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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, junho 30, 2014

Para decidir os rumos do Brasil ESCRITO POR FREI BETTO

Para decidir os rumos do Brasil
ESCRITO POR FREI BETTO



Mês que vem começa a propaganda eleitoral compulsiva e compulsória. Mais uma eleição em outubro, da qual é importante todos nós participarmos. Antes, porém, haverá algo tão importante quanto: o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana, na Semana da Pátria (1 a 7 de setembro).

Eis a ocasião de dar uma virada no jogo! Vamos responder à questão: “Você é a favor de uma Constituinte Exclusiva e Soberana sobre o sistema político?”. Adianto aqui a minha resposta: eu sou.

Não será a primeira vez que isso acontece. Em 2002, o presidente FHC queria que o Brasil integrasse a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), monitorada pelos EUA. O povo brasileiro foi consultado em plebiscito. Foram coletados 10.234.143 votos em 46.475 urnas em todo o país. O resultado comprovou a vontade popular: 98,32% dos eleitores se manifestaram contra a entrada do Brasil na ALCA.

No mesmo plebiscito havia outra pergunta: se o Brasil deveria ceder o território de Alcântara (MA) para os EUA instalarem uma base militar. Resultado: 98,54% votaram contra. O acordo foi anulado.

Outros plebiscitos foram convocados: em 2000, sobre a dívida externa; em 2007, sobre a privatização da Vale do Rio Doce (que só piorou após sair do controle do Estado).

A Constituição de 1988, em vigor, representa uma transição conservadora da ditadura à democracia. Teve o erro de não ser exclusiva. Foram seus formuladores os mesmos deputados e senadores eleitos para o Congresso pelo atual sistema político viciado. Por isso, preservaram muitos resquícios da ditadura, como a militarização da polícia, a estrutura fundiária favorável ao latifúndio, o pagamento da dívida pública, a injusta anistia aos torturadores e assassinos do regime militar, impunes até hoje!

A Constituinte Exclusiva e Soberana deverá ser unicameral, sem o Senado, e sem tutela do Judiciário e ingerência do poder econômico. Só através dela nosso país alcançará, de modo pacífico, as tão almejadas reformas de estruturas, como a agrária e a tributária, e priorizará a qualidade da educação, da saúde, do transporte público e de outras demandas populares.

Com essa Constituinte, proposta pelos movimentos sociais, poderemos aperfeiçoar a democracia representativa e participativa, e fortalecer o controle social sobre as instituições brasileiras.

Participe desde já! Esta é a forma e o momento de mudarmos o sistema político do Brasil, que hoje monopoliza em mãos do Congresso a convocação de plebiscitos e referendos.

Organize um Comitê Popular ou participe dos já criados em sua cidade, bairro, sindicato, movimento social ou partido político. Faça de seu computador uma arma para o aperfeiçoamento de nossa democracia! Saiba como fazê-lo e onde os comitês já atuam através destes contatos:www.plebiscitoconstituinte.org.br / facebook.com/plebiscitoconstituinte /

Email: plebiscitoconstituinte(0)gmail.com


Frei Betto é escritor, autor do romance “Aldeia do silêncio” (Rocco), entre outros livros. 

Cinco coisas que nunca agradecemos a União Soviética







1 - Direitos da Mulher: Enquanto algumas ilhas haviam concedido para as mulheres o direito ao voto já no século XIX, a primeira grande mudança ocorreu no começo do século XX. No ano de 1917, somente quatro países (Austrália, Finlândia, Noruega e Dinamarca) haviam adotado o sufrágio feminino. A Revolução Russa de 1917, que defendeu a igualdade de direitos para todos, difundiu o temor de que as feministas encontrassem no comunismo um sistema mais atrativo, e puderam conspirar junto com os bolcheviques para importar a ideologia nos países ocidentais. A melhor forma de cortar a raiz semelhante ameaça era conceder as mulheres o direito ao voto. A Grã Bretanha e a Alemanha legalizaram em 1918, e os EUA em 1920, outros logo tomariam o mesmo caminho. A França foi a única potência que não reconheceria esse direito até 1944.



2 - Legislação Trabalhista: Isso é bastante óbvio. Contamos com uma semana trabalhista de 5 dias, férias pagas de 2 a 4 semanas, licença maternidade, assistência de saúde, além de equipamentos de segurança para os operários, etc... Pela pressão que exerceu o comunismo sobre o capitalismo. Nunca conseguimos ver a face humana do comunismo, mas graças a URSS, foi possível ter tido a noção do lado mais humanitário frente ao capitalismo.



3 - A Segunda Guerra Mundial e a reconstrução depois da vitória: A URSS desempenhou um papel fundamental na derrota da Alemanha nazista. Stalingrado é o famoso campo de batalha que conseguiu dar trégua na guerra relâmpago (“Blitzkrieg”) e mudou o desenvolvimento da guerra. A URSS sofreu a perca de 23,4 milhões de pessoas (mais que na Alemanha e mais de 26 vezes o número de mortes que sofreram os Estados Unidos e o Reino Unido juntos). Uma vez concluída a guerra, foi desenhado o Plano Marshall devido que os países aliados do Ocidente não queriam que a Europa fosse sucumbida pelo socialismo, com a velha desculpa de que os habitantes de cada país seriam submetidos pela “doutrina da fome e da desolação”. Contudo, o Plano foi desenvolvido somente sob a condição de que os comunistas fossem excluídos dos parlamentos dos países que recebiam ajuda. Claro “exemplo de democracia”.



4 - O caminho anti-colonial: Enquanto o imperialismo alimentava a maquinaria industrial e capitalista, a URSS defendia a causa das colônias exploradas. Estendeu sua ajuda aos países que lutavam pela sua libertação e aos países que recentemente haviam conseguido sua independência. As inclinações soviéticas pela luta libertadora na Índia não são um segredo para ninguém, para um país pobre que lutava para se manter em pé, a ideologia socialista resultava naturalmente atrativa.



5 - Descobrimentos científicos: Os primeiros soviéticos lançaram o primeiro satélite, logo enviaram o primeiro cachorro, o primeiro homem e a primeira mulher ao espaço. Também desenvolveram diversos desenhos televisivos. Para resumir, não havia um Tata Sky (sistema de difusão direta pelo satélite) senão fosse pela magia soviética. Além do mais, os soviéticos também tiveram o êxito de terem criado órgãos artificiais, o primeiro helicóptero, a xerografia e também o mais famoso e célebre fusil AK-47.

Aqui estão apenas cinco coisas a agradecer a URSS, mas poderiam selecionar outras muitas coisas como a alfabetização universal, a luta contra o fanatismo religioso e nacional, a elevação do nível de vida da classe trabalhadora, o advento da arte e da cultura e vários outros exemplos.

Fonte: http://es.rbth.com/articles/2012/01/06/cinco_cosas_que_nunca_le_agradecimos_a_la_union_sovietica_15110.html

Padre Júlio Lancellotti é intimidado por ter dado entrevistas contra a PM

Nestes tempos de protestos, aqueles que estão do lado de cá, da rua, longe do sistema institucionalizado, sofrem as consequências por criticar o sistema. Quando estas pessoas buscam mudanças nas formas de se fazer política, e começam a ter êxito, imediatamente se sujeitam a várias formas de intimidações.
Intimidar é fazer com que outros façam o que alguém quer, através do medo. A intimidação é a resultante do desajuste da compulsão competitiva normal de dominância inter-relacional, geralmente vista em animais, mas que é mais completamente modulada por forças sociais em seres humanos.
Basta o cidadão querer exercer os seus direitos de ter voz, ou defender aqueles que não têm, que logo, os braços armados deste malfadado sistema insistem em reprimir. Não é de hoje que a violência Estatal alcançou o asfalto, e também há tempos que elas estampam as capas dos jornais. Entretanto, muita coisa acontece aos sussurros dos torturadores psicológicos, que atormentam a segurança do cidadão que se presta manifestar.
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Pessoas como o Padre Julio Lancellotti, grande parceiro dos moradores de rua e apoiador dos protestos populares. Ao olhar mais atento,  é comum o vê-lo cruzando a multidão em meio a faixas e gritos de ordem. Sempre sereno em suas palavras, trata-se de uma figura que conforta àqueles que estão ali presentes. De outra forma, o Padre Júlio, apesar da serenidade e postura pacífica, não é um cidadão passivo. Ele tem enfrentado intimidações e ameaças veladas do sistema e dos seus maus policiais.
Estes dias, após ser acertado por um estilhaço de uma bomba de gás lacrimogênio durante um protesto, ele concedeu entrevistas à mídia, repudiando a atitude daqueles policiais que o teriam acertado. - “O que me feriu mais foi a repressão e violência geral da PM. Acho que eles precisam ter outras formas para agir”, disse o Padre ao portal G1. “Toda ação tem uma reação. É preciso saber lidar com essa insurgência da juventude” – complementou. No dia seguinte, o Lancellotti recebeu mensagens no celular enviadas por militares da alta cúpula repudiando a entrevista concedida e intimidando-o de forma velada.
Esta foi a mensagem encaminhada para o Padre Júlio:
Senhor Padre - Bom dia.
Em face do sue total desconhecimento sobre a atuação da Polícia Militar nas manifestações de rua, demonstrado no seu depoimento prestado em matéria do Estadão, nesta data, iremos chamá-lo para acompanhar os próximos planejamentos e reuniões: quem sabe o Sr possa nos ajudar, não é?”
É claro que um funcionário público, militar, em uma instituição altamente burocratizada não deveria ter a liberdade para enviar mensagens de texto de cunho intimidatório. Caso a polícia quisesse que o Padre Júlio acompanhasse as reuniões da corporação, que o fizesse por meio de ofício formal, assim como sempre o fizeram. A atitude de tal policial eventualmente pode não ser encarada como crime, porém é no mínimo anti-ético e intimidador.
Juridicamente falando, intimidar é ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto grave. Os tribunais brasileiros têm aceito, embora nem sempre este posicionamento não seja dominante, ameaças vagas e incertas. Ameaça vaga é aquela em que o agressor não discrimina devidamente o que ocorrerá ou contra quem se voltará a ação (ex. “a sua família vai pagar o preço”, “você pode perder tudo” se” divulgar o meu vídeo, irá pagar caro” etc). Para a jurisprudência brasileira, é necessário também ter o chamado animus freddo, caracterizado pelo tom calmo do agente, do mesmo modo como ocorreu na mensagem irônica direcionada ao padre.
Assim como no caso do Padre Júlio, são corriqueiras às intimidações veladas aos jornalistas quando retratam os fatos sombrios da corporação militar. A mesma atitude ameaçadora atingem os advogados quando são perseguidos por policiais após as manifestações e até mesmo quando são vigiados enquanto tomam cerveja numa mesa de bar.
Se não bastasse estas intimidações corriqueiras, no qual infelizmente já estamos aprendendo a lidar, ativistas estão sendo ameaçados dentro dos coletivos e ocupações, invadidos por policiais. Diversas buscas sem mandado insistem em ocorrer e até mesmo a família destes jovens ativistas estão apanhando dentro de suas casas, quando destas invasões, sem direito a câmera, holofotes, nem defesa. E tudo isto está ocorrendo como uma forma de intimidação institucionalizada para que a rua se cale. Mas não.

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