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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
terça-feira, maio 25, 2010
Mídia oculta os crimes dos ruralistas
Mídia oculta os crimes dos ruralistas
18/05/2010
A Agência Câmara noticiou nesta semana que a Polícia Federal ouviu os depoimentos de três ex-diretores do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), entidade vinculada aos ruralistas, suspeitos de fraudes em licitações que causaram rombo de R$ 10 milhões aos cofres públicos. A mídia hegemônica, que clamou pela instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) contra o MST, simplesmente evitou tratar do assunto. Ela faz alarde contra as entidades ligadas à reforma agrária, mas silencia totalmente sobre as falcatruas dos barões do agronegócio.
A reportagem revela que o esquema foi descoberto durante a “Operação Cartilha”, desencadeada em fevereiro passado. “Um dos ouvidos, segundo informações da PF, foi indiciado por formação de quadrilha e fraude em licitação. A Polícia Federal não revelou os nomes dos ouvidos e nem quem foi indiciado. Prestaram depoimento ao delegado Irene Pereira, esposa do deputado federal Homero Pereira (PR) e outros dois ex-diretores do Senar. Sendo que ela foi indiciada”. Irene e outros cinco executivos sob investigação sigilosa faziam parte da alta gerência do Senar.
Desvio para a campanha eleitoral?
A “Operação Cartilha” foi solicitada pela Controladoria-Geral da União para apurar o desvio de materiais destinados ao Programa de Formação Rural do Senar. A CGU estima que o prejuízo ao erário seja de R$ 9.926.601,41. “Investigações da PF indicam que contratações de entidades sem fins lucrativos visavam, na realidade, favorecer empresas do ramo gráfico de Brasília”. Inúmeras contratações foram executadas sem licitações e com preços superfaturados. Há suspeitas de que o dinheiro seria desviado para as campanhas eleitorais de candidatos vinculados aos ruralistas.
Esta não é a primeira, nem será a última, denúncia envolvendo os barões do agronegócio, que se travestem de “paladinos da ética” e lideram a histeria contra os subsídios públicos concedidos às entidades vinculadas à reforma agrária. O Senar, administrado pelas federações estaduais filiadas à Confederação Nacional da Agricultura (CNA), presidida pela fascistóide Kátia Abreu, gerencia milhões de reais dos cofres públicos sem qualquer transparência. Levantamento recente confirma os seguintes valores doados às entidades ruralistas para a “qualificação dos produtores rurais”:
- Senar/Acre – R$ 978.854,63
- Senar/Alagoas – R$ 778.188,26
- Senar/Amazonas – R$ 663.270,90
- Senar/Amapá – R$ 426.151,81
- Senar/Bahia – R$ 2.171.477,38
- Senar/Ceará – R$ 3.782.325,73
- Senar/Distrito Federal – R$ 352.188,11
- Senar/Espírito Santo – R$ 411.689,98
- Senar/Goiás – R$ 1.634.195,00
- Senar/Maranhão – R$ 1.670.632,30
- Senar/Minas Gerais – R$ 11.274.446,00
- Senar/Mato Grosso do Sul – R$ 1.752.641,00
- Senar/Mato Grosso – R$ 3.813.263,87
- Senar/Pará – R$ 1.517.276,68
- Senar/Paraíba – R$ 184.633,07
- Senar/Pernambuco – R$ 400.000,00
- Senar/Piauí – R$ 345.638,43
- Senar/Paraná – R$ 6.710.444,31
- Senar/Rio de Janeiro – R$ 1.105.468,25
- Senar/Rio Grande do Norte – R$ 318.511,33
- Senar/Roraima – R$ 502.979,08
- Senar/Rondônia – R$ 1.047.509,27
- Senar/Rio Grande do Sul – R$ 4.817.230,00
- Senar/Santa Catarina – R$ 2.838.636,77
- Senar/Sergipe – R$ 609.533,90
- Senar/São Paulo – R$ 9.625.122,90
- Senar/Tocantins – R$ 650.523,70.
Kátia Abreu sob suspeição
Este enorme volume de recursos, porém, geralmente não é destinado à formação dos produtores. Ele serve, inclusive, para o pagamento de altos salários aos dirigentes das entidades ruralistas – o que é ilegal. A Federação da Agricultura de São Paulo, por exemplo, já foi condenada a devolver um milhão de reais, desviados para o pagamento de diárias dos seus dirigentes. As entidades dos ruralistas do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso do Sul também já estão sob investigação.
No caso da federação dos ruralistas do Tocantins, presidido por Kátia Abreu entre 1995-2005, as suspeitas são ainda mais graves. O Tribunal de Contas da União (TCU) já questionou a prestação de contas do Senar e até convocou Kátia Abreu para esclarecimentos. O caso é tão sinistro que a própria CNA, antes da eleição da senadora para sua presidência, decretou intervenção na unidade do Tocantins. A sujeira parece ser brava. Mas a mídia prefere ocultar os crimes dos ruralistas – inclusive porque Kátia Abreu é sondada para ser vice na chapa do demotucano José Serra.
do Altamiro
Procuradora Sandra Cureau está repetindo o caso do promotor Blat
Procuradora Sandra Cureau está repetindo o caso do promotor Blat
A própria procuradora Dra. Sandra Cureau está fazendo propaganda eleitoral subliminar negativa contra Dilma Rousseff, quando faz "denúncias" contra a campanha de Dilma na imprensa, sem que haja denuncia à justiça.
Uma denúncia destas à imprensa, partindo de uma autoridade como procuradores de república é muito séria contra qualquer pessoa, e nunca deve ser feita de forma informal, sobretudo em meios de comunicação de massa (até porque a pessoa acusada fica em extrema desvantagem para exercer seu direito de defesa). Esse tipo de denúncia informal traz prejuízos à imagem das pessoas, sobretudo àquelas expostas à opinião pública. Em um processo político pré-eleitoral, é uma forma de fazer campanha negativa.
Se a própria procuradora não formalizou denúncia à justiça, é porque não reuniu fundamentação suficiente ainda e, neste caso, como pode a segunda mais alta autoridade da procuradoria geral eleitoral, fazer acusações precipitadas através da imprensa?
A atuação da procuradora, neste caso, repete o episódio do promotor Blat. Fez acusações na imprensa contra o PT e diretores da Bancoop, sem apresentar denúncia à justiça.
Quer queira, quer não, isso é uma forma de fazer campanha eleitoral negativa.
Por que só contra Dilma?
Como agravante, por que a procuradora diz à imprensa estar reunindo provas apenas contra Dilma, se há denúncias equivalentes contra todos os candidatos?
Procuradores da República defendem o cidadão. Não são advogados do PSDB, nem do DEM. Tem que acompanhar e fiscalizar os atos de todas as candidaturas, e agir contra abusos de todas elas, sem usar "dois pesos e duas medidas".
A Procuradoria Regional Eleitoral de Santa Catarina (PRE/SC), já denunciou José Serra (PSDB/SP), por delitos que o Brasil todo já viu. A PRE/SC já encaminha a denúncia para Procuradoria Geral Eleitoral, em Brasília.
Será que a Dra. Cureau é única pessoa que ainda não viu esse delito de José Serra estampado na imprensa, para arrolar José Serra também em sua fala imprópria à imprensa? Logo ela, a autoridade mais envolvida no processo de fiscalização eleitoral dos presidenciáveis?
A denúncia contra José Serra é por propaganda eleitoral antecipada, no feriado do dia 1º de maio em Camboriú, no 28º Congresso Internacional de Missões dos Gideões Missionários, patrocinado com dinheiro público de governos conduzidos pelo partido de José Serra:
* R$ 300 mil do Governo do Estado de Santa Catarina, cujo governador é do PSDB (Leonel Pavan);
* R$ 240 mil da Prefeitura de Camboriú, cuja prefeita também é do PSDB (Luzia Coppi);
Assim não dá. Parece que a Procuradoria só tem olhos para fiscalizar Dilma, e ainda com critérios duvidosos. Parece que está alocando 100% de seus esforços para fiscalizar Dilma, com um rigor arbitrário e inquisidor, e dedicando ZERO por cento para fiscalizar Serra.
Isso é também uma forma de parcialidade, ao privilegiar a fiscalização apenas de uma candidatura em detrimento de outra.
Queremos os pratos da balança da Justiça Eleitoral equilibrados. Queremos eleições limpas. Queremos um Ministério Público que defenda o cidadão, o eleitor, e seja completamente imparcial. Que não se submeta às pressões do poder econômico que controla a imprensa, nem das campanhas midiáticas dos donos da imprensa, nem das bancas de advocacia do DEM e do PSDB. Que a mesma lei e procedimentos que vale para Serra e Marina, valha para Dilma.
Atualização às 16:37hs
A amiga leitora Maria Isabel lembrou bem:
Endereço de reclamação ao Ministério Público Eleitoral: pge@pgr.mpf.gov.br
dos amigos do Presidente Lula
Irresponsabilidade na tragédia do Golfo do México
Irresponsabilidade na tragédia do Golfo do México
terça-feira, 25 maio, 2010 às 18:47
Explorar petróleo é uma atividade de alto risco e por isso mesmo deve estar cercada das maiores precauções. As empresas petrolíferas deveriam levar para todos os países em que atuam a experiência acumulada em termos de operação segura. Mas não foi isso que se viu no terrível acidente com a plataforma da BP, no Golfo do México, que continua despejando petróleo ininterruptamente no mar.
Segundo informação do Wall Street Journal, a instalação da BP não utilizava um sistema acústico de controle das válvulas de segurança capaz de tapar o poço imediatamente, já que a regulamentação dos Estados Unidos não o exige. Por isso que disse em post do dia 13 que não pode deixar de haver controle estatal sobre a operação de petróleo.
O uso desse sistema é obrigatório no Brasil e na Noruega, de acordo com o jornal americano, e se ele efetivamente aumenta a segurança deveria ser adotado pela BP ou qualquer outra empresa independentemente de ser compulsório ou não.
A Associação Brasileira de Integração e Desenvolvimento Sustentável (Abides) considera que a BP colocou as metas de produção à frente das metas de segurança, violando um dos pilares de qualquer indústria.
“O caso típico é a resistência da BP e da indústria do petróleo em adotar o “sistema acústico” de monitoramento como mais um equipamento redundante para monitorar as condições de fluxo na extração de petróleo e gás, equipamento que poderia ter alertado para as condições adversas da operação em curso e contribuído para evitar a catástrofe. As razões de custo foram os argumentos usados pela indústria”, diz a Abides em artigo que analisa a catastrofe com a plataforma Deepwater Horizon.
As empresas que tanto falam em responsabilidade social e ambiental estão mais preocupadas com seus lucros e dividendos, como observou o poeta argentino Juan Gelman no artigo Feras, publicado no site Cubadebate.
Gelman, vencedor do Prêmio Cervantes de 2007, escreveu que no dia 27 de abril, exatamente uma semana depois do desastre, a BP anunciava a seus acionistas que os lucros obtidos no primeiro trimestre do ano tinham duplicado em relação ao mesmo período de 2009. “Parece que não foi o suficiente para comprar a válvula”, ironizou o poeta e jornalista.
do Tijolaço
Gasto com pesquisa é o maior em 11 anos
Gasto com pesquisa é o maior em 11 anos
Ciência e tecnologia: Investimento privado aumenta, mas só 2 mil dos 87 mil doutores do país estão nas empresas
Sérgio Rezende: “Sempre faltam recursos, mas a nossa experiência, no caso das subvenções, mostra que a qualidade dos projetos ainda deixa a desejar”
Cristiano Romero, de Brasília – VALOR
O Brasil está investindo, neste ano, o equivalente a 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento (P&D). É o maior patamar de investimento dos últimos 11 anos – no ano 2000, o país aplicou 1,02% do PIB e, no ano passado, 1,3% do PIB. Do total deste ano, 0,65% está sendo desembolsado por empresas privadas e estatais, percentual praticamente idêntico ao do setor público.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, diz que, nos últimos anos, a estabilização da economia e a abertura comercial do país forçaram as empresas a investir mais em P&D, mas ele acha que elas ainda investem muito pouco. “Falta cultura”, afirma Rezende nesta entrevista. Ele informa que, dos 87 mil doutores existentes no Brasil, apenas dois mil trabalham em empresas. O ministro acredita, no entanto, que há um processo de mudança em curso.
Físico de materiais com doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), Rezende afiança que o Brasil está começando a ser percebido lá fora como um ator emergente não só na economia, mas também na área de ciência e tecnologia. Há duas semanas, ele foi à Costa Oeste americana, em viagem organizada pelo diplomata Rodrigo Baena, responsável na Secretaria de Comunicação do governo pela divulgação do Brasil no exterior.
Já como resultado da viagem, a Intel manifestou interesse em entender melhor as condições para implantar um centro de pesquisa no Brasil. A IBM decidirá, entre Brasil, Austrália e Emirados Árabes, onde instalar o seu. E a General Eletric (GE), recordado o ministro, optou recentemente pelo Brasil.
De amanhã até sexta-feira, o ministro comandará, em Brasília, a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), que, até sexta-feira, já tinha quase 5 mil inscritos.
Valor: Que avanços o senhor julga que ocorreram na área de C&T nos últimos anos?
Sérgio Rezende: Houve quatro avanços, que estão relacionados às quatro prioridades do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação, lançado em 2007. O primeiro foi a consolidação de um sistema nacional de C&T. O sistema já existia com esse nome há muito tempo, mas somente agora ele está funcionando efetivamente.
Valor: No que consiste esse sistema?
Rezende: Consiste em decidir sobre a apoio a programas não de cima para baixo, mas de maneira articulada com sociedades científicas e entidades empresariais e com os Estados e até com alguns municípios. Hoje, existe um conselho de secretarias estaduais de C&T. Vários dos programas que temos atualmente foram articulados com os Estados, que têm que entrar com contrapartida, algo que foi definido pelo próprio conselho.
Valor: Como funciona a contrapartida?
Rezende: No caso de São Paulo, é um para um – para cada real colocado pelo governo federal num programa de pesquisa, o Estado coloca outro. Nos casos de Rio de Janeiro e Minas Gerais, a gente entra com 1,5 e eles, com 1. Nos Estados mais pobres, a proporção é de 5 para 1. Há um programa, destinado a expandir e consolidar o sistema de C&T, que é o de Núcleos de Excelência (Pronex). O edital é feito pelas fundações estaduais e uma boa parte dos recursos vem do governo federal. O resultado efetivo desse programa, que foi criado em 1997, mas sofreu esvaziamento e depois foi revigorado pelo governo Lula, é que os Estados passaram a colocar recursos. Os governadores passaram a ver que, se colocassem mais recursos nesses programas, mais eles receberiam do governo federal.
Valor: Há outros programas em parceria com os Estados?
Rezende: Há, por exemplo, o Programa de Apoio à Pesquisa em Pequena Empresa (Pappe). A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) entra com os recursos da subvenção [a fundo perdido], mas a empresa tem que disputar isso por meio de edital. O governo estadual também coloca recursos, mas não pode escolher diretamente os projetos. A Lei de Inovação exige que haja disputa, via edital de concorrência, pelos recursos que vêm de subvenção.
Valor: Qual foi o segundo avanço?
Rezende: Foi o grande aumento nos recursos financeiros. No ano 2000, os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que inclui dinheiro para pesquisa e subvenções dadas a empresas, limitaram-se a R$ 220 milhões, em valores de hoje. Em 2010, vão a R$ 3,1 bilhões. Considerando todos os recursos federais, o que inclui as verbas dos institutos do MCT, os programas nuclear e espacial, o CNPq e outras ações do ministério, o orçamento saltou, no mesmo período, de R$ 1,070 bilhão para R$ 5,376 bilhões.
Valor: Na semana passada, o governo anunciou que cortará R$ 10 bilhões do orçamento. A sua área sofrerá cortes?
Rezende: Não houve nem haverá contingenciamento no MCT. Um artigo que está na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) há alguns anos proíbe o contingenciamento de recursos dos fundos setoriais.
Valor: Mas eles foram contingenciados nos últimos anos.
Rezende: Em 2007, o presidente Lula decidiu que o contingenciamento dos fundos seria decrescente até chegar a zero em 2010. É isso o que está ocorrendo.
Valor: Qual foi o terceiro avanço?
Rezende: Foi a percepção de muitos empresários e empreendedores da necessidade de investir em C&T e inovação, isso em paralelo à criação dos novos instrumentos de apoio. O setor privado está investindo 0,65% do PIB em P&D. Em 2000, investia 0,47% do PIB.
Valor: Os críticos dizem que é muito pouco quando se comparam aos investimentos feitos por países que concorrem com o Brasil?
Rezende: Isso é verdade. O interesse das empresas cresceu, mas ainda é muito pequeno. Mas antes não havia nada. Temos três modalidades de subvenção econômica: o Pappe; o edital nacional, criado em 2006; e o Prime (Primeira Empresa Inovadora), para novas empresas, lançado no ano passado. Nos três programas, foram beneficiadas até agora cerca de 2.500 empresas. Em 2006, do primeiro programa [de subvenção nacional], foram beneficiadas aproximadamente 200 empresas.
Valor: Quanto foi liberado?
Rezende: O total chegou a cerca de R$ 2 bilhões. As liberações são crescentes, o que demonstra o interesse das empresas. O edital nacional deste ano, que será anunciado durante a conferência pela Finep, vai dispor R$ 500 milhões.
Valor: Por que o interesse empresarial ainda é aquém das necessidade? Faltam recursos?
Rezende: Falta cultura. Sempre faltam recursos, claro, mas a nossa experiência, no caso das subvenções, mostra que a demanda é muito grande, mas a qualidade dos projetos, que são julgados por comitês com representantes das empresas, do meio acadêmico e do ministério, ainda deixa a desejar.
Valor: Por quê?
Rezende: Porque as empresas não têm pesquisadores de uma maneira geral.
Valor: E por que elas não contratam pesquisadores?
Rezende: Porque é uma questão cultural. Até a década de 80, a preocupação das empresas era pagar os salários no fim do mês, correr contra a inflação. Na década de 90, aconteceram duas coisas marcantes: uma foi a estabilização da economia; outra foi a abertura comercial. Com a abertura, aquelas empresas que não tinham gestão foram engolidas, muitas desapareceram, outras foram à falência. Mas já havia um movimento, que começou no governo e foi tendo a adesão das empresas, para desenvolver programas de gestão da qualidade. As empresas passaram a ver que tinham que ter certos padrões para ter boa gestão. Hoje, muitas das pessoas que foram líderes daquele processo, como Jorge Gerdau, são os que lideram agora o movimento para a inovação. Uma vez que a empresa tem gestão da qualidade, ela possui um produto de mercado, vai bem e sobrevive. Mas, para fazer grandes avanços, ela tem que ter coisa nova.
Valor: Faltam mestres e doutores na empresa brasileira?
Rezende: Na Coreia do Sul, 80% dos pesquisadores estão nas empresas. Nos Estados Unidos, mais de 60% estão nas companhias, embora lá haja um grande contingente no governo por causa dos laboratórios e dos investimentos em defesa. No Brasil, a maioria está no governo [principalmente, nas universidades]. Dos 87.063 doutores que temos no Brasil [dados de 2008), apenas 2 mil, o equivalente a 2,3% do total, estão trabalhando em empresas. Mas essa situação está começando a mudar.
Valor: Como?
Rezende: Há dez anos, havia somente 200 doutores nas empresas. A mudança foi grande e tenho certeza de que será maior ainda na próxima década. Além disso, o Brasil está formando mais de 10 mil doutores por ano [em 2009, foram 11,4 mil] e quase 39 mil mestres [38,8 mil no ano passado]. No caso dos doutores, formamos mais do que França, Itália, Coreia do Sul, Espanha e Finlândia e menos do que Índia, Rússia, China, Japão, Alemanha e Estados Unidos.
Valor: O que está faltando para que as empresas contratem pesquisadores, mestres e doutores?
Rezende: Está faltando o sistema empresarial ver que isso faz diferença. Uma empresa que possui doutores tem mais competitividade e maior lucratividade. Não adianta o governo falar. O governo pode criar mecanismos para estimular. Criamos, por exemplo, a Lei da Inovação, que procura aproximar os pesquisadores das empresas. Essa lei criou a subvenção tanto para financiar projetos quanto para contratar mestres e doutores, mas a demanda das empresas para esse tipo de contratação ainda é muito pequena. Há uma interpretação no mercado de que, de um modo geral, o doutor aprofundou os estudos e é muito acadêmico. As empresas acabam preferindo o engenheiro.
Valor: O doutor formado no Brasil não é mesmo muito acadêmico e distante da realidade das empresas?
Rezende: A maioria certamente é, mas isso é um processo. Há muitas universidades formando engenheiros com doutorado. O engenheiro sai do doutorado com uma base teórica, mas muitas vezes experimental também, muito grande. Mas quando chega à empresa, ele precisa se envolver com os problemas e usar toda aquela formação para tentar resolver as questões da companhia.
Valor: O problema está na forma como a universidade brasileira prepara seus doutores?
Rezende: Nós temos, por causa da demanda, um público na área de ciências humanas – ciências sociais, direito, administração etc. – proporcionalmente maior que o de outros países. Na Coreia, na China e na Índia, há uma procura muito maior pelas engenharias.
Valor: O senhor acha que é um problema o país formar mais doutores nas ciências humanas?
Rezende: Não. Isso reflete um estágio da nossa cultura e também das oportunidades existentes. O Brasil forma uma quantidade enorme de advogados, que têm muitas oportunidades no mercado de trabalho. Um exemplo: há inúmeros concursos na área pública para pessoas formadas em direito. O mercado tem um papel importante. Entre 1982 e 2002, o número de estudantes formados em engenharia diminuiu de 26 mil para 15 mil. Isso ocorreu por causa dos anos de estagnação da economia. Os jovens olham para as carreiras que oferecem oportunidades. Hoje, com a retomada do investimento e o crescimento da economia, está faltando engenheiro, e não se forma um da noite para o dia. A Vale e a Petrobras estão procurando profissionais no exterior.
Valor: O que o governo está fazendo para valorizar as ciências exatas?
Rezende: Estamos fazendo, com o Ministério da Educação, algo que terá resultado em dez anos: a Olimpíada Brasileira de Matemática na escola pública. Começou em 2005, por ordem do presidente Lula. O que ocorria até então é que os estudantes das escolas públicas não concorriam na olimpíada nacional de matemática por medo, então, o governo criou uma só para a escola pública. Em 2005, tivemos 10,5 milhões de concorrentes. Em 2009, foram 19,1 milhões, 10% da população brasileira. As crianças não são obrigadas a concorrer, como no exame do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Valor: O que os estudantes ganham ao participar da olimpíada?
Rezende: Os 300 melhores ganham medalha de ouro, os 600 seguintes, medalha de prata, outros 2.100 seguintes, medalha de bronze, e todos ganham uma bolsa de R$ 150 para, no ano seguinte, fazer curso de matemática, fora da sala de aula. Em 2009, estudantes de 43 mil escolas públicas em 5.650 cidades participaram da olimpíada, o que equivale a 99,1% dos municípios. Isso vai estimular muitos estudantes a optarem por engenharia e áreas afins mais adiante.
Valor: É muito comum comparar-se o fracasso brasileiro nessa área ao sucesso da Coreia do Sul.
Rezende: É muito diferente fazer uma política industrial e tecnológica para um país de 8,5 milhões de Km2 e 190 milhões de pessoas, do que fazer para a Coreia, que hoje é um país democrático, mas que quando deu o grande salto não era. Os “chaebols”, os grandes grupos coreanos, eram empresas da área de agricultura, de exploração de recursos naturais, que o governo chamou e disse o que é que eles iam fazer. A política industrial coreana, portanto, foi forçada.
Valor: Qual foi o quarto avanço?
Rezende: Foi o fato de termos priorizado também C&T para o desenvolvimento social, num sentido bem abrangente – inclusão digital, melhoria do ensino nas escolas públicas etc. Há coisas que o MCT não fazia antes. Inclusão digital, por exemplo, não era assunto desse ministério.
Valor: O Brasil é muto atrasado e desigual no acesso à internet rápida. Por que é assim?
Rezende: Eu não diria que está tão atrasado, afinal, existem 60 milhões de usuários de internet no Brasil. Em média, o brasileiro fica na internet três vezes mais tempo do que a média dos outros países.
Valor: O que explica isso não é a internet lenta?
Rezende: Certamente, isso contribui, mas não só. Não há mais acesso porque o custo é alto. Outra razão é que não existe internet ainda nos locais coletivos – principalmente, nas escolas públicas e nos centros comunitários, onde a população mais pobre poderia ter acesso. As escolas estão tendo acesso gradualmente, até o fim deste ano deve chegar a 56 mil. Agora, surge o plano nacional de banda larga porque, há quatro anos, não se falava disso; falava-se apenas de internet. Na medida em que a internet vai ficando sofisticada, a informação passa a ser mais completa e isso exige mais velocidade. O governo decidiu usar os cabos de fibra óptica que pertenciam a empresas estatais de energia e recriar a Telebrás para gerir isso.
Valor: Como ela vai operar?
Rezende: Não está definido ainda. Há visões diferentes dentro do governo.
Valor: Qual é a sua?
Rezende: É que a Telebrás deveria chegar aos municípios e, lá, oferecer o serviço a um provedor de internet a um determinado custo, menor do que aquele que as grandes empresas comerciais cobram hoje. Só no Rio Grande do Sul, há 600 licenças concedidas pela Anatel a pequenos provedores para exploração de internet. Falta chegar a infraestrutura.
Valor: É possível chegar a um custo mais baixo ou haverá subsídio?
Rezende: Por um bom tempo, quem vai bancar isso é o governo. A Telebrás vai levar o serviço aos locais onde não existe banda larga e também onde os preços estão muito altos. No fundo, o que o governo quer é contribuir para a regulação desse mercado, forçando os preços para baixo.
Valor: O setor de telecomunicação era muito ineficiente antes da privatização. O senhor não teme que a recriação de uma estatal crie novas ineficiências?
Rezende: O plano da Telebrás é ser uma empresa enxuta, que vai contratar serviços de outras empresas, como já fazem as empresas privadas. Prefiro correr esse risco a continuar como está hoje. Estão aí os preços altos cobrados pelas empresas privadas e a falta de cobertura. Com a Telebrás, as empresas serão obrigadas a cortar custos e a reduzir preços.
AMEAÇA - PRESIDENTE DO CORECON ESTARIA RECEBENDO AMEAÇAS POR DENUNCIAR QUE SERRA NÃO SERIA ECONOMISTA
AMEAÇA - PRESIDENTE DO CORECON ESTARIA RECEBENDO AMEAÇAS POR DENUNCIAR QUE SERRA NÃO SERIA ECONOMISTA
Serra não seria economista e por isso o Corecon-PB denunciou a irregularidade pedindo providências ao Conselho Federal de Economia, que congrega todos os Corecons do Brasil.
Logo após a denúncia seu presidente, economista Edivaldo Teixeira de Carvalho, teve sua residência invadida por três homens armados que lhe roubaram um automóvel e outros objetos de valor. A violência não parou aí. Telefonemas ameaçadores foram transmitidos à casa de Edivaldo, com a recomendação de que ele ficasse quieto. Sua casa é rondada por automóveis em atitude suspeita.
O pedido teve por motivo o uso indevido da qualificação de economista pelo candidato Serra, que não tem bacharelado em economia nem é registrado em qualquer Conselho Regional. O procedimento do candidato caracteriza falsidade ideológica e charlatanismo, em prejuízo dos que exercem legalmente a profissão.
Do News Front
REVOLUÇÃO MIDIÁTICA - ANATEL DIMINUI RISCO DE MONOPÓLIO E CARTEL NAS TV´S A CABO NO BRASIL
REVOLUÇÃO MIDIÁTICA - ANATEL DIMINUI RISCO DE MONOPÓLIO E CARTEL NAS TV´S A CABO NO BRASIL
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) decidiu suspender a limitação do número de prestadoras de TV a cabo, com objetivo de eliminar as barreiras de entrada a empresas no mercado de televisão por assinatura no Brasil, assim prevenindo contra qualquer formação de cartel e monopólio. Um tiro de canhão na mercância da informação.
A decisão alinha-se as diretrizes do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) e as ações do Plano Geral de Atualização da Regulamentação das Telecomunicações no Brasil, determinou-se também a retomada do processamento de mais de 1.000 pedidos de outorga de TV a cabo em tramitação na autarquia.
Lula: país se aproxima do pleno emprego
Para Lula, país se aproxima do pleno emprego
Presidente afirma que, ao contrário dos anos 70, brasileiros agora têm liberdade política
Flávia Barbosa, Patrícia Duarte e Martha Beck – O GLOBO
BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o Brasil se aproxima de uma situação de pleno emprego, mas melhor do que na década de 1970, quando o país vivia sob ditadura militar. Para ele, a situação está cada vez mais confortável e será crucial para continuar fazendo a economia brasileira girar, o setor produtivo realizar novas contratações e o bem-estar da população aumentar.
— Eu entrei no sindicalismo em 1969. Na década de 70 nós tínhamos pleno emprego e nenhuma liberdade política. Hoje nós estamos criando uma situação de emprego confortável e temos total liberdade política. Se o Brasil continuar assim, eu penso que nós daremos um salto de qualidade extraordinário para ser um dos países do mundo com o menor índice de desemprego — disse Lula.
Os comentários foram feitos no programa semanal de rádio “Café com o presidente”, no qual Lula citou os últimos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Em abril, foram criados 305 mil empregos com carteira assinada, elevando o saldo entre admissões e desligamentos do ano para 962 mil postos. O presidente manteve a projeção de que serão abertas em 2010 dois milhões de vagas.
— Nós queremos que o Brasil tenha pleno emprego, nós queremos que o Brasil tenha uma situação confortável, que as pessoas possam viver bem. Nós, há muito tempo, não temos uma situação dessas — avaliou Lula.
Pleno emprego é um conceito econômico que designa um ambiente favorável à geração de vagas. Não se trata de desemprego zero, pois há sempre uma taxa de desocupação residual na economia, como no caso de jovens que estão em busca do primeiro emprego, por exemplo.
A taxa de desemprego no Brasil nas seis maiores regiões metropolitanas do país ficou em 7,4% em março, no melhor resultado para este mês desde 2002, quando começou a atual série histórica do IBGE. Ela chegou a 13,1% em abril de 2004.
O presidente salientou que a crise financeira global que explodiu em 2008 provocou retração do número de empregados em várias partes do mundo tanto naquele período quanto ao longo de 2009, mas não no Brasil.
— Por isso eu estou feliz e vamos continuar trabalhando para a economia continuar crescendo, a inflação controlada, porque o Brasil não vai jogar fora as oportunidades do século XXI — concluiu Lula.
Mercado aumenta projeção do PIB para 6,46% e vê inflação de 5,67% Com a economia aquecida, o mercado financeiro não para de elevar suas previsões para o comportamento da inflação e do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) este ano. Segundo a pesquisa Focus, do Banco Central (BC), os economistas preveem que a inflação pelo IPCA fechará 2010 em 5,67%, acima dos 5,54% da semana anterior, no 18º aumento seguido das estimativas.
Para 2011, as previsões continuam em 4,80%. O centro da meta de inflação perseguida pelo governo para este e para o próximo ano é de 4,50%.
Já as estimativas para o PIB de 2010 subiram, pela décima semana seguida, de 6,30% para 6,46%. Com inflação em alta e a economia aquecida, a aposta é que a taxa básica de juros Selic — hoje em 9,50% ao ano — vai continuar sendo elevada pelo Banco Central. Pela mediana do mercado, ela fecharia 2010 a 11,75% e 2011 a 11,50%.
Segundo dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, a média diária das exportações brasileiras em maio está em US$ 822,4 milhões — a mais alta do ano e 8,5% maior que a registrada em abril. No mês, as vendas externas do país acumulam US$ 12,33 bilhões e as importações, US$ 10,32 bilhões, o que resulta num superávit de US$ 2,01 bilhões. A melhora nas exportações foi principalmente graças ao reajuste nos preços do minério de ferro, que começa a aparecer agora nas estatísticas.
Postado por Luis Favre
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