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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quinta-feira, maio 20, 2010
A luta pela paz sempre vale a pena
A luta pela paz sempre vale a pena
Comentário fastfood sobre as repercussões do imbróglio persa na mídia desta quinta-feira.
Na famigerada trinca, as opiniões já refluíram do antinacionalismo com o qual flertaram na véspera. Os mesquinhos que festejaram a reação agressiva de Hillary Clinton, como Arnaldo Jabor, William Waack e a tucanada entreguista de modo geral, constataram que o pouco de patriotismo que existe no Brasil, inflamou-se. Qualquer tentativa de desqualificar a corajosa diplomacia brasileira pode causar efeitos eleitorais muito negativos.
O Globo amanheceu cheio de cravos e ferraduras. Na capa, um título maroto:
A perguntinha, no entanto, é respondida no próprio texto sob o título, onde se menciona o "passo diplomático mais audacioso dado até agora pelo Brasil". A insinuação de que o Brasil, para obter uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, precisaria se alinhar aos UEA, é ofensiva à integridade moral do país. O CS da ONU deve ser ampliado justamente para que opiniões divergentes das do EUA possam, democraticamente, se fazer valer nas grandes discussões.
O pasquim de Ali Kamel viu-se forçado a publicar, na edição impressa, além dos hariovaldos de sempre, cartinhas como essa:
E publicar entrevistas como essa, com um especialista em relações internacionais, que defende o Brasil e ataca as potências ocidentais. Um trecho:
É ridículo tratar de ingênuos dois países que tentam restabelecer o diálogo com o Irã. O que querem exatamente os diplomatas ocidentais? Tenho a impressão de que alguns países não querem solucionar a crise.
Os editorialistas da big press observaram que, lá fora, a admiração por Lula só aumentou. Mesmo os críticos do Irã escreveram com admiração pelo papel desempenhado pela diplomacia brasileira. Reconhece-se em toda parte que o Brasil lutou valentemente em favor da paz mundial. Além da questão nuclear, o esforço brasileiro teve o mérito de sinalizar, de uma maneira bastante concreta para o Brasil e para todos os emergentes, a nova configuração geopolítica do mundo.
A questão serviu ainda para fazer o Jornal do Brasil romper o cordão umbilical que o fazia parecer um rebento mauformado do Globo, e adotar uma linha independente e nacionalista:
Ótimo sinal. O Rio precisa de um contraponto ao Globo. O JB vem se recusando a fazer isso. Se ele tomar coragem de fazê-lo, pode ter um bom futuro como jornal de opinião na segunda maior cidade do Brasil.
Até amargurado Clovis Rossi resolveu defender a iniciativa diplomática de Lula:
Quem estimulou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a dialogar com os iranianos foi ninguém menos que Barack Obama.
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