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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 30, 2011

Tributo a Daniel Herz, o homem sem medo da Globo

Dizem que Leonel Brizola foi o único a ter coragem de enfrentar a Globo. Não é verdade. Muitos o fizeram. E um dos que fez isso com mais vigor, capacidade e profundidade foi o professor Daniel Herz, cuja morte precoce, aos 51 anos, autor do livro “A História Secreta da Rede Globo”, publicado em 1987 pela editora Tchê.
Amanhã se completam cinco anos de sua morte, mas os reflexos de sua obra continuam provocando polêmica 24 anos depois de publicada.
É ela que serviu de base para o documentário “Além do Cidadão Kane“, sobre Roberto Marinho, que teve repercussão mundial. Produzido pelo Channel 4, uma divisão da BBC, em 1993, ficou muitos anos  sem poder circular no Brasil. A Globo tentou comprar seus direitos para mantê-lo secreto; a Record os comprou para divulgar.
Herz, um jornalista e professor de Comunicação, dedicou sua vida – até mesmo quando já se encontrava doente – à democratização da informação no Brasil. Seu nome, que deveria estar sendo lembrado pelos jornais e jornalistas do Brasil, ao menos aqui, recebe as homenagens que merece por sua luta corajosa.
Seu histórico livro pode ser lido online aqui. E, acima, você pode ver um vídeo em sua memória produzido pela Federação Nacional dos Jornalistas e pelo curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, que Daniel ajudou a fundar.


*tijolaço

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