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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quinta-feira, maio 20, 2010
PIG Imprensa Golpista The Globe rides again
“The Globe” rides again
quinta-feira, 20 maio, 2010 às 16:11
Chega a ser patético o esforço da grande imprensa brasileira em descredenciar qualquer atitude de Lula, e mesmo as que se referem positivamente a ele, caso da revista Time, que o elegeu o maior líder do mundo. Seu sucesso no acordo com o Irã despertou alergias na mídia conservadora e de direita, que não poupou críticas à sua atuação.
A mídia brasileira não se libertou do complexo de vira-latas. Prefere chanceleres sabujos, que tiram os sapatos para entrar nos Estados Unidos, a uma política externa soberana e independente. Isso se revela claramente no editorial de hoje do jornal O Globo, intitulado “Anatomia do fracasso da política externa”, um primor de reacionarismo e subserviência. Como não consegui encontrá-lo na versão online do jornal, fiquei na dúvida se aproveitava sua reprodução no blog “direita bem informada” ou no site do PPS, mas optei pelo primeiro por assumir abertamente sua identidade
Tenho a impressão de que nem o mais ardoroso dos falcões norte-americanos conseguiria escrever algo tão próximo dos princípios pouco diplomáticos que defendem. Parte O Globo da premissa de que Lula foi açodado pelo desejo de postergar sanções contra o Irã e ajudar o país a ter armas nucleares. De onde se chegou a tal conclusão? A missão brasileira não foi isolada. Brasil e Turquia agiram conjuntamente na solução de um problema que ameaçava a humanidade. Tiveram a coragem de não deixar a resolução com as grandes potências e revelaram o protagonismo dos países emergentes, capazes de negociar, com sucesso, complexas questões mundiais. Não foram poucas as vozes, inclusive na imprensa (estrangeira, naturalmente), que se levantaram para louvar a ação brasileira e turca, que consagra um mundo multipolar.
Mas para o Globo, Lula não age com a “eficiência e o profissionalismo” da diplomacia brasileira, e sim com “ideologia terceiromundista ultrapassada, com cheiro do esquerdismo do pós-guerra, tendo como alvo prioritário hoje se vê o confronto sistemático com os interesses americanos”. Agora está entendido. A visão de O Globo continua bipolar – os EUA liderando o mundo e nós a reboque – e os outros, no qual nos incluímos, no entender do jornal, quando rezamos fora da cartilha norte-americana.
Na sua reverência permanente ao que vem dos EUA, O Globo ressuscita a ALCA e diz que não ocorreu ao governo brasileiro melhorar o projeto surgido em Washington. Claro, se os EUA já tinham definido um projeto, quem somos nós, cucarachos, para não concordar com ele. O Globo parece ignorar que a ALCA, lançada por George Bush, foi rejeitada quase que unanimamente pelos países que buscava abarcar, talvez pelo singelo motivo de que só beneficiava os EUA, não tocando nas questões essenciais para os demais países, como o fim do protecionismo a diversos produtos e a eliminação dos subsídios agrícolas, que nos levaram a enfrentá-los na OMC. Provavelmente, O Globo também deve ter considerado isso um equívoco. Onde já se viu peitar o grande líder que nos conduz?
Prossegue O Globo na cantilena pró-americana, com uma estocada no Mercosul – será que esse parágrafo foi escrito pelo mesmo redator de Serra? – e o questionamento do ingresso da Venezuela no bloco sul-americano, que “inviabilizará qualquer negociação comercial que envolva os EUA”. Quem lê o editorial, pensa que o Brasil é um país isolado, que não se relaciona com ninguém, exatamente o oposto da realidade atual. Para não me estender mais nesse ponto, recorro à matéria do próprio jornal, de abril do ano passado, no qual um representante norte-americano afirma que as relações comerciais entre Brasil e EUA tendem a avançar, apesar da crise econômica global.
O editorial de O Globo termina com a assertiva de que “a política externa não constará do balanço dos melhores momentos da Era Lula”. Penso o contrário. Imagino que já seja possível vislumbrar que a política externa do governo Lula será vista no futuro como um dos grandes momentos de nossa diplomacia. Mas isso, a história dirá.
Brizola Neto
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