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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, setembro 19, 2011

A direita dizia que Dilma não poderia entrar nos EUA

Presidenta Dilma, recebe cumprimentos ao chegar nos EUA

A direita tapada espalhou a mentira durante as eleições 2010
A presidenta Dilma Rousseff aproveitará a viagem a Nova York – que começa hoje (18) e vai até quinta-feira (22) - para colocar em discussão temas que considera fundamentais para a pauta internacional. Dilma desembarcou no Aeroporto John F. Kennedy na manhã deste domingo.
Nas conversas que terá com os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama; da França, Nicolas Sarkozy; do México, Felipe Calderón; e da Nigéria, Goodluck Jonathan; assim como com o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron.
Dilma deve defender medidas comuns de combate à desigualdade social, com políticas de inclusão, apontando os programas de transferência de renda do Brasil como alternativa.
A presidenta também mencionará a Conferência Rio+20, que será realizada de 28 de maio a 6 de junho de 2012, no Rio de Janeiro. Dilma destacará o fato que será a maior conferência mundial sobre preservação ambiental, desenvolvimento sustentável e economia verde, definindo um novo padrão para o setor. A previsão é reunir mais de 100 líderes mundiais.
Até as vésperas de viajar, a presidente estudava a possibilidade de detalhar a decisão no Brasil de criar a Comissão da Verdade – que se destina a investigar os crimes ocorridos no país no período da ditadura (1964-1985). Não está definido se Dilma mencionará a questão sobre o acesso a documentos sigilosos, prevista no Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH), e que divide opiniões no Executivo e Legislativo.
Dilma quer aproveitar as conversas, em Nova York, para defender a reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Para o governo brasileiro, o órgão não reflete o mundo atual, pois mantém a estrutura dos anos após a 2ª Guerra Mundial – com 15 membros, cinco permanentes e dez rotativos.
Os membros permanentes do conselho são a China, França, Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos. Os assentos rotativos estão ocupados pela Bósnia-Herzegovina, Alemanha, por Portugal, pelo Brasil, pela Índia, África do Sul, Colômbia, pelo Líbano, pelo Gabão e pela Nigéria. O mandato de alguns desses países, como o Brasil, acaba em dezembro.
Dilma e o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, participarão ainda das reuniões bilaterais com chanceleres do Brics – bloco formado pelo Brasil, pela Rússia, Índia, China e África do Sul – e do G4, integrado pelo Brasil, pela Alemanha, Índia e Japão, países que defendem a ampliação dos assentos no Conselho de Segurança e querem ter um lugar permanente no órgão.
A presidenta está em Nova York acompanhada por cinco ministros, o das Relações Exteriores; o da Saúde, Alexandre Padilha; o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel; o do Esporte, Orlando Silva, e a da Comunicação Social da Presidência da República, Helena Chagas.

Com Agência Brasil



Mais um Honoris Causa para Lula. Agora é da Sorbonne


Dia 27 de setembro, Lula recebe o título de doutor honoris causa na Sorbonne. Desembarca no mesmo solo sagrado do saber que pisou Jean-Paul Sartre e Claude Lévi- Strauss. A informação é de Ancelmo Góis de O Globo.

Do Blog da Jussara
 

Lula recebe hoje título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia.


O ex-presidente Lula viaja nesta segunda-feira (19) para o Rio de Janeiro onde fará uma palestra 13:30 para o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), no estaleiro Mauá, em Niterói.

Do Rio de Janeiro Lula segue para Salvador, onde na terça-feira, 11:00, recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia.
*osamigosdopresidenteLula
 

domingo, setembro 18, 2011

Liberdade à moda americana

Livre para morrer 

Paul Krugman
Na Folha
A falta de compaixão tornou-se uma questão de princípio, pelo menos na base republicana
EM 1980, justamente quando os Estados Unidos estavam descrevendo uma virada política para a direita, Milton Friedman defendeu a mudança com a famosa série de TV "Free to Choose" (Livre para escolher). Em um episódio após outro, o simpático economista identificou a economia do laissez-faire com a escolha e o empoderamento pessoais -uma visão otimista que seria ecoada e ampliada por Ronald Reagan.

Mas, hoje, "livre para escolher" virou "livre para morrer".

No debate dos pré-candidatos republicanos na última segunda-feira, Wolf Blitzer, da CNN, perguntou ao deputado Ron Paul o que deveríamos fazer se um homem de 30 anos que optou por não ter convênio médico precisasse de seis meses de atendimento em UTI.

Paul respondeu: "A liberdade implica nisso -assumir seus próprios riscos". Blitzer o pressionou outra vez, perguntando se "a sociedade deveria simplesmente deixá-lo morrer". A plateia explodiu com aplausos e gritos de "sim, sim!".

O incidente destacou algo que a maioria dos comentaristas políticos ainda não absorveu: hoje, a política americana envolve visões morais fundamentalmente distintas.

Poucas das pessoas que morrem por falta de atendimento médico se parecem com o indivíduo hipotético postulado por Blitzer, que poderia ter pagado seguro médico.

A maioria dos americanos sem seguro médico ou tem renda baixa e não pode pagar, ou é rejeitada pelos convênios porque sofre de problemas médicos crônicos.

Então pessoas da direita estariam dispostas a permitir que as pessoas que não têm seguro médico, sem serem culpadas por isso, morram por falta de atendimento? Com base na história recente, a resposta é um "sim!" retumbante.

No dia seguinte ao debate, o Birô do Censo divulgou suas estimativas mais recentes. O quadro geral é lamentável, mas um ponto relativamente positivo foi o atendimento médico a crianças. A porcentagem de crianças sem cobertura foi mais baixa em 2010 que antes da recessão, graças à ampliação em 2009 do Programa de Seguro-Saúde Infantil do Estado, ou SCHIP.

O ex-presidente George W. Bush tinha bloqueado tentativas anteriores de proporcionar cobertura a mais crianças -sob aplausos de muitos da direita.

Logo, a liberdade de morrer se estende não apenas aos imprevidentes, mas também às crianças e às pessoas sem sorte. E a adesão da direita a essa noção assinala um deslocamento importante na natureza da política americana.

Agora, a compaixão está fora de moda -na realidade, a falta de compaixão tornou-se uma questão de princípio, pelo menos na base republicana.

O conservadorismo moderno é, na realidade, um movimento profundamente radical, hostil ao tipo de sociedade que temos há três gerações -que, agindo por meio do governo, procura mitigar alguns dos "perigos comuns da vida" por meio de programas como a Previdência Social, seguro-desemprego, Medicare e Medicaid.

Os eleitores estão preparados para aderir a uma rejeição tão radical do tipo de América em que todos nós crescemos? Vamos descobrir em 2012.

Tradução de Clara Allain

*esquerdopata

UNICEF confirma que Cuba es el único país sin desnutrición infantil. Para el 2015 eliminarán la pobreza.

Problem Capitalismo?
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En el último informe del Fondo de las Naciones Unidas para la Infancia (UNICEF) titulado de “Progreso para la Infancia un Balance sobre la Nutrición”, determinó que actualmente en el mundo existen 146 millones de niños menores de cinco años con problemas de graves de desnutrición infantil. De acuerdo con el documento, 28% de estos niños son de África, 17% de Medio Oriente, 15% de Asia, 7% de Latinoamérica y el Caribe, 5% de Europa Central, y 27% de otros países en desarrollo.
Cuba sin embargo no tiene esos problemas, siendo el único país de América Latina y el Caribe que ha eliminado la desnutrición infantil, todo esto gracias a los esfuerzos del Gobierno por mejorar la alimentación, especialmente la de aquellos grupos más vulnerables. Además, la Organización de las Naciones Unidas para la Alimentación y la Agricultura (FAO) también ha reconocido a Cuba como la nación con más avances en América Latina en la lucha contra la desnutrición.
Esto se debe a que el Estado Cubano garantiza una canasta básica alimenticia y promueve los beneficios de la lactancia materna, manteniendo hasta el cuarto mes de vida la lactancia exclusiva y complementándola con otros alimentos hasta los seis meses de edad. Además, se les hace entrega diaria de un litro de leche fluida a todos los niños de cero a siete años de edad. Junto con otros alimentos como compotas, jugos y viandas los cuales se distribuyen de manera equitativa.
No por nada la propia Organizacion de las Naciones Unidas, (ONU) sitúa al país a la vanguardia del cumplimiento de materia de desarrollo humano. Y por si fuera poco para el año 2015, Cuba tiene entre sus objetivos eliminar la pobreza y garantizar la sustentabilidad ambiental.
Y todo esto pese a 50 años de embargo, bloqueo económico, comercial y financiero impuesto por Estados Unidos…

*GambaCL

Líbia: ao rei Sarkozy, o butim

17/9/2011, Pepe Escobar, Asia Times Online
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MI17Ak02.html
Saia da frente, Lawrence da Arábia. O Grande Libertador Gaulês da Líbia (e de outros árabes otários à vista), o neonapoleônico presidente francês Nicolas Sarkozy, carregando consigo seu camaradinha primeiro-ministro britânico David da Arábia Cameron, andou galantemente por um aeroporto militar protegido por cordão sanitário-militar em Trípoli para cantar La Vie en Rose ao lado do Mediterrâneo, celebrando assim o sucesso do longo bombardeio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de empurrar a Líbia até a ‘democracia’.

Pendurado nele, à caça dos fotógrafos, vinha o insuportável autopromotor e autoproclamado “novo filósofo” Bernard-Henri Levy, o do peito perenemente exposto sob a camisa branca recém passada, ele, o do famoso telefonema de Benghazi, para “vender” uma guerra ao detonado Libertador Gaulês (como se Rei Sarkô fosse de recusar qualquer mãozinha para ampliar sua grandeur).

Não se devem economizar metáforas da Roma Imperial – de “volta da vitória” a “lauréis” e o inevitável “ao vencedor o butim” (de guerra), porque isso foi, precisamente.

Rei Sarkô e Deivizinho Cameron podem não ser parecidos com a linda moça angolana que acaba de ser coroada Miss Universo –, mas não poderiam estar em clima mais “à vontade para regozijar-se na própria aura gloriosa”. Uma volta da vitória na periferia do império – ainda que os vitoriosos não passem de reles procônsules e algumas loas tenham sido impiedosamente ofuscadas pelo fracasso econômico da Europa.

Ao som dos helicópteros Apache que patrulhavam o Mediterrâneo e escoltado por dúzias de guarda-costas da Polícia de repressão às agitações de rua, o Rei Sarkô sentiu a necessidade de declarar a um mundo que sequer cogita dessa possibilidade, que “o que fizemos foi feito por razões humanitárias. Não houve agenda oculta.”

Mas por via das dúvidas – e com os dois principais hotéis de Trípoli pululando de empresários/abutres – o presidente do sinistro Conselho Nacional de Transição, Mustafa Abdul Jalil, teve de dizer, fora da agenda: “aliados e amigos” terão “prioridade num quadro de transparência” na divisão do butim. Tantos sumarentos contratos de petróleo e gás (e água e urânio e reconstrução) para meter no saco, e tão pouco tempo!

Fazendo eco ao Rei Sarkô, Deivizinho Cameron proclamou, bombástico, que “a primavera árabe pode tornar-se um verão árabe”. É versão em código, cifrada, para informar que a OTAN está à disposição para bombardear mais ditadores, até deles não restar nem poeira –, sempre que oportunistas “rebeldes” convoquem a cavalaria (europeia) para que exibam credenciais “pró-democracia”, forjadas ou outras.

O Rei Sarkô até delineou o próximo capítulo: a estrada para Damasco. Caro Bashar, vá providenciando aquela passagem só de ida.

Regras à moda da Somália

O tour fulgurante do Rei Sarkô/Deivizinho Cameron a Trípoli foi cuidadosamente cronometrado para ofuscar a visita do primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan ao Egito. Mas, no que tenha a ver com a alma da Primavera Árabe – o Egito –, o homem é Recep, não os bombardeadores anglo-franceses da OTAN.

E pensar que ainda ontem a inteligência britânica e francesa vivia feliz, na cama com o aparelho de segurança de Gaddafi. Pena que Deivizinho Cameron não teve tempo para gozar bons momentos com o comandante militar de Trípoli, Abdelhakim Belhaj – ex-emir do Grupo Líbio Islâmico de Combate [ing. Lybian Islamic Fighting Group (LIFG)], ex-quadro da al-Qaeda, ex-torturado pela CIA, mas, sorte dele, eterno inimigo figadal de Gaddafi.

Belhaj, por sua vez, perdeu uma grande chance de exigir de Deivizinho Cameron – sem os EUA por perto – desculpas oficiais, dos ingleses, pela tortura e por seis anos de cadeia. Talvez prefira a Corte Criminal Internacional.

Na Líbia, a OTAN conquistou, de fato, um trecho de estrada salpicado com umas poucas cidades na costa do Mediterrâneo. Ninguém sabe o que está acontecendo, mesmo, no deserto. A agenda real da OTAN é esperar e ver se Gaddafi e suas forças reagrupam-se e rearmam-se no Niger e no sul da Argélia, e começam guerrilha de verdade. Seria perfeito pretexto para que a OTAN fique lá – como no Afeganistão.

Há também a questão, nada pequena, das centenas, talvez milhares de subsaarianos africanos molestados ou massacrados pelos “rebeldes da OTAN” – o suficiente para garantir que vastas porções da África apóiem ativamente Gaddafi.

Com a OTAN contando com estender a farra, não surpreende que os amantes anglo-franceses não deem nenhuma, nem a mínima, importância, ao fato de que seu anfitrião, Jalil, prometeu jogar à lata do lixo o estado secular líbio (com a Xaria tornada “principal fonte da lei”). Uma razão a mais, para o ocidente manter-se “vigilante”. Devem-se esperar vastos arranca-rabos. O homem do qual não tirar os olhos é Ali as-Salabi – islamista linha-dura alinhado com Sheikh Yusuf al-Qaradawi. Já lançou guerra contra o primeiro-ministro do Conselho Nacional de Transição Mahmoud Jibril – até aqui a cara dos rebeldes da OTAN, para a mídia global. As-Salabi define Jibril e seu pessoal como “secularistas extremistas” que estão levando a Líbia para “uma nova era de tirania e ditadura”. Quadro da Al-Qaeda, Belhaj – que comanda milhares de rebeldes armados até os dentes – é nada menos que aliado muito próximo de as-Salabi.

Não há qualquer prova de que o Conselho Nacional de Transição tenha força suficiente para desarmar o atual inferno de várias guerrilhas inimigas, ao estilo do Iraque, em que estão convertidos Trípoli e os arredores. Se o CNT não consegui-lo, a OTAN lá estará, pronta e feliz, para fazê-lo. Nesse caso, ganha quem apostar em que a Líbia será transformada, não em algum Afeganistão 2.0 ou Iraque 2.0, mas numa Somália 2.0. Para resolver tudo? Mandem os Marines e transformem Trípoli em Fallujah. É possível, até, que a transformação garanta que Barack Obama seja reeleito nos EUA em 2012.

Podem apostar: a farra (trágica) e a jogatina estão só começando. Esperemos, agora, para ver quanto tempo demorarão o Rei Sarkô e Deivivizinho Cameron, para reencenar a volta da vitória – e em que tipo de Trípoli desembarcarão: Kabul, Bagdá ou Mogadishu?



... enviado da Vila Vudu
*GrupoBeatrice

Marx estava certo... sobre o capitalismo

18 de setembro de 2011 11h28

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Como efeito colateral da crise financeira, mais e mais pessoas estão começando a pensar que Karl Marx estava certo. O grande filósofo, economista e revolucionário alemão do século 19 acreditava que o capitalismo era radicalmente instável.

Ele tem uma tendência intrínseca de produzir avanços e fracassos cada vez maiores, e no longo prazo, ele estava destinado a se autodestruir.

Marx saudava a autodestruição do capitalismo. Ele era confiante que uma revolução popular ocorreria e daria origem um sistema comunista que seria mais produtivo e muito mais humano.

Marx estava errado sobre o comunismo. Aquilo sobre o que ele estava profeticamente certo era a sua compreensão da revolução do capitalismo. Não era somente a instabilidade endêmica do capitalismo que ele compreendia, embora neste sentido ele fosse muito mais perspicaz do que a maioria dos economistas da sua época e da nossa.

Mais profundamente, Marx compreendeu como o capitalismo destrói a sua própria base social - o meio de vida da classe média. A terminologia marxista de burguês e proletário tem um tom arcaico.

Mas quando ele argumentava que o capitalismo iria arrastar as classes médias a algo parecido com a existência precária dos sobrecarregados trabalhadores de sua época, Marx previu uma mudança na maneira como vivemos à qual só agora estamos lutando para nos adaptarmos.

Ele via o capitalismo como o sistema econômico mais revolucionário da história, e não pode haver dúvida de que ele se diferencia daqueles que vieram antes dele.

Os caçadores e coletores persistiram nesta forma de vida por milhares de anos, enquanto as culturas escravagistas permaneceram assim por quase o mesmo tempo, e as sociedades feudais sobreviveram por muitos séculos. Em contraste, o capitalismo transforma tudo que ele toca.

Não são só as marcas que estão mudando constantemente. As empresas e as indústrias são criadas e destruídas em um fluxo incessante de inovação, enquanto as relações humanas são dissolvidas e reinventadas em novas formas.

O capitalismo foi descrito como um processo de destruição criativa, e ninguém pode negar que ele foi prodigiosamente produtivo. Praticamente qualquer um que esteja vivo na Grã-Bretanha hoje tem uma renda real maior do que eles teriam se o capitalismo nunca tivesse existido.

Retorno negativo

O problema é que entre as coisas que foram destruídas no processo está o estilo de vida do qual o capitalismo dependia no passado.

Defensores do capitalismo argumentam que ele oferece a todos os benefícios que, na época de Marx, eram desfrutados somente pela burguesia, a classe média estabelecida que possuía capital e tinha um razoável nível de segurança e liberdade em suas vidas.

No capitalismo do século 19, a maioria das pessoas não tinha nada. Elas viviam de vender o seu trabalho, e quando os mercados entravam em queda, eles enfrentavam tempos difíceis. Mas à medida que o capitalismo evolui, seus defensores dizem, um número crescente de pessoas pode se beneficiar dele.

Carreiras bem-sucedidas não serão mais a prerrogativa de uns poucos. As pessoas não terão dificuldades todo mês para subsistir com base em um salário inseguro. Protegidos pelas economias, pela casa que possume e uma pensão decente, eles serão capazes de planejar suas vidas sem medo.

Com o crescimento da democracia e a distribuição da riqueza, ninguém precisará ser privado da vida burguesa. Todo mundo poderá ser da classe média.

Na verdade, na Grã-Bretanha, nos EUA e em muitos outros países desenvolvidos nos últimos 20 ou 30 anos, o contrário vem ocorrendo. A segurança do emprego não existe, as atividades e as profissões do passado em grande parte acabaram e as carreiras que duram uma vida inteira são meramente lembranças.

Se as pessoas têm qualquer riqueza, isto está nas suas casas, mas os preços dos imóveis nem sempre crescem. Quando o crédito fica restrito como agora, eles podem ficar estagnados por anos. Uma minoria cada vez menor pode contar com uma pensão com a qual pode viver confortavelmente, e não são muitos os que tem economias significativas.

Mais e mais pessoas vivem um dia de cada vez, com pouca noção do que o futuro pode reservar. AS pessoas da classe média costumavam imaginar as suas vidas desdobradas em uma progressão ordenada. Mas não é mais possível olhar para uma vida como uma sucessão de estágios em que cada um é um passo dado a partir do último.

No processo da destruição criativa, a escada foi afastada, e para um número cada vez maior de pessoas, uma existência de classe média não é mais sequer uma aspiração.

Assumindo riscos

Enquanto o capitalismo avançava, ele devolveu as pessoas a uma nova versão da existência precária do proletariado de Marx. As nossas rendas são muito maiores, e em algum grau nós estamos protegidos contra os choques por aquilo que resta do Estado de bem-estar social do pós-guerra.

Mas nós temos muito pouco controle efetivo sobre o curso das nossas vidas, e a incerteza na qual vivemos está sendo piorada pelas políticas voltadas para lidar com a crise financeira.

As taxas de juros a zero em meio a preços crescentes querem dizer que as pessoas estão tendo um retorno negativo de seu dinheiro, e ao longo do tempo o seu capital está se erodindo.

A situação de muitas das pessoas mais jovens é ainda pior. Para adquirir os talentos de que precisa, a pessoa tem de se endividar. Já que em algum ponto será necessário se reciclar, é preciso tentar economizar, mas se a pessoa está endividada desde o começo, esta é a última coisa que ela poderá fazer.

Não importa a sua idade, a perspectiva que a maioria das pessoas enfrenta é de uma vida de insegurança.

Ao mesmo tempo em que privou as pessoas da segurança da vida burguesa, o capitalismo criou o tipo de pessoa que vive a obsoleta vida burguesa. Nos anos 80, havia muita conversa sobre valores vitorianos, e propagandistas do livre mercado costumavam argumentar que ele traria de volta para nós os íntegros valores de outrora.

Para muitos, as mulheres e os pobres, por exemplo, estes valores vitorianos podem ser bastante ilógicos em seus efeitos. Mas o fato mais importante é que o livre mercado funciona para corroer as virtudes que mantêm a vida burguesa.

Quando as economias estão se perdendo, ser econômico pode ser o caminho para a ruína. É a pessoa que toma pesados empréstimos e não tem medo de declarar a insolvência que sobrevive e consegue prosperar.

Quando o mercado de trabalho está altamente volátil, não são aqueles que se mantém obedientemente fiéis a sua tarefa que são bem-sucedidos, e sim as pessoas que estão sempre prontas para tentar algo novo e que parece mais promissor.

Em uma sociedade que está sendo continuamente transformada pelas forças do mercado, os valores tradicionais são disfuncionais, e qualquer um que tentar viver com base neles está arriscado a acabar no ferro-velho.

Vasta riqueza

Olhando para um futuro no qual o mercado permeia cada canto da vida, Marx escreveu no ''Manifesto Comunista'': "Tudo que é sólido se desmancha no ar". Para alguém que vivia na Grã-Bretanha no início do período vitoriano - o Manifesto foi publicado em 1848 -, isto era uma observação incrivelmente perspicaz.

Naquela época, nada parecia mais sólido que a sociedade às margens daquela em que Marx vivia. Um século e meio depois, nos encontramos no mundo que ele previu, onde a vida de todo mundo é experimental e provisória, e a ruína súbita pode ocorrer a qualquer momento.

Uns poucos acumularam uma vasta riqueza, mas mesmo isso tem uma característica evanescente, quase espectral. Na época vitoriana, os muito ricos podiam relaxar, desde que eles fossem conservadores com a maneira como eles investiam seu dinheiro. Quando os heróis dos romances de Dickens finalmente recebem sua herança, eles nunca mais fazem nada na vida.

Hoje, não existe o porto seguro. As rotações do mercado são tais que ninguém pode saber o que terá valor dentro de alguns anos.

Este estado de inquietação perpétua é a revolução permanente do capitalismo, e eu acho que ele vai ficar conosco em qualquer futuro que seja realisticamente imaginável. Nós estamos apenas no meio do caminho de uma crise financeira que ainda deixará muitas coisas de cabeça para baixo.

As moedas e os governos provavelmente ficarão de ponta-cabeça, junto de partes do sistema financeiro que nós acreditávamos estar a salvo. Os riscos que ameaçavam congelar a economia mundial apenas três anos atrás não foram enfrentados. Eles foram simplesmente deslocados para os Estados.

Não importa o que políticos nos digam sobre a necessidade de controlar o déficit. Dívidas do tamanho das que foram contraídas não podem ser pagas. Elas quase que certamente serão infladas - um processo que está destinado a ser doloroso e empobrecedor para muitos.

O resultado só pode ser mais revoltas, em uma escala ainda maior. Mas isto não será o fim do mundo, ou mesmo do capitalismo. Aconteça o que acontecer, nós ainda teremos que aprender a viver com a energia mercurial que o mercado emitiu.

O capitalismo levou a uma revolução, mas não a que Marx esperava. O feroz pensador alemão odiava a vida burguesa e queria que o comunismo a destruísse. E assim como ele previu, o mundo burguês foi destruído.

Mas não foi o comunismo que conseguiu esta proeza. Foi o capitalismo que eliminou a burguesia.

*Terra

Deleite

Charge do Dia