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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, janeiro 25, 2016

Boris Casoy, Alexandre Garcia e mais preconceito

*Por Luiz Fernando Leal Padulla
Que a grande mídia é parcial, creio que ninguém hoje em dia tem a coragem de discordar. Manchetes e matérias tendenciosas e distorcidas do “Estado de S. Paulo”, “Folha de S. Paulo”, “Jornal Nacional”, “Veja”, “Época” são alguns desses exemplos fatídicos. Como bem definiu o jornalista Paulo Henrique Amorim, esses são os partidários do PIG: Partido da Imprensa Golpista. O gráfico abaixo, divulgado em 2010, mostra como age a imprensa parcial. No levantamento feito durante a candidatura de Dilma, entre os dias 28/08 a 27/9, ainda para seu primeiro mandato, três dos jornais mais vendidos do Brasil, publicaram 90 capas, das quais 61 eram negativas para candidatura presidencial do PT, enquanto apenas 3 eram positiva.
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http://www.brasildefato.com.br/node/3320

Se voltarmos ainda mais, poderíamos falar da manipulação de trechos do último debate de Collor contra Lula, em 1989, favorecendo descaradamente a eleição do “candidato da Globo”. Ou ainda em 2006, quando ex jornalistas da própria Globo denunciaram ordens expressas de “esquecer” de reportagens de economia porque poderiam beneficiar a reeleição de Lula. Paralelamente, reportagens sobre a “Máfia das sanguessugas”, que comprometia o governo do PSDB em São Paulo também foi censurado, enquanto que na véspera (literalmente) das eleições presidenciais, notícias do chamado “Escândalo do Dossiê”, foram armadas com conivência inclusive de membros da Polícia Federal, para impedir a reeleição de Lula – o compromisso com a verdade é tão falso que neste mesmo dia ocorreu o trágico acidente aéreo do Voo 1907 da Gol, que se chocou com o jato executivo Legacy, matando 154 passageiros e foi notícia no mundo todo…e o “Jornal Nacional” nada noticiou, focando apenas no tal Dossiê. A quem se interessar, deixo novamente a sugestão do livro “O quarto poder – uma outra história”, de Paulo Henrique Amorim, que destrincha todos esses acontecimentos.
quarto poder
E esse tipo de jornalismo tendencioso, baixo, comprado, golpista, continua. É de um mau-caratismo hercúleo o que alguns jornalistas – se é que merecem essa designação frente aos demais profissionais honrados e comprometidos com os fatos e as verdades – têm feito diante das câmeras ou com suas palavras redigidas em jornais e revistas – muitos dos quais nos lembram verdadeiras latrinas!
Há alguns anos ignoro e não assisto à Rede Globo, como forma de protesto por sua linha editorial e também para não dá-la audiência (por sinal, sugiro que você, caro companheiro(a), que busca a imparcialidade e verdades, faça o mesmo). Quando quero informação, tenho optado por blogs e portais independentes. Telejornais restrinjo à TV Cultura ou à Bandeirantes/BandNews. Mas nem sempre. Explico-lhes.
Gosto muito da seriedade e sinceridade do âncora Ricardo Boechat. No entanto, no início deste ano, devido às suas férias, cedeu lugar ao senhor Boris Casoy. Uma lástima. Pessoa antiquada, prepotente e arrogante em suas colocações. Usa o espaço para opinar suas vontades fascistas e destilar seu ódio para com a sociedade e seu povo. E não estou me referindo aos episódios passados, como o de 2009 (quando, em uma das reportagens, dois garis desejavam feliz ano novo e este senhor proferiu as seguintes palavras, sem saber que o áudio de seu microfone estava ligado: “Que merda, dois lixeiros desejando felicidades… do alto das suas vassouras… Dois lixeiros… O mais baixo da escala do trabalho”).
A situação mais recente que presenciei – devem ter tido outras, mas as náuseas não permitiram que eu continuasse a assistir ao Jornal da Band antes do retorno de Boechat – foi quando Boris Casoy, em mais um de seus esdrúxulos comentários, proferiu palavras de ordem, incitando e defendendo a violência da Polícia Militar de São Paulo contra os manifestantes do Movimento Passe Livre. Seu olhar de ódio, fúria e rancor falavam por si; só não se via as veias saltadas em seu pescoço pois a papada senil associada ao paletó impediam.
(Em tempo: em 1968, a revista “O Cruzeiro” trouxe em uma reportagem de Pedro Medeiros, afirmando que Boris Casoy fazia parte do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), uma organização paramilitar anticomunista brasileira, de extrema direitafavorável ao regime militar. Boris nega, mas a história segue mal explicada).
E o que falar do senhor Alexandre Garcia? Em mais uma fala infeliz (ou seria maldosa mesmo?), disse que “o país não era racista até criarem as cotas”. Estaria querendo corroborar com seu chefe, Ali Kamel, e impulsionar as vendas do preconceituoso livro “Não somos racistas”? Não sei o que passou na cabeça desse jornalista. Mas recentemente, mostrou que provavelmente é ignorância e ódio. Ao se referir aos ingressantes da Universidade de Brasília (UnB), Garcia disse que “temos que pensar na qualidade do ensino. Aqui no Brasil ele é todo assim por pistolão, empurrãozinho e ajuda. A tradução disso é a cota. Aí põe um monte de gente [na faculdade]… Só 67%, você viu, passaram por mérito”.alexandre-garcia
Mais do que preconceito, mostrou desconhecimento e parece ter ignorado o levantamento feito sobre a aprendizagem desses alunos cotistas. Os estudos apresentados pelo Ministério da Educação desmentem o mito de baixa qualidade da educação pela presença de cotistas. Para tristeza de Alexandre Garcia e cia., os resultados desses estudantes têm desempenho acadêmico superior ou igual ao dos não-cotistas. Além disso, é entre eles que se encontram as menores médias de faltas! Como diz em seu artigo “As cotas para negros: por que mudei de opinião”, o juiz federal William Douglas, “as cotas são justas, honestas, solidárias, necessárias”.
Felizmente, nem todos aceitaram esse abuso por parte desse cidadão e logo se manifestaram publicamente. Uma das respostas mais compartilhadas foi justamente de uma professora de uma escola pública, que respondeu à altura (veja o vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=0HsbVxEzhdg).
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General Figueiredo e Alexandre Garcia. Crédito: limpinhoecheiroso.com
(Em tempo: tal como Boris Casoy, Alexandre Garcia apoiou a ditadura militar, e foi porta-voz do último presidente militar do Brasil, General João Batista Figueiredo).
Tenho profundo respeito pelos jornalistas. Mas apenas àqueles que são dignos de meu respeito e consideração. Lastimo que muitos deles se travestem de intelectuais e promovem através de seus pensamentos retrógrados, estúpidos, racistas e boçais, uma divisão social cada vez maior. Simplesmente por não aceitarem a premissa básica do ser humano: a vida em sociedade. Como bem previu Joseph Pulitzer, “com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”.
Mais recentemente, o Papa Francisco alertou que “todo cuidado com a mídia, é pouco: ela deturpa, calunia e desinforma”.
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Entendem por que esses “jornalistas” e seu patronato são contra a Lei de Democratização da Mídia? Entendem toda a histeria dos barões da mídia pela aprovação do Direito de Resposta no país? (Mesmo com os votos contrários do PSDB e DEM!)
Hoje falam o que querem, inventam e distorcem notícias na certeza de que não precisam se retratar. Ou quando a fazem, minúsculas notas de rodapé são mais do que suficientes. Seguem pregando o golpismo midiático, enchendo a cabeça e direcionando as opiniões das pessoas de acordo com seus próprios interesses. Em uma real democracia, isso deve acabar.
*Professor, biólogo

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