Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Sr. Antonio Carlos Pereira — editor responsável de Opinião
Sr. Ricardo Gandour — editor de Conteúdo
Senhores,
É com grande preocupação e mal-estar que a República Bolivariana da Venezuela, por meio de seu Embaixador no Brasil, dirige-se a esse jornal, de reconhecidas qualidade e tradição entre os veículos da imprensa brasileira. E a razão não é outra senão nossa surpresa e indignação com os termos e o tom de que sua edição de hoje (20/07/10) lança mão para atacar o presidente de um país com o qual o Brasil e os brasileiros mantêm relações do mais alto nível e qualidade.
O respeito à plena liberdade de imprensa e de expressão é cláusula pétrea de nossa Constituição e valor orientador do governo de nosso país. A estas diretrizes, no entanto, cremos que devam sempre estar associadas a lhaneza na referência a autoridades constituídas – democraticamente eleitas — e a plena divulgação de todos os fatos associados a uma cobertura jornalística.
Cremos descabido que um jornal como “O Estado de S.Paulo” se refira ao presidente Hugo Chávez, eleito e reeleito pelo voto livre da maioria dos venezuelanos, com o uso de termos e expressões como ”lúgubre circo de Chávez”, “autocrata”, “protoditador”, “circo chavista”, “caudilho”, “lúgubre picadeiro”, “costumeira ferocidade”, “rugiu”, “toque verdadeiramente circense da ofensiva chavista – no gênero grand guignol”.
Mais graves ainda são a distorção e ocultação de informações que maculam os textos hoje publicados.
O presidente Hugo Chávez nunca “atropelou” a Constituição Bolivariana, instituída por Assembleia Nacional e referendada em plebiscito. Ao contrário, submeteu-se, inclusive, a referendo revogatório de seu próprio mandato, prática democrática avançada que pouquíssimos países do mundo têm o orgulho de praticar.
O editorial omite que o cardeal Jorge Savino já foi convocado pela Assembleia Nacional para apresentar provas de sua campanha difamatória frente aos deputados — também democraticamente eleitos –, mas o mesmo rechaçou a convocação. Prefere manter suas acusações deletérias a apresentar aos venezuelanos e à opinião pública internacional os fatos que lastreariam suas seguidas diatribes.
Outros trechos do texto só podem ser lidos como clara campanha de acobertamento de um terrorista, como o é, comprovadamente, Alejandro Peña Esclusa: “O advogado de Esclusa assegura que o material foi plantado pelos policiais que invadiram a casa de seu cliente –- considerando o retrospecto, uma acusação mais do que plausível” (grifo nosso)
Esclusa foi preso em sua residência em posse de explosivos, detonadores e munição, após ter sido denunciado, em depoimento à polícia, pelo terrorista confesso Francisco Chávez Abarca –- este criminoso, classificado com o alerta vermelho da Interpol, foi preso em solo venezuelano quando dirigia operação de terror, visando desestabilizar o processo eleitoral de setembro deste ano.
A prisão de Esclusa ocorreu de forma pacífica, com colaboração de sua família, e segue os ritos jurídicos normais: ele tem advogado constituído, direito a ampla defesa e será julgado culpado ou inocente de acordo com o entendimento da Justiça, poder independente de influência governamental ou partidária, assim como no Brasil.
Inadmissível seria o governo da Venezuela ter permitido que um terrorista ceifasse vidas e pusesse em risco a democracia, que nos esforçamos arduamente para defender, ampliar e aprimorar em nosso país, assim como o fazem, no Brasil, os brasileiros.
O “Estado de S.Paulo” tem pleno conhecimento desses fatos, tendo inclusive recebido, em 14/07/10 a Nota de Esclarecimento desta Embaixada, a respeito do desbaratamento da operação terrorista internacional que estava em curso (cópia anexa). O responsável pela editoria Internacional, Roberto Lameirinhas, inclusive confirmou seu recebimento à nossa assessoria de comunicação.
Daí manifestarmos nossa estranheza com a reiterada negativa do jornal em dar tais informações a seus leitores. E ainda tomando como verdade declarações do advogado do referido terrorista.
Temos certeza que os senhores não desconhecem, até pela história recente do Brasil, o quão frágil pode ser a liberdade diante do autoritarismo tirano da intolerância e do uso do terror como método de ação política.
Reafirmamos que não nos cabe emitir qualquer juízo de valor sobre as opiniões político-ideológicas do jornal dirigido por V. Sas., por mais que delas discordemos. O que nos leva a enviar-lhes esta correspondência é, tão somente, a solicitação de que se mantenha a veracidade jornalística e o respeito que se deve sempre às pessoas, sejam ou não autoridades constituídas, mesmo quando o jornal as considere, de moto próprio, como seus inimigos ou desafetos.
Esta Embaixada permanece à disposição do jornal e de seus leitores, para esclarecimentos adicionais sobre quaisquer dos assuntos supracitados, bem como de novos temas julgados pertinentes e reivindica, formalmente, a publicação da presente carta, com o mesmo destaque dado ao editorial de hoje, intitulado “O lúgubre circo de Chávez”, publicado à página A3.
Atenciosamente,
Maximilien Arvelaiz
Embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Brasil
Embraer larga na frente da Bombardier em feira de aviação
Fabricante brasileira anunciou a venda de 57 aeronaves ao preço de US$ 2,2 bi. Já a canadense computou apenas nove pedidos
Foto: AFP
O presidente da Embraer, Frederico Curado (à esq), posa ao lado de Jim French, da Flybe, durante feira de aviões
Se as duas maiores fabricantes de aviões do mundo disputam cabeça a cabeça os pedidos de novos aviões durante a feira internacional de Farnborough, na Inglaterra, o mesmo não pode ser dito em relação à disputa entre a Embraer e a Bombardier. Ao final do segundo dia de evento, a empresa brasileira acumulava vendas de 57 aeronaves avaliadas em US$ 2,2 bilhões, número seis vezes maior do que a concorrente canadense.
O maior pedido da Embraer foi feito pela britânica Flybe, que encomendou 35 E175, que tem capacidade para transportar 88 passageiros. A compra está avaliada em US$ 1,3 bilhão. Já a empresa de leasing de aviões Air Lease Corp anunciou a aquisição de 15 E190, um negócio de US$ 600 milhões. Na manhã desta terça-feira, duas companhias aéreas brasileiras revelaram a compra de sete aeronaves: cinco para a Azul e dois para a Trip, um total de US$ 300 milhões.
Durante os dois dias realização da feira, as duas maiores fabricantes de aviões do mundo, a Boeing e a Airbus, anunciaram a venda de 243 aeronaves que, juntas, estão avaliadas em US$ 23 bilhões. Nessa disputa, a Airbus está um pouco na frente: comercializou 122 aviões, um a mais do que a concorrente americana.
Neste ano, a feira internacional de aviação está sendo realizada no Aeroporto de Farnborough, nos arredores da cidade de Londres, capital da Inglaterra, e envolve 1.300 expositores de 38 países. No próximo fim de semana, a feira será aberta para o grande público. A estimativa é que a exposição, que ocorre desde 1948, receba cerca de 250 mil visitantes.
Durante muitos anos o Brasil foi o país do biscate, da “viração”, do jeitinho, do “arrumar algum”. O emprego com carteira assinada passou a ser um sonho tão grande que até virou bandeira de campanha eleitoral – você se lembra que a velha carteirinha azul, criada por Vargas, virou até mesmo peça de campanha de Serra em 2002?
Como Serra perdeu, a carteira assinada ganhou.
Em 2010, pela primeira vez, o total de trabalhadores com carteira assinada superou 50% – 51,1%, para ser exato – da mão de obra ocupada nas seis maiores regiões metropolitanas do país, segundo revela uma pesquisa de emprego e desemprego do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), e que é mostrada na edição de hoje do Valor Econômico.
Durante o Governo Fernando Henrique, na Grande São Paulo, o número de empregos com carteira assinada não apenas não subiu como teve uma pequena queda: passou de 3.137 mil para 3.130 mil, sete mil carteiras assinadas a menos. Subiu foi o trabalho informal; de 775 mil para 1,09 milhão.
E no período Lula? O número de carteiras assinadas na região metropolitana de São paulo subiu para 4,607 milhão – 1,5 milhão de carteiras assinadas a mais. Os “biscates”, tiveram até uma pequena queda: de 1,09 para 1,075 milhão.
Para o economista Sérgio Mendonça, do Dieese, a aceleração do crescimento é a principal explicação para o avanço da formalização. De 2004 a 2008, o país cresceu a uma média de 4,8% ao ano. Em 2009, a economia encolheu 0,2%, mas já retomou um ritmo forte de expansão, devendo avançar mais 7% este ano. Há outros fatores que ajudaram o emprego formal, lembra o economista do Dieese. Um deles foi a aprovação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, que entrou em vigor em julho de 2007, já no segundo mandato do presidente Lula. Conhecida como Supersimples, a lei acabou barateando a contratação com carteira para empresas de menor porte.
Se não houver mudança nas metas de crescimento traçadas no governo Lula, com a eleição de Dilma, o trabalho informal virará algo residual, restrito às atividades e situações onde ele é, por natureza, o regime natural de emprego. A regra, para a generalidade dos trabalhadores, será aquele documento que, para as elites, é arcaico e “custo Brasil”, mas que para a população significa direitos, descanso, segurança, vida.
A agência nuclear do Irã informou que vai iniciar estudos científicos para a construção de um reator experimental de fusão nuclear, um desafio de engenharia que nenhum país até hoje conseguiu realizar. O Irã já fez vários tipos de teste, com exceção da fusão nuclear, e qualquer avanço em tecnologias que sejam mais limpas do que as atuais usinas nucleares poderia ser uma conquista significativa para um programa observado com preocupação pelos Estados Unidos e outras potências mundiais.
A agência oficial de notícias Irna anunciou que a Organização de Energia Atômica do Irã vai realizar uma cerimônia no sábado para marcar o início das pesquisas. Os Estados Unidos - que lideraram no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) a imposição novas sanções contra o país - e alguns de seus aliados acusam o Irã de usar seu programa nuclear civil para encobrir o desenvolvimento de armas nucleares. O Irã nega a acusação. doLuisNassif
O que dirá o vice do Vampiro sobre isso hein? Da orgulho saber que o Brasil tem se posicionado ao lado da justiça, ao menos em âmbito internacional. Que a direita e o PIG falem o que quiser, todo apoio a luta do povo palestino!
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou hoje um projeto de lei que concede uma ajuda de 25 milhões de reais (cerca de 14 milhões de dólares) para a reconstrução da Faixa de Gaza.
"Não estamos dando dinheiro para um ou outro grupo. O recurso será entregue a um fundo administrado pela Organização das Nações Unidas quetrabalha na reconstrução de Gaza", referiu o chanceler Celso Amorim, segundo uma nota da estatal Agência Brasil.
"Gaza é um centro de preocupações mundiais. A situação do bloqueio é realmente grave", sustentou o ministro brasileiro de Relações Exteriores em referência ao cerco que mantém Israel sobre essa região.
Amorim participou da sanção do projeto de lei, que o presidente brasileiro assinou depois de reunir-se com o ex-chanceler da Palestina e atual comissário de Relações Exteriores do partido Al Fatah, Nabil Shaat.
O chanceler brasileiro revelou também que Shaat pediu a Lula que o Brasil continue envolvido nas negociações para a paz no Oriente Médio.
Agregou que Shaat também entregou ao presidente brasileiro uma carta do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, na qual lhe solicita o apoio do Brasil à Palestina em um momento especialmente crítico das negociações.
O governo brasileiro entregou o projeto legal de ajuda à Faixa de Gaza ao Congresso Nacional, o qual foi aprovado pelo Senado no dia 6 de julho passado.
O texto recorda que a Autoridade Nacional Palestina calculou em dois bilhões de dólares para os próximos cinco anos os recursos necessários para reconstruir a Faixa de Gaza.
Acrescenta que a ONU estimou em 613 milhões de dólares a quantidade que se requer para cobrir as necessidades mais urgentes dos habitantes dessa região quanto a alimentos, saúde e moradia.By: Blog do Cappacete
O Estado nazi-sionista de Israel promete diminuir seus crimes de guerra contra palestinos. É isso mesmo, não há engano no uso do verbo ‘diminuir’, o fósforo branco, condenado por leis internacionais, não será banido do arsenal nazi-sionista.
Em tese, o fósforo branco é usado para produzir uma cortina de fumaça como meio de esconder o avanço da própria tropa. As fotos abaixo falam por si.
O estado nazi-sionista de Israel usa as mais de 70 resoluções da ONU contra si como papel higiênico.
Israel promete limitar fósforo branco em guerras futuras
Guila Flint
Israel disse que vai limitar uso de fósforo branco em guerras futuras
Em relatório apresentado ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o governo de Israel se compromete a limitar a utilização de armamentos com fósforo branco em "guerras futuras".
No documento, encaminhado às Nações Unidas, o governo israelense também se compromete a “evitar ferimento de civis e danos a propriedades civis nos próximos confrontos”.
O documento responde a um relatório que acusou Israel de ter cometido crimes de guerra durante a ofensiva à Faixa de Gaza, em dezembro de 2008 e janeiro de 2009.
O documento atual é o segundo que Israel apresenta à ONU, depois de realizar investigações internas sobre possíveis falhas cometidas durante a ofensiva à Faixa de Gaza.
Atuação ilegal
No primeiro documento, encaminhado a Ban Ki-moon em janeiro deste ano, o governo mencionou 36 investigações iniciadas dentro do Exército por suspeitas de “atuação inadequada por parte de militares”.
Uma das investigações resultou no indiciamento de um oficial pela morte de civis durante a operação.
Cerca de 1,4 mil palestinos foram mortos durante a ofensiva israelense à Faixa de Gaza. Do lado israelense o número de vitimas foi de 13, entre elas três civis.
Neste segundo relatório o número de investigações mencionado sobe para 47, 11 a mais do que no relatório anterior.
O documento se refere a suspeitas de atuação ilegal por parte de soldados e oficiais, principalmente relacionadas à utilização de fósforo branco contra civis e ao comportamento das tropas durante o combate em zonas residenciais.
O fósforo branco é uma substância cuja utilização contra civis é proibida pela lei internacional, pois causa queimaduras profundas.
De acordo com o Exército israelense, na Faixa de Gaza a substância foi utilizada para criar uma “cortina de fumaça” e assim impedir a visibilidade das tropas.
Segundo o relatório, o Exército israelense decidiu, em confrontos futuros, agregar um oficial para assuntos humanitários junto a cada unidade de combate em áreas habitadas, “para evitar danos à população civil”.
O relatório Goldstone, apresentado à ONU em setembro de 2009, também acusou o grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, de cometer crimes de guerra ao lançar foguetes contra áreas civis no sul de Israel.
Em consequência, a comissão Goldstone exigiu que a Autoridade Palestina também realize investigações internas sobre os crimes cometidos.
De acordo com a ONU, a delegação palestina apresentou um relatório detalhado ao secretário-geral, porém o conteúdo desse relatório ainda não foi divulgado.
A Autoridade Palestina havia informado que teria dificuldades de realizar uma investigação abrangente sobre o ocorrido durante a chamada Operação Chumbo Fundido, já que perdeu o controle da Faixa de Gaza em junho de 2007 quando o Hamas expulsou o Fatah e tomou à força o controle político e militar da região.
Entrevista: Temer diz que, como representante do PMDB na coalizão, negociará fatia do partido
“Quem tiver a maior bancada terá mais presença no governo”
Ruy Baron / Valor
Temer repudia a radicalização da campanha: “O que eleitor quer saber é quem vai lhe dar conforto”
Caio Junqueira e Paulo de Tarso Lyra, de Brasília – VALOR
Uma vez eleito vice-presidente na coligação encabeçada por Dilma Rousseff (PT), o presidente da Câmara dos Deputados e do PMDB, Michel Temer, garante que irá cumprir o papel que a Constituição lhe conferir: o de substituir o presidente da República em sua ausência. A afirmação, porém, não se sustenta por muito tempo, quando o próprio deputado expõe as credenciais que devem levá-lo a ser a eminência parda de um eventual governo Dilma.
Temer parece saber que sua disposição para o diálogo e conhecimento do Legislativo adquiridos no decorrer de 14 anos consecutivos como deputado federal, nove dos quais à frente do maior partido do país e seis como presidente da Câmara serão habilidades preciosas na ausência da popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva.
Declarações como “É muito provável que eu tenha um diálogo na formação do governo” ou “Eu acho que poderei ajudar (na relação do governo Dilma com o Congresso)” sinalizam que, ao contrário de Itamar Franco, Marco Maciel e José Alencar, o vice de Dilma tende a ser mais do que um vice-presidente.
Em entrevista ao Valor, ontem, concedida na residência oficial da Presidência da Câmara, Temer falou muito mais de 2011 do que de 2010, o ano em que deve ganhar a eleição para atuar no próximo. Fez prognósticos sobre a evolução que quer imprimir ao PMDB no caso de vitória da composição governista: de um partido sob a pecha de fisiológico para o de moderador das políticas públicas de um terceiro governo petista. Temer já descreve o critério para a divisão de poder com o PT: “O tamanho da bancada é o mais importante. O critério político é esse”.
O peemedebista deu sua visão de governo ao falar sobre a autonomia do Banco Central -que, segundo ele, não precisa ser formal, mas real-, e sobre as necessidades de que as reformas política e tributária sejam feitas já em 2011. Também disse não ver risco na crescente onda de aprovações ocorridas no Congresso que aumentam os gastos públicos. “A economia do Brasil tem retaguarda para isso”.
Valor:A vitória da chapa Dilma- Temer inauguraria no país o vice-presidencialismo, com um vice muito forte, fiador de uma titular com pouca experiência política?
Michel Temer: Essa tese parece ser a meu favor, mas é contra. O vice-presidente tem de cumprir as funções determinadas pela Constituição. A autoridade não vem da pessoa, mas da lei. Agora, é possível que pelo fato de eu ser presidente de um partido grande, forte, importante no país, eu tenha um diálogo no momento da formação do governo, já que vou ser o representante do PMDB nessa coalizão.
Valor:E na articulação com o Congresso?
Temer: Acho que poderei ajudar. Mas se eu exercerei essa função, não sei. Poderei ajudar pelo fato de ter sido três vezes presidente da Câmara. Tenho, graças a Deus, um bom diálogo com os colegas.
Valor:Há hoje briga de hegemonia entre o PT e o PMDB, que se reflete até em pequenas disputas de espaço no Congresso. É uma prévia do que vem por aí caso Dilma se eleja?
Temer: Vamos fazer uma parceria e creio que se depender do PT também há interesse. Não acredito que haverá dissonâncias quando estivermos no governo, vamos exercer funções de parceiros.
Valor:Mas o que vai definir a divisão de poder num eventual governo Dilma?
Temer: O tamanho da bancada é o mais importante. O critério político é esse. Quem tem a maior bancada tem maior presença.
Valor:Uma autoridade da campanha da Dilma disse que o apetite do PMDB por cargos terá de diminuir porque o partido já teria a vice-presidência…
Temer: Tudo isso terá que ser discutido depois. É preciso compor o governo de forma equilibrada entre os vários partidos. A função do vice é, simplesmente, substituir o presidente nas suas ausências. Só isso. Não vou poder, a todo momento, ficar ditando os rumos do governo. Creio que haverá um governo de colaboração dos vários partidos. É claro, pode ter uma ou outra postulação de cargo por um deputado, um senador. Mas não é a regra do conjunto do PMDB nem dos demais partidos.
Valor:Como o PMDB transformou-se de partido fisiológico em partido do poder moderador, como tem se definido?
Temer: Isso é fruto de um trabalho que fizemos ao longo do tempo para tirar do partido essa pecha. Mas eu quero dizer que ela não é justa. Nenhum governo hoje consegue levar adiante os seus programas se não fizer uma grande coalizão. E para isso sempre foi fundamental o PMDB. Nesses últimos quatro anos, passamos a ter uma interlocução que era mais programática do que fisiológica. Tanto que, nesse momento, não estamos esperando eleger o governo para participar do governo. Nós estamos fazendo uma coligação político-eleitoral-programática. Vamos trabalhar juntos para ganhar a eleição e vamos governar juntos.
Valor:Quais reformas são mais necessárias?
Temer: A da Previdência, tributária e política têm que ser feitas no primeiro ano. Não é que não tenham andado antes, deram alguns passos. Essas coisas na democracia fazem parte de um processo. Acho que estamos maduros para as três.
Valor:Uma reforma da Previdência é realmente prioritária para um governo Dilma? A aprovação da emenda que extingue a taxação dos inativos acima de 65 anos e a obstrução à previdência complementar para o funcionalismo não são um retrocesso?
Temer: Esta é apenas a tese do benefício de alguns setores. Mas a reforma da Previdência também envolve restrição de direitos. Qual o grande drama atual? A expectativa de vida. Você tinha uma expectativa de vida de 60, 65 anos e hoje você tem uma expectativa de vida de 80 anos. Qual é a nossa tese em matéria de previdência? Toda e qualquer modificação deve ser anunciada para aqueles que entram no serviço público.
Valor:Qual a reforma política defendida pelo PMDB?
Temer: Parto de quatro premissas. O poder emana do povo. A democracia é o regime das maiorias. Quem tiver maioria governa. Chega-se ao poder pelo voto das maiorias. Digo isso para desmerecer a idéia do quociente eleitoral, que visa basicamente a enaltecer os partidos políticos, mas é um equívoco em face da Constituição.
Valor:Por que?
Temer: Porque o correto é que quem teve mais votos seja eleito. Se conectarmos isso com a fidelidade partidária, você reduz a quantidades de partidos e ficam desnecessárias as coligações proporcionais, em que somos obrigados a nos coligar com partidos pequenos para atingirmos o quociente eleitoral e eleger nossos deputados. Minha posição é de que os deputados sejam eleitos pelo sistema majoritário. Por exemplo, que os 70 mais votados de São Paulo sejam os eleitos para a Câmara.
Valor:Então o sr., ao contrário do PT, defende o voto distrital?
Temer: Essa tese é a do chamado “distritão”. Cada Estado passa a ser um distrito para a disputa para a Câmara. Faz-se o mesmo nos municípios com mais de 200 mil eleitores. Você pega uma cidade como São Paulo e a transforma em distritos geográficos. É importante que tenha um vereador de Sapopemba, da vila Leopoldina, de Perdizes (todos os três, bairros paulistanos). Para as eleições para a Assembleia também, porque nos Estados às vezes tinha prefeito que não conseguia chegar a mim porque não tinha um representante para a Assembleia. Então se distritalizar no Estado também faz uma boa coisa.
Valor:O que acha do financiamento público de campanha?
Temer: É fundamental. Primeiro porque você não faz campanha se não houver contribuições. E quando tem contribuição, sempre há alguém que faz uma correlação com uma eventual empresa corruptora. Isso é um desastre.
Valor:Voto em lista também?
Temer: O voto em lista briga com essa teoria do mais votado. Se não prevalecer esse meu sistema eu apreciaria o voto em lista. Só que aí precisa de partidos mais solidificados.
Valor:Muitos defensores da reforma política alegam que esta melhoraria o nível dos representantes. O sr. é deputado desde 1986. De lá para cá caiu o nível do Legislativo?
Temer: Eu cheguei aqui com uma visão muito elitista do Legislativo. Achava que só os mais iluminados intelectualmente poderiam participar de uma casa dessas. Muitas vezes a gente trabalha com a teoria da representação popular e não observa a prática. Um dia um deputado me convidou para um churrasco na região dele em uma região muito pobre. Para mim foi um aprendizado. Ele conseguia representar o povo dali. Acho que a representação popular é o retrato do país. Agora como você modifica o retrato do país? Modificando os fotografados. O eleitor cada dia mais caminha para uma apuração dos costumes e a própria legislação caminha para essa direção. No instante em que se proíbe entrega de brindes nas eleições, por exemplo, está se apurando o sistema. Agora dizer que piorou ou não é muito subjetivo.
Valor:O sr. acha que o voto de de opinião está em extinção?
Temer: O voto de opinião perfila ao lado de todos os demais votos ligados a demais grupos de representação, como ruralistas, sindicalistas, economistas. São poucos os votos de opinião, mas eles existem.
Valor:E qual a fórmula política para que saia uma reforma tributária?
Temer: Uma verdadeira federação se faz pela repartição de competências tributárias e autonomia dos entes federativos. Você só é autônomo se tiver dinheiro no bolso. A federação se alicerça na autonomia política, mas esta está ancorada na autonomia econômica e financeira. Se você fizer uma repactuação tributária precisa descentralizar os recursos.
Valor:O aumento nos gastos públicos e os sucessivos reajustes ao funcionalismo são uma bomba relógio para o próximo governo?
Temer: Não acho. O país vai muito bem economicamente e tem condições de suportar os aumentos, por exemplo, do funcionalismo. Se o país estivesse por exemplo ainda devendo ao FMI, com problemas internos e sociais muito grande, teríamos um problema. Estamos diante da primeira eleição que o povo vai razoavelmente tranquilo para as urnas. Nas eleições anteriores tinha setores raivosos que iam para a eleição e setores não raivosos contemplados com o governo mas preocupados com aquela raivosidade. Hoje, não. O presidente Lula conseguiu pacificar as relações sociais. O empresariado satisfeito, a classe média foi ao paraíso, as classes D e E migraram para a classe C, o Nordeste cresceu.
Valor:O sr. aprova a atuação do BC, comandado pelo pemedebista Henrique Meirelles? O sr. defende autonomia formal do BC ou o formato que funciona hoje é o ideal?
Temer: A atuação do Meirelles foi corretíssima, eu não ouço uma crítica quanto a isso. Acho que tem de deixar uma autonomia real, não é preciso caminhar para uma autonomia formal, estabelecida por lei.
Valor:O que acha da omissão do parlamento ao atrasar a definição de uma política para o salário mínimo? Ou essa matéria pode continuar sendo regida por medidas provisórias?
Temer: Em primeiro lugar, eu quero registrar que o grande trabalho no passado foi o de equiparar o salário mínimo aos US$ 100. Hoje ele vale pouco mais de US$ 300. Avançou não só em relação ao trabalhador, que ganha mais, mas em relação à produção. Quem ganha mais, gasta mais e com isso, o Brasil também produz mais. Em face da estabilidade econômica, acho que podemos ter perfeitamente uma lei planejadora dos aumentos do salário mínimo. Se eu puder ajudar junto ao PMDB, ajudarei.
Valor:Há espaço para mudanças na política econômica brasileira?
Temer: Poderíamos, como o próprio (vice presidente da Caixa Econômica Federal) Moreira Franco incluiu em nosso programa, remunerar o FGTS com uma taxa que não seja tão pequena. Acho que ela comporta uma série de ajustamentos. E tem muito a ver com o lema da nossa campanha, que é “continuar mudando”. A ideia é que o presidente Lula mudou muita coisa e agora nós vamos continuar mudando, aperfeiçoando o sistema.
Valor:Quais os outros pontos, além das questões econômicas, precisam de ajustamentos?
Temer: Um dos problemas básicos do Brasil é a educação. Mais no nível básico do que no universitário. Nós vamos defender que se estenda o sistema do Prouni para o ensino básico. Fiquei impressionado com notícias mostrando que o aluno sai do ensino básico sem saber escrever. Isso é grave. Outro ponto que pretendemos explorar seria um aperfeiçoamento do Bolsa-Família. Num dado momento, o garoto se forma no ensino básico, no ensino médio e daí não tem recursos para começar a vida. Estamos sugerindo que o governo também acrescente ao Bolsa-Família uma quantia a título de poupança para que ele possa dar o passo seguinte.
Valor:Como o senhor avalia a atuação do MST?
Temer: Sou escravo da lei. Não quero desmerecer os movimentos sociais, acho que eles são importantes. Agora, todo movimento social tem que agir nos termos da estrita constitucionalidade e realidade. Se está fora da lei, não há como contemporizar. Quando invade terras produtivas está violando a lei. Não tenho a menor dúvida.
Valor:Qual sua avaliação sobre a saúde, área que esteve no segundo mandato com o PMDB e que nas avaliações do governo não há resultados positivos a apresentar?
Temer: O Temporão (José Temporão, ministro da Saúde) fez um bom trabalho, especialmente no combate às epidemias. Saúde tal como educação é uma área complicada. Ambas são fundamentais. Temos que investir muito financeira e administrativamente.
Valor:O senhor defende a recriação da CPMF?
Temer: No momento não há necessidade. Mas, se for necessário para trazer mais recursos à saúde, eu defenderia o voto a favor.
Valor:Como vê o debate dos royalties do pré-sal?
Temer: É preciso reequacionar a participação de todos os estados e municípios, sem prejudicar os estados produtores, é preciso fazer essa equação.
Valor:E a recriação da Telebrás para atuar no Plano Nacional de Banda Larga?
Temer: Não sou a favor do ingresso do Estado em vários setores, especialmente setores que já estão sendo bem tratados pela iniciativa privada. Agora, em tudo aquilo que houver falta da atuação privada e o Estado puder compensar para estender o serviço a todos os brasileiros, eu acho útil (a intervenção do Estado). O que não quero é que a intervenção do domínio econômico se dê em setores que já estão caminhando, mas que a intervenção possa se dar em setores ainda não encobertos e transitoriamente porque isso também desonera o poder público.
Valor:Como avalia a declaração do candidato a vice na chapa que é sua adversária denunciando as ligações do PT com as Farc?
Temer: Foi uma declaração infeliz dele. A Dilma tem feito uma campanha realmente elevada e acho que pode servir de exemplo para todos que estão disputando. Se mantivermos essa linha, será importante, porque afinal o que eleitor quer saber é quem vai lhe dar conforto.
Falando em petróleo e segurança na sua exploração, o cineasta americano Oliver Stone (foto) disse, nesta terça-feira, em Londres, que o vazamento de petróleo no Golfo do México mostra que os Estados Unidosdeveriam seguir o exemplo dos países latinoamericanos e nacionalizar a exploração de seu petróleo.
Em entrevistas concedidas em Londres, disse que o petróleo e outros recursos naturais “pertencem ao povo e são importantes para ser deixado sob o controle privado. “Este derrame de petróleo da British Petroleum é algo típico do que acontece quando se permite que uma indústria privada trate apenas como lucro o que deveria ser um bem púbico”, disse Stone, vencedor de vários “Oscar”
Nem a indústria do petróleo, nem a da saúde nem as prisões deveriam ser fontes de lucro privadas, são atividades esssencialmente públicas.
Amanhã ou depois, assim que traduzir, publico trechos da carta onde Oliver Stone rebate as críticas do jornalista Larry Rother, do NY Times, ao seu filme “Ao Sul da Fronteira”, que está sendo lançado na capital inglesa.
É campanha da ADPESP - Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, por melhores condições de trabalho e remuneração.
O governo de São Paulo tentou impedir na Justiça que a campanha fosse veiculada, alegando que seria propaganda negativa influindo no quadro eleitoral.
Perdeu na Justiça, e a campanha pôde ser veiculados.
Na sentença, o juiz considerou que a campanha é classista e não eleitoral.
As eleições não podem impedir que a classe policial faça suas reivindicações, e as informações e dados apresentados são objetivos, oficiais e verdadeiros.
Depois de ver esses anúncios, onde os governos demo-tucanos de Serra e Alckmin diminuíram a proporção de número de policiais e delegados por habitante...
Depois de passar anos governando o estado, deixando centenas de cidade sem delegado...
Depois de deixar delegados recebendo os piores salários do Brasil...
Dá para acreditar que José Serra tem competência para falar em Segurança Pública?
Dá para levar a sério proposta de criar ministério, vinda de alguém que reduziu proporcionalmente o número de policiais para atender a população?
Por causa da superlotação nas prisões, muitos detentos podem acabar sendo soltos antes do tempo em São Paulo.A situação absurda está prestes a se tornar realidade em Franco da Rocha.Duas penitenciárias da cidade mantêm cerca de 600 presos que teriam direito a progredir para o regime semiaberto.
Eles deveriam ser transferidos para outros centros prisionais, destinados a esse tipo de condenado --que pode trabalhar fora da cadeia durante o dia e retornar às celas durante a noite.Mas faltam vagas nessas prisões, e a Justiça pode determinar que os detentos aguardem por sua criação em suas próprias casas.
O juiz da Vara de Execuções Penais de Jundiaí, Jefferson Torelli, explica: "A lei prevê que o detento não deve cumprir uma pena mais rígida do que deveria. Se ele tem direito ao regime semiaberto, não pode ficar no fechado".
Como o governo do Estado não conseguiu criar a quantidade necessária de vagas no sistema prisional, a "solução" será mandá-los de volta para casa --o que também não é o certo.
O problema da superlotação no sistema carcerário é resultado de décadas de falta de investimento e de descaso das autoridades. E, diga-se, São Paulo nem está entre os Estados mais afetados pelo problema.Mas nada disso é desculpa para os péssimos resultados ainda apresentados nesse setor.É preciso aumentar os investimentos para que o Estado cumpra uma de suas funções básicas, que é garantir segurança para os cidadãos. E não soltar preso antes da hora.
Guardei esse texto do nosso grande arquiteto Oscar Niemeyer, e nesses
tempos de baixaria de campanha, qdo o candidato a vice da chapa tucana faz uma acusação absurda, que já havia acontecido na campanha de 2002 e requentada em 2005, pretendendo ligar o PT ao narcotráfico, lembrei-me dele que aproveito para enviar agora.
Vale lembrar que por causa dessa denúncia, Serra teve que ceder ao Lula direito de resposta em seu horário de propaganda eleitoral gratuita.
Sonia Montenegro.
Quando não devemos calar
OSCAR NIEMEYER Na Folha de São Paulo 16/3/08, o arquiteto mais jovem do Brasil.
QUANDO OCORREU a invasão do Equador pela Colômbia, no dia 1º do mês corrente, que resultou na morte de 20 combatentes e de um dos principais líderes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Raúl Reyes, escrevi um texto, revoltado com o que havia acontecido.
Infelizmente, o texto que redigi não chegou aos jornais antes da solução adotada graças à pronta e corajosa intervenção dos governos latino-americanos, que deram ao mundo uma demonstração de unidade e força em defesa de sua soberania nacional.
Como eu não me limitava a comentar as notícias sobre as Farc que surgiam nos jornais, mas mencionava fatos ou contatos que tive com aquele grupo, tomei a decisão de divulgar o artigo que havia elaborado e agora transcrevo:
"É bom, quando nos vemos diante da necessidade de escrever sobre qualquer assunto, verificarmos que a seu respeito já nos tínhamos manifestado anteriormente, que a nossa reação não surge de um fato novo ocorrido, mas de qualquer coisa que já nos tinha ocupado e sobre ela havíamos assumido uma posição definida.
Refiro-me ao que vem se passando com as Farc, um grupo de revolucionários que, instalados no território da Colômbia, vem-se opondo há décadas ao governo reacionário ainda existente naquele país.
É importante aqui registrar, aos que insistem em falar da violência dos revoltosos das Farc, a opinião do historiador britânico Eric Hobsbawm ("Globalização, democracia e terrorismo", Companhia das Letras): o combate ao terrorismo, ao longo dos últimos anos, por parte das autoridades colombianas, tem superado, em muito, a violência política desses guerrilheiros. Lembro-me do emissário desse grupo que, muitos anos atrás, me procurou em meu escritório de Copacabana, pedindo-me que desenhasse um cartaz contra o Plano Colômbia, que, organizado pelo governo norte-americano, visava intervir nas Farc, ferindo a soberania do país.
Recordo a maneira emocionada como aquele emissário me falava do assunto, da revolta que exibia ao comentar a violência com que o governo colombiano tentava destruí-los. Em poucos dias, desenhei o cartaz que ele havia me pedido - um protesto contra aquele plano odioso.
Uma colaboração política que muito me agradou, ao saber ter sido aquele cartaz utilizado até na Europa. O tempo correu e, sem possuir a força para eliminar o movimento político já instalado no país, o governo reacionário de Bogotá passou a acusar a direção das Farc de ser conivente com o narcotráfico em crescente expansão na Colômbia.
Agora, no momento em que toda a América Latina se une contra as ameaças do imperialismo norte-americano, é que, numa atitude de violência e desrespeito inexplicável, o governo da Colômbia resolve invadir o território do Equador, comprometendo a unidade com que a América Latina tão bem vem se organizando contra todas essas pressões vindas dos Estados Unidos.
Com sensatez e firmeza, o governo brasileiro, por meio de seu ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reclamou uma palavra de desculpa por parte do presidente colombiano, Álvaro Uribe. E de Hugo Chávez, presidente da Venezuela, veio a resposta direta e corajosa que a esquerda latino-americana esperava.
Sabemos muito bem que os Estados Unidos têm a ambição de se apossar das riquezas existentes na Amazônia e que o governo da Colômbia se presta a servir de ponta-de-lança para essa finalidade. "Mas agrada-nos, principalmente, constatar a maneira altiva e vigorosa com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem atuando frente aos problemas desta América Latina tão vulnerável e ofendida".
OSCAR NIEMEYER , 100, arquiteto, é um dos criadores de Brasília (DF). Tem obras edificadas na Alemanha, na Argélia, nos EUA, na França, em Israel, na Itália e em Portugal, entre outros países. dogilsonsampaio