“Se essa pesquisa tiver fundamento
eu digo que o brasil nao tem homem e que
a maioria das mulheres sao sapatoess”
(comentário de um leitor no blogue do Josias de Souza sobre os resultados da
pesquisa Vox Populi divulgada no dia 15/05/2010, mostrando Dilma Rousseff ultrapassando
José Serra nas intenções de voto – erros de ortografia mantidos)
Não sei se vocês notaram que as mulheres do século 21 começaram a se interessar por futebol. Acho que no início era estratégia, para marcar território no universo masculino que guardava para si o direito exclusivo à paixão pelo esporte bretão. Também foi uma estratégia para levar vantagem sobre as “rivais” na tarefa de conquistar seu amado. Hoje, acredito que este interesse é sincero, embora, em se tratando do universo feminino, seja normal estarmos redondamente enganados… Renata Fan, por exemplo, quase me convence que é apaixonada por futebol. Mesmo sendo uma profissional de um programa sobre futebol é, também, a mais linda apresentadora da TV. (Ah, quantos pré-conceitos tenho, sim, das mulheres!).
No trânsito é sempre o mesmo: “mulher ao volante é um perigo”. Mas a esmagadora maioria de acidentes tem homens ao volante. No escritório, o assédio sexual à secretária paira no ar: é quase uma obrigação social dos chefes. No universo dos crimes passionais, o macho (que, dizem, é “adúltero por natureza”) é invariavelmente favorecido pela justiça “dos homens” quando mata a suposta traidora pela honra ou por ter sido rejeitado.
E na política? Luiza Erundina foi a primeira brasileira a ser eleita para comandar uma cidade com dimensões de um país. Mal foi empossada, e começaram a surgir mexericos (de homens e mulheres) rotulando-a de lésbica como que justificando o exercício do seu cargo. Marta Suplicy sofreu perseguição implacável do machismo paulista mesmo tendo criado benefícios inesquecíveis para a população mais carente. Como esquecer do Bilhete Único ou dos CEUS (que, infelizmente, Serra&Kassab destruíram)? Ou de como enfrentou e expulsou os homens da máfia das empresas de ônibus urbano organizadas nas gestões da dupla Maluf-Pitta?
A mulher sempre teve que provar ter o dobro da capacidade para receber a metade do reconhecimento… Principalmente no Brasil. Basta mencionar que o direito de votar, conquistado em 1932, pasmem, só valia com o consentimento do marido! Até hoje, a lei brasileira proíbe o aborto por considerar que a mulher não tem autonomia, também, sobre o seu próprio corpo. Sem falar dos argumentos da igreja…
Nas décadas de 60 e 70, depois de muitas batalhas, as mulheres conquistaram liberdade e direitos iguais aos dos homens através dos movimentos feministas e a chegada da pílula anticoncepcional foi um marco histórico: deu à mulher independência para decidir sobre a gravidez. Na Europa e EUA e ativistas como Simone de Beauvoir e Betty Friedan levantaram a bandeira pela libertação feminina da secular opressão machista. No Brasil, o regime militar, que não permitia organizações sociais de nenhuma espécie (muito menos feministas!), adiou até 1981 nossa adesão à Convenção da ONU para a Igualdade de Direitos da Mulher firmada duas décadas antes no resto do mundo ocidental.
Mas, infelizmente, aquela geração não soube manter e passar adiante estas conquistas. Hoje muitas mulheres voltaram a ser “do lar” ou à condição de submissas ao “marido-chefe”. Não fosse o voto obrigatório, nem compareciam às urnas. Poucas se impõem em rodas onde o assunto é política. Desinteressadas, delegam aos homens as decisões eleitorais da família e, com isso, acabam favorecendo a continuidade de várias distorções sociais.
Hoje, Dilma Rousseff sofre duplo preconceito: por ser mulher e por ter enfrentado o regime militar. Na Internet por exemplo, ela já enfrenta o pior dos inimigos, o mais covarde e abominável: aquele anônimo escroto, mercenário que é pago para enviar e-mails a milhares de pessoas contendo mentiras bizarras, atribuindo a Dilma crimes bárbaros, caluniando sua sexualidade e debochando do período em que foi presa e torturada pela ditadura. Na campanha fora da Internet não deixarão por menos. Usarão o mesmo tom de baixaria machista e preconceituosa.
Fato é que mais da metade dos votos em 3 de outubro próximo virá das mulheres. Fato é que, segundo as últimas pesquisas, mais da metade delas não quer dar seu voto a Dilma Rousseff (mesmo que a outra opção seja aquela fraude literalmente anêmica…). Fato é que José Serra – que, como disse Ciro Gomes, “é capaz de passar com um trator por cima da mãe para ser eleito”- vai tirar proveito do machismo de homens e mulheres em sua campanha, sem um pingo de pudor, mandando Dilma “de volta para a cozinha”, digamos assim. Mesmo se vier com Kátia Abreu de vice – mulher selvagem, latifundiária, que tomou as terras de muitos camponeses no Amapá, na “porrada” – seus marqueteiros vão se desdobrar em atacar a adversária pela ótica machista sem atingir sua própria eventual vice.
Aparentemente, no caso de Dilma, muitas mulheres ainda não levam em conta as qualificações, o programa de governo, a história de vida ou o momento de grandes conquistas que o país atravessa sob o governo do qual faz parte. Aceitam facilmente os argumentos do preconceito mais burro, mesmo sabendo-o burro! Parece até que, inconscientemente, levarão para a cabine de votação a chance de livrarem-se de uma rival. E nesse ponto temos que admitir que muitos homens ajudaram a criar essa rivalidade através de suas práticas adulteras “perdoáveis pela sociedade”.
Então, a grande questão que se coloca nestas eleições é: será que estas mulheres vão conseguir superar a instinto de rivalidade, quase inerente à sua natureza, e enxergar em Dilma a melhor opção para dar continuidade, ampliar e aprofundar as inegáveis conquistas do governo Lula? E, de quebra, resgatar a auto-estima que muitas mulheres andaram perdendo?
É bem verdade que pessoas como a própria Kátia Abreu, Yeda Crusius, Regina Duarte, Hebe Camargo, Ivete Sangalo ou Ana Maria Braga, desencorajam… mesmo que a mídia use todo seu arsenal habitual de cosméticos para esconder suas rugas morais.
Devemos esperar que, numa gestão Dilma Rousseff, o tom do seu mandato faça o país avançar um pouco mais, também, na questão da justiça quanto aos direitos e deveres de ambos os sexos em vários aspectos:
o social, do sexo que caminha novamente para deixar de ser frágil
“sem jamais perder a ternura”,
o da igualdade de oportunidades e salários justos na profissão,
elevando o nível nas empresas e
o da justiça familiar na divisão de tarefas domésticas e educação dos filhos,
resultando em mais harmonia nos lares brasileiros.
Além disso é mais provável, obrigatório até, que a justiça neste país avance e passe a condenar com mais rigor o macho covarde – agressor e assassino da mãe dos seus filhos, namorada ou amante – se governado por uma mulher. E neste ponto, nossa justiça estacionou, emperrada na idade média. Exemplos não faltam, todos sabemos.
Portanto, caro leitor, se você é a favor de eleger Dilma Rousseff para ser a próxima presidenta do Brasil, também pelas razões acima, sugiro que vá para casa, não sem antes providenciar um mimo sincero para sua mulher. Diga a ela o quanto a ama e a respeita. Enumere todos os motivos que a tornam única e especial em sua vida e deixe-a descobrir o quanto colaborou para seu sucesso pessoal e profissional. Faça com que ela não mais sinta as outras à volta como rivais que podem tomar-lhe o marido se for fraco de caráter e fácil de seduzir. Faça isso diariamente. Não apenas até 3 de outubro, mas para sempre. Mesmo até, que a morte os separe.
Estes conselhos, claro, valem também para os que votarão em Serra, que ninguém é perfeito! (Mas cá entre nós, ainda bem que o voto é secreto. E optar por Dilma Rousseff, mesmo contrariando o maridão, jamais configure adultério).
do: o que será que me dá
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