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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, maio 29, 2010

Doutrina Serra, o reprise






Doutrina Serra, o reprise

Na história recente, um governante de um grande país fez acusações sem provas a outro país e, com base nelas, tomou medidas que posteriormente se mostraram desastrosas. Esse tipo de conduta de um chefe de Estado pode afundar uma nação, como se verá a seguir.

O governante em questão foi George Walker Bush, que acusou o Iraque de possuir “armas de destruição em massa” e, com base no que não podia provar, declarou guerra ao país, invadiu-o, assassinou centenas de milhares de inocentes e, de quebra, ainda afundou a economia americana e fez os Estados Unidos perderem o respeito do mundo.

Disse bem Dilma Rousseff, sobre a acusação que seu adversário José Serra fez ao governo Evo Morales de que este permitiria o tráfico de “cocaína” para o Brasil: “Estadista não faz acusação sem provas a outro país”.

Após Serra posar todo orgulhoso para fotos ao lado do “exterminador do futuro”, o dublê de ator e atual governador republicano da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, pode-se ter uma idéia do tipo de relações internacionais que seriam construídas por um eventual governo tucano.

Mas que não se pense que os recentes ataques de Serra ao Mercosul, à Bolívia, à Venezuela e ao Irã são produto de suas convicções. Na verdade, o tucano busca agradar aos países ricos, sobretudo aos Estados Unidos, que, como se sabe, estão amplamente incomodados com o protagonismo brasileiro na cena internacional.

Ao fazer esse agrado às potências do norte – chamar Evo Morales de traficante soa como música à poderosa direita americana –, o candidato tucano calcula que terá o apoio delas para se eleger presidente. Mas resta saber quantos votos os governos do mundo rico têm por aqui…

Não, Serra não é louco, não. Ele sabe que ser o candidato do Primeiro Mundo pode lhe abrir financiamentos ilimitados de campanha, via laranjas dos estrangeiros aqui no Brasil, e que pode produzir um noticiário internacional francamente favorável à sua candidatura, gerando pressão nos agentes econômicos internos.

Ainda assim, em situação análoga a esta que o tucano tenta criar, ele perdeu as eleições de 2002 para Lula mesmo com o megaespeculador internacional George Soros dizendo a famosa frase “Serra ou o caos”, dando a entender que o mundo rico afundaria o Brasil se Lula ganhasse a eleição.

Tenho reportado cenas do script encenado em 2002 e em 2006 que estão sendo reprisadas em 2010, tais como fraude em pesquisas, processos do PSDB contra o instituto Sensus, a velha história de que Serra seria “mais preparado” do que o adversário etc. O tucano tentar se vender ao mundo rico como seu candidato a lhe entregar o Brasil, é só mais uma.

Ao fim do processo eleitoral deste ano, porém, tenho a mais absoluta certeza de que não teremos uma nova doutrina Bush versão Terceiro Mundo convulsionando a América Latina, com Serra comprando brigas com nossos vizinhos e entregando nossa economia aos ianques.

A doutrina Serra, que o próprio encena para as potências sedentas de saquearem o Brasil, é um filme velho e sem audiência. O Brasil está mais maduro, esperto e bem satisfeito com o rumo que tomou há oito anos. Não cairá mais nas vigarices renitentes do PSDB.

do Cidadania

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