*Por Luiz Fernando Leal Padulla
Hoje, lecionando em uma das escolas, ao escrever a data na lousa, lembrei-me que era o Dia do Índio. Não fosse a lousa, passaria como um dia qualquer. Lembrei em voz alta e alertei meus alunos. Os olhares foram quase que monótonos e pareciam dizer “tá, professor, e daí?”.
Enquanto aluno, celebrávamos tal dia, estudando a importância dos mesmos em nossa cultura e seu respeito para com a natureza. Hoje, passa-se despercebido. Mais um dia apenas. E vida (egoísta!) que segue...
Com a mesma irrelevância, milhares são mortos todos os anos no Brasil. Estima-se que em pouco mais de 500 anos de Brasil, foram exterminados mais de 5 milhões de índios. E a estimativa não para de crescer. As mortes de hoje são cruéis, indo desde o espancamento e assassinatos brutais por interesses nas terras, ódio e preconceito, ou até mesmo pela destruição de suas reservas, deixando-os órfãos da mãe natureza.
Tudo isso em nome da ganância e do dinheiro de grandes produtores e latifúndios. Para piorar ainda mais a situação, são crimes que na grande maioria das vezes, passam despercebidos, não ganham manchetes em jornais e acabam impunes. É como se a morte desses guerreiros estivesse liberada e não fosse significativa para o resto do mundo.
Sob uma possível legalidade para essas disputas territoriais, tramita na Câmara a PEC 2015, que afronta os índios, dando o poder de demarcação das terras indígenas aos deputados e senadores, justamente a chamada “bancada ruralista”. Seria, definitivamente, o início do fim. Vale lembrar também que, em se aprovando essa PEC, terras de quilombolas e também reservas florestais, estariam igualmente ameaçadas.
Sendo assim, fica essa singela lembrança deste importante e esquecido dia. Aos nossos irmãos, minha solidariedade.
Ainda que sem muitos motivos para comemorar, parabéns guerreiros!
*Professor, Biólogo, Doutor em Etologia, Mestre em Ciências
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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
terça-feira, abril 19, 2016
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