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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
sexta-feira, maio 13, 2011
O que falta para a abolição? Não termos escravocratas
Como gaúcho-carioca, não quis dar muito palpite nessa polêmica em torno da estação do Metrô no bairro rico de Higienópolis, onde, aliás, reside o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.Mas hoje, lendo a matéria sobre a declaração do também ex-presidente Lula,classificando de “absurda” e “inadmissível” a reação que fez o governo do Estado desistir de abrir uma estação na avenida Angélica, não posso deixar de entrar no assunto e reproduzir suas palavras.
“Eu acho um absurdo, porque isso demonstra um preconceito enorme contra o povo que anda de transporte coletivo neste país”, disse Lula, lamentando que haja gente criticando a possibilidade circulação de pobres no bairro de alto padrão.
“Sinceramente, não posso conceber que uma pessoa que estudou e tem posses seja tão preconceituosa e queira evitar que as pessoas mais humildes possam transitar no bairro onde mora”, disse.
Aqui no Rio, o Metrô está também em Ipanema, em Copacabana e vamos muito bem, obrigado. Se algum erro há é que não esteja igualmente em outros bairros, mais carentes de transportes.
E será assim em Higienópolis, ou bem pertinho, e depois esta polêmica será apenas uma triste lembrança.
Que servirá, como serve, para lembrar que a abolição da escravatura, que hoje completa 123 anos, não significou o fim do pensamento escravocrata. Que sobrevive a alma mesquinha de quem acha que pobre serve como porteiro, zelador, babá, empregada doméstica, mas não é um ser humano que não mereça passar quatro ou cinco horas nos ônibus e engarrafamentos, porque não tem direito à família, ao lazer, ao descanso e, até, a estudar para progredir.
Mas vou ser coerente e parar por aqui. Vou deixar que alguém que vive lá em Higienópolis, a jornalista Leila Suwwan, que assina o blog Ronda Paulistana, em O Globo fale, muito melhor do que eu seria capaz de fazer, sobre esta inacreditável rejeição ao Metrô de Higienópolis.
Higienópolis, higienismo
“Gosto de eufemismos para dar acidez às piadas. Mas os eufemismos me dão azia quando são usados para mascarar o preconceito. Pode ter sido uma escolha ruim de almoço, mas meu estômago ainda está revirado com a notícia de hoje: os moradores de Higienópolis protestaram contra a construção de uma estação de metrô na Avenida Angélica. Rejeitam a presença de “pessoas diferenciadas” e temem “ocorrências indesejáveis”. Déjà vu. Sou de Brasília e me lembrei de quando moradores da “Asa Sul” protestaram contra a passagem do metrô por ali: “isso vai facilitar o acesso da população das cidades satélites nos finais de semana”. Não se enganem: em ambos os casos, faltou uma coragem, digamos assim, bolsonaresca, de dizer: pobres são criminosos. Pobres não têm direito de ir e vir. Pobres estragam a paisagem.Não tenho dúvida de que são as mesmas pessoas que dizem que os aeroportos viraram um inferno porque a classe C (os antigos “pobres”) pode comprar passagens. Não teria nada a ver com anos de descaso e falta de investimentos no setor aéreo. Ou que são as mesmas pessoas que não enxergam a fina ironia do destino quando se sentem discriminados em suas viagens aos Estados Unidos e à Europa, reduzidos a “brazucas”. Afinal, antes de serem cidadãos brasileiros, são cidadãos de uma classe que se pensa melhor, ou com mais direitos. Esse status deriva do privilégio e depende quase que exclusivamente do esforço segregacionista.
Eu moro em São Paulo há quase um ano e meio, no bairro de Santa Cecília, também conhecido como o “baixo” Higienópolis. Essa pseudo-nobreza imobiliária me rende piadas, a mais nova é a que pago um aluguel “diferenciado”. A região é “baixa” porque não tem nome nordestino _ no “alto” de Higienópolis, as pessoas medem seu status pelo nome da rua, em uma equação inversamente proporcional ao desenvolvimento humano de alguns estados, como o Maranhão e o Piauí. Mas, principalmente, minha Higienópolis é baixa porque está no declive que desemboca no “minhocão”, local visto lá do “alto” como um dos círculos do inferno de Dante.
Pois bem, Higienópolis conseguiu se ironizar ao extremo com esta trágica paródia do higienismo urbano. Triste ver que o eufemismo é contagioso. Na “Folha de S. Paulo”, de uma moradora da zona leste que trabalha em Higienópolis: “Seria ótimo porque trabalho aqui, mas acho a opinião deles válida. Vai bagunçar mais”. É como se essa trabalhadora não quisesse ver o “privilégio” do acesso, liberado por “eles”, concedido aos demais. Fosse o Brasil um país mais instruído, menos injusto, veríamos o protesto oposto.
Na verdade, há no Facebook um movimento: “o churrascão da gente diferenciada”, marcado no bairro para este sábado. Seria uma resposta à moradora que, ano passado, já havia declarado à Folha: “Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada…” A ver se vai realmente acontecer.”
*tijolaço
alívio do secretário ? ! ?
Ban e Bush brindando mortes e torturas
O secretario geral da ONU Ban Ki-moom disse que estava “aliviado” com a morte de Ossama Bin Laden.
É triste, muito triste alguém sentir alivio com a morte de um ser humano.
Criminoso, ou não.
Ainda mais quando se sabe que o suposto Bin Laden foi executado a sangue frio.
Estranho que Ban ki-moom jamais tenha manifestado qualquer tipo de solidariedade às centenas de milhares vitimas do Iraque, Afeganistão e do genocídio de palestinos.
E dos torturados de Guantánamo, Abu-Ghraib e Bagran.
Ao que tudo indica ele não entendeu o seu papel.
Ou entendeu muito bem.
O que faz dele um cúmplice do Império.
Lamentável, muito lamentável...
*GilsonSampaio
quinta-feira, maio 12, 2011
O incêndio que matou 146 trabalhadoras
© Foto do acervo da International Ladies Garmet workers Union. As meninas que pularam para a morte fugindo de um incêndio na tecelagem. Nova York, 1911.
No dia 25 de março de 1911, no oitavo andar do prédio onde funcionava a tecelagem Triangle Shirtwaist Company, um incêndio matou em apenas 30 minutos, 146 trabalhadoras, na maioria jovens. Esse incêndio era considerado o pior desastre em Nova York até a destruição do World Trade Center. Testemunhas disseram na época, que os patrões sempre mantinham as portas bloqueadas para que as jovens imigrantes não abandonassem seus postos de trabalho e para que não roubassem nada. O desastre estimulou uma cruzada nacional pela segurança do trabalho. Essa terrível foto mostra os corpos das meninas espalhados após a tragédia.
*imagens&visions
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