Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, outubro 11, 2010

Charge do dia

Maio de 2008: a primeira-dama Mônica Serra, mulher de José Serra (PSDB), participa da campanha do agasalho na Daslu.

Cínica e despudorada como o marido

A esquerda americana solidaria ao Brasil MST




A homenagem da Rage Against the Machine ao MST

Por Bruno Malaquias
Prezado Nassif,
Bom dia!
Não sei seu email entao te passo a dica por aqui mesmo.
A banda americana Rage Against the Machine, um dos show mais esperados do festival SWU, em Itú, SP, dedicou a música PEOPLE OF THE SUN ao MST, e seu guitarrista, Tom Morello, um dos melhores do mundo, usou um boné do MST durante o show.
Vale vc acompanhar isso na 'grande' mídia, pois a maioria omitiu tais fatos e no site da abril, um dos colonistas taxou o show de AGRESSIVO.
Veja a musica sendo dedicada ao MST
*LuisNassif

Os melhores momentos do 1º debate do 2º turno para a eleição do cargo máximo da República Federativa do Brasil



Para variar a limitação do tempo, faz com que o tempo da TV seja mais importante do que o mais importante cargo da nação.

*chebola


Dilma trucidou o Serra.
Ele é “o homem de mil caras”


Serra, o homem de mil caras


Você não é o cara. Você é o homem de mil caras. Eu lamento as suas mil caras, ela disse.
Dilma partiu para cima do Serra.
Dilma foi Dilma e enfrentou o Zé Baixaria – o homem de “mil caras”.
O debate na Band serviu para mostrar que a Dilma cresce na briga.
Deixa a Dilma falar, galera !, não é isso, Agripino Maia ?
O PiG (*), nesta segunda-feira, vai se mostrar machista e diretamente atingido.
Vai acusar a Dilma de “agressiva”, expressão que ele usou, ao ser levado para as cordas e apanhar, do início ao fim.
Quer dizer que eles queriam que a Dilma sofresse com a baixaria e ficasse calada ?
O debate na Band mostrou também que ela sabe do que diz.
O Serra não tem nada dentro.
É um santarrão de pau oco: não produz uma ideia original.
E se ele achou que tinha encurralado a Dilma com o segundo turno, deu-se mal.
A Dilma citou algumas estrelas da constelação tucana, para mostrar que não vai se intimidar com a questão dos Valores e da Ética.
Ricardo Sergio de Oliveira.
Davizinho, aquele da Petrobrax, de olho no pré-sal.
Mendonção, do telefonema “isso vai dar m …”.
E a mulher do Serra, a Monica Serra, de óculos de armação vermelha, que foi dizer que a Dilma era a favor de matar criancinha – Dilma falou da Monica com todas as letras.
Ela lembrou do tucano que sumiu com 4 milhões da campanha do Serra.
A Dilma não parava de falar que eles venderam o Brasil.
O Fernando Henrique disse que o Serra é quem mais gostava de privatizar.
Você conseguiria dar a lista das empresas que você privatizou, Serra ?
Serra acusou o PT de ser contra a privatização e, se dependesse dele, os brasileiros dependeriam dos orelhões.
Não, Serra, disse a Dilma: hoje os brasileiros têm acesso à banda larga.
Dilma lembrou que o Banco do Brasil comprou a Nossa Caixa para não deixar o Serra privatizá-la.
Os aeroportos estão cheios ?
Sim, disse a Dilma.
Porque agora o pobre também pode andar de avião.
No Governo dele, só os ricos.
Serra fala em criar o Ministério da Segurança: e como é que ele deixou entrar celular nas cadeias de São Paulo para detentos simularem sequestros ?
Os delegados de São Paulo têm o Pior Salário Do Brasil, o PSDB.
O crack ?
São Paulo tem 300 mil drogados e 90 vagas para cuidar deles.
Serra retrucou, indignado: não são 95, mas 300 !
Um jenio.
Sobre os professores.
Dilma prefere tratá-los sem cassetete.
Sobre o aborto.
Quando uma mulher chegar a um hospital por ter feito um aborto, você vai atender essa mulher ou vai mandar prendê-la ?
Dilma disse que concorda com a providência que o Serra, Ministro da Saúde, adotou para regulamentar o aborto –  legal – no sistema do SUS.
E acusou o vice do Serra, um tal de índio, de fazer campanha cavilosa no submundo da treva para atingir a religiosidade da Dilma.
(No horário eleitoral, antes do debate, Serra usou mil vezes a expressão “o Brasil que está nascendo”.)
Quando a Dilma perguntou se ele assumia o compromisso de manter o Bolsa Família, a Dilma lembrou que ele foi ao cartório dizer que não deixaria a prefeitura de São Paulo – e deixou.
O Serra pensou que ia encurralar a Dilma, porque ele – como os tucanos de são Paulo – é “preparado”.
Serra foi trucidado.
E, como ele, no fundo, é um homem inseguro, vai chegar agora aos próximos debates com a crista baixa, “do bem”.
Os tucanos saíram da Band com o bico entre as pernas.
Comprovaram que o jenio não tem nada dentro.
A baixaria é a última (e única) arma dele.
Será que existe uma lei tipo Maria da Penha, mas para os homens que apanham de mulher ?, pergunta o amigo navegante Cacau.
A Dilma botou o Serra no colo do Agripino, diz o amigo navegante Lau Costantin.
Em tempo: como diz o amigo navegante Pablo Diego, o Serra não foi capaz de defender nem a mulher.

Em tempo 2: Segundo o Medeiros, amigo navegante, o PiG vai dar as seguintes manchetes: Dilma mostrou o lado guerrilheira; Dilma não respeitou a Igreja e atacou o São Serra;  Dilma foi armada com uma AK-47; Serra chorou nos bastidores, coitadinho ! Otavinho emprestou o lenço, que bonzinho !

Paulo Henrique Amorim

Que Dilma é essa ?
A Dilma


A presidenta da Ley dos Medios

Convenhamos, amigo navegante, que, dos jornais do PiG (*), o Globo é o mais eficaz dos Golpistas – disparado.
Os outros dois, flores provinciais, carecem da agudeza do Globo.
Uma questão de tradição, talvez.
O Roberto Marinho foi um Golpista sempre mais competente que o “seu” Frias ou qualquer dos Mesquita.
Ou porque a Globo tem mais, muito mais a perder.
Ontem, domingo, por exemplo, a certa altura, o Faustão estava em terceiro lugar no IBOPE (que também é Globope –  não fosse, onde estaria o Faustão …).
Só o Serra salva a Globo.
A Globo sabe disso.
(E a Dilma também.)
Na pág. 3 de hoje, o Globo se pergunta,  angustiado: “Que Dilma é essa ?”.
E responde: “ … petista parte para o ataque direto a Serra, que revida (só se for no debate da Globo, porque ontem não foi – PHA).
Ele não revidou nem quando a Dilma atacou a mulher dele.
Pois é, amigo navegante, a Dilma é a Dilma de sempre.
A sorte do Globo, do PiG (*) e do Serra – é tudo uma coisa só – é que o debate da Band não deve ter muito efeito eleitoral.
A audiência da Band chegou a cair para 2 pontos.
É a velha Band de sempre.
Mas, deve ter efeito sobre o comportamento dos dois – Serra e Dilma – daqui para frente.
Dilma vai para cima do Serra.
Aquele modelito que o Serra tentou construir – ela não passa de uma marionete do Lula – não cabe mais.
A outra consequência será inibir a baixaria.
A aborteira que come criancinha, a guerrilheira furiosa, o satanás de saias – tudo o que a baixaria do Serra construir – ele e aquela amiga da D. Ruth, no horário eleitoral, com aquele adorável sotaque paulissstísssimo (**)  – tudo o que ele tentar contra a Dilma terá resposta.
Ficou claro que a Dilma vai para cima: nos debates e no horário eleitoral.
O que vai sobrar para o Serra ?
Mais baixaria.
Produzida pelo PiG (*), nas trevas.
E vai sobrar também o Fernando Henrique, com quem o Serra vai se afundar, um amarrado no outro.
E re-fundar a UDN de São Paulo.
(Da qual o Aécio não fará parte.)
E mais.
A Dilma sabe do que fala.
Aquela história de marionete …
A Dilma prova que participou do Governo Lula de dentro, fez o dever de casa, botou as coisas para funcionar.
Ela tem segurança porque domina os números, os temas – Luz para Todos, Minha Casa, ProUni, PAC, PAC 2 …
E mais: a baixaria agora vai ser exposta sob os holofotes dos debates.
Todo mundo vai ver.
Dilma vai trazer a Veja, a Folha, o Estadão e a Globo para o debate.
O PiG, os marqueteiros do Serra, os colonistas bradam em coro: isso vai ser prejudicial.
O marqueteiro do Serra, outra deidade provincial, disse que a Dilma falou para a militância e, não, para o eleitorado.
Como o PT é o partido mais bem avaliado, só aí ela ganha o jogo.
O problema é o Serra, que, desde 2002, tem 30% dos votos: não tem eleitorado nem militância.
Clique aqui para ler “Dilma trucidou o Serra. Ele é o homem de mil caras”.
Veja também os principais trechos do debate e constate: “ele não defendeu a mulher dele; como vai defender a mulher dos outros ?”
Que Dilma é essa ?
A presidenta que vai fazer a Ley dos Medios.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

domingo, outubro 10, 2010

Dos alfarrábios de mãinha

Parabêns Nordestinos! E muito obrigado.





Deputado do PSDB diz que Serra tem preconceito contra os nordestinos e o Nordeste


O deputado Robert Rios (PSDB) disse, que o candidato do PSDB a presidente da República, José Serra, mostrou que é preconceituoso em relação ao Nordeste quando afirmou, no Espírito Santo, que é contra a região receber os recursos do Pré-Sal.


Robert Rios iniciou seu pronunciamento rebatendo críticas do deputado Marden Menezes (PSDB) ao Governo do Estado. Ele afirmou que o Governo tem levado obras a todos os municípios, como estradas, hospitais e escolas.


Em seguida, Robert Rios afirmou que a declaração de José Serra provou que o PSDB do candidato a presidente “não gosta do Nordeste” e não quer a melhoria da educação e da saúde da região.


Em aparte, o deputado Assis Carvalho (PT) disse que “nós temos que nos levantar contra esse preconceito do José Serra contra o Nordeste”.


Robert Rios pediu ao candidato a governador do PSDB, Sílvio Mendes, que se pronuncie afirmando que não apóia a declaração de José Serra e parabenizou os deputados Marcelo Castro (PSDB) e Júlio César (DEM) por terem se manifestado contra a posição do candidato tucano a presidente. Do site meio norte

Do site meio norte

Por que voto na Dilma?





Para falar do Brasil que está dando certo em todas as áreas da vida humana, coloca abaixo esta bela apresentação de Rinaldo Viana e Liriel - Con te Partiro, a qual me deixa muito próximo de entender os motivos da criação humana ou para melhor explicar - a essencialiade humana.

Vozes maravilhosas em plena evolução. Tive a oportunidade de estudar música e afirmo que estes dois talentos brasileiros ainda darão muito orgulho ao povo brasileiro.

Como eu amo o meu país, o povo brasileiro, com o seu talento, com sua diversidade. É maravilhoso estar vivo para contemplar tudo de bom que está acontecendo neste país.

Hoje, tenho a certeza que as minhas lutas, da doação de parte de minha vida,  não foram em vão.Eu poderia ter realizado mais do ponto de vista material e financeiro, mas escolhi o caminho da doação, da luta e da educação.

Alguns companheiros não estão vivos para testemunharem as transformações que sonhamos na juventude.Que o companheiro Chaguinha e tantos outros sonharam e lutaram comigo, que possamos agradecê-los pelas lutas, pelas noites em claro, nas batalhas, na panfletagem em altas horas da madrugada. Éramos jovens, eu já professor e ele estudante, sonhadores por um Brasil menos injusto.

Lula sempre afirmou que tudo era uma questão de oportunidade. Como já dizia Rui Barbosa, o Brasil? O Brasil não tem problemas, tem potencialidades adiadas. E o grande Cristovam Buarque vai na mesma direção quando diz: 

O Brasil tem todo problema que qualquer país tem, mas nenhum com a capacidade de reslolvê-los, como o nosso país porque tem potencial humano, massa crítica, potencial natural e tudo que é necessário para transformar este país em uma grade nação.

E tem principalmente talentos, nas mais diversas áreas do conhecimento, dos esportes e da cultura brasileira, da intelectualidade e de um povo lutador, acostumados as agruras da vida. 

Agora é hora de avançar, de acreditar, de sonhar que podemos mais porque o Brasil e seu povo encontraram o caminho.

Vejam aí Rinaldo e Liriel encantando o mundo com os seus talentos. E hoje o Brasil não é mais conhecimento apenas como o país do futebol, do carnaval e das belas mulheres.É o país do presente, que está saindo do berço esplêndido para ganhar o mundo, para se afirmar como Nação soberana, respeitando os povos, com metas claras de desenvolvimento, mas sem querer ser uma ilha de prosperidade em um oceano latino-americano de miséria. 

Hoje não somos o país do futuro, somos um país que encontrou o seu caminho Vamos acrditar porque o futuro não está ali, está aqui, em nossas mãos. Para isso é preciso confirmar 13 no dia 31 de outubro de 2010.

Voto na Dilma não apenas pela sua pessoa, pela sua história de vida, voto na Dilma porque acredito nas coisas que estão transformando este país em uma grande Nação. Voto na Dilma porque a esperança venceu o vendo e vencerá as mentiras e as calúnias.

Voto na Dilma porque o Brasil agora é respeitado, tem um projeto a ser seguido, é um país mais soberano, de povo cheio de esperança.

Voto na Dilma porque os meus sonhos de mocidade foram em parte realizados no governo Lula, agora , creio que a candidata Dilma irá aprofundar as políticas sociais para erradicar a pobreza e o analfabetismo de vez neste país.

A peleja neste segundo turno não é entre Dilma e SERRA, mas de dois projetos antagônicos, um projeto que levou o Brasil à ruína e ao desmantelamento do Estado, outro que colocou o nosso país no caminho do desenvolvimento, com proteção social e ambiental.

Vote Dilma, vote com a certeza que o Brasil encontrou o seu caminho e nao pode retroceder.

Luis Moreira
*OlhosdoSertão

Eleição, aborto e a infantilização da religião










 
Por que bispos, padres e grupo religiosos que sempre defenderam a separação radical entre a religião e política, que sempre criticaram a discussão política no âmbito da Igreja ou até mesmo a relação "fé e política", estão fazendo, até mesmo nas missas, campanha aberta contra Dilma?
Uma primeira resposta poderia ser: hipocrisia. Respostas moralistas podem satisfazer o "juiz moralista" que todos nós carregamos no mais profundo do nosso ser, mas não são boas para nos ajudar a entender o que está acontecendo.
Esta campanha contra a candidatura da Dilma, e com isso o apoio explícito ou implícito à candidatura do Serra, está sendo feita de várias formas, mas com um elemento comum: os católicos e os "crentes" não devem votar nela porque ela seria a favor do aborto e, por isso, contra a vida. Alguns agregam também a acusação de que, se ela for eleita, as TVs católicas e evangélicas seriam proibidas de veicular os programas religiosos ou obrigadas a diminuir o seu tempo de duração. É a velha acusação de que "comunistas" são contra a religião.
Essas duas acusações são expressas e justificadas através de lógicas religiosas, e não a partir da "racionalidade leiga" que deve caracterizar a discussão sobre a política hoje. Esses grupos não admitem a distinção entre a religião e a política, ou melhor, não admitem a "autonomia relativa" do campo político e de outros campos -como o econômico- que se emanciparam da esfera religiosa no mundo moderno. Por isso, eram e são contra "fé e política" ou o debate sobre a política no campo religioso, pois esses debates são feitos normalmente a partir do princípio da autonomia relativa da política. Isto é, a discussão sobre questões políticas são feitas com argumentos de racionalidade sócio-política e não submetidos ao discurso meramente religioso.
Para esses grupos (é preciso reconhecer que ocorre também em outros grupos político-religiosos), os valores religiosos (do seu grupo) devem ser aplicados diretamente a todos os campos da vida pessoal e social. E, em casos graves como aborto, ser impostos sobre toda a sociedade através das leis do Estado. Nesses casos, não seria misturar a religião com a política, mas seria a "defesa" dos mandamentos e valores religiosos; ou colocar a política a serviço dos valores religiosos (nessa discussão apresentados como "a serviço da vida"). Pois, nada estaria acima dos "mandamentos de Deus". Desta forma não se reconhece a autonomia relativa do campo político, a dificuldade de se passar do princípio ético abstrato (do tipo "defenda a vida") para as políticas sociais concretas, e muito menos se aceita a pluralidade de religiões com valores diversos e propostas de ação divergentes e conflitantes.
Esta é a razão pela qual esses grupos não entendem e nem aceitam a resposta dada por Dilma de que ela, pessoalmente, é contra o aborto, mas que ela vai tratar esse tema como um problema de saúde pública. Para ouvidos daqueles que crêem que não há ou não deve haver separação entre a saúde pública (o campo da política social) e a opção religiosa pessoal do governante, a resposta da Dilma soa como eu não sou contra o aborto, que logo é traduzido na sua mente como "eu sou a favor do aborto".
E se ela é a favor do aborto, ela é contra a vida e, portanto, ela é do "mal". Enquanto que, por oposição, o outro candidato seria do "bem".
Reduzir toda a complexidade da "defesa da vida" -a que um/a presidente deve estar comprometido/a- à manutenção da criminalização do aborto (que é o que está discutido de fato neste debate sobre ser a favor ou contra o aborto) é uma simplificação mais do que exagerada. Simplificação que deixa fora do debate, por ex., toda a discussão sobre políticas econômicas e sociais que afetam a vida e a morte de milhões de pessoas. Mas é compreensível quando os cristãos têm muita dificuldade em perceber quais são os caminhos concretos e possíveis para viver a sua fé na sociedade, perceber em que a sua fé pode fazer diferença na vida social. Diante de tanta complexidade, a tentação mais fácil é simplificar o máximo para separar "os do bem" de "os do mal".
Essa simplificação me lembra a pergunta que os meus filhos, quando muito pequenos, me faziam ao assistir um filme: "pai, ele é do bem?" Se sim, eles torciam por aquele que "é do bem" contra o "do mal". Essa necessidade de separar os do bem e os do mal faz parte da condição mais primária do ser humano. O problema é que reduzir toda a complexidade da luta em favor da vida ao tema de ser favor ou contra a manutenção da criminalização do aborto é infantilizar a discussão política e, o que é pior, é infantilizar a própria religião que professa.
[Autor, em co-autoria com Hugo Assmann, de "Deus em nós: o reinado que acontece na luta em favor dos pobres"].

* Coord. Pós-Graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo
*Turquinho

E a defesa dos direitos?

E a defesa dos direitos?


por Silvio Caccia Bava


Sem o MST, a violência no campo seria muito maior. Ele reúne, acolhe, inclui, dá dignidade e transforma o sentimento de revolta em ação coletiva, defende propostas de políticas públicas, politiza essas demandas. O mesmo pode-se dizer de movimentos sociais como os movimentos de moradia, de saúde, dos catadores, dos quilombolas, das mulheres, dos negros, e outros. Ao se constituírem como movimentos, eles vocalizam demandas de amplos setores da sociedade que se encontram, ainda, privados de seus direitos. São as pressões da sociedade sobre o sistema político que dão origem às mudanças e às novas políticas públicas.
Ainda que a grande imprensa continue a criminalizar os movimentos sociais, a sociedade brasileira mudou e reconhece a manobra. Estes movimentos, hoje, são reconhecidos, legitimados, com canais de interlocução com o governo federal. Eles têm papel fundamental na ampliação de nossa democracia. Eles se apresentam para a sociedade e trazem para o plano público e da política a questão da desigualdade e da injustiça. 
Mas os movimentos não brotam só da insatisfação popular. Para que eles surjam há todo um trabalho feito por redes de entidades, de associações de moradores, de sindicatos, de ONGs, fóruns de defesa de direitos, e mesmo pelas paróquias que ainda são progressistas. É nessas articulações heterogêneas que os indivíduos se organizam em coletivos, e daí surgem os movimentos sociais, quando surgem. 
Desde o fim dos anos 1970, em plena ditadura, um pequeno grupo de entidades se forma com apoio e solidariedade internacional. São ONGs que se constituem para apoiar a organização coletiva e a luta por direitos, nesse momento muito ligadas à igreja católica, às comunidades de base e à teologia da libertação. Sua especialidade: educação popular. Desenvolviam também trabalhos com clubes de mães, com a pastoral operária, com as associações de moradores. Nos anos 1980 as mudanças são grandes, com a construção de entidades nacionais, como as centrais sindicais, a Central de Movimentos Populares, a Confederação Nacional de Associações de Moradores, e outras. É o momento em que se destacam algumas redes e fóruns, como o Fórum Nacional da Reforma Urbana e o Fórum Nacional de Participação Popular.
Em todas estas redes está presente esse tipo particular de ONGs que se organiza para a defesa de direitos. Muito do trabalho de sistematização, de organização do debate público, de elaboração de propostas, conta com a expertise dessas ONGs, que agora são mais especializadas, justamente para corresponder à necessidade de ações mais propositivas.
Como a nossa democracia, assim como o respeito aos direitos, ainda são processos inacabados em nosso país, esse tipo particular de ONGs continua dando importantes contribuições até hoje. Muitas delas, não todas, se reúnem na Associação Brasileira de ONGs – a Abong.
E veio, agora, da Abong, o alerta de que suas associadas estão em perigo de vida. Paradoxalmente, a boa imagem do Brasil no exterior, associada à crise na Europa, levou a cooperação internacional, em grande parte, a suspender o financiamento dessas ONGs de defesa de direitos no Brasil. Pesquisas indicam uma redução do financiamento da ordem de 50%, do ano passado para este. 
A democracia brasileira precisa desses grupos de cidadãos e cidadãs que se organizam para a defesa de direitos. O seu trabalho, em sua diversidade, é de interesse público e deve ser valorizado e apoiado pelos cidadãos e pelos poderes públicos. Essas ONGs guardam a particularidade de ser produtoras de conhecimento, se envolvem com pesquisas, diagnósticos, sistematizações, análises, trabalho que é fundamental para dar sentido propositivo às pressões sociais. Especialmente porque, ao apresentarem propostas alternativas, vocalizam o dissenso, os conflitos, dão vida ao sistema político democrático. Os movimentos sociais, as redes de cidadania, os cidadãos e cidadãs, de uma maneira geral, se beneficiam com esse trabalho.
Pedir ao governo federal, com urgência, medidas de financiamento público para essas entidades é legítimo e necessário. Na Índia, assim como na Suécia e em outros países, há mais de dez anos, por lei, existe o financiamento público dos trabalhos dessas ONGs, com total respeito à sua autonomia. Não se trata de socorrer um grupo de entidades em crise de financiamento, se trata de tomar decisões políticas que assegurem o importante papel da sociedade civil brasileira na construção de nossa democracia.

Silvio Caccia Bava é editor de Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador geral do Instituto Pólis.
 
*turquinho

Construindo nossa História


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMxoQS9ex-IJnCrMaFvqslSXg_CUxaN-Z43th3itbRE4oka7TBijEjaTm9vCwZ_Ewoeq5foKwaTRLkbxVedaKMyUtiplEj9rjH_MEVMq7MFU8uAHhTKJIV53jrwQWvuX4mJEgWbsWAp0g/s1600/niemeyer1.jpg