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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, novembro 23, 2021

História e atualidade do dia 20 de novembro

RESISTÊNCIA – O racismo é, principalmente, uma estrutura de poder e nossa luta, por isso, conta o racismo é contra o capitalismo e sua besta fascista. (Foto: Reprodução oghermez/Instagram) Caroline Alencar, Gustavo Pacheco e Juliana Gomes SÃO PAULO – O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é uma data que traz à tona questões como o racismo e as desigualdades raciais. Em um país como o Brasil, onde 56,1% da população se declara negra ou parda formando a maior população negra fora do continente africano, esse debate se faz extremamente importante. Entretanto, ele acaba sendo deturpado pela ideologia liberal. 20 de novembro é o aniversário de morte de Zumbi dos Palmares, que nasceu livre em torno de 1655, onde hoje é o estado de Alagoas e foi líder do Quilombo dos Palmares. Pouco se sabe sobre sua vida pessoal, pois existem muitas controvérsias a respeito, mas é inegável a sua importância na história da luta pela liberdade do povo negro. A colonização do Brasil pelos portugueses foi instaurada simultaneamente com o regime de escravidão e rendeu muito lucro ao trazer africanos para as terras brasileiras em condição de trabalho escravo. Submetidos a um regime de torturas muitos negros começaram a fugir para o interior, longe das senzalas, em busca de liberdade e assim surgiram os quilombos como o Quilombo dos Palmares (o maior deles surgido no final do século XVI na Serra da Barriga) que chegou a abrigar 20 mil quilombolas. Lá viviam da caça, pesca e agricultura liderados primeiramente por Ganga Zumba e posteriormente por Zumbi. Por ser um quilombo numeroso, começou a chamar a atenção dos colonizadores que queriam destruí-lo e reescravizar as pessoas que viviam livres. Foram diversas tentativas de destruição as quais os quilombolas resistiram bravamente, mas, uma expedição botou fim a vida de Zumbi que teve sua cabeça decepada, em 1695. Sem sua liderança o quilombo desintegrou-se por completo em 1710. Zumbi nasceu livre, viveu livre e morreu pela liberdade! Tentam, constantemente, apagar sua luta e resistência, afinal, os grandes capitalistas temem a organização de todos os povos oprimidos porque essas opressões são fundamentais para manter as engrenagens do capitalismo funcionando. Mas os comunistas lembramos e vivemos o legado de todos os guerreiros que lutaram por um mundo mais justo assim como fez Zumbi! A luta por liberdade continua viva Apesar dos 133 anos da abolição da escravatura a realidade brasileira segue evidenciando que a Lei Áurea é um texto morto. Apesar de decretar a liberdade dos negros escravizados o Brasil nunca ressarciu essa população pelos mais de 300 anos de escravidão, tão pouco garantiu seu direito a saúde, educação e moradia, isto é, o direito à cidadania. Desde o fim do século XIX, a população afro-brasileira subsiste sem o devido amparo social. Pelo contrário, resiste à necropolítica imposta pelo Estado brasileiro que sempre serviu como ferramenta aos interesses da classe dominante. No lugar da escravidão surgiram no legislativo estratégias que forçavam a subordinação dos negros como a Lei de Terras (que impedia o acesso à moradia), a criminalização da vadiagem (que reprimia pessoas negras e sua cultura) e até mesmo os critérios atuais de prisões preventivas. Não restam dúvidas de que o enunciado “somos iguais perante a lei” não passa de uma falácia. Isso comprova-se ainda hoje pelos recentes dados do número de pessoas mortas pela polícia em 2020, no qual 78,9% eram negros, e pelo percentual de pessoas desempregadas no país. Sem hesitações, nunca houve alforria! Por isso, faz-se necessário manter viva a memória dos verdadeiros heróis deste território como Zumbi, Almirante Negro e Tereza de Benguela. Não só para celebrarmos suas lutas, mas para manter vivos nossos quilombos na luta pela organização e resistência do nosso povo rumo à vitória final: a emancipação do povo negro e o poder popular! Os comunistas e o 20 de novembro O Dia da Consciência Negra e o racismo são deturpados nas escolas, meios de comunicação e nas chamadas redes sociais que omitem que foi a população negra a vanguarda da superação da escravidão e quem construiu as riquezas do Brasil e de vários países europeus à custa da morte de milhões de negros. Omitem que o povo negro foi condenado à condição de coisa, objeto, propriedade e que foi a rebelião, a quilombagem (projeto político muito mais avançado que o das classes dominantes) o motor da História que possibilitou o fim da escravidão. É tarefa dos comunistas – que constroem os movimentos sociais revolucionários de juventude –, mulheres, operários e famílias pobres de grande maioria negras em suas fileiras combaterem radicalmente essa deturpação financiada pela elite. Como afirma Leonardo Péricles, as classes dominantes brasileiras são, desde a invasão de 1500, “autoritárias, racistas e patriarcais, perseguindo e não aceitando o povo, os negros e mulheres nos espaços de poder. São entreguistas, ficando ricas mantendo o povo na miséria, principalmente o povo negro e quando há mudança é para aumentar a exploração e opressão sobre nosso povo, pois essa é a tendência do regime capitalista imperialista”. E diferente do que afirmam os capachos das elites brasileiras, majoritariamente brancas e racistas, os comunistas são as pessoas que lutam de fato pela libertação do povo negro, diferente dos fascistas que põe “quilombola e gado no mesmo patamar citando arrobas.” Leonardo Péricles, coordenador nacional do MLB e pré-candidato à presidência da República pela UP, descende de Zumbi dos Palmares não só do ponto de vista racial, mas também político. Afinal, os quilombos muito se assemelham com as lutas travadas pelo MLB que, desde o início da pandemia, fez 16 ocupações pelo Brasil. E a Unidade Popular pelo Socialismo representa o Poder Negro, da juventude e das mulheres, reforçando o que disse o rapper Eduardo Taddeo: “Sei onde mora o pânico da classe rica, na ideologia afrodescendente, ativista e feminista que diz que não precisamos cantar o hino, ser filmados e sim de líder vindo das ruas de barro.” Como afirmou Léo Péricles: “não podemos ser como os reformistas traidores que não pisam no barro.” Nosso papel enquanto comunistas é ser a vanguarda para uma revolução socialista que acabe com a exploração capitalista e o racismo e instaure o poder popular.
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