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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, maio 29, 2010

Livro de Roubini alerta que EUA sofrerão crise de dívida. Ele reserva seu otimismo apenas aos emergentes

Livro de Roubini alerta que EUA sofrerão crise de dívida. Ele reserva seu otimismo apenas aos emergentes

As novas previsões do Dr. Apocalipse

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Luciana Rodrigues –

Turco, filho de judeus iranianos, criado na Itália e com uma respeitada carreira de economista nos Estados Unidos. A trajetória pessoal de Nouriel Roubini é tão improvável como pareciam ser suas previsões sobre a economia global no longínquo setembro de 2006. Naquela ocasião, Roubini fez sua primeira advertência pública sobre os riscos de uma crise financeira global sem precedentes, cujo estopim seria a inadimplência em créditos imobiliários de alto risco. Exatos dois anos depois, o colapso do Lehman Brothers detonou um choque nos mercados não visto desde a Grande Depressão dos anos 30. Agora, a previsão mais alarmista do Dr. Apocalipse — apelido jocoso dado a Roubini pelos céticos quanto às suas “profecias” — é que, a exemplo da Grécia, os EUA também estarão, em breve, na mira do mercado, devido a seu elevado déficit fiscal.

“Os Estados Unidos tornaram-se o maior devedor do mundo, com uma dívida assombrosa de US$ 3 trilhões”, alerta Roubini no livro “A economia das crises — um curso-relâmpago sobre o futuro do sistema financeiro internacional”, escrito em co-autoria com o historiador Stephen Mihm, lançado ontem no Brasil (Editora Intrínseca, 368 páginas, R$ 39,90).

Roubini afirma que, além dos EUA, Japão e Reino Unido podem ser alvo dos “bond vigilantes”, ou seja, investidores relutantes em financiar endividamentos públicos elevados.

Mais uma vez, o economista parece acertar nas previsões. O livro foi lançado nos EUA em 11 de maio. Anteontem, ao apresentar a nova Estratégia de Segurança Nacional, Barack Obama foi o primeiro presidente americano a mencionar o déficit fiscal como uma questão estratégica para a segurança do país. O risco americano, diz Roubini no livro, é sua dependência do financiamento externo, sobretudo chinês, e o tipo de barganha — no campo geopolítico e em questões de segurança — que a China pode tentar impor se a situação fiscal nos EUA se deteriorar.

A Grécia também está no oráculo de Roubini. No livro, ele já alerta que o país “poderia perder o acesso aos mercados de dívida em algum momento de 2010”, tendo que ser socorrido por FMI e União Europeia, o que se confirmou. O desdobramento dessa crise, prevê, pode ser um contágio de outros europeus endividados e uma ruptura da zona do euro com “uma destruição parcial da própria UE”.

E não é só. Fazendo juz a seu apelido, Roubini traça um sombrio panorama para as finanças internacionais nas próximas décadas. Para ele, depois da “Grande Moderação” — as últimas décadas do século XX, quando as economias avançadas cresceram com baixa inflação — o século XXI viverá a “Grande Instabilidade”.

Num estilo direto, e talvez por isso às vezes superficial, recorrendo a uma miscelânea de referências intelectuais — que incluem os badalados economistas John Maynard Keynes e Joseph Schumpeter, de correntes diversas — Roubini defende que a saída para sobreviver a essa era de instabilidade é mais regulação do setor financeiro, mais coordenação internacional e mais proteção social aos trabalhadores.

Roubini reserva seu otimismo apenas aos emergentes que, acredita, vão liderar o crescimento global. Nos dois parágrafos que destina ao Brasil, diz que o país é uma “economia dinâmica”, mas que precisa reduzir a dívida da previdência social e capacitar a força de trabalho.

do Luis Favre

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