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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, setembro 12, 2010

Maria da Conceição Tavares lança livro






“Não tem mais centro e periferia”, afirma Maria da Conceição

CLAUDIA ANTUNES – FOLHA.COM

DO RIO

A ascensão da China, com uma demanda por produtos primários que vai durar décadas, mudou a divisão internacional do trabalho e tornou datada a dicotomia entre industrialização e produção de commodities que marcou a trajetória brasileira desde os anos 1930.

Quem afirma é a economista Maria da Conceição Tavares, veterana expoente do desenvolvimentismo, que durante o século 20 propôs a ação do Estado para a industrialização, a fim de superar a desvantagem nas relações de troca no antigo sistema sob hegemonia econômica dos EUA –que, ao também produzirem matérias-primas, forçavam a baixa de seus preços.

“Não tem centro e periferia como antes. Há países de desenvolvimento intermediário, entre os quais estamos”, afirma Conceição.

Ela deu entrevista à Folha às vésperas de ser homenageada amanhã, no Rio, no lançamento do livro “O Papel do BNDE na Industrialização do Brasil”, fruto de pesquisa que coordenou para o Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.

O novo cenário não quer dizer, afirma, que o país deva descuidar do parque industrial. Ela se preocupa com a avalanche de importações e defende o papel do BNDES no apoio a grandes empresas nacionais.

Petista, Conceição aposta que Dilma Rousseff mudará a orientação ortodoxa do BC, caso eleita, e diz que o tucano José Serra, colega do tempo da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina) com quem há 40 anos escreveu um artigo marco, “Além da Estagnação”, é conservador na área social. Abaixo, a íntegra da entrevista.

FOLHA – Um dos problemas recorrentes do período de industrialização abordado no livro é o déficit no balanço de pagamentos. Hoje essa preocupação surge de novo. Os riscos são os mesmos?

MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES – Não, naquela altura o problema era basicamente a rigidez da pauta de exportações, que não é o caso agora. A gente só tinha produtos primários e o único período em que houve aumento de preços das matérias-primas foi durante a Guerra da Coreia (1950-1953).

Além disso, o processo de substituição de importações não poupava divisas, pelo contrário, era para substituir importações por produtos internos. Ao fazer isso, ampliava o mercado interno e ampliava a demanda [por bens de capital importados para aumentar a produção]. Hoje em dia você tem uma indústria montada. O problema é o câmbio.

FOLHA – Mas há toda a preocupação com a primarização da pauta de exportações brasileiras.

CONCEIÇÃO – Isso não tem nenhum cabimento, porque a primarização da pauta de exportações de hoje não se parece nada com a de então. Ao contrário daquela época, quando havia relações de troca desfavoráveis, as relações são favoráveis. Quem demanda produtos primários é a China e a Ásia inteira, que crescem muito mais do que o resto do mundo. Naquela época, os EUA eram nossos concorrentes.

FOLHA – O candidato José Serra fala muito do risco de desindustrialização no Brasil. A sra. acha que existe esse risco?

CONCEIÇÃO – Desindustrialização houve no governo deles, do Fernando Henrique, com uma política de câmbio completamente irresponsável, uma taxa de juros alta, que começou a afrouxar a partir do segundo mandato.

O problema de agora é que, com a crise mundial, o dólar desvalorizou e todas as moedas valorizaram, exceto a moeda chinesa, que está amarrada ao dólar e controlada, com controle de capitais. O resto foi para o diabo.

Agora é um problema de valorização e isso não afeta as exportações. Isso afeta as importações, que estão disparando. A gente não sabe se estão disparando como reação apenas ao câmbio ou à recuperação da economia. Eu acho que são os dois. A indústria sofreu um abalo em 2009, e neste ano recuperou com muita força. Agora está desacelerando. Tem que estar sempre avaliando. Se você deixar entrar à galega acaba desindustrializando.

FOLHA – E o que pode ser feito?

CONCEIÇÃO – O próprio ministro da Fazenda já avisou que tem que controlar essa taxa de câmbio, não pode deixar rolar.

FOLHA – Mas o câmbio não tem relação com os juros do Banco Central, que atraem capital de fora?

CONCEIÇÃO – Tem, mas não só. Porque a valorização deu em todos os países, mesmo os que praticam taxas de juros negativas, que é o caso do Japão. É a situação particular do dólar agora que está fazendo isso.

A situação, portanto, não se parece nada com a do período entre 1950 e 1980. Não tem crise no balanço de pagamentos no sentido clássico. E muito menos dívida externa. Conseguimos passar essa crise sem problemas na dívida externa, com reservas, coisa que nunca aconteceu em nenhuma crise internacional desde o século 19. Agora, tem que ter uma política industrial mais clara, uma política cambial obviamente controlada, que não se resolva apenas com os juros.

FOLHA – Outra discussão que tem uma analogia com o período atual é a ideia de criar um mercado de capitais privado, bancos de investimentos privados que financiem investimentos de longo prazo, o que foi tentado pelo Roberto Campos no primeiro governo da ditadura.

CONCEIÇÃO – A ideia do mercado de capitais estava lá na reforma administrativa Bulhões-Campos. O problema é que ele veio com a ideia dos bancos de investimentos, que não funcionaram.

FOLHA – Mas essa discussão volta agora, não?

CONCEIÇÃO – A dos bancos de investimentos, não. O problema é que nem os bancos nem os mercados de capitais não estão financiando desenvolvimento em longo prazo.

FOLHA – E é possível que isso, que nunca aconteceu, aconteça agora?

CONCEIÇÃO – Eu não acredito muito. Porque na verdade o mercado de capitais serve basicamente em toda parte não é para financiar desenvolvimento, é para transformar patrimônio. Mas enfim, essa é uma ideia antiga, continuam a fazer esforço. O financiamento na verdade depende mais do crédito de longo prazo, e aí é que se tem que arrumar um jeito de que haja um crédito em longo prazo que não dependa apenas do BNDES e da Caixa Econômica, que carregam nas costas.

FOLHA – Como avalia às críticas feitas ao perfil dos empréstimos do BNDES, para grandes grupos?

CONCEIÇÃO – A imprensa conservadora, que nunca gostou do BNDES, vem com esse papo de que a capitalização [do banco] vai para a dívida pública, o que não é verdade. Formalmente vai para a dívida fiscal, mas na verdade não é assim em longo prazo. Porque você empresta, mas eles retornam. E o retorno do investimento é sempre positivo. O BNDES não está emprestando a ninguém com retorno negativo.

FOLHA – Mas até o Carlos Lessa [ex-presidente do BNDES] afirma que o banco deveria ser mais exigente sobre investimentos no Brasil ao fazer empréstimos a grandes empresas.

CONCEIÇÃO – Lessa nesse particular discrepa do [Luciano] Coutinho, que tem a visão do que ocorreu na Ásia, no Japão, na Coreia, do “pick the winner” [escolha o vencedor], que tem que escolher as empresas vencedoras para que elas sejam competitivas lá fora, para que elas se internacionalizem com poder de mercado. Essa é a única diferença, porque o Lessa é desenvolvimentista, o Coutinho também. Só tem desenvolvimentista agora. Liberal, só tem a charanga.

FOLHA – A Dilma e o Serra também são desenvolvimentistas.

CONCEIÇÃO – Do ponto de vista da operação fiscal, o Serra é ortodoxo, e isso é ruim. Ele quer acelerar a contração do gasto público. No fundo, ele não leva a sério as políticas de bem-estar social, a universalização da educação, da saúde, que tornaram o Orçamento mais pesado. Se cortar, não se pode fazer nada de política universal, tem que ficar só com política para pobre.

Mas não há dúvida de que o Serra também é desenvolvimentista do ponto de vista industrial. O problema dele são os programas sociais, o aumento da Previdência, do salário mínimo, todas as medidas de alcance social mais profundo que o Lula tomou. Nas políticas compensatórias, eu não creio que ele voltaria atrás, que ninguém é maluco. A universalização é que é o problema, as políticas sociais de longo alcance. O gasto com educação, saúde, Previdência.

FOLHA – No segundo governo Vargas [1951-1954], quando começa o Plano de Reaparelhamento Econômico, o ministério lembra o do primeiro governo Lula, com empresários e monetaristas no comando da política econômica. Como interpretar essa coincidência?

CONCEIÇÃO – Por sorte, depois do interregno monetarista do [Eugenio] Gudin [ministro da Fazenda de Café Filho, entre 1954 e 1955], veio o JK, que era desenvolvimentista. O [Horacio] Lafer [ministro da Fazenda de Vargas] queria fazer presidente do BNDE o Gudin, e não conseguiu, porque o Vargas não dormia de touca. O que ele fez é foi compor uma parte da diretoria do banco com pessoal que veio da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos [1951-1953], entre os quais o Roberto Campos e o Glycon de Paiva, que ficaram como diretores, e colocou o homem dele, que era o gaúcho Ari Frederico Torres, como superintendente.

O problema é que o homem dele não entendia muito de economia, e por aí não foi. Mas havia os diretores que eram da Assessoria Econômica do Vargas. Então a assessoria do banco era composta metade de conservadores e metade de nacionalistas.

No que diz respeito a Lula, graças a Deus caiu o ministro da Fazenda [Antônio Palocci] e entrou o [Guido] Mantega, que é desenvolvimentista. O problema foi o Banco Central. O Banco Central é problema sempre, porque a estrutura do BC foi montada de tal maneira que os que não pensam da mesma maneira não têm futuro.

Um dos meninos mais brilhantes da atual Fazenda é o Nelson Barbosa [secretário de Acompanhamento Econômico]. Ele é um keynesiano um pouco ortodoxo. Ele é originariamente do BC, fez concurso e passou. O [Luiz Eduardo] Melin [chefe de gabinete da Fazenda] também é do BC. Mas eles não podem fazer nada, porque começam uma carreira e tem em cima a diretoria que é toda conservadora.

Tem é que fazer com o BC o mesmo que foi feito no BNDES pelo Vargas, uma diretoria mista, metade conservadora, para agradar os banqueiros e eles não encherem muito o saco, senão eles enchem mesmo, e outra metade para ajudar o desenvolvimento, fazer uma política monetária menos estúpida.

Quer dizer, o conservador no governo Lula foi só a política monetária. E não foi pouca porcaria, eu concordo. Briguei para burro.

FOLHA – Mas isso num governo Dilma pode mudar?

CONCEIÇÃO – Com certeza vai mudar. É só esperar e ver. Mas não é mole, porque o pessoal mais desenvolvimentista tem muito pouca prática de mercado. Tem que ter os que têm prática de mercado, porque senão você não consegue operar o banco. Houve sempre uma tensão muita grande entre a Fazenda e o BC [no segundo mandato de Lula], que nunca foi o caso na história do Brasil, em que sempre Fazenda e BC eram conservadores e Planejamento, Indústria e Comércio eram desenvolvimentistas. Mas isso não é mais assim.

FOLHA – Mas é melhor ter a tensão?

CONCEIÇÃO – Por mim não, mas, como eu estou dizendo, não tem economista progressista com domínio de BC, com exceção desses dois que eu mencionei, que foram do BC. Foram meus alunos, trabalharam comigo, conhecem teoria monetária. A esquerda tem mania de não gostar de política monetária. A única monetarista de esquerda era eu, mas é óbvio que eu não posso ser presidente do BC com 80 anos e com esse temperamento que eu tenho. Tem também o [Luiz Gonzaga] Beluzzo, o próprio Luciano Coutinho.

FOLHA – Então hoje, ao contrário da década de 90, começa a haver um predomínio do pensamento desenvolvimentista?

CONCEIÇÃO – No Brasil sim, mas não no mundo. Olha para a Europa. A Europa está num reacionarismo conservador que é uma desgraça, está pior que os EUA. Nos EUA, até os conservadores viraram keynesianos por causa da crise. Na Europa, os caras estão fiscalistas ao extremo, estão arrebentando com a Europa, tem uma tendência japonesa [de estagnação] acentuada.

FOLHA – Essa conjuntura internacional, em que a China é o grande demandante, favorece o Brasil?

CONCEIÇÃO – É favorável. Quem é hoje o grande centro manufatureiro no mundo? É a Ásia, ninguém compete em produtos manufaturados com eles, mesmo com a taxa de câmbio melhor. Então aqui tem que ter um certo controle das importações, mesmo disfarçado. Mas como, por outro lado, eles são realmente os maiores demandantes de matérias-primas, hoje, sobretudo para a América do Sul Brasil, Argentina, Chile, isso faz uma diferença cavalar.
FOLHA – E dumping [venda abaixo do valor] de produtos chineses?
CONCEIÇÃO – A China não está tendo o sucesso que está por causa de dumping, é por causa da política inteira. Se houver dumping é feito pelas multinacionais que lá estão, porque, ao contrário do Japão, a China não fez restrições a que na área exportadora entrassem as multinacionais.

Você não pode deixar de levar em conta que mudou a divisão internacional do trabalho. Paradoxalmente, não vejo muita gente mencionar isso. Houve uma mudança radical da divisão internacional do trabalho, na qual nós estamos bem colocados porque a gente exporta para todo mundo. E, em particular, no que diz respeito a matérias-primas, exportamos mais para a China do que para a Europa, por exemplo. Nunca exportamos matérias-primas para os EUA.

FOLHA – Mas a China também pode competir com os produtos industriais brasileiros em terceiros mercados.

CONCEIÇÃO – Ela pode competir com quem ela quiser. Claro que temos que nos precaver. Por que a tendência hoje entre países em desenvolvimento é de acordos bilaterais, quando sempre fomos multilateralistas? É porque o comércio multilateral está de pernas para o ar. A crise americana arrebentou com o sistema todo, com o sistema monetário, o sistema de comércio internacional.

Estamos num período de transição, no qual acho que o Brasil tem chance. Ter uma disponibilidade de recursos naturais como nós temos, que vai da água ao petróleo, não é qualquer país que tem. Isso ajuda, ao contrário de antes. Não estamos baseados no café, mas numa pauta totalmente diversificada. E a coisa do pré-sal vai ajudar.

FOLHA – Quando teve o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento, com o Geisel (1975-1979), ele tentou dar um salto qualitativo tecnológico.

CONCEIÇÃO – Tentou, e nós começamos a exportação de manufaturas para valer.

FOLHA – Mas o Brasil ainda tem dificuldade de desenvolvimento tecnológico, por exemplo em computadores.

CONCEIÇÃO – Tem menos do que tinha na época. No Geisel, ainda estávamos começando e a área de computadores fracassou. O projeto Cobra foi um desastre. Aí só avançamos na área bancária, temos a mais desenvolvida em matéria de computação do mundo. Estamos com tecnologia avançada em aviões, em perfuração de petróleo, o que não é pouca porcaria.

FOLHA – Mas em relação à competição chinesa em informática, máquinas?

CONCEIÇÃO – O que tem que entender é que a China é um híbrido. Não pode ser considerada mais um país em desenvolvimento, mas tem uma área subdesenvolvida, com uma população gigantesca, no campo. A China ainda tem que caminhar para dentro, desenvolver o mercado interno. Mas ela tem um solo esgotado. Ao contrário da mudança de centro [capitalista] da Inglaterra, que não tinha produtos primários, para os EUA, que tinham, o que levou ao fim do modelo primário-exportador na América Latina, a China vai ter décadas ainda importando produtos primários, tanto na parte alimentar quanto na de minério e petróleo. Para nós está bom.

FOLHA – Mas quando se fala do risco de desindustrialização…

CONCEIÇÃO – É por causa das importações e do câmbio. O resto quem fala está fazendo blá-blá-blá, porque toda a indústria está aí ainda.

FOLHA – Mas um argumento é que a indústria é que dá emprego de qualidade para os jovens, e não o setor primário.

CONCEIÇÃO – Não é verdade. Os empregos de qualidade costumam ser no setor terciário, nos bancos e nos serviços de utilidade pública. Pelo lado do emprego eu não estaria preocupada. Estamos com problema de desemprego estrutural, mas devido à pobreza. Com uma política de combate à pobreza e com uma política de educação você repõe as bases de um país desenvolvido. Desta vez, acho que a maldição do [Celso] Furtado, que era desenvolvimento junto com subdesenvolvimento, pode terminar.

Na indústria, a parte de capital estrangeiro em geral não faz desenvolvimento tecnólogico, traz da matriz, o que é um problema. Mas, como a divisão internacional do trabalho está mudando, também há a tendência de adaptar produtos a cada mercado em que as empresas estão instaladas.

Quanto à indústria nacional, o Ministério de Ciência e Tecnologia e a Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] continuam fazendo o que podem para fazer semeadura de tecnologia, sobretudo na pequena e na média empresas. O BNDES faz também para a grande empresa, até porque ninguém acredita que seja possível competir lá fora sem isso. Se não tivéssemos tido avanço tecnológico em aços especiais, claro que a Gerdau não estaria com filiais até nos EUA.

Eu tenho trabalhado na questão da internacionalização do capital, e tenho a impressão que por esse lado não estamos tão mal. O nosso problema é fechar a brecha entre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento nosso, que é menos problema do que para a China e para a Índia.

São situações muito díspares. Não tem centro e periferia como antes. Tem países de desenvolvimento intermediário, entre os quais estamos. A Rússia sim desmantelou a indústria toda. Só exporta gás e petróleo. Isso é que é uma situação ruim. Está lá no Bric [Brasil, Rússia, Índia e China] um pouco fora de propósito.

A discussão agricultura versus indústria é datada, do pós-Segunda Guerra. Ninguém vai fazer uma opção por um outro. Precisa de agricultura familiar, de agrobusiness, da indústria de transformação.

Agora, estou de acordo que, na indústria eletroeletrônica, por causa da Zona Franca de Manaus, montamos uma fábrica de montagem e não avançou ainda. Mas vai avançar, não tem dúvida. Até porque o BNDES tem política setorial, como na farmacêutica e na química.

FOLHA – E a acusação de que o governo Lula escolhe as empresas beneficiadas?

CONCEIÇÃO – Política industrial só horizontal não vai para lugar nenhum. Tem que continuar as horizontais, mas tem que fazer as setoriais. Se não escolher setores e empresas, não avança. Não estamos num mundo de concorrência perfeita. Estamos num mundo monopolista. Se não tiver grande empresa aqui, não vamos para lugar nenhum.

FOLHA – O período do livro é caracterizado como a “modernização conservadora” do Brasil. O Brasil ainda vive esse fenômeno ou pode acertar contas nesse ponto?

CONCEIÇÃO – A parte da modernização conservadora que diz respeito ao grande capital, bancário, industrial, uma parte das construturas, vive. Grande capital é grande capital, está pouco se lixando para ideologia. É conservador no sentido de que não teve uma democratização da propriedade.

FOLHA – Não teve reforma agrária.

CONCEIÇÃO – Tem que terminar, com a pequena produção agrícola independente, e a pequena e a média empresas com tecnologia e apoio. Essa ideia do cartão BNDES, que aliás foi o Lessa que inventou, com o qual se pode pedir R$ 1 milhão para fazer uma padaria, montar uma pequena empresa. O Lessa botou o BNDES outra vez no espírito de ser um banco de desenvolvimento. No governo de Fernando Henrique, era só um banco da privataria. Só não foi ameaçado porque tem a indústria que demanda recursos.

FOLHA – A senhora está otimista, então?

CONCEIÇÃO – Pela primeira vez na história do Brasil não há uma crise da dívida externa. Em segundo lugar, voltamos a usar o BNDES, desde o começo do governo Lula, para promover o desenvolvimento. A coisa social mudou também radicalmente. Consolidou-se a inflação baixa, não precisa ter taxa de juros lá em cima para que ela caia. Está estabilizada.
Isso muda tudo, porque a inflação é uma praga para os salários. O pessoal da esquerda não levava isso em conta, o que era uma asneira. Com inflação, nenhuma política salarial resolve. Lembra que tinha indexação dos salários e a inflação corria na frente.

Estamos numa situação bem melhor do que nunca estivemos desde a década de 30. E também com estabilidade política, por mais que façam esse banzé. Se você afirmou a democracia, se está afirmando as políticas sociais, se está continuando a política industrial, eu estou otimista, pela primeira vez, para dizer a verdade, porque em geral sou pessimista. Espero não me equivocar, mas, também, se me equivocar não vou estar viva para ver.

FOLHA – E como a sra. vê a situação dos EUA?

CONCEIÇÃO – Estou com os keynesianos de lá, como o [Paul] Krugman. Acho que fizeram pouco e mal feito. Mas isso não é culpa do presidente. Ele tem um Congresso desvairadamente conservador.

Isso sim me preocupa [no Brasil]. O pessoal só presta atenção na eleição para a Presidência, mas é importante ver o Congresso. Vamos ver se dá um Senado um pouco melhor, mas de qualquer maneira a capacidade de negociação continua. Nisso o velho [economista ortodoxo Otavio Gouveia de] Bulhões [1906-1990], meu mestre antigo, tinha razão, que o Executivo é mais forte, mas para fazer reformas tem que passar pelo Congresso.

Algumas coisas, como reforma tributária e política, dependem do Congresso, e em geral os congressistas não querem mudar o status quo. São reformas que eu vejo que são importantes, e que o Congresso provalmente vai continuar no chove não molha. Vamos ver se a gente consegue.

FOLHA – Mas a reforma tributária deve reduzir a carga como proporção do PIB ou a natureza dos impostos?

CONCEIÇÃO – Como vai mudar a carga sobre o PIB, com as demandas de política pública que você precisa fazer? Não, tem que mudar a carga mal distribuída e a estrutura dos tributos, que é muito complexa, muito atrapalhada. Continua aquela briga entre os Estados sobre o ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias].

Hoje o Lula já sacou que precisa fazer aliança nos dois sentidos, com o PMDB para uns fins e com os partidos minoritários da esquerda para o outro. Acho que não está tão difícil como já esteve.

FOLHA – Mas a sra. acha que, qualquer que seja o sucessor do Lula, vai ter o jogo de cintura dele?

CONCEIÇÃO – Qualquer que seja é problema seu. Eu acho que já está decidido. Mas pode ser de novo que eu esteja otimista demais. O fato é que, com Dilma ou Serra, haverá o mesmo problema no Congresso, essas duas reformas serão difíceis. Depende de quem eles botarem para ser o negociador com o Congresso.

Evidente que a capacidade do Lula ninguém vai ter mais neste país, porque o único com capacidade semelhante foi o Vargas. Acabou mal, coitado, o que não é o caso do Lula, que negociou durante oito anos e está terminando muito bem. Isso também é uma novidade. Você já viu algum presidente que veio do povo como esse, apesar de todos os percalços e denúncias, ter conseguido isso? Além do fato de hoje o Brasil estar no cenário internacional graças a ele.

São coisas que, para mim, marcam uma mudança e uma transição. Estou convencida de que estamos numa transição e que efetivamente, ganhe quem ganhe, não vão arrebentar com o Brasil, embora eu prefira a Dilma porque conheço o caráter progressista dela e o Serra ficou mais conservador.


Livro mostra as dificuldades da industrialização

DO RIO

Foi um técnico americano, Corwin D. Edward, quem primeiro sugeriu ao Brasil, em 1942, a criação de um banco de desenvolvimento. Ele integrava missão enviada ao país sob os acordos firmados na 2ª Guerra.
Foi Roberto Campos (1917-2001), ortodoxo e pró-americano -”Bob Fields”, para a esquerda- quem, como diretor do BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), convidou Celso Furtado (1920-2004), em 1953, para trazer à instituição métodos de planejamento econômico da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina).
Tais episódios, confinados à memória de especialistas, estão no livro “O Papel do BNDE na Industrialização do Brasil: Os Anos Dourados do Desenvolvimentismo -1952-1980″.
O livro traz relato fascinante da “modernização conservadora” brasileira a partir do segundo governo Vargas (1951-1954), quando foi acelerada a industrialização pela substituição de importações, com o Estado como agente.
Foi um processo aos trancos e barrancos, com embates ideológicos, quase sempre vencidos pelo capital, e marcado pela recorrência da inflação e do deficit no balanço de pagamentos.
A necessidade de crédito tornava o país vulnerável aos humores de Washington. O primeiro plano de desenvolvimento saiu da Comissão Mista Brasil-EUA (1951-1953). Mas empréstimos ficaram aquém do prometido.
Nos 30 anos, o país cresceu quase sempre a mais de 6% anuais -movimento só interrompido pela crise da dívida. Em quase todo o período, o BNDE -o banco, de 1952, só ganharia o S de social em 1982- foi vital, como financiador, avalista de créditos externos e provedor de assistência técnica.
Mas houve controvérsias. Usiminas e Cosipa nasceram privadas e foram estatizadas quando o banco honrou créditos que os donos não pagaram.

* Luis Favre

sábado, setembro 11, 2010

Pior não fica






SE O SERRA PODE POR QUE O TIRIRICA NÃO?

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Laerte Braga

A diferença entre o ex-presidente e o Tiririca é que FHC faz chorar, Tiririca faz rir e até agora não se tem notícia que tenha vendido um país ou metido a mão no bolso de alguém.

Tenho ouvido disparates tais como exigir curso para eventuais candidatos a cargos eletivos, preparo mínimo, sabatina por notáveis, coisas típicas de moralismo hipócrita e que no Brasil, em se falando de eleições, se materializa na Justiça Eleitoral, aberração no sentido lato da palavra.

Quando a mídia privada começa a questionar o direito de Tiririca ser candidato a deputado federal deixa de olhar para seu próprio umbigo. Tiririca é produto dessa mídia. Da alienação vendida diariamente nas bancas de jornais, em telinhas de tevê ou na baixaria que costuma ser a programação de boa parte das rádios brasileiras.

Há dias, num táxi, ouvi um locutor da RÁDIO GLOBO recomendar aos ouvintes que não dessem atenção às “rádios piratas”. Estava se referindo às rádios comunitárias. Atrapalham os “negócios” e muitas delas levam informação e resultam em formação.

Isso não interessa aos donos.

Se Tiririca é um bobo, ou não é, nessa discussão sobre seu direito de ser ou não candidato, é irrelevante. É um cidadão brasileiro no gozo dos seus direitos políticos e prontos.

A “democracia” que temos é regida por esses parâmetros.

O que acontece é simples. Num dado momento alguns integrantes do clube de amigos e inimigos cordiais, o Congresso Nacional, perceberam que a perspectiva de um milhão de votos para Tiririca rouba-lhes o assento, digamos assim, na Câmara.

Aí, um procurador eleitoral, investido de poderes absurdos, vai questionar se a vírgula da lei está bem ou mal colocada.

Em uma eleição municipal numa cidade mineira há cerca de uns quinze anos o juiz eleitoral, partidário de um dos candidatos e corrupto, exigiu que os programas do horário eleitoral gratuito lhes fossem mostrados antes de ser exibido e ao seu talante ia fazendo cortes aqui e ali.

A corrida para votar em Tiririca para deputado federal não é nem novidade. E muito menos em São Paulo.

Jânio não foi prefeito e governador? FHC não foi senador, presidente do Brasil? Ademar e Maluf não ganharam várias eleições em cima do “rouba mas faz”? Alckimin não está à frente nas pesquisas para a sucessão estadual? José Arruda Serra não foi prefeito, senador, governador e é candidato a presidente da República.

E olhe que não citei o rinoceronte Cacareco que esse era candidato sério. Ou nem era, o eleitor escrevia seu nome na cédula. Ninguém bateu seu recorde até hoje. Caráter paquidérmico.

O que as redes de tevê que torcem o nariz para Tiririca querem? Ou os jornais, as revistas? As emissoras de rádio e seus programas padrão “olha aí gente que vem chuva forte?

Tiririca é produto desse caráter espetáculo que a mídia privada constrói diariamente nas receitas de Ana Maria Braga, nos domingos desesperadores de Faustão (já apareceu por lá e foi saudado), ou na desinformação que é o JORNAL NACIONAL.

O jornal ESTADO DE SÃO PAULO no afã de criticar Lula (a opinião do jornal é que Lula deveria estar na senzala) traduziu um artigo do jornal inglês THE ECONOMIST e suprimiu um parágrafo onde se lia que o Brasil é a perspectiva de futuro diante do naufrágio da Europa e do declínio dos EUA (se mantém por conta das milhares de bombas que podem destruir o planeta até cem vezes se for o caso).

Suprimir que seja até aceitável, façamos a concessão, mas não informar aos leitores que suprimiu determinado parágrafo e fazer crer que o artigo era crítico, isso é má fé.

Que tipo de contribuição a REDE GLOBO oferece aos brasileiros em termos de conscientização, de informação real, verdadeira, não distorcida? De perspectiva cultural?

São só “negócios”. E negócios sujos, como ganhar terreno público destinado a praça pública por doação de José Arruda Serra, para impedir que o povo da capital paulista tenha de volta o bem público.

A vírgula que Tiririca colocou errado, se é que colocou, não é a que o procurador eleitoral ou seja lá quem for achou, ou inventou, mas é o milhão de votos que pode vir a ter e assim derrotar alguns medalhões investidos de moral patriótica, elevados princípios e contas em paraísos fiscais.

Maluf não diz que é ficha limpa?

José Arruda Serra não está descabelado e tresloucado com os números das pesquisas, falando bobagens em cima de bobagens por conta de um sigilo fiscal que sabia desde 2009 e beneficiou os “negócios” de sua filha? Que foi levantado agora pelo ex-governador de Minas Aécio Neves para defender-se das insinuações de Arruda Serra numa disputa interna entre tucanos?

O menor problema nessa “democracia” onde Gilmar Mendes vai proferir um voto sobre a ficha limpa, é o Tiririca.

Bolsonaro é deputado federal, vomita barbáries fascistas diariamente na Câmara, que riscos oferece o Tiririca?

Ele mesmo responde no seu slogan – “pior não fica” –.

Não tem como ser pior que Bolsonaro.

Já ouvi que Congresso é uma besteira e de gente que defende a “democracia forte”. Coloca o que não existe na democracia, adjetivo. Sobral Pinto ensinou isso a um coronel fascista que falou da construção da “democracia a brasileira”.

Deu no que deu. País imerso em dívidas, prisões lotadas de adversários políticos, milhares de exilados, torturados, assassinados e até hoje esse rebutalho defendendo a honra nacional.

Putz! É o cúmulo da esculhambação.

Existem deputados como Chico Alencar, Brizola Neto, Luciana Genro, outros tantos que lutam pela construção da democracia lato senso, com ampla participação popular. Candidatos como o Carlos Eugênio Pais, o comandante Clemente.

Mas e a GLOBO? O ESTADO DE SÃO PAULO? A FOLHA DE SÃO PAULO? VEJA? ÉPOCA?

A maior preocupação do portal GLOBO.COM, que se auto intitula o maior do Brasil é saber se Susana Vieira acordou com o mesmo namorado ou é outro.

Aí meu caro e minha cara, nessa linha de alienação, de baboseira, Tiririca ainda acaba virando salvação nacional com direito a participar da tal dança dos famosos no programa do bobo Faustão.

E chamadas no JORNAL NACIONAL. Com análises de Miriam Leitão, Lúcia Hipólito e Alexandre Garcia.

Tiririca é produto que eles próprios, as elites, criaram. Agora que agüentem. Descartar o cara pelo simples fato que tornou-se eleitoralmente maior que essa bandidagem vendida pela mídia privada é típico dessa banda podre e corrupta, a que usa e descarta.

Como aquela moça do Faustão que foi mandada embora por ter completado quarenta anos.

São cretinos absolutos, mas pilantras plenos. A causa. Tiririca é o efeito.

Tenho uma sugestão. Maitê Proença produziu asneiras impensáveis no programa SAIA JUSTA de um dos canais da GLOBO em tevê fechada. Peguem algumas declarações de Tiririca. Se conseguir superar a moça que deu um chilique e queria andar exclusivo para si num hospital depois de uma queda dum cavalo, aí dá para pensar no assunto impugnação.

Caso contrário, quem sabe o procurador, ou procuradora que quer impugnar o candidato impugna a GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO, VEJA, Faustão, Maitê Proença, etc, etc.

Olha bem, depois que o FHC foi presidente da República, vendeu um país inteiro e ainda constrói uma pirâmide em São Paulo para si qualquer tiririca é pinto diante do esquema FIESP/DASLU.

Sonegômetro já






Para entender a ideia fixa de Serra

A insistência de José Serra em repisar obsessivamente a questão do sigilo fiscal de Verônica nada tem a ver com a campanha.

Tem a ver com essa nota do seu advogado Arnaldo Malheiros em 2002, explicando algumas omissões na declaração de renda do então candidato José Serra - e publicada pelo leitor José Luiz Ribeiro da Silva no Portal Luís Nassif (clique aqui) em 22 de julho passado.

"3) A casa em que o casal reside em São Paulo

A casa em que o casal reside em São Paulo é de propriedade de sua filha, Verônica Allende Serra, que a adquiriu em 2001, como declarou à Receita Federal neste ano. Ela teve rendimentos declarados à Receita Federal nos dois últimos anos-bases, em valor bem superior ao pago pelo imóvel, conforme documentos em meu poder."

BRIZOLA NETO

O TRABALHO (CAPITALISTA) ESCRAVIZA.




Nos portões do campo de concentração de Auschwitz lia-se a frase ‘O trabalho liberta’. Ironia dos nazistas que construíram estes campos como locais de trabalho forçado e, posteriormente, de extermínio em massa de judeus. O trabalho passou por inúmeros formatos durante a história, desde o trabalho escravo e servil até o trabalho ‘livre’, ironia do sistema capitalista.

O trabalho artesanal, desde a antiguidade até a Revolução Industrial do século XVIII, era uma forma de trabalho onde realmente o trabalhador era livre. O artesão era dono de suas ferramentas de trabalho, trabalhava no ritmo que bem entendesse, trabalhava nos dias e horários que desejasse. Este sim era uma forma de trabalho livre.

O artesão não tinha a mesma visão de mundo que os capitalistas que tinham como objetivo central de suas atividades a acumulação de capitais, a acumulação de riquezas. O artesão trabalhava o necessário para viver, não tinha uma perspectiva de enriquecer. O tempo não era dinheiro, o tempo era vida.

O sistema capitalista estabeleceu a compra do trabalho em troca de salários, criou máquinas que escravizam os trabalhadores e transferiu para os capitalistas o controle sobre o ritmo e o tempo de trabalho.

O artesão sabia exatamente como sua mercadoria era produzida, ele criava o produto do começo ao fim, fazendo com que um dos seus produtos fosse diferente do outro. Se você tratasse um artesão como trabalhador ele era capaz de te dar uma porrada. O que ele fazia era arte, cada tapete do tecelão era diferente do outro. Cada cadeira produzida por um marceneiro era única.

Com as fábricas passou a vigorar a padronização, todos os produtos feitos por uma máquina são exatamente iguais. Cada trabalhador realiza apenas uma pequena parte do produto, não reconhecendo no produto final o seu trabalho. É o que chamamos de trabalho alienado. A charge abaixo é muito representativa deste processo de alienação do trabalho no capitalismo.



O mito de Sísifo nos leva a pensar se os gregos já não pressentiam o tédio, a monotonia, o porre, o saco, que é o trabalho alienado que submete milhões de pessoas mundo a fora a um processo que é capaz de enlouquecer ou, no mínimo, desumanizar qualquer um.

Sísifo foi condenado pelos deuses a empurrar um rochedo morro acima e, depois, o rochedo rolava pela encosta e Sísifo começava tudo de novo, indefinidamente. Veja esta animação sobre Sísifo:



Na década de 1930, Chaplin lançou o filme “Tempos Modernos”, hoje um clássico do cinema. Mas nos EUA o filme não foi bem recebido pelos conservadores que viam nele uma clara crítica ao capitalismo e, portanto, um manifesto pró-comunismo. Na década de 1950, período marcado pelo fenômeno do Macarthismo (ou ‘caça as bruxas’), os conservadores norte-americanos passaram a perseguir artistas e intelectuais que fossem considerados simpatizantes da URSS e do comunismo. Chaplin foi perseguido pelo macarthismo por ter dirigido o filme “Tempos Modernos”.

Mas o que o filme de Chaplin tinha de tão perigoso, de tão crítico? A cena abaixo é uma parte do filme e, a partir dele, você pode perceber a genialidade do diretor em sua feroz crítica ao trabalho alienado que o capitalismo nos impõe.




Leia mais sobre o trabalho alienado aqui:

http://educacao.uol.com.br/filosofia/marx-alienacao.jhtm

Sobre o mito de Sísifo leia aqui:


http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Mito_de_S%C3%ADsifo

Sobre o macarthismo leia aqui:

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/mccarthy.htm

*Turquinho

“Idealistas”, à vanguarda!!!






A postura obscena e antiética da mídia

Reproduzo artigo de Lula Miranda, publicado no sítio Carta Maior:

Infâmias, aleivosias, manipulações, sofismas, casuísmos, golpismo, “denuncismo” seletivo, “manchetismo” de ocasião [tão efêmeros quanto grandiloqüentes e estéreis]... A lista de ardis e procedimentos antiéticos utilizados pela grande mídia em nosso país nos dias que correm é vasta. Não resisto ao simbolismo da comparação: são como uma espécie de entulho moral, um monte de lixo de práticas escusas, sob o qual, “cavoucando” bem, encontraríamos aos tais [quiméricos?] princípios de pluralismo, da independência, do apartidarismo e do imparcialismo, que deveriam ser os fundamentos do exercício do jornalismo e ilustram, desgraçadamente como meros adornos, os Manuais de Redação.

Estes “anti-princípios” do jornalismo, listados acima, não se aprende [ainda não, ao menos que se saiba] nas Faculdades de Comunicação – mas esse delicado tema deveria, sim, ser tratado/debatido nas salas de aula. Aprende-se, isto sim, na realidade sombria e sufocante das grandes redações. É a decisiva, derradeira lição com que todo jovem jornalista se depara um dia e aprende: escrever com as próprias mãos a matéria, o artigo ou reportagem “contaminada”, “alicerçada” pela ideologia do chefe; esquadrinhada pela pauta, pelos ditames que emanam do “aquário”.

Melhor dizendo, apreendem essa lição, aqueles que são mais atentos, mais “espertos”, antes até, previamente, nos “rigorosos” e extenuantes processos seletivos (entrevistas, dinâmicas de grupo etc.), onde só os arrivistas passarão. [“ Eles passarão/ eu, passarinho” – ler Mário Quintana].

As redações de hoje estão tomadas por jovens arrivistas – aqueles que aceitam fazer o serviço sujo em troca de uma “sólida” carreira, rumo aos altos cargos e generosos salários, rumo ao “estrelato”. Ledo engano. Serão todos, um a um, descartados, no seu devido tempo, tal qual jornal velho, no primeiro “facão”, na primeira “necessidade” (ou melhor, na falta desta). Os “idealistas”, como são rotulados, estes já são expurgados logo no meio do caminho. É a inescapável sentença, que o outro poeta, o maior deles, já nos ensinara: “no meio do caminho tinha uma pedra”. Há sempre uma pedra no meio do caminho. A educação pela pedra.

Porém, alguns poucos “idealistas” recusam esse papel, o de assinar – não os textos, matérias e reportagens que, “idealista”, sempre sonhara escrever –, mas colocar o seu nome embaixo, subscrever um texto que reflete apenas os ditames, a “encomenda” daquele que manda. O mandonismo “cordato” dos novos coronéis. Alguns jornalistas, mais maduros, calejados e experientes na carreira, não sofrem esse singelo dilema, pois já trazem o patrão dentro de si.

Tenho verdadeira compaixão e, claro, como conseqüência da mais pura tradução semântica desse termo, tenho também irrestrita solidariedade e emotivo apreço por esses “idealistas”. Porém, reconheçamos, solidariedade e apreço não enchem barriga, não pagam contas. Então, que conselho lhes daria? Que caminho(s) lhes poderia sugerir para quando se colocarem diante de tal encruzilhada? Simples assim: o de não trair as suas convicções; o de não se prostituir. Demasiada simplificação?

Para alívio e graça desses “idealistas”, nos dias que correm, até como conseqüência/decorrência desse estado de coisas, os grandes veículos estão em franca decadência (não só moral, mas econômica – uma, muito provavelmente, conseqüência da outra).

Para alívio e graça desses “idealistas”, com o aumento exponencial/vertiginoso da chamada “Classe C”, a demanda pelo produto “comunicação” [ou “informação”, melhor dizendo] também crescerá exponencialmente. Os novos meios e veículos da chamada “blogosfera” também, paulatinamente, crescerão; irão se desenvolver, diversificar e certamente necessitarão, cada vez mais, da mão-de-obra de jornalistas ou de pessoas com vocação e talento para o exercício do jornalismo – jovens ou não. A saída, digo, a porta de entrada já não está necessariamente na grande mídia.

Devo-lhes aqui um desabafo em tom confessional com uma pitada considerável de assombro e vergonha: nunca, em tempo algum, nessas mais de duas décadas de militância na imprensa alternativa, jamais vi comportamento tão escancaradamente vil, obsceno, despudorado e antiético por parte da grande imprensa. E olhe que já testemunhei muita coisa. Nem nas eleições de 2006 viu-se algo semelhante!

Esse último episódio da repercussão, incessante e reiterada, em todos os meios (TV, rádio, jornais e revistas), dessa acusação [não comprovada, pois algo extemporânea, ilógica e estapafúrdia] de que a campanha da candidata do governo teria violado o sigilo fiscal de correligionários, de familiares e de pessoas próximas do candidato da oposição, é golpismo escancarado. Simples e cristalino assim.

E o que nos trará o livro do Amaury?

Deseja-se, nitidamente, conturbar o processo eleitoral e mudar, através de manipulação da verdade [ou seja, através de fatos inverídicos], os rumos da eleição, os rumos do país; desejam conspurcar a livre escolha da população, a democracia. E isso, sabemos todos, atende pelo nome de golpismo. Manchetes e mais manchetes, chamadas e mais chamadas são forjadas, diuturnamente para falar mal da candidata do governo e/ou bem do candidato da elite golpista. O que há de pior em nossas elites manifesta-se nesses “recalques”, revela-se através desses expedientes sórdidos dos quais deveriam, em verdade, se envergonhar. Mas não demonstram mínimo pudor ou constrangimento em expor suas vergonhas.

Muito oportuna, portanto, a representação impetrada pelo Movimento dos Sem Mídia (MSM), junto à Procuradoria Geral Eleitoral (PGE), denunciando a utilização de concessões públicas na prática de crime eleitoral. Ou, como está na ação “sobre possível atuação ilegal de órgãos de mídia no atual processo eleitoral”. Vivemos num Estado Democrático de Direito e devemos sempre recorrer às instituições para preservar os direitos inerentes à cidadania e evitar abusos. O MSM marca mais um gol – independente da representação ser ou não aceita. O que importa é a ação em si – e toda simbologia que traz consigo, tudo o que traduz.

Não podemos permitir que ganhem essa eleição “no grito”, “no tapetão”. Estejamos todos, pois, atentos e vigilantes. Mais golpes sujos virão por aí. O dogmatismo da infâmia não conhece limites. Mais pedras serão interpostas nessa nossa longa caminhada rumo a um novo Brasil. “Idealistas”, à vanguarda!!!
*AltamiroBorges

11 de setembro 1973 Chile / e em NY usa 2001






A Batalha do Chile

Confesso que não pensei publicar esses vídeos por serem, de certa forma, de longa duração. Entretanto, quando os vi publicados por Cristóvão Feil e por Idelber Avelar e ainda, revendo-os mais uma vez, senti que teria que compartilhar essa verdadeira aula de História com meus amigos.
Portanto, deixo com voces o imperdível documentário (completo) "La Batalla de Chile". Embora narrado em espanhol, é de fácil compreensão.
Assim, fiquem com a história do golpe de Estado ao governo legítimo de Salvador Allende. Bom proveito!



11 de setembro de 1973, Santiago do Chile





A estratégia do golpe e o advento do neoliberalismo

Neste documentário, chamado A Batalha do Chile, o diretor Patricio Guzmán conta com grande realidade e crueza o golpe civil-militar de 11 de setembro de 1973 que derrubou o governo constitucional de Salvador Allende, no Chile. Sempre, claro, com a inestimável ajuda dos Estados Unidos.

O Chile acabou servindo de laboratório do neoliberalismo para as suas políticas de submissão às economias centrais e ao sistema financeiro mundial.

Quando Pinochet dá o golpe em 11 de setembro, já o faz em nome de um plano econômico chamado El ladrillo, formulado por economistas chilenos e estadunidenses egressos da Universidade de Chicago, os chamados Chicago-boys, devotos da conhecida escola econômica austríaca, que visa glorificar a moeda e promover a hegemonia completa do capital financeiro, em detrimento da produção, do trabalho e da promoção de políticas sociais que diminuam a desigualdade.

Assim, o ciclo ultraliberal, a hegemonia avassaladora do capital financeiro e a ideologia do pensamento único, iniciado em 11 de setembro de 1973, no Chile, contamina o mundo inteiro através do fenômeno da globalização (aliado à aplicação intensiva das novíssimas tecnologias da informação) e se fecha simbolicamente em 15 de setembro de 2008 com a liquidação do banco Lehman Brothers e o abalo estrutural do sistema capitalista que se estende até os nossos dias, num arco temporal de quase quatro décadas.

O vídeo tem 1h25min. A rigor, esta é a segunda parte de um documentário de mais de quatro horas. A primeira parte deste filme (Insurreição da burguesia) pode ser visto aqui. Vale a pena. Ainda tem uma terceira parte denominada El poder popular. Você pode baixar todos os três vídeos aqui.



https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnHqH9aWMe1xV5cWZqLyPHZtrArTQ6YaK0RLWKtJZmrNwjEWNKDMbTd99y9yOY37Y_CMzXtuDfoOW0bLwbozYmbT6mZMGrD8S7rLij4e6dsyJe7XlQoUG6xrT-ZAdhwVFVu3B6W95cys_7/s1600/Orlando_Lagos.jpg

Para matar o Homem da Paz




Poema "Allende" de Mario Benedetti. Homenagem a Salvador Allende en Amberes/Bélgica no ano em que se festejou o centenário de seu nascimento. Interpretação de Roberto Olmedo Ulloa, música de Felix Crocco


Para matar al hombre de la paz
para golpear su frente limpia de pesadillas
tuvieron que convertirse en pesadilla,
para vencer al hombre de la paz
tuvieron que congregar todos los odios
y además los aviones y los tanques,
para batir al hombre de la paz
tuvieron que bombardearlo, hacerlo llama,
porque el hombre de la paz era una fortaleza

Para matar al hombre de la paz
tuvieron que desatar la guerra turbia,
para vencer al hombre de la paz
y acallar su voz modesta y taladrante
tuvieron que empujar el terror hasta el abismo
y matar mas para seguir matando,
para batir al hombre de la paz
tuvieron que asesinarlo muchas veces
porque el hombre de la paz era una fortaleza,

Para matar al hombre de la paz
tuvieron que imaginar que era una tropa,
una armada, una hueste, una brigada,
tuvieron que creer que era otro ejercito,
pero el hombre de la paz era tan solo un pueblo
y tenia en sus manos un fusil y un mandato
y eran necesarios mas tanques mas rencores
mas bombas mas aviones mas oprobios
porque el hombre de la paz era una fortaleza

Para matar al hombre de la paz
para golpear su frente limpia de pesadillas
tuvieron que convertirse en pesadilla,
para vencer al hombre de la paz
tuvieron que afiliarse para siempre a la muerte
matar y matar mas para seguir matando
y condenarse a la blindada soledad,
para matar al hombre que era un pueblo
tuvieron que quedarse sin el pueblo.

Mario Benedetti

O outro 11 de Setembro, foi em 1973. Este 11 de Setembro apesar de não ser mediatizado até à exaustão, como o outro, causou sem dúvida muito mais sofrimento e muitas mais vítimas inocentes.

Depois do ataque às torres gémeas de Nova Iorque, 11 realizadores foram convidados para fazer um filme sobre o 11 de Setembro. Esta é a brilhante contribuição de Ken Loach que traça um paralelo com um outro 11 de Setembro.

*GilsonSampaio

Fora PIG "Partido da Imprensa Golpista"






Eu apoio blog sujo!

Aderirimos à campanha de apoio aos blogs sujos. Uma questão de coerência da NovaE.

Desde de 1999 a revista busca estar na linha de frente contra o atraso que representa a trinca PSDB/DM/PPS. Ora, todos nós conhecemos o "Zé" Serra, como ele quer ser chamado.

Mas sabemos muito bem com quem ele anda; o que ele pensa; quem de fato ele é. Tudo por causa dos blogs sujos. Portanto, quando ele diz sujo, com certeza ele quer dizer corajosos, bravos e destemidos blogs.

É assim que entendemos. Preferimos estar entre os sujos, do que na limpeza eugênica da grande mídia.

Escolha seu selo. Coloque no seu blog ou site. (Com imagem by @pituca_amiglo - Blog Clipping do Mario)



* André Lux


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi41pftgsPDa-KuAvtgPs9DRagz8wlgrjILeu-9zxh8k_k2W2fiFIYb4xq5DISiq_a9MHLsbxjCnKHz9wXFirkE3LKONpiiZkW_IwQiSaLG2Y6BqpkKISmSPbak6vBYvLo4UXcqnjqAt94/s400/queda-poster02.jpg


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Sexo é bom tântrico é melhor






Qual a diferença entre o sexo normal e o sexo tântrico?



Venus

Seu ato sexual e o sexo tântrico são fundalmentalmente diferentes. Seu ato sexual é para aliviar; é como dar um bom espirro. A energia é jogada fora e você fica aliviado. Isso é destrutivo, não é criativo. É bom, terapêutico. Ajuda você a relaxar, nada mais. O sexo tântrico é diametralmente oposto e completamente diferente. Não é para aliviar, não é para jogar energia fora. É para permanecer no ato sem ejaculação, sem jogar energia fora; permanecer no ato excitado — apenas na parte inicial do ato, não no final. Isso muda a qualidade — a qualidade final é diferente. Tente entender duas coisas. Existem dois tipos de clímax, dois tipos de orgasmos. Um tipo de orgasmo é conhecido. Você chega ao pico da excitação, depois você não pode ir além disso: o fim chegou. A excitação chega a um ponto onde isso se torna involuntário. A energia pula para dentro de você e sai. Você fica aliviado, descarregado. A carga de energia é jogada; aí você pode relaxar e dormir. Você está usando o sexo como tranquilizante. É um tranquilizante natural, o ajudará a dormir bem — se sua mente não estiver oprimida pela religião. Caso contrário, mesmo o tranquilizante não vai fazer efeito. Se sua mente não estiver oprimida pela religião, só então o sexo pode ser algo tranquilizante. Se você sente-se culpado, mesmo seu sono será perturbado. Você se sentirá deprimido, você começará a se condenar e fará juramento de que não se entregará mais. Então o seu sono se tornará um pesadelo depois. Se você é um ser natural não oprimido pela religião e pela moralidade, então o sexo pode ser usado como um tranquilizante. Este é um tipo de orgasmo — chegar ao pico da excitação. O Tantra é centrado em outro tipo de orgasmo. Se nós chamarmos o primeiro tipo de orgasmo do pico, você pode chamar o orgasmo do Tantra de orgasmo do vale. Nesse tipo de orgasmo, você não chega ao pico da excitação, mas no vale mais profundo do relaxamento. A excitação tem que ser usada por ambos no começo. É por isso que eu digo que no começo eles são iguais, mas no fim eles são totalmente diferentes. A excitação tem que ser usada por ambos: ou você alcança o clímax da excitação ou o vale do relaxamento. Para o primeiro, a excitação tem que ser intensa — cada vez mais intensa. Você tem que crescer na sua excitação, você tem que ajudá-la a crescer em direção ao pico. No segundo, a excitação é apenas o começo. E uma vez que o homem tenha penetrado, ambos, amante e amado podem relaxar. Nenhum movimento é necessário. Eles podem relaxar num abraço amável. Quando o homem sentir ou a mulher sentir que a ereção vai ser perdida, então é necessário um pequeno movimento para voltar a excitação. E depois relaxe novamente. Você pode prolongar esse abraço intenso por horas, sem ejaculação, e depois ambos podem adormecer juntos. Este é o orgasmo do vale. Ambos estão relaxados, e se encontram como dois seres relaxados. No orgasmo comum, vocês se encontram como dois seres excitados, tensos, tentando descarregar suas energias. O orgasmo comum parece loucura; o orgasmo tântrico é uma profunda, relaxante meditação. Você talvez não esteja consciente disso, mas esse é um fato da biologia, da bioenergia, onde mostra que o homem e a mulher são forças opostas. São o negativo e o positivo, o yin e o yang, ou qualquer coisa que queira chamá-los — eles estão desafiando-se mutuamente. E quando ambos se encontram num profundo relaxamento, eles se revitalizam um no outro. Ambos se revitalizam, tornam-se geradores, sentem-se mais vivos, tornam-se radiantes com a nova energia, e nada é perdido. Apenas pelo encontro com o polo oposto a energia é renovada. O amor tântrico pode ser feito tanto quanto quiser. O ato sexual comum não pode ser feito da mesma forma porque você está perdendo energia ao fazê-lo, e seu corpo terá que esperar para recuperar. E quando você recupera energia, você irá perdê-la novamente. Isso parece absurdo. Sua vida inteira é gasta em ganhar e perder, recuperar e perder. Isso acabou virando uma obsessão. A segunda coisa a ser lembrada: você talvez tenha ou talvez não tenha observado que quando você olha para os animais, você nunca os vê desfrutando o sexo. Nas suas relações sexuais, eles não estão sentindo êxtase ou desfrutando. Olhe para os macacos, para os cães ou para qualquer outro tipo de animal. Em seus atos sexuais você não pode ver que eles estão sentindo êxtase ou desfrutando — você não pode! Parece ser um ato mecânico, uma força natural os empurrando em direção ao ato sexual. Você já observou macacos em suas relações sexuais? Depois do ato sexual eles se separarão. Olhe para eles: não há nenhum êxtase neles, é como se nada tivesse acontecido. Quando a energia empurra pra fora, quando a energia é muita, eles a descarregam. O ato sexual comum é exatamente como isso, mas os moralistas dizem exatamente o contrário. Eles dizem: "Não se entregue, não desfrute." Eles dizem: "Isso é como os animais fazem." Isto está errado! Os animais nunca desfrutam; só o homem pode desfrutar. E quanto mais fundo ele desfrutar, mais elevada será a humanidade. E se seu ato sexual pode torná-lo meditativo, extático — o mais alto é alcançado. No ocidente, Abraham Maslow tornou este termo — experiência de pico — muito formoso. Sua excitação chega até o pico, e depois cai. É por isso que, depois de todo o ato sexual, você sente uma queda. E é natural porque você está descendo de um pico. Você nunca sentirá isso depois de uma experiência com o Tantra. Você não se sente caindo. Você não pode cair além daquilo porque você está num vale. Melhor, você está subindo. Depois que você faz sexo tântrico, você percebe que subiu, não caiu. Você sente que está com energia, mais vitalizado, mais vivo, radiante. E esse êxtase continuará por horas, até mesmo dias. Isso depende de quanto profundamente você estava. Se você se move dentro do sexo tântrico, mais cedo ou mais tarde você perceberá que ejaculação é perda de energia. Não há necessidade disso — a menos que queira ter filhos. E com uma experiência tântrica você sentirá um profundo relaxamento durante o dia todo. Após o ato sexual tântrico, e mesmo por dias você se sentirá relaxado — você se sentirá tranquilo, à vontade, não-violento, sem raiva, não-deprimido. E esse tipo de pessoa nunca é um perigo para os outros. Se ele puder, ele ajudará os outros a serem felizes. Se ele não puder, pelo menos ele não fará ninguém infeliz. Só o Tantra pode criar um novo homem, esse homem que pode conhecer o eterno, o não-ego, e uma profunda não-dualidade com a existência crescerá.
Osho, em "O Livro do Homem"
*comtextolivre