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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quinta-feira, maio 20, 2010
Miséria é o principal "produto" do capitalismo
O capitalismo tem legiões de defensores. Muitos o fazem de boa vontade, produto de sua ignorância e pelo fato de que, como dizia Marx, o sistema é opaco e sua natureza exploradora e predatória não é evidente ante os olhos de homens e mulheres. Outros o defendem porque são seus grandes beneficiários e amassam enormes fortunas, graças às suas injustiças e iniquidades.
Além do mais há outros ("gurus" financeiros, "opinólogos", jornalistas "especializados", acadêmicos "pensadores" e os diversos expoentes do "pensamento único") que conhecem perfeitamente bem os custos sociais que, em termos de degradação humana e do meio-ambiente, o sistema impõe.
No entanto, são muito bem pagos para enganar as pessoas e prosseguem com seu trabalho de forma incansável. Eles sabem muito bem, aprenderam muito bem, que a "batalha de ideias", à qual Fidel Castro nos convocou, é absolutamente estratégica para a preservação do sistema, e não retrocedem em seu empenho.
Para resistir à proliferação de versões idílicas acerca do capitalismo e de sua capacidade para promover o bem-estar geral, examinemos alguns dados obtidos de documentos oficiais do sistema pelas Nações Unidas.
Isso é sumamente didático quando se escuta, principalmente no contexto da crise atual, que a solução aos problemas do capitalismo se obtém com mais capitalismo; o que o G-20, o FMI, a OMC e o Banco Mundial, arrependidos de seus erros passados, vão poder resolver os problemas que provocam agonia à humanidade. Todas essas instituições são incorrigíveis e irreformáveis, e qualquer esperança de mudança não é nada mais que uma ilusão. Seguem propondo o mesmo, só que com um discurso diferente e uma estratégia de "Relações Públicas", desenhada para ocultar suas verdadeiras intenções. Quem tiver dúvidas que olhe o que está propondo para "solucionar" a crise na Grécia: as mesmas receitas que aplicaram e que seguem aplicando na América Latina e na África desde os anos 1980!
A seguir, alguns dados (com suas respectivas fontes) recentemente sistematizados pelo Programa Internacional de Estudos Comparativos sobre a Pobreza (CROP, na sigla em inglês), da Universidade de Bergen, na Noruega. O CROP está fazendo um grande esforço para, a partir de uma perspectiva crítica, combater o discurso oficial sobre a pobreza elaborado há mais de trinta anos pelo Banco Mundial e reproduzido incansavelmente pelos grandes meios de comunicação, autoridades governamentais, acadêmicos e vários "especialistas".
População mundial: 6,8 bilhões, dos quais:
* 1,02 bilhão têm desnutrição crônica (FAO, 2009)
* 2 bilhões não têm acesso a medicamentos (www.fic.nih.gov)
* 884 milhões não têm acesso a água potável (OMS/UNICEF 2008)
* 924 milhões de "sem teto" ou que vivem em moradias precárias (UN Habitat 2003)
* 1, 6 bilhão não tem eletricidade (UN Habitat, “Urban Energy”)
* 2,5 bilhões não tem acesso a saneamento básico e esgotos (OMS/UNICEF 2008)
* 774 milhões de adultos são analfabetos (www.uis.unesco.org)
* 18 milhões de mortes por ano devido à pobreza, a maioria delas de crianças com menos de 5 anos (OMS)
* 218 milhões de crianças, entre 5 e 17 anos, trabalham em condições de escravidão ou em tarefas perigosas ou humilhantes, como soldados, prostitutas, serventes na agricultura, na construção civil ou na indústria têxtil (OIT: A Eliminação do Trabalho Infantil: Um Objetivo a Nosso Alcance, 2006)
* Entre 1988 e 2002, os 25% mais pobres da população mundial reduziram sua participação na riqueza global de 1,16% para 0,92%, enquanto que os 10% mais ricos acrescentaram mais riquezas, passando de 64,7 para 71,1% da riqueza produzida mundialmente. O enriquecimento de poucos tem como reverso o empobrecimento de muitos.
* Só esse 6,4 % de aumento da riqueza dos mais ricos seria suficiente para duplicar a renda de 70% da população da Terra, salvando inumeráveis vidas e reduzindo as penúrias e sofrimentos dos mais pobres. Entenda-se bem: tal coisa seria obtida se tão só fosse redistribuído o enriquecimento adicional produzido entre 1988 e 2002, dos 10% dos mais ricos do planeta, deixando intactas suas exorbitantes fortunas. Mas nem sequer algo tão elementar como isso é aceitável para as classes dominantes do capitalismo mundial.
Conclusão: Se não se combate a pobreza (nem fale de erradicá-la sob o capitalismo!) é porque o sistema obedece a uma lógica implacável, centrada na obtenção do lucro, o que concentra a riqueza e aumenta incessantemente a pobreza e a desigualdade econômico-social.
Depois de cinco séculos de existência, isto é o que o capitalismo tem para oferecer. Que esperamos para mudar o sistema? Se a humanidade tem futuro, será claramente socialista. Com o capitalismo, em troca, não haverá futuro para ninguém. Nem para os ricos, nem para os pobres. A sentença de Friedrich Engels, e também de Rosa Luxemburgo: "Socialismo ou barbárie", é hoje mais atual e vigente que nunca. Nenhuma sociedade sobrevive quando seu impulso vital reside na busca incessante do lucro, e seu motor é a ganância. Mais cedo que tarde provoca a desintegração da vida social, a destruição do meio ambiente, a decadência política e uma crise moral. Todavia ainda temos tempo, mas não muito.
Fonte: Jornal La República, Espanha
A luta pela paz sempre vale a pena
A luta pela paz sempre vale a pena
Comentário fastfood sobre as repercussões do imbróglio persa na mídia desta quinta-feira.
Na famigerada trinca, as opiniões já refluíram do antinacionalismo com o qual flertaram na véspera. Os mesquinhos que festejaram a reação agressiva de Hillary Clinton, como Arnaldo Jabor, William Waack e a tucanada entreguista de modo geral, constataram que o pouco de patriotismo que existe no Brasil, inflamou-se. Qualquer tentativa de desqualificar a corajosa diplomacia brasileira pode causar efeitos eleitorais muito negativos.
O Globo amanheceu cheio de cravos e ferraduras. Na capa, um título maroto:
A perguntinha, no entanto, é respondida no próprio texto sob o título, onde se menciona o "passo diplomático mais audacioso dado até agora pelo Brasil". A insinuação de que o Brasil, para obter uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, precisaria se alinhar aos UEA, é ofensiva à integridade moral do país. O CS da ONU deve ser ampliado justamente para que opiniões divergentes das do EUA possam, democraticamente, se fazer valer nas grandes discussões.
O pasquim de Ali Kamel viu-se forçado a publicar, na edição impressa, além dos hariovaldos de sempre, cartinhas como essa:
E publicar entrevistas como essa, com um especialista em relações internacionais, que defende o Brasil e ataca as potências ocidentais. Um trecho:
É ridículo tratar de ingênuos dois países que tentam restabelecer o diálogo com o Irã. O que querem exatamente os diplomatas ocidentais? Tenho a impressão de que alguns países não querem solucionar a crise.
Os editorialistas da big press observaram que, lá fora, a admiração por Lula só aumentou. Mesmo os críticos do Irã escreveram com admiração pelo papel desempenhado pela diplomacia brasileira. Reconhece-se em toda parte que o Brasil lutou valentemente em favor da paz mundial. Além da questão nuclear, o esforço brasileiro teve o mérito de sinalizar, de uma maneira bastante concreta para o Brasil e para todos os emergentes, a nova configuração geopolítica do mundo.
A questão serviu ainda para fazer o Jornal do Brasil romper o cordão umbilical que o fazia parecer um rebento mauformado do Globo, e adotar uma linha independente e nacionalista:
Ótimo sinal. O Rio precisa de um contraponto ao Globo. O JB vem se recusando a fazer isso. Se ele tomar coragem de fazê-lo, pode ter um bom futuro como jornal de opinião na segunda maior cidade do Brasil.
Até amargurado Clovis Rossi resolveu defender a iniciativa diplomática de Lula:
Quem estimulou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a dialogar com os iranianos foi ninguém menos que Barack Obama.
Esclarecimentos sobre a questão do Irã
Esclarecimentos sobre a questão do Irã
Alguns pontos foram alvo de confusão nesse imbróglio persa, e a mídia brasileira, com seus tentáculos de trolls pervadindo tudo, contribuiu para isso, ao não informar corretamente. Em seu antilulismo psicótico, a mídia não consegue mais informar com isenção e, neste caso, está deliberadamente confundindo a opinião pública para esconder uma vitória que pode fortalecer politicamente o governo. Vale tudo para eleger Serra, até destruir o mundo.
É incrível a inversão de valores no caso do Irã. Os Estados Unidos patrocinaram um golpe de Estado no Irã em 1953. O país era uma democracia moderna, laica e tranquila, mas que se tornou inimiga dos interesses ocidentais quando nacionalizou suas companhias de petróleo. Depois deram dinheiro e armas químicas para Saddam Hussein invadir o Irã nos anos 80, num conflito que matou 1 milhão de iranianos e devastou a frágil economia do país. Subsidiaram Bin Laden, um saudita, para que ele montasse uma organização guerrilheira contra a União Soviética e daí surgiu a Al Qaeda. Aceitaram que Israel construisse bombas atômicas sem autorização da comunidade internacional. E agora os EUA e seus lacaios, incluindo as hipócritas lideranças européias, querem pintar o Irã como o grande vilão da humanidade?
Vamos esclarecer alguns pontos. O acordo do Brasil é o que a própria ONU havia exigido no ano passado e não conseguiu levar adiante, certamente pela incompetência da diplomacia americana e européia, que não se cansa de usar um vocabulário extremamente desrespeitoso e agressivo em relação ao Irã. Ele (o acordo) supõe que o Irã armazene e enriqueça a maior parte de seu urânio em outro país. Mas não exclui o enriquecimento de outra parte no próprio Irã. E sobretudo não significa, obviamente, o cancelamento do programa nuclear iraniano.
Abaixo, a capa do Globo desta terça-feira 18 de maio:
Francamente, eu acho absurda essa exigência de que o Irã processe seu urânio em outro país. Não sei como eles puderam aceitar isso. Para mim, é uma violação da soberania iraniana. Foi um ato de muita humildade por parte do Irã e convencimento por parte do Brasil. Um gesto de paz, quase submissão. O ceticismo, beirando ao escárnio, com que as potências ocidentais estão recebendo esse gesto é uma agressão inaceitável, portanto, que certamente não ajudará a torná-lo efetivo. Já conseguiram humilhar o Irã forçando-o a processar parte de seu urânio em outro país. Que mais querem?
Eu falei num post anterior que não gosto do Irã. Explico: é porque não sou religioso e não gosto de religião. No ano passado, andei meio carola, dizendo que era católico e tal. Mas agora voltei a meu normal ateu. Claro que não gosto de um país onde a religião manda em tudo.
Outro motivo para não gostar é que eles não bebem álcool. Acho que é proibido por lá, ou quase isso, e eu sou apaixonado por bebidas de todo tipo. Não suportaria viver num país onde não posso tomar minha cervejinha em paz, e acho um absurdo intolerável que seja proibido. Mas é o país deles e eu não tenho nada a ver com isso. Os EUA também proibiram o consumo de álcool por muitos anos.
Agora, o que me irritou mesmo foi aquela ONG fincar mãozinhas na areia de Ipanema pedindo direitos humanos no Irã. Ora, o Brasil é um dos países onde mais há crianças vagando pelas ruas, sofrendo terríveis traumas psicológicos por causa do crack, da cola, do abandono, da violência, da fome. Em São Paulo, a polícia tem torturado e assassinado um motoboy negro por semana. Há poucos meses a mesma polícia paulista agrediu professores indefesos e desarmados que protestavam por melhores salários. E essas dondocas querem direitos humanos no Irã?
Alguém conhece de verdade os problemas do Irã para exigir que as coisas sejam assim ou assado por lá? Há poucas décadas, milhões de iranianos morriam de fome. Hoje, é um país de economia estável, quase sem miséria extrema, com um dos maiores índices de ensino superior per capita do oriente médio. As taxas de criminalidade no Irã são próximas de zero, e as dondocas de Ipanema, residentes numa das cidades mais violentas do mundo, querem ensinar ao Irã, uma civilização com dezenas de milhares de anos, como lidar com seus problemas domésticos?
O Jornal da Globo desta segunda-feira entrevistou um tucanão da USP que disse que o acordo só atrapalhou as negociações. A inveja está levando muitos intelectuais paulistas a fazerem um papel ridículo. O acordo ajudou, é claro. Isso é consenso mundial, com exceção da ultradireita bélica americana e israelense, naturalmente. A dúvida é sobre seus desdobramentos.
Além disso, é evidente que esse acordo não resolve tudo. Taí outra tática mesquinha. Inventa-se uma tese esdrúxula segundo a qual o acordo significaria o fim de todos os problemas do oriente médio e do Irã. E aí depois mostra-se que não é bem assim, e, portanto, seria um fracasso. Não é assim. Ele representa grande avanço. Diplomacia inteligente é como seduzir uma mulher bonita. É um processo. De qualquer forma, produz efeitos geopolíticos muito positivos para o Brasil e o mundo. Ele projeta o Brasil e torna o mundo multipolar uma realidade.
O Irã tem que usar energia nuclear, até porque o mundo precisa parar de usar o petróleo como fonte de energia, antes que o planeta vire um forno e não se consiga mais plantar nada em lugar nenhum. O petróleo terá usos mais nobres no futuro, como a fabricação de derivados. As fontes energéticas devem ser renováveis e limpas. E a energia do futuro, na prática, por enquanto, é a nuclear. EUA e Europa estão construindo centenas de novas usinas nucleares, afora as milhares que já possuem. Mais de 80% da energia consumida na França vem de suas usinas nucleares. É de uma hipocrisia sem limites querer que o Irã, um país pobre, não possa sequer desenvolver a tecnologia nuclear para uso pacífico.
Nos últimos cem anos, a Europa quase destruiu o mundo, matando dezenas de milhões de seres humanos. Os EUA patrocinaram golpes de Estado em todo planeta, invadiram países, mataram milhões de inocentes. Logo ali, ao lado do Irã, os EUA já mataram mais de 1 milhão de iraquianos nos últimos oito anos, provocando um tremendo desequilíbrio no oriente médio. Os moderados árabes e persas que pregavam diálogo com o ocidente foram desmoralizados pela brutalidade dos falcões ianques. E perderam eleições e poder, abrindo espaço para a linha dura antiamericana.
Podíamos ir longe e recordar o golpe de 1953, patrocinado pela CIA, que derrubou um regime laico e democrático, dando início ao processo de endurecimento da política iraniana. Mas há fatos mais recentes. A invasão do Iraque, por exemplo, também deu força à linha dura iraniana. O Irã também tem sua indústria bélica doméstica. Também tem seus falcões de guerra. Com a guerra no Iraque, eles ganharam força. O país aumentou gastos militares. Fechou-se politicamente. Ampliou a repressão a movimentos de oposição, com vistas a manter o regime coeso. É um movimento natural. Em tempos de guerra, a democracia sempre perde. Dá ânsia de vômito ver os Estados Unidos invadirem o Iraque, violando todas as leis internacionais, e depois pintarem o Irã, que sempre esteve quieto no seu canto, como o vilão do mundo.
O Irã não tem mísseis de longo alcance. Não tem armas nucleares. Não tem armas químicas. É um país militarmente fraco. Sua força reside embaixo da terra, nas suas gigantescas jazidas de petróleo. É disso que estamos falando. Toda a encenação diplomática dos EUA visa derrubar o atual regime iraniano, que é fechado, autoritário, cruel, mas nacionalista e independente, para botar um aliado que aceite vender petróleo a baixo preço às refinarias ocidentais.
Outra coisa que é preciso esclarecer. É equivocado conceitualmente falar que a esquerda adora o Irã. A esquerda democrática não tem nada a ver com a teocracia iraniana. O regime político iraniano não é de esquerda. É conservador. A teocracia iraniana floresceu à sombra da ditadura de direita nascida após o golpe de Estado patrocinado pelos Estados Unidos, durante a qual a esquerda acadêmica, intelectual, artística, trabalhista, sindical, foi totalmente dizimada. Restaram só os padrecos islâmicos. Que se organizaram, pegaram em armas e tomaram o poder. A esquerda iraniana não existe. E não se pode esquecer que uma parte da oposição ao regime dos aiatolás é bancada por Washington.
Não se pode confundir, porém, a defesa de princípios de autodeterminação e soberania com louvação besta do regime iraniano. O Irã tem problemas gravíssimos. Mas eles serão resolvidos internamente, pelos próprios iranianos. Qualquer interferência externa, já está provado, só atrapalha.
Os iranianos são inteligentes, combativos e orgulhosos e tem plena condição de evoluir politicamente com suas próprias pernas. Se a comunidade internacional quer ajudar algum país, se as dondocas de Ipanema estão preocupadas com direitos humanos, eu aconselharia voltar sua atenção para alguns países africanos, para o Haiti, ou para a baixada fluminense, onde há pessoas em situação muito mais triste do que no Irã.
Miguel do Rosário
Para vazamento de petróleo não há bloqueio aos Cubanos
Para vazamento de petróleo não há bloqueio
O site da BBC informa que o Governo norte-americano esta em contato com o governo cubano para tratar dos riscos do vazamento de petróleo no Golfo do México.”É nossa incumbência informar todos os nossos vizinhos, não apenas as ilhas, mas aqueles países que podem ser afetados pelos desastres que acontecem em nossas águas territoriais”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Gordon Duguid, diz a agência estatal britânica.
É tragicamente curioso que seja preciso um catástrofe ambiental para que se retome o que deveria ser o normal entre as nações, sejam elas quais forem: o diálogo. Imaginem só o paradoxo que pode vir a acontecer: os EUA colaborarem com Cuba para evitar ou tentar reparar danos ambientais, enquanto mantêm os danos causados por um bloqueio econômico que, nascido na Guerra Fria, é de uma total irracionalidade em pleno século 21.
Agora, que se aproxima uma Copa do Mundo, dá vontade de lembrar o que dizem os narradores esportivos: “não existe mais time bobo”. Também, a esta altura, não podem existir mais nações onipotentes e outras que, a elas, tenham de lhes obedecer. O mundo tornou-se tão único que este desastre mostra que, se podemos ser solidários na desgraça, não há razão para que não o possamos ser na cooperação pelo progresso mútuo. Só os medíocres acham que ser patrão é melhor do que ser parceiro.
do Tijolaço
PIG Imprensa Golpista The Globe rides again
“The Globe” rides again
quinta-feira, 20 maio, 2010 às 16:11
Chega a ser patético o esforço da grande imprensa brasileira em descredenciar qualquer atitude de Lula, e mesmo as que se referem positivamente a ele, caso da revista Time, que o elegeu o maior líder do mundo. Seu sucesso no acordo com o Irã despertou alergias na mídia conservadora e de direita, que não poupou críticas à sua atuação.
A mídia brasileira não se libertou do complexo de vira-latas. Prefere chanceleres sabujos, que tiram os sapatos para entrar nos Estados Unidos, a uma política externa soberana e independente. Isso se revela claramente no editorial de hoje do jornal O Globo, intitulado “Anatomia do fracasso da política externa”, um primor de reacionarismo e subserviência. Como não consegui encontrá-lo na versão online do jornal, fiquei na dúvida se aproveitava sua reprodução no blog “direita bem informada” ou no site do PPS, mas optei pelo primeiro por assumir abertamente sua identidade
Tenho a impressão de que nem o mais ardoroso dos falcões norte-americanos conseguiria escrever algo tão próximo dos princípios pouco diplomáticos que defendem. Parte O Globo da premissa de que Lula foi açodado pelo desejo de postergar sanções contra o Irã e ajudar o país a ter armas nucleares. De onde se chegou a tal conclusão? A missão brasileira não foi isolada. Brasil e Turquia agiram conjuntamente na solução de um problema que ameaçava a humanidade. Tiveram a coragem de não deixar a resolução com as grandes potências e revelaram o protagonismo dos países emergentes, capazes de negociar, com sucesso, complexas questões mundiais. Não foram poucas as vozes, inclusive na imprensa (estrangeira, naturalmente), que se levantaram para louvar a ação brasileira e turca, que consagra um mundo multipolar.
Mas para o Globo, Lula não age com a “eficiência e o profissionalismo” da diplomacia brasileira, e sim com “ideologia terceiromundista ultrapassada, com cheiro do esquerdismo do pós-guerra, tendo como alvo prioritário hoje se vê o confronto sistemático com os interesses americanos”. Agora está entendido. A visão de O Globo continua bipolar – os EUA liderando o mundo e nós a reboque – e os outros, no qual nos incluímos, no entender do jornal, quando rezamos fora da cartilha norte-americana.
Na sua reverência permanente ao que vem dos EUA, O Globo ressuscita a ALCA e diz que não ocorreu ao governo brasileiro melhorar o projeto surgido em Washington. Claro, se os EUA já tinham definido um projeto, quem somos nós, cucarachos, para não concordar com ele. O Globo parece ignorar que a ALCA, lançada por George Bush, foi rejeitada quase que unanimamente pelos países que buscava abarcar, talvez pelo singelo motivo de que só beneficiava os EUA, não tocando nas questões essenciais para os demais países, como o fim do protecionismo a diversos produtos e a eliminação dos subsídios agrícolas, que nos levaram a enfrentá-los na OMC. Provavelmente, O Globo também deve ter considerado isso um equívoco. Onde já se viu peitar o grande líder que nos conduz?
Prossegue O Globo na cantilena pró-americana, com uma estocada no Mercosul – será que esse parágrafo foi escrito pelo mesmo redator de Serra? – e o questionamento do ingresso da Venezuela no bloco sul-americano, que “inviabilizará qualquer negociação comercial que envolva os EUA”. Quem lê o editorial, pensa que o Brasil é um país isolado, que não se relaciona com ninguém, exatamente o oposto da realidade atual. Para não me estender mais nesse ponto, recorro à matéria do próprio jornal, de abril do ano passado, no qual um representante norte-americano afirma que as relações comerciais entre Brasil e EUA tendem a avançar, apesar da crise econômica global.
O editorial de O Globo termina com a assertiva de que “a política externa não constará do balanço dos melhores momentos da Era Lula”. Penso o contrário. Imagino que já seja possível vislumbrar que a política externa do governo Lula será vista no futuro como um dos grandes momentos de nossa diplomacia. Mas isso, a história dirá.
Brizola Neto
Lula critica diplomacia “do contra”
Lula critica diplomacia “do contra”
quinta-feira, 20 maio, 2010 às 17:26
Em um curto discurso para prefeitos em Brasília, Lula criticou os que precisam criar uma inimigo para justificar suas atitudes. Ele se referia à insistência em sancionar o Irã depois que obteve um acordo, no qual o Irã aceita justamente o que o Conselho de Segurança da ONU queria há um mês.
Lula contrapôs os colunistas brasileiros que o criticam e dizem que aquilo (a questão nuclear no Irã) não é coisa do Brasil, com uma simples perguntinha: “E quem disse que é coisa dos Estados Unidos?”
Brizola Neto
Navalha E o Serra é contra o Mercosul.
Mal sabe o Serra que o Mercosul já tomou o navio para a China
Amanhã, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, se realizará um seminário promovido pela Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul sobre a integração do Codesul com o Zico Sur, para ligar o Atlântico ao Pacífico.
O Codesul reúne o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul.
O Zico Sur reúne o norte da Argentina, o sul do Chile, a Bolívia, o Paraguai e Mato Grosso do Sul.
Faltam 80 km de rodovia e 200 km de ferrovia para realizar a ligação por terra entre Campo Grande, Corumbá, a Oruru (Bolívia) e o porto de Arica no Norte do Chile.
Ou seja, a ligação de Santos ao Pacífico, com escala obrigatória em Mato Grosso do Sul.
Boa parte dos custos da construção ficará por conta do BNDES.
Este seminário de amanhã se realiza com financiamento parcial da União Européia.
Quer dizer, os europeus já sabem onde está o pote de ouro, no fim do arco-íris.
Os empresários dessas regiões tentam sair na frente, para obrigar os governos, desde já, a realizar a integração aduaneira, sanitária e tributária, que o fluxo comercial do Atlântico ao Pacífico e do Pacífico ao Atlântico vai exigir.
Mais para cima, no Acre, como se sabe, e também com dinheiro, em parte, do BNDES, se realiza a integração do sul do Amazonas com o Acre, em Assis Brasil.
E de Assis Brasil formar a zona econômica Brasil-Peru, até chegar ao porto de Maldonado.
Quer dizer, o Centro-Oeste brasileiro vai ter dois acessos à China, através do Peru e do Chile.
Em Arica, no Chile, o porto é privado, e os dirigentes da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul acreditam que isso deve facilitar a institucionalização do comércio entre o Codesul e o Zico Sur.
Paulo Henrique Amorim
Capitalismo em crise.... O medo dos europeus. E dos Estados Unidos
Capitalismo em crise....
O medo dos europeus. E dos Estados Unidos
Fears Intensify That Euro Crisis Could Snowball
por NELSON D. SCHWARTZ e ERIC DASH
Do New York Times (em inglês, aqui) via Viomundo
Depois de uma breve pausa que se seguiu ao anúncio na semana passada de um plano de ajuda de 1 trilhão de dólares da Europa, o medo nos mercados financeiros está crescendo novamente, desta vez com preocupações com o fato de que os grandes bancos continentais vão enfrentar dificuldades que poderão prejudicar as economias europeias.
Num sinal de profunda ansiedade, o euro caiu na sexta-feira a seu ponto mais baixo desde o início da crise financeira, quando investidores abandonaram a moeda, assim como ações, em favor de ouro e de outros bens que oferecem mais segurança.
Nas negociações de segunda de manhã, o euro caiu de novo, chegando num momento e atingir um patamar recorde de quatro anos em relação ao dólar.
O presidente do Banco Central europeu, Jean-Claude Trichet, numa entrevista publicada sábado, advertiu que a Europa está diante de “severas tensões” e que os mercados estão frágeis.
Para os bancos europeus, os problemas são duplos. Os custos de empréstimos de curto prazo estão aumentando, o que poderia levar as instituições a evitar novos empréstimos ou se desfazer dos antigos, ameaçando o crescimento econômico.
Ao mesmo tempo, instituições mais seguras em economias sólidas como a França e a Alemanha tem grande quantidade de ações de seus vizinhos trêmulos, como Espanha, Portugal e Grécia.
Os investidores temem que com muitos governos sob o peso de grandes déficits, a dívida das nações mais fracas que usam o euro como moeda terá de ser reestruturada, reduzindo profundamente o valor de seus papéis. Isso acertaria duramente as instituições financeiras europeias e poderia ricochetear em todo o sistema bancário global.
Papéis ligados aos bancos europeus perderam valor na sexta-feira por causa deste temor, e Wall Street seguiu. As ações também cairam em Tóquio e na Austrália no início dos negócios da segunda-feira.
“Este resgate não foi feito para salvar os gregos; foi feito para ajudar os bancos franceses e alemães”, disse Niall Ferguson, um historiador de economia de Harvard. “Jogaram alguma água no fogo, mas o fogo não foi extinto”.
O plano de resgate europeu, totalizando 750 bilhões de euros, tem o objetivo de evitar o risco de quebra, mas aumentaria vastamente os empréstimos. Isso poderia impedir a nascente recuperação econômica da Europa.
Na verdade, foram as dívidas que causaram o problema inicial: um novo relatório do Fundo Monetário Internacional adverte que “os altos graus de endividamento público poderiam pesar no crescimento econômico por anos”.
O déficit mundial como porcentagem do PIB está em 6%, quando estava em apenas 0,3% antes da crise financeira. Se o endividamento público não for reduzido ao nível de antes da crise, diz o relatório do FMI, o crescimento econômico das economias avançadas poderia cair 0,5 ponto percentual anualmente.
Mas nem todas as tendências são negativas. Um euro mais baixo vai tornar as exportações europeias — sejam os automóveis alemães ou os objetos de couro italianos — mais competitivos em todo o mundo. E a Grécia, a Espanha e Portugal tomaram medidas de austeridade na semana passada para reduzir os seus déficits orçamentários.
Esses passos não foram suficientes para prevenir o sumiço de dinheiro dos fundos “money market”, uma esquina pouco notada mas crucial do sistema financeiro na qual os investidores americanos oferecem mais de 500 bilhões de dólares em empréstimos para que os bancos europeus financiem suas operações diárias.
O dinheiro vem de fundos conservadores que controlam a poupança de grandes corporações dos Estados Unidos e de consumidores individuais.
Até agora, o pacote de resgate proposto não conseguiu reduzir a preocupação destes fundos, que cortaram os empréstimos para os bancos europeus e estão exigindo maiores taxas de juros e repagamento mais rápido.
“Mais gente está tomando decisões de sim ou não para cair fora deste mercado e manter o dinheiro mais perto de casa”, disse Lou Crandall, o economista-chefe do Wrightson ICAP, uma empresa de pesquisa do mercado.
Inicialmente, foram os bancos gregos e portugueses que foram desprezados pelos investidores americanos. Mas nas últimas duas semanas os grandes bancos da Espanha, da Irlanda e da Itália tiveram dificuldades para assegurar empréstimos de curto prazo dos Estados Unidos por causa do aumento da ansiedade.
Na sexta-feira, mesmo os bancos de sólidas economias europeias, na França, Alemanha e Holanda, foram afetados, de acordo com corretores e analistas de mercado.
“Os investidores estão esperando para ver se o pacote de estabilização é de fato adotado”, disse Alex Roever, um analista da J.P. Morgan Securities.
“Enquanto os investidores sentem a situação, ficamos pendurados no limbo”.
Por causa do recuo dos investidores americanos, a taxa que os bancos cobram uns dos outros para empréstimos, conhecida como Libor para London Interbank Offered Rate, tem subido constantemente. E a importância da Libor vai muito além da Europa: é a taxa que ajuda a determinar as taxas de juros em muitos empréstimos imobiliários e nos cartões de crédito dos consumidores dos Estados Unidos.
As taxas de empréstimo dos bancos ainda estão bem abaixo do ápice da crise financeira. Temor de que os problemas da Europa façam efeito nos Estados Unidos, no entanto, levou o Banco Central americano a retomar linhas de crédito para o Banco Central Europeu e outros bancos centrais em conjunção com o pacote de resgate europeu anunciado uma semana atrás.
A medida garantiu que as instituições europeias poderão tomar dólares para emprestar a seus clientes, mas isso é mais caro do que contar com o dinheiro de investidores privados.
“Não fizemos isso por amor especial à Europa”, Narayana R. Kocherlakota, o presidente do Banco Central de Minneapolis, disse a um grupo de pequenos empresários de Wisconsin na quinta-feira. “Somos autoridades dos Estados Unidos e tomamos decisões para manter a economia americana forte”. No entanto, ele disse, “os problemas de liquidez nos mercados europeus podem criar problemas perigosos de falta de liquidez em nossos próprios mercados financeiros”.
Não é o único dominó que pode cair.
Se a exposição direta de bancos americanos à Grécia é mínima, as instituições financeiras dos Estados Unidos estão fortemente interligadas a grandes bancos europeus, os quais tem grandes investimentos nas nações mais fracas da Europa.
Por exemplo, os bancos portugueses devem 86 bilhões de dólares a bancos da Espanha, que por sua vez devem 238 bilhões a bancos alemães e 220 bilhões de dólares a bancos franceses. Os bancos americanos também controlam grande quantidade de dívida de bancos espanhóis, cerca de 200 bilhões de dólares, de acordo com o Banco de International Settlements, uma organização global que serve a bancos centrais.
Além disso, os formuladores das políticas financeiras se encontram quase sem armas em seu arsenal.
Depois de emprestar trilhões para estimular suas economias e acabar com as preocupações de crédito durante a última onda de medo no fim de 2008 e início de 2009, os governos não podem emprestar outros trilhões sem causar inflação e atropelar outros emprestadores, como indivíduos e companhias. As taxas de juros de curto prazo, próximas de zero nos Estados Unidos, não podem mais ser reduzidas. E passos vitais como o aumento de impostos ou corte de investimentos poderiam atrapalhar o início da recuperação econômica do norte da Europa e piorar a situação de economias em dificuldades como a da Espanha, onde o desemprego recentemente ultrapassou 20%.
Com a exceção dos tempos de guerra, “as finanças públicas da maioria dos países industriais avançados estão em estado pior hoje do que em qualquer outro período desde a revolução industrial”, Willem Buiter, o principal economista do Citibank, escreveu em um relatório recente.
“Restaurar o equilíbrio financeiro vai emperrar o crescimento por muitos anos”.
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