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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 28, 2014

CHICO BUARQUE DÁ AULA DE REALISMO POLÍTICO

Chico Buarque , um dos artistas brasileiros mais importantes e admirados no planeta, o cara que disse com todas as letras que o PSDB fala grosso com a Bolívia e fino com os EUA, teceu em entrevista de 2011 pertinentes considerações sobre a política externa e o combate da desigualdade social e econômica iniciadas no governo Lula e prosseguidas com Dilma. Dado o vira-latismo que tomou conta da classe média online nas redes sociais por causa da Copa, vale e muito a pena relembrar essas declarações agora, ainda mais vindas de quem vieram. Ler (e ouvir) Chico é sempre um alento.
No entanto, o mais relevante é que ele confirma o que defendo aqui na página desde o começo sobre as concessões que o Partido dos Trabalhadores precisa fazer. Não gosta da governabilidade do PT e prefere a esquerda "pura", que deliberadamente joga pra perder? Paciência. Com o PT ou com coisa (muito) pior no lugar dele, você vai TER que lidar com a materialidade histórica e, se quiser mudar o fisiologismo da nossa democracia, vai TER que jogar conforme as regras estabelecidas há muito tempo no país, ir comendo pelas beiradas e mudar as regras aos poucos, dando um passo rumo a equidade social e econômica de cada vez.
Sempre que entrar em assuntos concernentes a política você VAI favorecer as grandes forças partidárias em disputa, querendo ou não, agindo por dentro dos partidos ou por fora, de modo consciente ou não. Não dá pra ser inocente e condenar quem está há 12 anos mantendo o PSDB longe do Palácio do Planalto, apesar das concessões - que eu, você e com certeza muita gente dentro do próprio PT também repudia, apesar de ser obrigado a agir assim. Bem-vindos ao deserto do real(politik).
"Eu tenho um milhão de críticas ao PT. Pessoas que conheci quando era um pequeno partido hoje são pessoas com quem eu não quero me encontrar. As pessoas que rodeiam o Lula eu não quero encontrar. Essas pessoas eu não quero ver pela frente. Não vou a Brasília, não vou ao Palácio, não tenho atração alguma pelo poder. Ao mesmo tempo, é muito cômodo eu, que não tenho de governar, dizer isso tudo: “Ah, com esse fulano eu não falo”. Eu não preciso falar. O Lula tem que falar, ele tem que lidar com essa gente. A Dilma tem que lidar com uma porção de gente que eu não convidaria para entrar na minha casa [risos]. Eu não sou um político e não tenho a menor vocação para isso. Nunca seria. Tenho as minhas posições claras, mas também reconheço que é confortável estar em casa e [ficar falando] “Porra, olha o Lula tirando foto com não sei quem, a Dilma dando abraço em não sei quem”. Ninguém vai governar sem certos acordos, sem certas alianças. É impossível, pelo menos no sistema político que se tem aqui no Brasil. Ninguém faz."
Chico Buarque - PSDB fala fino com EUA e grosso com hermanos:http://saraiva13.blogspot.com.br/2010/10/chico-buarque-psdb-fala-fino-com-eua-e.html
Descurtir*memesconscientes

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