Livro de Roubini alerta que EUA sofrerão crise de dívida. Ele reserva seu otimismo apenas aos emergentes
As novas previsões do Dr. Apocalipse
Luciana Rodrigues –
Turco, filho de judeus iranianos, criado na Itália e com uma respeitada carreira de economista nos Estados Unidos. A trajetória pessoal de Nouriel Roubini é tão improvável como pareciam ser suas previsões sobre a economia global no longínquo setembro de 2006. Naquela ocasião, Roubini fez sua primeira advertência pública sobre os riscos de uma crise financeira global sem precedentes, cujo estopim seria a inadimplência em créditos imobiliários de alto risco. Exatos dois anos depois, o colapso do Lehman Brothers detonou um choque nos mercados não visto desde a Grande Depressão dos anos 30. Agora, a previsão mais alarmista do Dr. Apocalipse — apelido jocoso dado a Roubini pelos céticos quanto às suas “profecias” — é que, a exemplo da Grécia, os EUA também estarão, em breve, na mira do mercado, devido a seu elevado déficit fiscal.
“Os Estados Unidos tornaram-se o maior devedor do mundo, com uma dívida assombrosa de US$ 3 trilhões”, alerta Roubini no livro “A economia das crises — um curso-relâmpago sobre o futuro do sistema financeiro internacional”, escrito em co-autoria com o historiador Stephen Mihm, lançado ontem no Brasil (Editora Intrínseca, 368 páginas, R$ 39,90).
Roubini afirma que, além dos EUA, Japão e Reino Unido podem ser alvo dos “bond vigilantes”, ou seja, investidores relutantes em financiar endividamentos públicos elevados.
Mais uma vez, o economista parece acertar nas previsões. O livro foi lançado nos EUA em 11 de maio. Anteontem, ao apresentar a nova Estratégia de Segurança Nacional, Barack Obama foi o primeiro presidente americano a mencionar o déficit fiscal como uma questão estratégica para a segurança do país. O risco americano, diz Roubini no livro, é sua dependência do financiamento externo, sobretudo chinês, e o tipo de barganha — no campo geopolítico e em questões de segurança — que a China pode tentar impor se a situação fiscal nos EUA se deteriorar.
A Grécia também está no oráculo de Roubini. No livro, ele já alerta que o país “poderia perder o acesso aos mercados de dívida em algum momento de 2010”, tendo que ser socorrido por FMI e União Europeia, o que se confirmou. O desdobramento dessa crise, prevê, pode ser um contágio de outros europeus endividados e uma ruptura da zona do euro com “uma destruição parcial da própria UE”.
E não é só. Fazendo juz a seu apelido, Roubini traça um sombrio panorama para as finanças internacionais nas próximas décadas. Para ele, depois da “Grande Moderação” — as últimas décadas do século XX, quando as economias avançadas cresceram com baixa inflação — o século XXI viverá a “Grande Instabilidade”.
Num estilo direto, e talvez por isso às vezes superficial, recorrendo a uma miscelânea de referências intelectuais — que incluem os badalados economistas John Maynard Keynes e Joseph Schumpeter, de correntes diversas — Roubini defende que a saída para sobreviver a essa era de instabilidade é mais regulação do setor financeiro, mais coordenação internacional e mais proteção social aos trabalhadores.
Roubini reserva seu otimismo apenas aos emergentes que, acredita, vão liderar o crescimento global. Nos dois parágrafos que destina ao Brasil, diz que o país é uma “economia dinâmica”, mas que precisa reduzir a dívida da previdência social e capacitar a força de trabalho.
do Luis Favre
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