, segundo a atual legislação, perderia o mandato.
Ela necessariamente, se quiser governar, deverá fazer alianças, pois temos um presidencialismo de coalizão. Se fizer aliança com o PMDB deverá engolir o Sarney, o Renan Calheiros e outros exorcizados por Marina. Collor tentou governar com base parlamentar exígua e sofreu um impeachment.
Viomundo — Marina é preparada para presidir um país tão complexo como o Brasil?
Leonardo Boff — Eu pessoalmente estimo sua inteireza pessoal, sua visão espiritualista (abstraindo o fundamentalismo), sua busca de ética em tudo o que faz. Estimo a pessoa,  mas questiono o ator político. Acho que não tem a inteligência política para fazer as alianças certas. O presidente deve ser uma pessoa de síntese, capaz de equilibrar os interesses e resolver conflitos para que não sejam danosos e chegar a soluções de ganha-ganha. Para isso precisa-se de habilidade, coisa que em Lula sobrava. Marina, por causa de seu fundamentalismo, não é uma pessoa de síntese,  mas antes de divisão.
Viomundo — A preservação efetiva do meio ambiente é compatível com o capitalismo selvagem dos neoliberais?
Leonardo Boff — Entre capitalismo e ecologia há uma contradição direta e fundamental. O capitalismo quer acumular o mais que pode sem qualquer consideração dos bens e serviços limitados da Terra e da exploração das pessoas. Onde ele chega, cria duas injustiças: a social, gerando muita pobreza de um lado e grande riqueza do outro; e uma injustiça ecológica ao devastar ecossistemas e inteiras florestas úmidas.
Marina fala de sustentabilidade, o que é correto. Mas deve ficar claro que a sustentabilidade só é possível a partir de outro paradigma que inclui a sustentabilidade ambiental, político-social, mental e integral (envolvendo nossa relação com as energias de todo o universo).
Portanto, estamos diante de uma nova relação para com a natureza e a Terra, onde as medidas econômicas preconizadas por Marina contradizem esta visão. Temos que produzir, sim, para atender demandas humanas, mas produzir respeitando os limites de cada ecossistema, as leis da natureza e repondo aquilo que temos demasiadamente retirado dela.
Marina quer a produção sustentável, mas mantém a dominação do ser humano sobre a natureza. Este está dentro da natureza, é parte dela e responsável por sua conservação e reprodução, seja como valor em si mesmo, seja como matriz que atende nossas necessidades e das futuras gerações.
Ocorre que atualmente o sistema está destruindo as bases físico-químicas que sustentam a vida. Por isso, ele é perigoso e pode nos levar a uma grande catástrofe. E com certeza os que mais sofrerão, serão aqueles que sempre foram mais explorados e excluídos do sistema. Esta injustiça histórica nós não podemos aceitar e repetir.
*Viomundo

ONU é só elogios ao Brasil em relatório internacional


Sobram elogios ao país no relatório da ONU sobre desenvolvimento humano. Brasil virou sinônimo de combate bem sucedido à pobreza, mostram trechos selecionados


 
Buda Mendes/Getty Images
Jovem faz embaixadinhas com bola de futebol em frente a muro com pintura da bandeira do Brasil, em favela do Rio de Janeiro
Garoto faz embaixadinha no Rio: relatório da ONU exalta transferência de renda no Brasil
São Paulo – Não é de hoje que a Organização das Nações Unidas tem a mania de enfocar o lado positivo e os bons exemplos dos países que aparecem em seus relatórios de análises globais, principalmente quando se trata do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado hoje (veja na íntegra ao final).
Desta vez, porém, fica explícito que o Brasil virou, aos olhos dos organismos internacionais, sinônimo de país que combate a pobreza e mira as desigualdades sociais.
O destaque é mesmo o programa Bolsa Família, citado sete vezes ao longo do relatório como exemplo bem sucedido de transferência de renda. Mas há um debate interno na ONU sobre suas qualidades.
Não só isso: também a política de cotas nas universidades e a evolução do acesso à educação ganham linhas elogiosas - e por vezes pouco críticas, vale destacar.
Tendo como fonte principal estudos e trabalhos acadêmicos, o relatório produzido pelos analistas da ONU pode parecer, aos olhos nacionais, pouco realista em alguns momentos.
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), por exemplo, aparece como uma associação civil autônoma de partidos políticos com peso educacional na luta do Brasil para ensinar crianças a ler e escrever (conferir 9º item desta lista).
A finalidade do “Human Development Report 2014”, segundo a ONU, é mostrar como países podem se fortalecer para estarem prontos diante de crises inesperadas, principalmente do ponto de vista social.
Neste ano, o Índice de Desenvolvimento Humano trouxe uma leve melhora do Brasil, que subiu uma posição e ficou em 79º lugar dentre 187 nações.
Confira abaixo as nove vezes em que o país aparece com destaque no relatório de 239 páginas, com os respectivos trechos.
1ª) Programas sociais em países não ricos
Trechos: "Um equívoco comum é que apenas os países ricos podem pagar por proteção social ou por serviços básicos universais. Como este relatório documenta, a evidência vai no sentido contrário."
“Veja o ‘Bolsa de Apoio à Criança’, da África do Sul, que custou 0,7 por cento do PIB em 2008-2009 e reduziu a taxa de pobreza infantil de 43 para 34%. Ou o programa Bolsa Família, do Brasil, que custou 0,3% do PIB em 2008-2009 e foi responsável por 20-25% da redução da desigualdade."
2ª) A importância de olhar o IDH sob o prisma da desigualdade
Trecho: “Outra forma de avaliar o progresso é acompanhar o crescimento do consumo para os 40% mais pobres da população. Por essa medida, alguns países têm se saído bem. Na Bolívia, Brasil e Camboja o crescimento do consumo para os 40% mais pobres tem sido mais rápido do que para a população como um todo."
3ª) Capacidade de proteger a população mais pobre  em épocas de crise 
Trechos: “Choques persistentes precisam de determinadas políticas públicas de longo prazo, mas sistemas de resposta podem facilitar melhores ajustes de curto prazo a eventos adversos de forma a minimizar os impactos de longo prazo”.
“Veja a iniciativa do Bolsa Família, um programa de transferência de renda que tem como objetivo minimizar os adversos impactos de longo prazo mantendo as crianças na escola e protegendo a saúde delas." 
"O impacto de um aumento acentuado dos preços dos alimentos em 2008, após a crise financeira global, foi atenuado com transferências mais elevadas."
4ª) Como fortalecer a proteção social
Trechos: “O Bolsa Família, no Brasil, e o Oportunidades, no México, são outros exemplos de políticas ganha-ganha. (...) Enquanto emergem arranjos mais abrangentes de proteção social, os programas de transferência de renda podem ser viáveis em termos de orçamento e infra-estrutura social”.
“Parte do sucesso desses programas é que eles são projetados para proteger capacidades. Além disso, eles podem ser rapidamente usados para mitigar as consequências adversas de um choque de curto prazo, como uma recessão súbita ou aumento do preço dos alimentos, como no Brasil após a crise de 2008”.
“As exibições de resiliência social no Brasil e na Tailândia se apoiam na apresentação de medidas de curto prazo para complementar as políticas de longo prazo”.
5ª) Ação de governos para reduzir a pobreza
Trechos: “Governos geram apoio político para ações públicas contra a pobreza ao criar um clima favorável para ações pró-pobres, o que facilita o crescimento de associações da população pobre e aumenta a capacidade política desta”.
“Tais movimentos sociais e ativismo político impulsionaram o partido no governo do Brasil a empreender políticas pró-pobres e ajudou a definir a agenda para a liderança política no pós-apartheid da África do Sul.”
6ª) Desigualdade racial e inclusão social
Trechos: “Brasil está tentando reduzir as disparidades raciais para sua população afro-brasileira e mestiça, que constitui mais de metade dos seus 200 milhões de pessoas, através da implementação de políticas de ação afirmativa na educação."
“Em agosto de 2012, aprovou-se uma lei determinando cotas para a entrada preferencial para estudantes afro-brasileiros e mestiços, proporcional ao seu peso na população local (por exemplo, 80% no estado da Bahia, no Nordeste, e 16% em Santa Catarina, no Sul), em 59 universidades federais do país e 38 escolas técnicas federais." 
"Em 1997, 2,2% dos estudantes pretos ou mestiços com idades entre 18-24 estavam em universidades; em 2012, 11%."

7ª) A participação civil nas decisões públicas
Trecho: “Pessoas se mobilizam, mesmo em face de desafios insuperáveis e de desigualdade, para melhorar a situação e fazer as instituições mais relevantes às suas necessidades. (...) Novas formas de ação coletiva e novas energias cívicas agora se engajam politicamente a nível local – como os processos de orçamento participativo em Porto Alegre, no Brasil, ou o Ato de Direito à Informação na Índia”.
8ª) Construindo um país preparado para adversidades
Trechos: “O Brasil embarcou em seu desenvolvimento e consolidação democrática com um cenário de desigualdade racial e divisões étnicas. O governo implementou um conjunto de intervenções políticas destinadas a impulsionar o mercado de trabalho, tendo como alvo os gastos do governo e transferências de renda, ampliando o ensino primário universal e corrigindo as disparidades raciais e de gênero."
“A mortalidade infantil foi reduzida quase pela metade entre 1996 e 2006, e a proporção de meninas na escola primária aumentou de 83% para 95% por cento entre 1991 e 2004." 
"Os esforços do Brasil para reduzir sua desigualdade de longa data, promovendo aredistribuição de renda e de acesso universal à educação, saúde, abastecimento de água e saneamento também melhoraram a nutrição infantil, o que resultou em uma grande redução na desnutrição de crianças entre os 20% mais pobres da população."
9ª) Associações civis e governabilidade
Trechos: “Ao longo destes esforços, a sociedade civil brasileira permaneceu autônoma dos partidos políticos, tendo promovido uma série de instituições participativas e processos que influenciam a política pública e permitem controlar os resultados locais do aparato estatal."
“O Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, com cooperativas que organizaram assentamentos em terras desapropriadas para cerca de um milhão de famílias, com centenas de escolas construídas pelo MST, permitiram dezenas de milhares de pessoas a aprender a ler e escrever."
”O apoio do MST foi fundamental para levar o Partido dos Trabalhadores ao poder em 2002, o que levou a uma maior despesa com serviços básicos, transferências de renda e ampliação do acesso à educação. O coeficiente de Gini de desigualdade caiu de 0,59 em 2001 para 0.53, em 2007."
- EXAME.com

quinta-feira, setembro 04, 2014

Reportagem maliciosa da Veja pode resultar em indenização de R$ 1 milhão

Reprodução
Revista editada pela Editora Abril distorceu entrevistas de antropólogos para tentar provar sua tese de que demarcações não têm rigor. MPF vê promoção da “discriminação contra minorias étnicas”
01/09/2014
Por Daniela Silveira,
Reportagem maliciosa da revista Veja pode resultar em indenização de R$ 1 milhão por danos morais coletivos. O Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação civil pública contra a Editora Abril, responsável pela publicação, devido a matéria discriminatória sobre populações indígenas e quilombolas.
Em 2010 a revista Veja publicou reportagem com o título “A farra da antropologia oportunista”, que caracterizava a criação de novas reservas como fruto do conchavo entre ativistas que tirariam proveito das demarcações. De acordo com a matéria, agentes públicos e antropólogos que analisam as áreas para reserva não teriam nenhum rigor científico, mas simplesmente viés ideológico de esquerda.
A procuradora autora da ação, Suzana Fairbanks Oliveira Schnitzlein, afirmou que “declarações de cunho racista e que promovem a discriminação contra minorias étnicas não podem ser toleradas a pretexto de liberdade de expressão/imprensa”.
O MPF aponta a utilização de vários termos depreciativos que incitam o preconceito contra as comunidades indígenas e outras minorias étnicas. Os Tupinambás, por exemplo, foram chamados de “os novos canibais”.
Também foi destacada pelo MPF a distorção de declarações dos antropólogos Márcio Pereira Gomes e Eduardo Viveiros de Castro, que foram citados na matéria como contrários à criação de novas reservas e aos critérios adotados. Ideia oposta à defendida pelos pesquisadores, que após a publicação pediram retratação aos editores da revista.
*GabyGuarnyKaiowá

quarta-feira, setembro 03, 2014

Se Lula foi quase crucificado pela mídia e pela oposição (em franca deterioração) Dilma foi esfolada viva, esquartejada e exposta conservada em sal por todas as bancas de jornais e noticiários do país!

René Amaral




Vivemos 12 intensos anos de mudanças mundo e Brasil afora!

Na ressaca do 911 o Brasil encontrou espaço para mostrar sua relevância e importância, como liderança regional e como player de projeção mundial. Uma das 10 maiores economias e populações do mundo, instalados num dos 5 maiores países do mundo não é de se desprezar, como tentaram fazer Bush e Obama, . O celeiro do mundo tem mais mesmo é que ser respeitado, se é que eles querem continuar a comer soja, porco, laranja e ter suas siderúrgicas abastecidas por nosso farto ferro, e continuar a usar automóveis com o petróleo de nosso pré sal.

Nosso complexo de vira latas sempre nos enganou, mas quem sempre teve as cartas na mão fomos nós. Tínhamos as cartas na mão, mas nossos jogadores sempre nos traíram, entregaram nossos trunfos e na hora de chamar o blefe adversário, corriam da mesa.

Tudo isso foi esquecido e mudado em 12 anos, por governos de um partido que mostrou que dá pra fazer diferente e ter resultados melhores.

Só tem uma coisa que não dá pra fazer diferente, se relacionar com o 4º poder em nível de igualdade e fazendo o jogo de cartas dadas por eles.


Aí o PT se deu mal.

Achou que bastava mudar a realidade para que as pessoas compreendessem que a mudança era para melhorar para todos.

A realidade é percebida através dos  sentidos, e esses comandados pela comunicação, e esta manipulada por quem trabalha com ela, e malha o ferro quente da mentira pra fabricar a percepção de realidade que mais lhe apraz!


Assim um esquema decenário de controle de bancadas, usado e abusado por todos que transitaram pelo poder desde 85, virou o maior escândalo de corrupção, mesmo sendo 10 (ou mais) vezes menor que esquemas piores bancados e operados pelo partido exilado do poder, mas ainda com livre trânsito nas sarjetas onde rastejam os fabricadores de ilusões.

Se Lula foi quase crucificado pela mídia e pela oposição (em franca deterioração) Dilma foi esfolada viva, esquartejada e exposta conservada em sal por todas as bancas de jornais e noticiários do país!

E esse tempo todo tínhamos a faca e o queijo na mão! Mas era queijo minas e o PT estava esperando virar roquefort. Não veio a lei de médios ou a pulverização das verbas publicitárias para meios mais palatáveis e amigos das mudanças para o bem que vieram.


Hoje estamos aqui, vendo a onda retrógrada sendo surfada pelo que há de mais podre na política, sentindo a merda voltar para o cu, e nos perguntando, onde foi que eles erraram?

Em artigo, Fidel Castro compara EUA e aliados com Alemanha nazista

Divulgação
Ele também critica o Euro e diz que moeda se transformará em “papel molhado”

01/09/2014
Da redação

Em um artigo publicado no jornal Granma intitulado “Triunfarão as ideias justas ou triunfará o desastre?”, o líder cubano Fidel Castro questionou a postura dos Estados Unidos e seus aliados nos conflitos pelo mundo comparando a Otan a SS nazista.

“Muitas pessoas se assustam ao escutar as declarações de alguns porta-vozes da OTAN que se expressam com o estilo da SS Nazista. Alguns até vestem ternos escuros em pleno verão”, disse ao fazer relação com a cor da roupa da organização paramilitar de Hitler.

Economia

No artigo, Fidel ainda diz acreditar que a “política do império não demorará muito para entrar na lixeira da história” e que o “Euro, assim como o dólar, se transformará em papel molhado” diante do crescimento das economias de China e Rússia.

Solidariedade


Castro explica que a revolução socialista teria como maior feito no mundo “criar uma união onde todos pudessem compartilhar recursos e tecnologia com o maior número de países menos desenvolvidos”.

Ele ainda questiona se, no mundo globalizado de hoje, “em que as pessoas podem se comunicar com as outras numa fração de segundo” não seria melhor que elas se vissem como “amigos ou irmãos e não como um inimigo disposto a exterminá-lo com os mesmos meios que foram criados para transmitir o conhecimento humano”.
*BrasildeFato

O POVO MANDA NO BRASIL



De Falandoverdades 2
Proposta de Marina de Banco Central Independente pode causar desemprego, arrocho salarial e perca do poder de compra do brasileiro.

Atualmente, o Banco Central não tem autonomia formal, já que seu gestor é escolhido pelo presidente da República, autoridade máxima do país, eleito democraticamente pelo povo. Por extensão, podemos dizer, então, que o gerente do Banco Central representa as necessidades do povo e atua em consonância com o governo eleito por ele e que, por sua vez, luta por políticas (dentre elas a econômica) que beneficiem a população que o elegeu. O BC tem, hoje, autonomia operacional para atingir as metas determinadas pelo governo. Dar ao Banco Central autonomia formal seria dar independência aos diretores do banco, que passariam a ter mandatos soberanos. Essa independência se daria em relação às autoridades que expressam a soberania popular.

A autonomia do Banco Central é uma medida fundamentalmente neoliberal. Os adeptos dessa teoria acreditam que o salário e o emprego se mantêm estáveis pela autorregulação do mercado, portanto é desnecessária (e eles acreditam ser prejudicial) a interferência do Estado nas questões econômicas. A crise econômica por que passou – e ainda passa – grande parte das nações, que sofrem com os efeitos devastadores de uma política neoliberal que causou o desemprego de 60 milhões de pessoas por todo o mundo é a prova de que o neoliberalismo econômico é nocivo, mesmo em um sistema capitalista.

Dar autonomia completa ao Banco Central significa que o governo vai abrir mão de parte importante da gerência do país. O presidente do BC, que não será mais escolhido por uma figura que representa o povo, terá poder absoluto sobre as taxas de juros, crédito e valor da moeda. Hoje, o Real vale X. Se for decidido que o Real passará a valer X+2, o parcelamento de bens que dependam da taxa cambial, como eletrodomésticos vai ficar mais caro, além do celular, do carro e de vários outros bens, o que pode impactar também o emprego e a renda.

Leia mais e conheça:

http://plantaobrasil.com.br/go.asp?ID=81194&HASH=2

http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2FPor-que-Marina-e-Aecio-querem-a-independencia-do-Banco-Central-%2F4%2F31687

"NOVA POLÍTICA'' É A VOLTA DA VELHA ECONOMIA TUCANA, PRIVATISTA, LIBERAL, DO DESEMPREGO, ARROCHO SALARIAL.

Falandoverdades 
A "NOVA POLÍTICA'' É A VOLTA DA VELHA ECONOMIA TUCANA, PRIVATISTA, LIBERAL, DO DESEMPREGO, ARROCHO SALARIAL.
O programa econômico de Marina Silva é tão ou até mais liberal que o do PSDB, seus assessores defendem até desemprego como forma de freiar o consumo e a tal "inflação'', comandada por banqueiros como Neca Setúbal e André Lara Rezende, o programa prevê ataques e redução de direitos trabalhistas, aumento nas taxas de juros, diminuição da importância das estatais para prováveis privatizações, arrocho salarial, entregar o comando da macroeconomia a banqueiros, sim isso e muito mais, a nova política não passa de velha economia liberal que quebrou o Brasil diversas vezes e deixou o povo na miséria.
Fontes :
http://blogdaboitempo.com.br/2012/03/12/crise-europeia-e-austeridade-fiscal/Entenda como a austeridade levou a falência a Europa.
http://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/reuters/2014/08/29/programa-de-governo-de-marina-promete-presenca-menor-do-estado-na-economia.htm Marina fala em retirar crédito dos bancos públicos para repassa los aos bancos privados.
- Marina defende privatizações :
Banco Central "Independente" que dará mais força aos banqueiros e especuladores para decidir sobre políticas de juros, econômicas e outros:
http://www.cartacapital.com.br/economia/voce-sabe-o-que-e-autonomia-do-banco-central-157.html
Arrocho Salarial, Juros mais altos para "conter'' Inflação e aumentar lucro de banqueiros :
http://jornalggn.com.br/noticia/eleicoes-conversa-entre-presidenciaveis-finalmente-fica-clara

*FalandoVerdades


Do Brasil 247
Agência Nacional de Petróleo informa que extração em todo o País cresceu 14,9% entre julho do ano passado e julho deste ano; apenas na área do pré-sal, produção aumentou 62%; novo recorde nacional foi batido, agora em 2,267 milhões de barris/dia; presidente Dilma Rousseff criticou adversária Marina Silva por dedicar “em 242 páginas de programa, apenas uma linha ao pré-sal”; PSDB de Aécio Neves atacou Petrobras em seminário, mas empresa vai somando recursos com petróleo novo para bancar todo o seu plano de investimentos até 2017; pré-sal no centro da campanha.


Instalada no centro da campanha eleitoral, a produção brasileira de petróleo e, especialmente, a extração que ocorre no pré-sal bateram recordes entre os meses de julho do ano passado e deste ano. A extração em todo o País cresceu 14,8% no período, enquanto a obtenção de óleo no pré-sal subiu 62%. Os dados devem dar mais combustível para o discurso da presidente Dilma Rousseff, que tem criticado a posição da adversária Marina Silva, do PSB, que "em 242 páginas de programa de governo, dedicou apenas uma ao pré-sal". Para Dilma, a adversária tem "desprezo" pela riqueza representada na maior jazida de óleo do mundo.

Abaixo, notícia da Agência Reuters a respeito:

SÃO PAULO (Reuters) - A produção de petróleo no Brasil em julho atingiu um recorde de 2,267 milhões de barris por dia, superando em 14,8 por cento o volume registrado um ano antes, com o aumento da extração da Petrobras (PETR4.SA: Cotações) e de outras companhias estrangeiras, informou a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nesta terça-feira.

A produção cresceu ainda 1 por cento ante junho, quando o país produziu 2,246 milhões de barris/dia, segundo a ANP.

A extração de petróleo e gás do Brasil em julho atingiu também recorde de 2,82 milhões de barris de óleo equivalente (boe), contra 2,79 milhões de barris de junho, e um aumento de 14,2 por cento sobre o mesmo período do ano passado.

Segundo a ANP, cerca de 90,7 por cento da produção de óleo e gás foram extraídos de campos operados pela Petrobras, que respondeu pelo maior aumento da extração na comparação anual.

Dos 352 mil barris/dia de óleo equivalente de crescimento na produção do Brasil entre julho de 2014 e julho de 2013, a Petrobras respondeu por 193 mil boe/dia.

Por concessionário, a produção da Petrobras somou 2,40 milhões de boe/dia, alta de 8,6 por cento frente a julho de 2013, principalmente com novas unidades no pré-sal.

A BG Brasil (BG.L: Cotações), segunda produtora do Brasil (por concessionário), também registrou crescimento expressivo, para 79,6 mil boe, ante 44,1 mil boe no mesmo período do ano passado --a BG é importante parceira da Petrobras no pré-sal.

A produção da Shell (RDSa.L: Cotações), terceira produtora no país em julho, também saltou para 58,3 mil boe, ante 18,2 mil boe no mesmo mês de 2013, com aumento na extração no Parque das Conchas, principal ativo da petroleira no país, e em Bijupirá & Salema.

PRÉ-SAL

Já a produção média no pré-sal aumentou 62,4 por cento na comparação com julho do ano passado, para 582,8 mil barris de boe/dia, sendo 480,8 mil barris diários de petróleo e 16,2 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia.

Na comparação com junho, houve leve queda de 0,1 por cento. A agência não apontou motivos para o pré-sal ter apresentado produção ligeiramente menor ante a junho.

O campo de Roncador, na Bacia de Campos, foi o de maior produção de petróleo, com média de 273,1 mil barris por dia.

O maior produtor de gás natural foi o campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, com média diária de 6,8 milhões de metros cúbicos.

(Por Roberto Samora e Marta Nogueira)


*Ajusticeiradeesquerda

Na Amazônia, Sem Terra enfrentam o grupo de Daniel Dantas



Por Jimmy Chalk e Piero Locatelli*
Da Carta Capital 



Todo domingo, Conceição Carmo da Silva, de 60 anos, vende vegetais e temperos em um mercado em Marabá, no sudeste do Pará. Suas couves, alfaces, rúculas e temperos são todos plantados sem pesticidas. Os orgânicos plantados por ela são populares entre a clientela local, que a permite guardar tudo e ir para casa às onze da manhã. Ainda assim, Conceição nunca está certa de que terá trabalho no dia seguinte.

Com seu filho, ela vive entre trezentas outras famílias que são parte do MST (Movimento dos Trabalhadores sem Terra) no acampamento Helenira Rezenda. Eles dizem que tem o direito de viver e trabalhar naquelas terras férteis, há muito tempo sua fonte de comida e trabalho. Mas a terra pertence, ao menos oficialmente, à Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, companhia controlada por Daniel Dantas, o banqueiro baiano que se tornou famoso nacionalmente durante a privatização do setor de telecomunicações no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Agora, a companhia quer os agricultores fora dali, e está travando uma guerra legal. Os agricultores afirmam que perder essa luta teria consequências sobre a oferta de alimentos em todo o Brasil, resultando em menos alimentos produzidos e mais plantações cultivadas com pesticidas.

“Enquanto a gente tenta produzir um alimento saudável, a gente é reprimido. A gente é ignorado”, diz Doraci Alves de Melo, uma liderança do MST no Pará. “Se nós não produzirmos, quem vai comer comida saudável? Ninguém”.


Historicamente, agricultores camponeses foram cruciais para o fornecimento de alimentos no país. Dados do último censo agropecuário mostram que as pequenas fazendas produzem a maior parte da comida consumida no Brasil – por exemplo, 70% do feijão e 83% da mandioca, o principal ingrediente da culinária paraense.

O Pará, porém, está mudando. A terra do estado é usada cinco vezes mais para a produção de gado do que para a de comida de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Como resultado, a maioria da comida vendida e consumida no Pará vem de fora do estado.

Essa é uma tendência ao redor do país. Nos últimos anos, o Brasil começou a importar alimentosbásicos, como feijão e banana, respectivamente, da China e da Tailândia.

Em 2008, segundo o MST, mil trabalhadores ocuparam uma fazenda da Santa Bárbara, argumentado que o uso da terra não estava de acordo com critérios da Constituição Brasileira e da legislação.  Nos dois anos seguintes, o grupo ocupou duas outras fazendas da Santa Bárbara, a exemplo do que fazia ao redor do país.

Nos acampamentos e assentamentos, o movimento usa técnicas camponesas tradicionais, como o plantio sazonal de alimentos e a aplicação de fertilizantes naturais. No país que agora é o maior mercado de pesticidas do mundo, os camponeses argumentam que o produto afeta o meio ambiente, assim como aqueles que o comem e manuseiam.

José Batista Gonçalves, advogado do MST, diz que a Santa Bárbara não cumpre seus requisitos legais e tem um histórico de trabalhadores em condição análoga à escravidão. Ele também diz que a terra ocupada pelo MST é improdutiva, ou seja, não cumpre os padrões legais de produção.

De acordo com a Constituição, a terra improdutiva deve ser destinada à reforma agrária e a legislação prevê que, se improdutiva, a terra deve ser revertida ao estado e redistribuída.


“Hoje, o Estado poderia recuperar boa parte daquelas terras,” diz Batista. “Mas existe uma conivência entre esses grandes proprietários e o Estado do Pará, então a terra pública está sendo apropriada por grandes grupos econômicos”.

De acordo com um estudo da Comissão Pastoral da Terra de 2013, fazendas da Santa Bárbara ocupam terras ilegalmente. O estudo analisou quatro fazendas, entre as mais de cinquenta do grupo, e chegou à conclusão que setenta por cento da terra era do Estado do Pará.

A Santa Bárbara negou todas as acusações. O porta-voz Altair Albuquerque escreveu que a Santa Bárbara é a “legítima proprietária de todas as suas fazendas, adquiridas de forma transparente e a justo título, conforme demonstram as escrituras públicas.”

Ele disse que “a empresa é árdua defensora do fiel cumprimento de todos os direitos trabalhistas, investindo sempre nos seus recursos humanos” e promove um plano de carreira aos funcionários, com vários benefícios como transporte e escola para as crianças e adultos.

Albuquerque disse a Journalists for Transparency que a Santa Barbara “busca, como sempre fez, solução pacífica para a questão agrária, mantendo interlocução sistemática e permanente com as autoridades do governo responsáveis pela reforma agrária e pela qualidade de vida dostrabalhadores rurais sem-terra ocupantes de parte das fazendas.”

Isso é difícil para alguns brasileiros acreditarem, devido ao histórico de escândalos ligados à companhia. O Opportunity, fundo de investimentos fundado em 1996 nas Ilhas Cayman atrelado à Santa Bárbara, foi acusado pela Polícia Federal de fraude em larga escala durante a privatização do setor de telecomunicação na década de 1990. O grupo sempre negou as acusações e criticou a forma como as investigações foram feitas.

Daniel Dantas, dono mais conhecido do grupo, foi condenado a dez anos de prisão em 2008, após ser considerado culpado de tentar subornar um policial durante esta investigação. Dantas nega o crime e a sentença foi suspensa até as cortes superiores julgarem o caso.

Seguindo esses escândalos, o Opportunity mudou o foco de seus negócios, do império de comunicações para as grandes fazendas de gado no interior do país. O grupo fez 1,5 bilhão de reais em investimentos na Santa Bárbara entre 2005 e 2008 , de acordo com o livro de Rubens Valente, Operação Banqueiro.

Os militantes do MST dizem que a sua determinação de plantar no local também é uma resposta às suspeitas de corrupção em torno da Santa Bárbara, e que não devem desistir.

“Nós lutamos para mostrar à sociedade o quão doido é ver uma coisa que você sabe que é seu, mas os outros estão te tirando,” diz Doraci. “A gente só tem esse direito de comer porque a gente produz.”

Moradores dizem que as fazendas em que estão trabalhando são cercados de guardas fortemente armados, que ameaçam os membros do MST . O movimento disse à mídia local que, em 2012, um conflito entre os guardas e os ativistas sem-terra feriu pelo menos 12 pessoas, cujas identidades não foram divulgadas.


Os militantes também dizem que aviões a mando da Santa Bárbara jogaram pesticidas sobre as suas plantações. A reportagem tentou, por diversas vezes, contato com a sede da fazenda, mas não foi recebida pelos gerentes dela. Por e-mail, a companhia disse que as acusações são “infundadas.” “A AgroSB se surpreende com essa suposição e nunca utilizou desse tipo de prática para prejudicar quem quer que seja,” escreveu Albuquerque.

O advogado do MST, Batista Gonçalves, diz que a Santa Bárbara está operando com impunidade. Segundo ele, está é uma consequência da influência da empresa sobre o governo e o judiciário brasileiro.

“A gente sabe que há ilegalidades no processo de aquisição de propriedades pelo grupo aqui no estado do Pará. Então, o que o Estado deveria fazer? Investigar. O Estado investiga? Não, ele não investiga.”

* Esta reportagem foi traduzida e faz parte do projeto Journalists for Transparency, da International Anti-Corruption Conference. Acesse o site da iniciativa para saber mais.

*MST
*FláviaLeitão