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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Grécia inicia construção de muro para barrar a entrada de imigrantes, a meta é isolar todo o continente europeu




"Fortaleza Europa" vai começar pela Grécia

O governo grego anunciou que vai construir um muro com cerca de 13 quilómetros de extensão e três metros de altura na fronteira com a Turquia para evitar a entrada de “imigrantes ilegais”. As posições da União Europeia são ambíguas sobre este assunto.
Bruxelas mantém um silêncio quase absoluto sobre a estratégia fortificadora grega
Bruxelas mantém um silêncio quase absoluto sobre a estratégia fortificadora grega
Atenas diz que a cooperação com Estados-membros da EU “vai bem” nesta matéria e a Turquia já manifestou o seu incómodo. O modelo invocado pelas autoridades gregas é o muro entre a Califórnia e o México.
O muro de Berlim caiu há mais de 20 anos mas a metodologia não morreu e tem vindo a ser cada vez mais adoptada no mundo. Ao muro da Coreia, ao muro que Marrocos impõe ao Sara Ocidental, ao muro Estados Unidos-México, ao muro da Cisjordânia, ao muro que Israel constrói na fronteira com o Egipto, ao muro erguido entre o Paquistão e o Afeganistão virá juntar-se agora o muro grego na fronteira com a Turquia. Será o segundo a separar zonas de influência dos dois países, contando com o que sobrevive em Chipre.
A chamada “fortaleza Europa” vai começar a ter forma física na zona fronteiriça de Orestidada, segundo as autoridades gregas. De acordo com dados de Atenas e da agência europeia Frontex, cerca de 200 imigrantes “ilegais” entram diariamente na Grécia por aquele ponto de passagem, apesar da presença de tropas no terreno. “É uma realidade dura e temos uma obrigação para com os cidadãos gregos de lidar com ela”, declarou o ministro grego da tutela, Christos Papoutsis, ao apresentar o projecto.
Diz a agência Frontex que nove em cada dez estrangeiros entram na Europa através da fronteira entre a Turquia e a Grécia e que 75 por cento desse movimento se regista na zona de Orestidada ao longo de cerca de 13 quilómetros.
A maioria dos “imigrantes ilegais”, ainda segundo as mesmas fontes, são originários de países como o Afeganistão, o Paquistão, a Somália, alguns do Médio Oriente, como o Iraque, e Norte de África, na sua maioria regiões onde as guerras conduzidas pelos Estados Unidos e a NATO, com envolvimento da União Europeia, não resolveram e têm agravado os problemas sociais, humanitários e políticos.
Ao mesmo tempo existe algum paralelismo entre as situações grega e californiana para lá dos muros: ambas se caracterizam por elevadas dívidas públicas, mais grave do lado norte-americano.
Bruxelas mantém um silêncio quase absoluto sobre a estratégia fortificadora grega. Apenas Michele Cercone, porta-voz da comissária Cecilia Malstrom, comentou que “vedações e muros já provaram no passado que são medidas de curto prazo” pelo que é “importante que as fronteiras sejam geridas de modo a desencorajar e interromper o tráfico”.
A esta declaração de aceitação do muro, desde que “a curto prazo”, junta-se a declaração grega segundo a qual a cooperação com Estados-membros no âmbito da solução encontrada “vai bem”.
A oposição grega de esquerda considera desde já a medida “desumana e ineficaz”.
Oficialmente, a Turquia afirma que necessita de ter mais informação mas que sendo o problema de âmbito internacional deverá ter uma abordagem internacional. Um autarca turco da região fronteiriça afirmou que o muro não resolverá o problema porque há outros meios de passagem, designadamente o rio Evros – de barco no Inverno e a pé no Verão.
Um diplomata europeu citado pelo jornal britânico Daily Telegraph transportou entretanto o problema da fortificação europeia para outros terrenos de debate que estão sobre a mesa. “É fácil imaginar como uma estrutura permanente sinalizará o campo anti-turco ou dará a impressão de uma fortaleza cristã europeia para manter os islâmicos do lado de fora”, disse. O mesmo diplomata, citado em condição de anonimato por estar em funções oficiais, acrescentou que “construir muros não ajuda neste tempo em que o importante é construir pontes”.
*Cappacete

A dor carioca encobre os crimes paulistas

As tragédias das enchentes que assistimos todos os anos e que se tornam cada vez mais dramáticas, são, antes de mais nada, as respostas que a natureza nos dá pela devastação que praticamos há mais de um século. Estamos cansados de saber disso. Mas São Paulo e Rio são afetados pela fúria das chuvas de formas bem diferentes.
O que acontece no Rio são deslisamentos de terra – fenômenos naturais causados pela chuva e pela erosão do solo em áreas de topografia irregular. A moradia imprópria no pé destes morros é a tragédia desse povo. O maior problema do Rio de Janeiro é habitacional. E este déficit, que só começou a ser enfrentado de verdade no fim do governo Lula com o “Minha Casa, Minha Vida” (e continuará com Dilma), só vai amenizar a situação a médio e longo prazos.
Já em São Paulo, são os alagamentos – causados pela mão e omissão de seus governos. O orçamento anual do estado é de R$ 140 bilhões, mas as dezenas de piscinões prometidos há 4 campanhas eleitorais jamais foram construídos (e nem serão pelo banana atual). A Sabesp é uma Torre de Babel boiando sobre o esgoto paulista. As calhas dos rios Tietê e Pinheiros não são limpas há décadas e qualquer chuvinha faz com que transbordem, lançando esgoto e resíduos tóxicos para todo lado. Principalmente para a Zona Leste. O prefeito (reeleito!) diminui as verbas do recolhimento do lixo e varreção das ruas todo ano. As empresas contratadas, por sua vez, diminuem os serviços proporcionalmente. E tudo isso resulta na porcaria de uma cidade imunda. Repare: faça um passeio a pé. Em qualquer bairro, Sampa é uma cidade coberta de lixo. Os serviços de limpeza urbana já funcionam a meio vapor há dois mandatos de prefeito. A maior cidade da América Latina e a sexta maior do mundo, que tem um orçamento anual de R$ 34,6 bilhões – não tem dinheiro para sua própria limpeza! Somando-se a tudo isso, ainda tem o fato de amanhecer cada vez mais impermeabilizada pelo cimento e asfalto – que prevalecem sobre soluções de transporte coletivo. Ano após ano, as inundações, que antes atingiam somente os bairros mais pobres e abandonados, começam a alcançar “outras alturas”. Físicas e sociais.
E o paulista sonha que é europeu, enquanto respira o perfume das marginais!
Segundo o PiG e os governantes de SP, a culpa dos alagamentos paulistas é de Deus, de São Pedro etc. Kassab reprisa o mesmo discurso – “podia ser bem pior, blá blá blá…” -, Alckmin promete verbas que serão engolidas por um esquema viciado em superfaturamento de obras licitadas na base da fraude de carta marcada. Esquema ao qual o PiG fecha os olhos, e pelo qual os sucessivos governos do PSDB entopem gavetas de CPIs. E o paulista queimador de gasolina em recordes de congestionamentos e que perde em média 3 horas diárias ao volante, não tem tempo para refletir sobre as administrações que elege e reelege. Engole o blefe ano após ano do mesmo modo em que engole os postos de assalto fantasiados de pedágio. E nas enchentes, é sempre a mesma coisa: o PiG livrando a cara dos fracassados governos do PSDB e DEM que, a meu ver, são os criminosos que já faziam o serviço na periferia habitada por nordestinos, muito antes de Mayara Petruso convocá-los pelo Twitter.
E o paulista sonha que é esperto, ao marcar o xis da questão na cabine eleitoral de dois em dois anos!
O Jornal Nacional, abarrotado de imagens impactantes e com textos repletos de fatalismos novelescos, deita e rola no drama carioca. Mesmo não sendo o padrão idiotizante habitual de suas novelas “brancas”, catalisa a emoção do telespectador pela dor alheia e empurra-lhe a idéia de que por trás de todos os males está o Lula – ops, a Dilma.
O que o PiG mais AMA é transmitir as tragédias brasileiras. Porque filmar e editar o sofrimento das perdas de entes queridos, abre a defesa racional do cidadão que assiste. E é através dessa fresta que incute o ódio e o equívoco. Fizeram o mesmo em diversas oportunidades. Como no caso do acidente da TAM. Na época, tentaram construir argumentos culpando Lula pela morte dos passageiros daquele avião. Mas só conseguiram o ódio da classe média alta que, ao contrário de hoje, era dona exclusiva dos aeroportos e dos horários dos vôos.
Depois de uma edição inteira mostrando o drama destas famílias – intercalando com os insuportáveis comerciais das Casas Bahia – a próxima atração é a droga da novela. Aquela mesma novela que regravam há 40 anos. Mas relaxa, que agora é tudo de mentirinha, todos são bonitos e perfumados. Depois do Jornal Nacional sempre tem outro “faz de conta”…
*oqueseraqmedá

Já é um começo de golpe


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Rui Martins*

Se você faz parte dos 87% que apoiavam o governo Lula, fique alerta – no mais escondido covil de serpentes e escorpiões trama-se um golpe institucional contra o governo de Dilma, mesmo se esse governo começou com 62% de aprovação popular.

Desta vez, ao contrário do golpe de 1964 não se trama nos quartéis com o apoio declarado dos Estados Unidos. A trama é bem mais sutil – não se acena com a paranóia do perigo vermelho, mas com base em pretensos arrazoados jurídicos se quer desmoralizar e desautorizar o ex-presidente Lula e se colocar no ridículo a presidenta Dilma, que será destituída do poder de decisão.

O golpe não parece financiado só por dólares americanos, como no passado, mas igualmente por euros vindos da Itália. Aparentemente trata-se da extradição ou não extradição de um antigo militante italiano, Cesare Battisti, condenado num processo italiano fajuto à prisão perpétua, mas a verdade submersa do iceberg é bem outra.
Quem leu as revelações do Wikileaks quanto as opiniões dos EUA sobre Lula, considerado suspeito, e Celso Amorim, considerado antiamericano, e que acompanhou a campanha contra a eleição de Dilma, sabe muito bem haver interesses de grupos internacionais em provocar uma crise institucional no Brasil.

Será também a maneira de grupos econômicos estrangeiros impedirem a atual emergência do país como potência mundial. A Itália neofascista de Berlusconi com seu desejo de recuperar um antigo militante esquerdista é apenas uma providencial pretexto para os grupos políticos e econômicos internacionais incomodados com o Brasil líder do G-20 e vitorioso contra os EUA na OMC.

O que se quer agora, com o caso Battisti, é subverter as instituições brasileiras, mergulhar-se o país numa confusão entre o poder do Executivo e o poder do Judiciário, anular-se uma decisão do ex-presidente Lula para se abrir o caminho a que governança do Brasil seja sujeita à aprovação do STF. Para isso conta-se, como em 1964, com os vendilhões da nossa soberania e com os golpistas da grande imprensa.

Simples e prático, para se evitar que a presidente Dilma governe, vai se tentar lhe por um cabresto e toda decisão sua que desagrade grupos internacionais deverá ser anulada pelo STF. Por exemplo, a questão da exploração petrolífera do pré-sal poderá ser uma das próximas ações confiadas ao STF.

Se Dilma quiser renacionalizar as comunicações, já que a telefonia é questão estratégica, o STF poderá dizer Não e também optar pela privatização da Petrobras. Delírio ? Não, os neoliberais inimigos de Lula e da política nacionalista, derrotados nas eleições, poderão subrepticiamente retirar, pouco a pouco, os poderes da presidenta e do Legislativo, para que fique apenas com o STF o governo ou o desgoverno do Brasil.

O próprio advogado de Cesare Battisti, acostumado com leis e recursos, nunca viu uma decisão presidencial ser posta em dúvida por um ministro do STF, e por isso falou em « golpe » tal como havíamos alertado.

Por sua vez, o atual governador do Rio Grande do Sul, que aceitou o pedido de refúgio de Battisti quando ministro da Justiça, não aguentou a decisão do ministro Cezar Peluso do STF de colocar em, questão a validade da decisão do presidente Lula e declarou como « ilegal » e « ditatorial » o ato do ministro Peluso, do qual decorre um « prejuízo institucional grave » para o país e um « abalo à soberania nacional ».

Faz dois anos, Tarso Genro concedeu refúgio a Battisti, que deveria estar em liberdade desde essa época. Mas o ato liberatório foi sustado pelo ministro Gilmar Mendes, que submeteu a questão ao STF, o que já consistia um ato arbitrario. Embora os ministros tenham decidido por 5 a 4 pela extradição, competia ao presidente a decisão final, o que foi reconhecido, depois de uma tentativa de reabertura do julgamento.

O presidente Lula justificando seu ato, dentro do permitido pelo Tratado mútuo de Extradição entre Brasil e Itália, com base num documento da Advocacía Geral da União, negou a extradição e a própria Itália entendeu o ato como definitivo. Ora, a decisão do ministro Cezar Peluso de pôr em dúvida a decisão do presidente Lula e reabrir a questão vai além de sua competência e fere uma decisão soberana.
É tentativa ou já é golpe, no entender do advogado Luiz Roberto Barroso, é ilegal e ditatorial segundo o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, opiniões que vão no mesmo sentido de Dalmo Dallari e de outros juristas.

O que iremos viver, quando o ministro Gilmar Mendes se dignar a colocar na agenda do STF o « julgamento da decisão do presidente Lula », se a maioria, por um voto que seja, decidir anular a decisão de Lula ? Será que a presidenta Dilma aceitará essa intromissão do STF no poder do Executivo ? Em todo caso, será o caos.

É hora de reagir, antes que seja tarde demais. 
*assazatroz

Do lado do crime?

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, não apreciou nenhum pedido de habeas corpus no atual recesso do judiciário. Entre 20 de dezembro e a última sexta-feira, foram encaminhados 28 pedidos ao STF, entre eles o do médico Roger Abdelmassih, contra quem foi expedida ordem de prisão por tentar renovar o passaporte. Como Peluso dá sinais de que não quer chamar confusão para si, os advogados estão na expectativa de que o vice-presidente, ministro Ayres Britto, assuma agora na segunda quinzena do recesso. O revezamento de praxe, no entanto, não está confirmado.

Lembra?

Foi em um recesso que Gilmar Mendes mandou soltar Abdelmassih. O ex-presidente Marco Aurélio Mello também concedeu habeas corpus ao ex-banqueiro Salvatore Cacciola durante o período de férias forenses. 
*osamigosdopresidentelula

domingo, janeiro 16, 2011

TOM JOBIM, CHICO BUARQUE, DANILO E DORY CAYMMI HOMENAGEIAM NOEL ROSA EM HISTÓRICO VÍDEO


*educaçãopolítica

Longe dos olhos




Blog do Mello
Classe mérdia tem uma solução para tudo: 'Basta tirá-los dali'

Mendigos nas ruas? - Basta tirá-los dali. Menores consumindo crack? - Basta tirá-los dali. Prostitutas na calçada? - Basta tirá-las dali. Excesso de carros nas ruas? - Basta tirá-los dali. Sem terra invadindo terras improdutivas? - Basta tirá-los dali. Sem teto invadindo prédios desocupados? - Basta tirá-los dali. Moradores em áreas de risco? - Basta tirá-los dali. Favelas? - Basta tirá-los dali.

E colocar onde?

Isso não querem saber: acham que políticos foram eleitos para isso. Querem que eles façam o serviço sujo.

Os últimos acontecimentos no Rio e em SP mostram que à direita e à esquerda muitos querem a solução simplista da classe mérdia: - Basta tirá-los dali. Mesmo que para isso seja necessário chamar a polícia.

Ou seja: mendigos, sem-teto, sem terra, prostitutas, drogados, todos são caso de polícia.

Não são não. Polícia é para quem precisa de polícia. Eles precisam é de política com P maiúsculo: política social, inclusão. Cidadania. Não temos que tirá-los dali. Temos que incluí-los aqui.

Somos humanos; isso, em suma, é o que somos.

Boff: O preço de não escutar a natureza




O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na segunda semana de janeiro, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre  imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam  frequentemente deslizamentos fatais.
Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que destribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.
A causa principal deriva do modo como costumamos tratar  a natureza. Ela é generosa para conosco pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue ao nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrário, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.
Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que ai viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.
Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos  meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras. O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela Terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam.
Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d’água.  Chico Mendes com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem  se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.
No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas.  Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais freqüentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e  morar.
Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser  de cada encosta, de cada vale e de cada rio.
Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário  teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.
Leonardo Boff é filósofo/teólogo
*viomundo

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Brutal repressão a estudantes em São Paulo, polícia atira balas de borracha a queima roupa



A PASSAGEM DE ÔNIBUS MAIS CARA DO BRASIL


Há alguns anos, em um protesto de professores em Buenos Aires, um policial atirou balas de borracha contra um grupo de manifestantes a queima roupa, um deles foi atingido na cabeça e veio a falecer. O impacto de uma bala de borracha, atirada a pouca distância, pode matar. A PM paulista sabe disso. Ao que parece, o comando da PM de São Paulo deu carta branca para os policiais reprimirem de forma brutal o povo desse estado. Isso ainda vai acabar mal. Como já dito, enquanto o restante do Brasil avança, São Paulo retrocede. Vejam bem as imagens abaixo, são de uma selvageria chocante.
Por: Latuff
 

Justiça de SP quebra sigilos dos tucanos acusados de receber propina da Alstom


A juíza Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi, da 13ª Vara da Fazenda Pública do Estado de São Paulo, determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de 11 pessoas e uma empresa, investigadas sob suspeita de recebimento de propina da multina-cional francesa Alstom em troca de contratos com o Metrô paulista, Eletropaulo e EPTE (Empresa Paulista de Transmissão de Energia Elétrica).

Os investigados, que não conseguiram provar a origem do seu patrimônio, tiveram a quebra de sigilo decretada a partir de 1997. A medida atinge o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Robson Marinho, chefe da Casa Civil no governo Mario Covas de 1995 e 1997, quando foi indicado pelo então governador para o TCE, e o ex-secretário de Transportes Metropolitanos, Jorge Fagali Neto.

Também foi quebrado o sigilo de Sabino Indelicato e de José Adailton Vieira Pinto. Indelicato, secretário de Obras quando Robson Marinho foi prefeito de São José dos Campos, é dono da Acqualux – que segundo a promotoria recebeu recursos da Alstom por consultorias que não foram prestadas. O contrato seria uma forma de dar uma aparência legal à propina. Vieira Pinto, já morto, teria sido laranja de Marinho.

A Alstom é investigada por suspeita de ter pago propina para ganhar contratos com o governo paulista, assinados durante os governos de Mário Covas e de Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. Uma investigação sobre lavagem de dinheiro num banco suíço apontou que a empresa teria pago comissões ilícitas para ganhar negócios públicos em países como Brasil, Argentina e Indonésia.

A Suíça bloqueou contas atribuídas a Marinho e a Fagali Neto, por suspeita de que elas tenham recebido as comissões ilícitas da Alstom. Os promotores suíços Maria Schnebli e Stefan Lenz estão de posse de documentos que mostram a movimentação financeira de Marinho.

As remessas ocorriam por um esquema de lavagem que envolvia empresas de fachada “offshore”. Uma delas, Higgins Finance, era controlada pelo próprio conselheiro do TCE. Para chegar aos políticos brasileiros, o dinheiro era remetido da França para Suíça e Luxemburgo. Depois era enviado ao Uruguai, numa conta controlada por Romeu Pinto Jr. Do Uruguai, voltava à Suíça para contas de Indelicato e Vieira Pinto no Union Bancaire Privé, de Zurique, e no Crédit Lyonnais, de Genebra.
* Hora do Povo