Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, setembro 07, 2011

"Privatas do Caribe”, o livro de Amaury, afinal


Do blog Escrevinhador, do jornalista Rodrigo Viana:
Serra bate o martelo da privatização da Vale: crime de lesa-pátria
“Siga o dinheiro, ele sempre conta a história”, diz Amaury, resumindo o foco de uma apuração que durou 10 anos. O repórter premiado começou a investigar os caminhos (e descaminhos) do dinheiro das privatizações da Era FHC quando ainda era repórter de “O Globo”. Pergunto se conseguiu publicar alguma coisa no jornal carioca: “ocê é doido, rapaz, eles não mexem com isso não”.
O Amaury tem um jeito de matuto. Numa profissão em que jovens jornalistas gostam de se vestir como se fossem executivos do mercado financeiro, ele  prefere a simplicidade. E com esse jeito de mineiro que não está entendendo bem o que se passa em volta, consegue tudo: papéis, documentos, informações. Sobre a mesa de trabalho, o caos criativo. Parte daquela papelada vai parar no livro, na forma de anexos: são documentos que ajudam a contar a história.  ”Tá bom o livro, não tá? Hem, hem?”. Quase todas as frases do Amaury terminam com esse “hem, hem!”.
Um outro colega passa em frente à mesa do Amaury, e finge que vai levar parte dos documentos: “Ocê é doido, faz isso não”. Depois, emenda uma frase meio enrolada. Parece que ele usa aquela tática do velho Miguel Arraes: metade do que o Amaury diz a gente não entende. Mas o que ele escreve é fácil de entender.
O capítulo 4 conta a história da Citco, empresa com sede nas Ilhas Virgens Britânicas. “E o que é a Citco?” eu pergunto. “A Citco é uma espécie de barco dos corsários, é por ali que o dinheiro circula”. Segundo Amaury Ribeiro Junior, a Citco é especializada em abrir empresas “offshore”. O termo vem da época dos corsários de verdade: “eles saqueavam os mares, e depois escondiam o fruto dos saques ’offshore’, ou seja, fora da costa, longe dos olhos das pessoas”, explica o repórter.
Em setembro de 2010, publiquei aqui no Escrevinhador um aperitivo sobre o tema: “Citco, esse é o mapa da mina” . Agora, recebo mais mais detalhes, que estarão no livro. Quem já usou esse esquema, Amaury? “Os doleiros do Banestado usavam, a turma da Georgina usava nas fraudes da Previdência, e a turma que faturou com as privatizações também usou”. É o que Amaury vai explicar (e provar, ele garante) no livro “OS PRIVATAS DO CARIBE”. Hoje, ele me mostrou alguns capítulos. Já estão todos prontos. Os títulos dão uma pista do que vem por aí:
- “OS TUCANOS E SUAS EMPRESAS-CAMALEÃO”
- “OS SÓCIOS OCULTOS DE SERRA”
- “MISTER BIG, O PAI DO ESQUEMA”
- “A FEITIÇARIA FINANCEIRA DE VERÔNICA”
- “DOUTOR ESCUTA, O ARAPONGA DE SERRA”.
Quais são as empresas camaleão? Quem administrava as empresas? Quais foram as feitiçarias de Verônica? E quem é o “doutor escuta”? Tudo isso o Amaury promete  contar em detalhes.
Aqui, no “VioMundo” do Azenha, você lê um dos capítulos.
Vocês se lembram que, durante a campanha eleitoral de 2010, Amaury foi acusado de quebrar o sigilo da família de Serra, num esquema que serviria ao PT. Amaury nega tudo. Ele tem certeza que as acusações – publicadas com destaque na imprensa serrista – eram uma retaliação: “os tucanos sabiam que eu tinha investigado isso tudo, e que a investigação ia virar livro, tentaram me queimar”. Na reta final da eleição, um emissário de Serra chegou a procurar Amaury. Ligou até na redação da Record atrás dele. Amaury acha que os tucanos queriam propor algum tipo de acordo…
Ao fim da campanha, com Serra derrotado, muita gente chegou a duvidar da existência do livro sobre as privatizações. ”O Amaury blefou”, diziam alguns leitores. A turma do PSDB mesmo deve ter achado que ele não teria coragem de publicar os resultados da investigação de uma década. Agora, podem ter uma surpresa.
Mas não pensem que o livro ficará barato para o PT. Amaury mostra como ele virou pivô de uma luta interna nos bastidores da campanha de Dilma. Um capítulo inteiro é dedicado a essa história: “COMO O PT SABOTOU O PT”.
Amaury só não explica uma coisa: como é que consegue escrever livro sobre dinheiro no Caribe, produzir reportagens especiais pra TV em São Paulo e ainda administrar “a melhor pizzaria do Brasil”. A pizzaria fica em Campo Grande (MS).
“Mas Amaury, repórter dono de pizzaria é piada pronta”, provoco. “Ocê precisa experimentar minha pizza, é a melhor do Brasil”, ele diz, maroto. E emenda mais uma frase incompreensível sobre mussarela e calabresa.
A pizza eu não quero. Prefiro o livro.
*Tijolaço

Liberdade é pensar por si mesmo


Toda hora a gente ouve os economistas e os comentaristas falarem dos “fundamentos da economia”. E da velha regra de que quando a demanda cai, a produção cai e os preços, idem.
Lógico, isso reduziria a inflação, não é?
A obviedade, porém, não resiste à prova dos fatos.
Quem tem mais de 40 anos e viu, já adulto, a espiral inflacionária, sabe que o poder de compra do povo brasileiro caía, caía e os preços, ao contrário, subiam, subiam.
Mesmo depois do Plano Real, o combate à inflação sempre foi o argumento usado para proteger a mais vergonhosa espoliação do nosso país.
Em nome dele, endividou-se o nosso país a níveis inacreditáveis. Desde lá, até 2001, nosso endividamento passou de 15 para 55% de toda a riqueza produzida no país. E pagamos, neste período, mais de 200% de juros reais, líquidos, descontada a inflação.
Isso não é aplicação financeira, é prática de agiotagem.
Há mais de 40 anos praticamos uma política que, quando consegue – e foram raras as vezes em que conseguiu – dar algum impulso à economia, o fez à custa da renda do trabalho e do desenvolvimento soberano do país.
Faz pouco tempo que isso mudou. E olha que nem mudou tanto.
Na segunda metade de seu primeiro mandato, iniciado com um país combalido, o Governo Lula passou a ensaiar um caminho diferente, que se consolidou e afirmou como rumo permanente no seu segundo mandato, notadamente a partir da crise de 2008.
Conservamos o regime de metas de inflação – um mandamento divino, na visão de nossos conservadores – mas colocamos ao lado deles metas – embora menos formais – de crescimento do emprego, do salário-mínimo e da economia como um todo.
O dia da independência deve nos trazer à mente uma reflexão serena, mas corajosa.
Algo só perde valor quando este valor se transfere para outro lugar, porque valores materiais não se evaporam.
A grande perda da economia brasileira não é a inflacionária, embora a inflação não deva ser tolerada tanto por seu poder corrosivo sobre a renda do trabalho quanto pela perda de referências que isso traz.
A grande perda do Brasil é exaurir suas riquezas, as da natureza e do trabalho humano, alienando-as da sociedade e retirando-as da circulação interna em que teriam um efeito multiplicador.
Agora, que o destino nos aquinhoou com uma imensa massa de petróleo, que representa uma possibilidade de recuperarmos uma parte, apenas uma parte, de tudo o que já se levou deste país, agridem e sabotam nossa maior e mais lucrativa empresa.
A política de defesa do poder de compra e das riquezas nacionais é atacada como quando, ao atirar em seu próprio peito, Vargas acusou:
“Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente”.
Os tempos, nestes quase 60 anos mudaram. A equação, não.
Os países podem emergir sem rupturas. A China recompôs os laços com o mundo que a revolução havia rompido. A Índia jamais rompeu abruptamente suas relações, embora sejam dolorosas as marcas de seu passado colonial.
Mas jamais poderão emergir pensando pela mente alheia.
Como um ser humano, um país precisa amar e respeitar a sim mesmo, encontrar sua identidade, aprender a conviver com os demais em harmonia fraterna, mas jamais injusta.
Um pequeno gesto, mínimo mesmo, em defesa de nós mesmos, como foi a redução de meio – apenas meio por cento! – por cento nos juros que pagamos, os mais altos do planeta, despertou uma fúria insana contra uma política econômica que, no essencial, tem seguido as regras da “cartilha”, produzindo superávits e apenas cortando com prudência os exageros da especulação.
Temos uma elite feroz, que infelizmente conseguiu espalhar sua ideologia aos setores da inteligência brasileira que, em troca de ser cosmopolita de segunda ou terceira categoria, deixou de nos ver como um só país, uma só nação, um só povo.
O dia da pátria nos traga, em lugar de um nacionalismo formal e vazio, a ideia de que essa mãe deve ser gentil a todos os brasileiros.
E que acreditemos que esse país, enorme e rico como é, tem não arenas o direito, mas o dever de trilhar um caminho próprio. Um caminho onde seu povo não seja mais excluído.
O seu caminho inevitável, como a nossa história está desenhando.
*Tijolaço

7 de setembro Presidenta dá o recado

terça-feira, setembro 06, 2011

Soninha na SUTACO: “aparelhamento”?

Soninha faz pose para a revista
"Mymag"; e a SUTACO?
Acho certa graça quando tucanos falam em “aparelhamento” do Estado.
Primeiro, porque o povão não entende direito. O eleitor tende a achar que aparelhamento é bom. O administrador está “aparelhando”, ou seja, colocando aparelho novo pra funcionar. Aparelho de música? Computador na escola? Ou, como diz um amigo jornalista, aparelho novo pro locutor da SUDERJ anunciar gol no Maracanã?
Segundo, porque o tal “aparelhamento” (uso da máquina para alojar aliados e companheiros de partido) é prática comum nos governos demotucanos. As estatais paulistas serviram de cabide pra gente que nem em São Paulo vivia. Leia mais aqui. Não houve escândalo por causa disso. Ninguém pediu “faxina” nas estatais paulistas.
Agora, leio matéria no site da “Folha”, por indicação do leitor Marcelo de Mattos. O assunto: Soninha (PPS) posou (de novo?) para uma revista, fazendo tipo de moça marota. E deixou no ar a história de que ela e Serra teriam tido um relacionamento íntimo. Isso pouco me interessa. O importante mesmo é a informação que vem no pé da matéria da ”Folha”:
“Atualmente, a ex-vereadora [Soninha] é superintendente da Sutaco (Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades), uma autarquia de artesanato no governo de São Paulo. Soninha, que foi coordenadora da campanha virtual do tucano José Serra nas eleições presidenciais, recebeu o convite de Davi Zaia (PPS), secretário do Emprego e Relações de Trabalho. Presente na cerimônia de posse, Zaia assumiu a secretaria para preencher a cota do PPS na gestão Geraldo Alckmin (PSDB).”
A Soninha é especialista em artesanato? Uma carreira brilhante no serrismo: da MTV para a SUTACO!
Se fosse num governo do PT, seria “aparelhamento” do Estado. Mas como é governo tucano, fica tudo por isso mesmo.
A SUTACO está aí pra isso mesmo!!!
Viva a SUTACO!!!
Rodrigo Vianna
No Escrevinhador
*comtextolivre

Mensagem à ombudsman da ‘Folha’ sobre desvios de conduta do jornal


Prezada senhora,
em nome de Cesare Battisti, venho denunciar três graves desvios de conduta jornalística em que incorreu a “Folha de S. Paulo” na entrevista “Revolução? Isso é uma piada”, publicada no último domingo, 04/08.
1) a utilização, por parte do jornalista João Carlos Magalhães, de uma relação familiar (no caso o tio, Magno de Carvalho Costa) para obter a entrevista, a despeito da desconfiança que a “Folha de S. Paulo” inspirava em Battisti e em todos nós do Comitê de Solidariedade — não só por seu viés na cobertura do caso, que sempre avaliamos como adverso, como por ter se posicionado favoravelmente à extradição para a Itália em editorial publicado no dia do julgamento no STF.
Eis o depoimento de carvalho Costa:
“Quero dizer que me sinto responsável por trazer a minha casa, onde está hospedado o companheiro Cesare, o jornalista João Carlos Magalhães da ‘Folha de S. Paulo’, que acabou fazendo a matéria, que certamente foi o que de pior já publicou sobre Cesare Battisti no Brasil.
Este jornalista no qual confiei e fiz confiar ao Cesare, é meu sobrinho e é filho de pais de esquerda…
Foi com a maior surpresa e decepção que leio a matéria infame publicada pela ‘Folha de São Paulo’, (…) em que o Sr. João Carlos Magalhães rompendo com todos os acordos feito comigo e com o próprio Cesare de imparcialidade, publica esta matéria com o claro objetivo de provocar a Direita e por outro lado, indispor Cesare com todos os que o apóiam, negando suas convicções”.
2) O logro, o uso de subterfúgios e o descumprimento de promessas poderiam ser considerados apenas lapsos morais, se o jornalista não tivesse se valido da confiança que Battisti nele depositou (porque afiançado pelo tio), para induzi-lo a uma exposição negativa. Eis o relato de Battisti:
“…[foi colocada na] primeira pagina uma foto aonde eu apareço feliz da vida com gargalhadas e cervejas, cujo titulo e legenda ‘La dolce vita clandestina’ serve para dizer à Itália que eu estou me lixando dos dramáticos anos 70…
…Agora vem a safadeza: ele mesmo [o jornalista João Carvalho Magalhães] me levou ao bar só na intenção de tomar essa foto”.
A conjugação de uma foto de Battisti gargalhando com uma legenda sarcástica predispõe, indiscutivelmente, os leitores contra ele. É inaceitável que o jornalista o tenha induzido a colocar-se nessa situação, aproveitando a forma dúbia como se introduziu junto a Battisti para o desmoralizar. Trata-se, nem mais, nem menos, de uma armadilha. A ingenuidade de um não justifica a má fé e falta de escrúpulos do outro.
3) Pior ainda foi haver rompido unilateralmente e sem comunicação prévia o acordo de não revelar a região em que Battisti estava morando. Trata-se de um cidadão contra quem, há vários anos, é movida uma intensa campanha de ódio na Itália e no Brasil. A própria imprensa italiana já noticiou que o serviço secreto daquele país tentou contratar mercenários para sequestrá-lo ou eliminá-lo em solo estrangeiro, com as tratativas só não avançando por desacordo quanto a preço. Enfim, Battisti tem justificados motivos para adotar algumas precauções.
Uma condição imposta aos entrevistadores tem sido sempre esta: a de não facilitar sua localização. A revista “IstoÉ” a respeitou, mesmo se tratando de uma matéria de capa. Idem a revista “Piauí”.
A “Folha”, não. Logo no 3º parágrafo, bem como no crédito do jornalista, colocou uma informação que poderia inspirar um atentado contra Battisti — sem nenhum motivo jornalístico para tanto, uma vez que nada de relevante acrescenta ao texto, sua situação no Brasil está totalmente legalizada e ele pode residir onde quiser. Por que não aludir, simplesmente, a “uma pequena cidade no litoral paulista”, como os outros fizeram?
Confio em que a Senhora compreenderá a gravidade do que estou expondo e vá tomar as providências devidas.
Atenciosamente,
CELSO LUNGARETTI
jornalista profissional