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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, outubro 16, 2011

O capitalismo está condenado. E agora?

Por Sophie Shevardnadze, no sítio Outras Palavras:


A entrevista durou pouco mais de onze minutos, mas alimentará horas de debates em todo o mundo e certamente ajudará a enxergar melhor o período tormentoso que vivemos. Aos 81 anos, o sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein, acredita que o capitalismo chegou ao fim da linha: já não pode mais sobreviver como sistema. Mas – e aqui começam as provocações – o que surgirá em seu lugar pode ser melhor (mais igualitário e democrático) ou pior (mais polarizado e explorador) do que temos hoje em dia.


Estamos, pensa este professor da Universidade de Yale e personagem assíduo dos Fóruns Sociais Mundiais, em meio a uma bifurcação, um momento histórico único nos últimos 500 anos. Ao contrário do que pensava Karl Marx, o sistema não sucumbirá num ato heróico. Desabará sobre suas próprias contradições. Mas atenção: diferente de certos críticos do filósofo alemão, Wallerstein não está sugerindo que as ações humanas são irrelevantes.

Ao contrário: para ele, vivemos o momento preciso em que as ações coletivas, e mesmo individuais, podem causar impactos decisivos sobre o destino comum da humanidade e do planeta. Ou seja, nossas escolhas realmente importam. “Quando o sistema está estável, é relativamente determinista. Mas, quando passa por crise estrutural, o livre-arbítrio torna-se importante.”

É no emblemático 1968, referência e inspiração de tantas iniciativas contemporâneas, que Wallerstein situa o início da bifurcação. Lá teria se quebrado “a ilusão liberal que governava o sistema-mundo”. Abertura de um período em que o sistema hegemônico começa a declinar e o futuro abre-se a rumos muito distintos, as revoltas daquele ano seriam, na opinião do sociólogo, o fato mais potente do século passado – superiores, por exemplo, à revolução soviética de 1917 ou a 1945, quando os EUA emergiram com grande poder mundial.

As declarações foram colhidas no dia 4 de outubro pela jornalista Sophie Shevardnadze, que conduz o programa Interview na emissora de televisão russa RT. A transcrição e a tradução para o português são iniciativas de Outras Palavras.

Há exatamente dois anos, você disse ao RT que o colapso real da economia ainda demoraria alguns anos. Esse colapso está acontecendo agora?

Não, ainda vai demorar um ano ou dois, mas está claro que essa quebra está chegando.

Quem está em maiores apuros: Os Estados Unidos, a União Europeia ou o mundo todo?

Na verdade, o mundo todo vive problemas. Os Estados Unidos e União Europeia, claramente. Mas também acredito que os chamados países emergentes, ou em desenvolvimento – Brasil, Índia, China – também enfrentarão dificuldades. Não vejo ninguém em situação tranquila.

Você está dizendo que o sistema financeiro está claramente quebrado. O que há de errado com o capitalismo contemporâneo?

Essa é uma história muito longa. Na minha visão, o capitalismo chegou ao fim da linha e já não pode sobreviver como sistema. A crise estrutural que atravessamos começou há bastante tempo. Segundo meu ponto de vista, por volta dos anos 1970 – e ainda vai durar mais uns vinte, trinta ou quarenta anos. Não é uma crise de um ano, ou de curta duração: é o grande desabamento de um sistema. Estamos num momento de transição. Na verdade, na luta política que acontece no mundo — que a maioria das pessoas se recusa a reconhecer — não está em questão se o capitalismo sobreviverá ou não, mas o que irá sucedê-lo. E é claro: podem existir duas pontos de vista extremamente diferentes sobre o que deve tomar o lugar do capitalismo.

Qual a sua visão?

Eu gostaria de um sistema relativamente mais democrático, mais relativamente igualitário e moral. Essa é uma visão, nós nunca tivemos isso na história do mundo – mas é possível. A outra visão é de um sistema desigual, polarizado e explorador. O capitalismo já é assim, mas pode advir um sistema muito pior que ele. É como vejo a luta política que vivemos. Tecnicamente, significa é uma bifurcação de um sistema.

Então, a bifurcação do sistema capitalista está diretamente ligada aos caos econômico?

Sim, as raízes da crise são, de muitas maneiras, a incapacidade de reproduzir o princípio básico do capitalismo, que é a acumulação sistemática de capital. Esse é o ponto central do capitalismo como um sistema, e funcionou perfeitamente bem por 500 anos. Foi um sistema muito bem sucedido no que se propõe a fazer. Mas se desfez, como acontece com todos os sistemas.

Esses tremores econômicos, políticos e sociais são perigosos? Quais são os prós e contras?

Se você pergunta se os tremores são perigosos para você e para mim, então a resposta é sim, eles são extremamente perigosos para nós. Na verdade, num dos livros que escrevi, chamei-os de “inferno na terra”. É um período no qual quase tudo é relativamente imprevisível a curto prazo – e as pessoas não podem conviver com o imprevisível a curto prazo. Podemos nos ajustar ao imprevisível no longo prazo, mas não com a incerteza sobre o que vai acontecer no dia seguinte ou no ano seguinte.

Você não sabe o que fazer, e é basicamente o que estamos vendo no mundo da economia hoje. É uma paralisia, pois ninguém está investindo, já que ninguém sabe se daqui a um ano ou dois vai ter esse dinheiro de volta. Quem não tem certeza de que em três anos vai receber seu dinheiro, não investe – mas não investir torna a situação ainda pior. As pessoas não sentem que têm muitas opções, e estão certas, as opções são escassas.

Então, estamos nesse processo de abalos, e não existem prós ou contras, não temos opção, a não ser estar nesse processo. Você vê uma saída?

Sim! O que acontece numa bifurcação é que, em algum momento, pendemos para um dos lados, e voltamos a uma situação relativamente estável. Quando a crise acabar, estaremos em um novo sistema, que não sabemos qual será. É uma situação muito otimista no sentido de que, na situação em que nos encontramos, o que eu e você fizermos realmente importa. Isso não acontece quando vivemos num sistema que funciona perfeitamente bem. Nesse caso, investimos uma quantidade imensa de energia e, no fim, tudo volta a ser o que era antes.

Um pequeno exemplo. Estamos na Rússia. Aqui aconteceu uma coisa chamada Revolução Russa, em 1917. Foi um enorme esforço social, um número incrível de pessoas colocou muita energia nisso. Fizeram coisas incríveis, mas no final, onde está a Rússia, em relação ao lugar que ocupava em 1917? Em muitos aspectos, está de volta ao mesmo lugar, ou mudou muito pouco. A mesma coisa poderia ser dita sobre a Revolução Francesa.

O que isso diz sobre a importância das escolhas pessoais?

A situação muda quando você está em uma crise estrutural. Se, normalmente, muito esforço se traduz em pouca mudança, nessas situações raras um pequeno esforço traz um conjunto enorme de mudanças – porque o sistema, agora, está muito instável e volátil. Qualquer esforço leva a uma ou outra direção. Às vezes, digo que essa é a “historização” da velha distinção filosófica entre determinismo e livre-arbítrio. Quando o sistema está relativamente estável, é relativamente determinista, com pouco espaço para o livre-arbítrio. Mas, quando está instável, passando por uma crise estrutural, o livre-arbítrio torna-se importante. As ações de cada um realmente importam, de uma maneira que não se viu nos últimos 500 anos. Esse é meu argumento básico.

Você sempre apontou Karl Marx como uma de suas maiores influências. Você acredita que ele ainda seja tão relevante no século 21?

Bem, Karl Marx foi um grande pensador no século 19. Ele teve todas as virtudes, com suas ideias e percepções, e todas as limitações, por ser um homem do século 19. Uma de suas grandes limitações é que ele era um economista clássico demais, e era determinista demais. Ele viu que os sistemas tinham um fim, mas achou que esse fim se dava como resultado de um processo de revolução. Eu estou sugerindo que o fim é reflexo de contradições internas. Todos somos prisioneiros de nosso tempo, disso não há dúvidas. Marx foi um prisioneiro do fato de ter sido um pensador do século 19; eu sou prisioneiro do fato de ser um pensador do século 20.

Do século 21, agora.

É, mas eu nasci em 1930, eu vivi 70 anos no século 20, eu sinto que sou um produto do século 20. Isso provavelmente se revela como limitação no meu próprio pensamento.

Quanto – e de que maneiras – esses dois séculos se diferem? Eles são realmente tão diferentes?

Eu acredito que sim. Acredito que o ponto de virada deu-se por volta de 1970. Primeiro, pela revolução mundial de 1968, que não foi um evento sem importância. Na verdade, eu o considero o evento mais significantes do século 20. Mais importante que a Revolução Russa e mais importante que os Estados Unidos terem se tornado o poder hegemônico, em 1945. Porque 1968 quebrou a ilusão liberal que governava o sistema mundial e anunciou a bifurcação que viria. Vivemos, desde então, na esteira de 1968, em todo o mundo.

Você disse que vivemos a retomada de 68 desde que a revolução aconteceu. As pessoas às vezes dizem que o mundo ficou mais valente nas últimas duas décadas. O mundo ficou mais violento?

Eu acho que as pessoas sentem um desconforto, embora ele talvez não corresponda à realidade. Não há dúvidas de que as pessoas estavam relativamente tranquilas quanto à violência em 1950 ou 1960. Hoje, elas têm medo e, em muitos sentidos, têm o direito de sentir medo.

Você acredita que, com todo o progresso tecnológico, e com o fato de gostarmos de pensar que somos mais civilizados, não haverá mais guerras? O que isso diz sobre a natureza humana?

Significa que as pessoas estão prontas para serem violentas em muitas circunstâncias. Somos mais civilizados? Eu não sei. Esse é um conceito dúbio, primeiro porque o civilizado causa mais problemas que o não civilizado; os civilizados tentam destruir os bárbaros, não são os bárbaros que tentam destruir os civilizados. Os civilizados definem os bárbaros: os outros são bárbaros; nós, os civilizados.

É isso que vemos hoje? O Ocidente tentando ensinar os bárbaros de todo o mundo?

É o que vemos há 500 anos.

* Tradução de Daniela Frabasile.

Vídeo da ESPN: Orlando Silva acionou a PF para o tira-teima com a revista Veja



O Ministro do Esporte, Orlando Silva, concedeu entrevista à ESPN dizendo que acionou a Polícia Federal para colocar as denúncias da revista Veja, contra si, em pratos limpos.

Agora é hora do tira-teima: quem estiver mentindo cai.

O ministro diz que a reportagem da Veja é uma farsa e que a fonte que faz as denúncias é um bandido, um criminoso que já foi preso (Operação Shaolin).

Disse que vai processar todos que caluniariam, e que acionou a Polícia Federal para apurar todo o conteúdo publicado na revista contra ele mesmo.

Que pena que o governador Geraldo Alckmin (PSDB/SP) não faça o mesmo com a venda de emendas na Assembléia Legislativa de São Paulo.

Alckmin se esconde, não dá entrevista, não dá satisfação, não aciona a Polícia, e só trata de abafar para proteger os deputados de seus partidos aliados acusados de suborno pela venda de emendas.

Na mosca: Como previmos aqui, o Jornal Nacional da TV Globo, repercutiu em mais de 4 minutos. Uma vingança porque o ministro está prestigiando os jogos Pan-Americanos, cobertos pela TV Record, emissora que venceu a Globo na disputa pelos direitos de transmissão dos jogos.

O Jornal Nacional (que nunca divulgou as denúncias documentadas contra Ricardo Teixeira da CBF), deu destaque à esta "notícia" de outra publicação de baixa credibilidade, sem provas, sem gravação, sem denúncia do Ministério Público, nem de autoridade oficial nenhuma, tudo baseado na palavra de um contra o outro, e sem nem mesmo entrevistar o suposto denunciante.

Abaixo os Neolibelês (*):
“Indignados” saem às ruas em 80 países

Coitadinha da Urubóloga !
Ruas de 80 países do mundo foram ocupadas por indignados contra o desemprego e a desigualdade da distribuição de renda.

A maior manifestação foi em Madrid.

A polícia impediu que os indignados ocupassem a Bolsa de Londres.

O movimento Occupy Wall Street cresceu em Nova York.

Em Roma, houve pancadaria, no dia seguinte ao Congresso dar “voto de confiança” a Berlusconi.

Clique aqui para ler no El Pais, de Madrid.

E aqui para ler no Guardian, de Londres.

Clique aqui para ler ” Dilma dá a Grécia de presente à Urubologa”.

(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.
*PHA

Charge do Dia

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Orlando Silva processará a Veja

A revista Veja desembestou de vez. A cada semana ela aciona um de seus jagunços midiáticos para destruir reputações e produzir “reporcagens” com calúnias e difamações, sem qualquer consistência jornalística e sem ouvir as vítimas das agressões. A revista dá tiros para todos os lados, pouco se importando com sua credibilidade em declínio ou com a abertura de processos judiciais.
No mês passado, a Veja usou um repórter para tentar invadir o apartamento do ex-ministro José Dirceu num hotel em Brasília. A ação criminosa, que lembra as escutas ilegais e os subornos do império Murdoch, foi desmascarada e está na Justiça. Na semana seguinte, ela deu capa para um remédio, num típico “jabá jornalístico”, e foi criticada pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Ataques ao PCdoB e a Lula
Na edição desta semana, a revista resolveu investir contra o ministro dos Esportes, Orlando Silva (PCdoB). Para isso, abriu espaço em suas páginas ao policial militar João Dias Ferreira, preso em 2010 por corrupção. Na “reporcagem”, ele afirma que o ministro participaria de um esquema de desvio de recursos do programa Segundo Tempo, que atende mais um milhão de crianças carentes no Brasil.
Ainda segundo a “reporcagem”, que não apresenta qualquer prova concreta e se baseia inteiramente nas declarações do policial, os recursos do programa seriam repassados para ONGs, depois destas pagarem uma taxa de até 20% sobre o valor dos convênios. O dinheiro seria utilizado como caixa-2 do PCdoB e, também, serviu “para financiar a campanha presidencial de Lula em 2006”.
João Dias, um policial sinistro
A revista também “ouviu” Célio Soares, que é funcionário do ex-policial e atual empresário João Dias Ferreira. No ápice da matéria caluniosa, ele afirma que “eu recolhi o dinheiro com representantes de quatro entidades do Distrito Federal que recebiam verba do Segundo Tempo e entreguei ao ministro, dentro da garagem, numa caixa de papelão. Eram maços de notas de 50 e 100 reais”.
Os dois caluniadores deveriam se explicar na Justiça pelas graves acusações. Já a revista deveria ser processada por dar espaço a indivíduos suspeitos. Como lembra o jornalista Murilo Ramos, da insuspeita revista Época, “o soldado da Polícia Militar do Distrito Federal João Dias Ferreira é um personagem recorrente de denúncias envolvendo o Ministério do Esporte. João Dias presidiu duas entidades acusadas de desviar cerca de R$ 2 milhões do programa Segundo Tempo do Ministério”.
Época contesta a Veja
Em maio de 2010, a revista Época publicou reportagem sobre o relatório final da Operação Shaolin, da Polícia Civil de Brasília, que investigou desvios em convênios com as associações de João Dias. “De acordo com a apuração da polícia, empresas de fachada cobravam 17% do valor das notas para emitir os papéis frios, sacar os recursos depositados pelas associações em suas contas e devolver o dinheiro para as ONGs de João Dias: a Federação Brasiliense de Kung Fu (Febrak) e a Associação João Dias de Kung Fu”.
“As associações foram contratadas para desenvolver atividade esportiva com alunos da rede pública de ensino. Os investigadores afirmam que Dias desviou recursos para compra de uma casa avaliada em R$ 850 mil, para construir duas academias de ginástica e para financiar sua campanha para deputado distrital em 2006”, informa Murilo Ramos. Apesar desta ficha policial, a Veja legitimou suas acusações contra o ministro dos Esportes. Coisa típica do jornalismo mafioso, murdochiano!
“Invenções e calúnias” serão rebatidas
De Guadalajara, México, onde participou da abertura dos Jogos Pan-Americanos, o ministro refutou as “invenções e calúnias” da Veja e já anunciou que processará os dois caluniadores. Em conversa por telefone, Orlando Silva também disse que analisará a abertura de processo contra a revista. Ele se mostrou indignado com a postura da Veja, mas adiantou que não vai se intimidar.
Numa entrevista coletiva hoje (15) pela manhã, Orlando Silva foi enfático: “De pronto, quero repudiar as mentiras que foram publicadas. Causou surpresa o conjunto de invenções e calúnias. Tomarei as medidas judiciais e moverei ação penal. Solicitei ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que fosse aberto inquérito criminal para que fossem apurados os fatos citados”.
“Tomarei as medidas judiciais”
“O único momento em que encontrei um dos caluniadores [João Dias] foi numa audiência em 2004, se não me engano, a pedido do então ministro Agnelo Queiroz. A segunda pessoa [Célio Soares], eu não faço idéia de quem seja. São acusações gravíssimas, tomarei medidas judiciais e solicitarei que a Polícia Federal apure as denúncias. Não temo nada do que foi publicado na revista”.
Para o ministro, a “reporcagem” da Veja tem motivação política. Há muitos interesses econômicos em jogo nas disputas da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil. Ele ainda levantou a possibilidade de que se trate de uma retaliação ao aumento do rigor na adesão de empresas ao programa Segundo Tempo, que libera dinheiro para crianças carentes.
“Um bandido me acusa e eu preciso explicar”
“Esse ano, os parceiros passaram a ser escolhidos por seleção pública. Também passamos a não realizar convênios com entidades privadas, pois as públicas garantem melhor sistema de controle. No ano passado foi instaurada a Tomada de Contas Especial e o processo enviado ao TCU para que a empresa relacionada a um dos acusadores devolva o investimento de cerca de R$ 3 milhões”.
Por último, o ministro anunciou: “Me coloco à disposição de ir ao Congresso já nesta semana e coloco meu sigilo fiscal e bancário à disposição dos órgãos de controle. Estou indignado, porque um bandido me acusa e eu preciso me explicar. Agora, o sentimento é de defesa da honra. Existem pessoas na política que não se incomodam com acusações, mas felizmente eu tenho sensibilidade”.
Tucanos ou urubus?
Como em outros casos, a revista Veja serve para pautar a oposição demotucana. Desesperada com a perda de parlamentares, as intermináveis brigas internas e a total ausência de projeto, as lideranças do PSDB e DEM já utilizam os ataques levianos da revista para desencadear uma nova onda moralista. Eles demonstram falta de escrúpulos e total falta de responsabilidade.
Hoje mesmo, o líder do PSDB na Câmara Federal, deputado Duarte Nogueira (SP), defendeu o imediato afastamento do ministro Orlando Silva. “Há fortes indícios de que, para participarem do Segundo Tempo, ONGs eram escolhidas a dedo, ligadas ao PCdoB, e pagariam propina pelo convênio. Isso é muito sério, um esquema criminoso. É dinheiro público indo pelo ralo”, esbravejou.
Cínico e mau-caráter
Ele também exigiu que o ex-ministro e atual governador do DF, Agnelo Queiroz, seja investigado. Já que está tão preocupado com a corrupção, o líder do PSDB podia aconselhar o governador Geraldo Alckmin a autorizar a criação da CPI na Assembléia Legislativa para averiguar o esquema de suborno nas emendas parlamentares em São Paulo. A bravata de Duarte Nogueira mostra bem o cinismo e o mau-caratismo dos tucanos.
Altamiro Borges
No Blog do Miro

Orlando Silva responde à revista Veja com a Polícia Federal

Geraldo Alckmin (PSDB/SP) e Roberto Civita (PIG/SP). Na hora do aperto, uma mão lava a outra .
No momento em que o mensalão do Alckmin (a venda de emendas na Assembléia Legislativa de São Paulo) exige uma faxina na corrupção paulista, em vez dele chamar a Polícia para apurar, quem veio em socorro do governador tucano foi a Revista Veja (PIG/SP) para abafar, com uma cortina de fumaça para desviar a atenção.
E o ministro Orlando Silva (PCdoB/SP) fez aquilo que o governador Geraldo Alckmin (PSDB/SP) se recusa a fazer: chamou a Polícia Federal para colocar tudo em pratos limpos.
A revista arranjou uma daquelas denúncias fracas, porque se baseia apenas em supostas testemunhas, pouco confiáveis, sem documentos, sem gravação, sem que os acusadores tenham denunciado à Polícia Federal ou ao Ministério Público, e com relatos que soam inverossímeis (por exemplo: ninguém faria negociatas em estacionamento oficial de ministério).
Detalhe: essa mesma suposta testemunha já foi usada por esta mesma imprensa durante as eleições de 2010, para fazer acusações contra o candidato do PT Agnello Queiroz (eleito governador do DF) que não se comprovaram. O objetivo era derrotar Agnello, para o governo do Distrito Federal cair nas mãos da adversária: a esposa de Joaquim Roriz (é esse o conceito de "combate à corrupção" que a imprensa demo-tucana quer para o Brasil: entregar a chave do cofre de Brasília para Joaquim Roriz).
Para cada denúncia da revista Veja que se confirma, há dezenas que o tempo se encarrega de provar que são falsas. São apenas usadas para exploração política e depois as testemunhas negam tudo na justiça, mas a revista não publica a negação.
O ex-presidiário Rubnei Quícoli foi um típico caso de denúncia com base apenas em testemunho. Disse uma coisa para a imprensa, e depois se retratou nos tribunais, para não ser preso de novo, por calúnia.
Quem não se lembra do ex-presidiário Rubnei Quícoli, apresentado como impoluto empresário paladino do combate à corrupção? Retratou-se ao PT nas barras dos tribunais. Deveria servir de exemplo do que NÃO se deve fazer em jornalismo. Mas quem disse que a revista quer fazer jornalismo?
O ministro dos Esportes, Orlando Silva, acusado no momento em que está viajando em missão oficial no México, acompanhando os jogos pan-americanos, respondeu bem.
Acionou a Polícia Federal imediatamente.
Agora, vamos ver quem tem razão, se é a Veja e suas testemunhas duvidosas, ou o ministro.
Eis a nota oficial do Ministro:
O ministro do Esporte, Orlando Silva, pediu ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a Polícia Federal investigue denúncias feitas pelo Sr. João Dias em entrevista à revista Veja. Orlando Silva espera com isso não deixar dúvidas sobre a falta absoluta de fundamentação das acusações feitas contra ele pelo entrevistado. “Tenho a certeza de que ficará claro de que tudo o que ele diz são calúnias”, diz o ministro do Esporte.
João Dias, por meio da Associação João Dias de Kung Fu e da Federação Brasiliense de Kung Fu, firmou dois convênios, em 2005 e 2006, com o Ministério do Esporte, para atendimento a crianças e jovens, dentro do Programa Segundo Tempo. Como não houve cumprimento do objeto, não só o Ministério determinou a suspensão dos repasses, como o ministro Orlando Silva determinou em junho de 2010 a instauração de Tomada de Contas Especial, enviando todo o processo ao TCU. O ministério exige a devolução de R$ 3,16 milhões, atualizados para os valores de hoje.
A avaliação do ministro do Esporte é de que foi esse o motivo para João Dias fazer agora acusações de desvios de verbas do Segundo Tempo por um suposto esquema de corrupção no Ministério. Orlando Silva afirma com veemência ser caluniosa a afirmação de João Dias de que houve entrega de dinheiro nas dependências do Ministério e pretende tomar medidas legais. João Dias já é réu em ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal, em decorrência das irregularidades na execução dos convênios denunciadas pelo Ministerio do Esporte.
Em nenhum momento, o Ministério “amenizou” qualquer comunicado a Polícia Militar, como dá a entender o Sr. João Dias em entrevista a revista. Apenas considerou o rito do devido processo legal, que estabelece o direito de defesa do acusado. O comunicado final ao Batalhão da PM explicitou exatamente o que foi a medida tomada pelo Ministério do Esporte - a instauração de Tomada de Contas do TCU e pedido de devolução de recursos e demais medidas reparatórias cabíveis contra a ONG e o Sr. João Dias.
O Programa Segundo Tempo, que atende a mais de um milhão de crianças e jovens em todo o Brasil, é permanentemente auditado pelos órgãos de controle e qualquer denúncia consistente de irregularidade é apurada. O ministro Orlando Silva, desde que assumiu o Ministério, determinou o aperfeiçoamento constante do projeto, tanto do seu alcance como da forma de celebração dos convênios para sua execução. Em setembro passado, houve uma chamada pública, e a seleção final apenas contemplou entes públicos.
Ascom – Ministério do Esporte
Em tempo:
Quem quer apostar como o Jornal Nacional dará destaque à "notícia"? Uma vingança básica, porque o ministro está prestigiando os jogos Pan-Americanos e dando entrevistas à TV Record, emissora que venceu a Globo na disputa pelos direitos de transmissão dos jogos.
Zé Augusto
No Amigos do Presidente Lula

Reportagem da Folha é "Incompleta, leviana e mentirosa" - diz Procurador da República


O Ministério Público Federal em São Paulo, por meio do procurador da República Fausto Kozo Matsumoto Kosaka, divulgou nota de esclarecimento onde diz que uma reportagem do jornal "Folha de São Paulo" é "Incompleta, leviana e mentirosa".

O motivo foi não ouvir o outro lado (o próprio Ministério Público) e não publicar direito de resposta fiel à verdade.

A reportagem teve o título “Trem da RFFSA era vendido como sucata”, e acusou o MPF de reter por dois anos a denúncia, sem dar ouvidos à instituição.

Se o repórter tivesse feito o dever de casa, teria sabido que as diligências necessárias para apresentar tal denúncia ainda estão em curso.


A nota de esclarecimento foi redigida no dia 10 e o jornal procurado, com o intuito de que a versão do MPF fosse publicada, mas a Folha publicou apenas parcialmente, e na versão Online.

Para esclarecer o público sobre a versão do MPF sobre os fatos, a instituição decidiu tornar pública a nota.

Leia aqui a íntegra da nota do procurador.

sábado, outubro 15, 2011

Deleite Tom Zé

A PERMANÊNCIA DE BATTISTI NO BRASIL ESTÁ AMEAÇADA?

Há factóide novo na praça: um procurador do Distrito Federal questiona, com argumentação risível e exalando hostilidade a Cesare Battisti por todos os poros, o visto de permanência a ele concedido pelo Brasil.

Já levou um merecido puxão de orelhas de dois ministros do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello (o mais articulado e brilhante do elenco) e Luiz Fux.

E o nosso bom Carlos  Lungarzo, da Anistia Internacional, simplesmente pulverizou sua racionália canhestra, em Caso Battisti: as artimanhas e falácias são infinitas.

Vai dar em nada.

Passando às coisas sérias, a anuência do governo brasileiro em indicar representante para a discussão do Caso Battisti no âmbito da chamada Convenção sobre conciliação e solução judiciária entre o Brasil e a Itália foi recebida com surpresa e alguma perplexidade pelos apoiadores do escritor italiano.

Conforme explica Lungarzo, tal convenção, datada de 1954, é "um acordo que foi  inventado  para negociar soluções para problemas surgidos entre os dois países, de uma maneira pacífica".

Ao longo destes 57 anos não teve serventia nenhuma, por um motivo simples: cria uma comissão negociadora para assuntos que não estejam previstos em tratados. Existindo um tratado sobre o assunto (comercial, militar, etc.), a convenção não se aplica; o que se deve usar é o tratado. "Ou seja, a convenção só faz sentido para os chamados  casos omissos”, destaca Lungarzo.

Salta aos olhos ter sido descabido ativá-la, pois há um tratado de extradição vigente entre o Brasil e a Itália, com base no qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que Battisti não fosse extraditado.

À primeira vista, será uma iniciativa  tão inócua quanto aquele espantalho que a Itália parecia estar utilizando para assustar o Brasil, mas cuja real finalidade era propagandística e voltada para o público interno, qual seja a de fornecer catarse para seus revanchistas frustrados: o recurso à Corte Internacional de Justiça, sediada em Haia, de onde, certamente, o  Incrível Exército Berlusconi  sairia com as mãos abanando.

Apesar das fortes pressões que o governo italiano continua exercendo contra a decisão soberana do Estado brasileiro, tomada pelo Poder Executivo e confirmada pelo Judiciário, o Governo Dilma deverá manter a única postura cabível à luz do espírito de Justiça, do Direito internacional e da dignidade nacional: a de não se curvar a tais pressões. É a avaliação unânime nos círculos bem informados de Brasília.

Resta a dúvida: por que, afinal, o Brasil aceitou retirar tal mostrengo do arquivo morto?

Como há um mau precedente -- o recomeço da perseguição rancorosa a Battisti, apesar do solene compromisso com ele assumido pelas autoridades francesas --, é aconselhável o acompanhamento atento dos trabalhos da dita comissão por parte dos grupos e cidadãos que lhe são solidários. Todos deverão estar prontos para posicionarem-se com a mesma firmeza dos últimos anos, caso se delineie qualquer recuo.

Pois, já diziam os antigos, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém...
 

UM TIRO NA MOSCA: O MOVIMENTO CONTRA A GANÂNCIA

Manifestantes de todos os continentes vão expressar neste sábado sua indignação contra os  banqueiros, financistas e políticos que, com sua ganância desmedida, arruinam a economia mundial, condenando bilhões de seres humanos à penúria.

Prevê-se que manifestantes saiam às ruas em várias partes do mundo, da Nova Zelândia ao Alasca, e em cidades como Londres, Frankfurt e a própria Nova York.

Este é o foco correto.

Já os movimentos contra a corrupção agem sobre o efeito, que perdurará enquanto não extirparmos a causa.

Além de estimularem a noção ingênua de que medidas judiciais e policiais possam erradicar a corrupção. Jamais o fizeram. Apenas serviram como justificativa e acumulação de forças para quarteladas, como a brasileira de 1964, que havia quem chamasse de  redentora...

Derrubado o presidente legítimo, não adveio redenção nenhuma. Apenas repressão.

Resumindo: só se acabará com a corrupção acabando com o capitalismo.

Enquanto os homens forem induzidos a priorizar o "enriquecei!" acima de tudo, haverá quem busque atalhos para enriquecer. É simples assim.

Então, certos estão os que lutam contra a ganância. Por aí, sim, pode-se chegar a algo concreto. 
*Náufragodautopia
 

Poema Marylin Monroe

via


weeping willow
I stood beneath your limbs
and you flowered and finally clung to me
and when the wind struck....the earth
and sand--you clung to me.

Salgueiro que chora
Fico sob seus braços
Você floriu e finalmente me abraçou
E quando o vento açoitou... a terra
E a areia--você me abraçou de verdade


O, Time
Be Kind
Help this weary being
To forget what is sad to remember
Lose my loneliness,
Ease my mind,
While you eat my flesh.

Ah, tempo
Seja gentil
Ajude este ser cansado
A esquecer do que é triste
Afrouxe minha solidão
Acalme minha mente
Enquanto devora minha carne.


I could have loved you once
and even said it
But you went away,
When you came back it was too late
And love was a forgotten word.
Remember?

Poderia ter te amado então
Sempre disse isto
Mas você foi embora
Quando você voltou era tarde demais
E amor se tornou palavra vencida
Lembra-se?

Poemas: Marylin Monroe
Tradução: Beto Palaio
*Academiapósmodernadeletras

veja não apura, enlameia honras

A revista Veja sai aos sábados. Com isso, garante seu principal obejtivo “jornalístico”, que não é noticiar, mas “repercutir” nos jornais de domingo.
O que a revista tem contra o Ministro Orlando Silva é a declaração de um PM preso numa investigação sobre desvio de verbas, corroborada por um empregado seu.
Pode ser verdadeira ou não a declaração, não se prejulga. Mas parece ter pouca ou nenhuma lógica que um esquema de corrupção não tenha outro lugar e outra pessoa, na imensa Brasília, para entregar uma caixa de dinheiro senão a garagem do Ministério, onde há funcionários e, quam sabe, até câmeras. E muito menos ao próprio motorista do Ministro, com ele dentro do carro.
Jornalisticamente, não era informação a ser publicada sem ser checada. A fonte da informação tem um apontado comprometimento em desvio de verbas e a este homem  foi imputado, pelo próprio Ministério, um desvio de R$ 2 milhões dos cofres públicos, por irregularidades nas prestações de contas.
Mas a honra das pessoas, para a revista Veja, não é objeto de qualquer cuidado. O negócio é levantar a suspeita e que as pessoas cuidem de “provar a inocência”, depois, claro, de devidamente linchadas em praça pública.
É como gol em impedimento, que todo mundo vê depois que deveria ser anulado, mas depois de marcado, vale tanto quanto um legítimo. A investigação pedida pelo Ministro à Polícia Federal, a menos que conclua por sua culpa, ficará como pizza.
Claro, numa época de preparação para a Copa, o que mais eficiente do que construir um escândalo que respingue sobre nossas responsabilidades e seriedade com as negociações com a Fifa? Que já manifesta, por “funcionários” anônimos, a preocupação disso sobre a organização da comeptição.
A Fifa, como se sabe, tem excelentes relações com o probo Ricardo Teixeira, presidente da CBF.
Mas não pensem que, apesar disso, não povoa os sonhos desta gente tirarem a Copa do Brasil. Vai ser o sonho de todas as suas noites deste verão.
*Tijolaço

Para que servem as faculdades de Jornalismo?

Cultura, Leitura Crítica — Por DESACATO.INFO em 4 October 2011 às 2:52 pm
Por Fernando Evangelista.
Potuguês/Español.
Eu estava na lanchonete da faculdade, entre uma aula e outra, tomando um café e lendo uma revista. O menino aproximou-se, sentou na minha frente e me perguntou:
– Você estuda aqui?
Balancei a cabeça, negativamente.
– O que você faz?
O menino deveria ter uns 11, 12 anos.
– Sou professor de Jornalismo, respondi.
– E o que se ensina no curso de Jornalismo?
Falei das disciplinas de redação, rádio, TV, fotografia, teoria da…
– Entendi, – ele me interrompeu – mas o que o aluno aprende no curso?
O moleque tinha um quê de arrogante.
– Por que você quer saber? Você lá tem idade para prestar vestibular?
– Sou curioso – ele respondeu.
Quando eu ia explicar, com paciência e educação, ele se levantou, disse que precisava ir e se foi. Mas a pergunta ficou: o que se aprende no curso de Jornalismo?
Poderia ter respondido que, basicamente, se aprendem técnicas, teorias e ética. E, com isso – entre outras coisas –, aprende-se a produzir textos jornalísticos. Escrever ainda é a base da profissão. Porém, boa parte das 470 faculdades de Jornalismo espalhadas pelo Brasil não alcança esse objetivo. Elas estão falhando vergonhosamente.
É o que afirma pesquisa realizada pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), com 10 mil candidatos de diferentes cursos universitários, entre 1º de janeiro e 31 de agosto deste ano.
O teste consistia em escrever um ditado de 30 palavras, permitindo até seis erros. Os estudantes de Engenharia obtiveram os melhores resultados, com “apenas” 12,5% de reprovação. Os estudantes de Comunicação Social, incluindo os de Jornalismo, ficaram nas últimas posições, com uma reprovação de 65,3%. Se isso não é o fundo do poço, alguém diga o que é.
Seria ingênuo jogar toda a responsabilidade nas faculdades de Comunicação. Esse resultado é também consequência de um ensino fundamental muito precário. Entretanto, surge uma dúvida a partir dessa pesquisa: se as faculdades não podem mudar esse quadro, se não conseguem ensinar a base da profissão aos alunos, por que elas continuam existindo?
Continuavam existindo, principalmente, por causa do diploma – que deixou de ser obrigatório para o exercício da profissão. Obrigatório, para a profissão, deveria ser uma sólida formação humanística. É isso que torna a faculdade imprescindível.
Infelizmente, de maneira geral, os cursos estão estruturados como um campo de treinamento para o mercado, “o último estágio da evolução humana”. Para entrar no mercado, dizem os manuais, é preciso seguir as regras, e não importa se elas são, algumas vezes, injustas, hipócritas e burras.
Há alguns anos, durante debate numa escola de Comunicação, uma estudante afirmou: “estou na faculdade para ter um diploma e fazer contatos”, opinião compartilhada por boa parte da plateia. O objetivo da estudante, compreensível, torna-se preocupante, porque evidencia que o ato de aprender – talvez o ato mais sublime do ser humano e a razão de ser de todas as escolas – não era uma prioridade, ou melhor, nem era importante.
Como também não é importante, pelo que parece, debater a democratização da informação, num país onde a mídia é controlada por algumas famílias. A base da democracia é uma imprensa livre e competente. A pluralidade de ideias, estimulada pelo jornalismo, é o motor que faz a democracia caminhar e evoluir. Porém, não existe pluralidade quando há um monopólio dos meios de comunicação.
O Sul do país é um exemplo emblemático: A Rede Brasil Sul (RBS), a mais antiga afiliada da Rede Globo, possui 20 emissoras de tevê, 24 emissoras de rádio, oito jornais, além de mais de uma dezena de produtos de plataforma digital.
Essa concentração é uma iniquidade. Todavia, os cursos de Jornalismo, com honrosas exceções, estão empenhados em treinar os estudantes para serem aceitos nessa engrenagem. E é melhor para eles, segundo essa concepção, nem saber o quão prejudicial ela é para a sociedade.
Não tenho solução para o desafio que se impõe às faculdades de Jornalismo atualmente, e, se a tivesse, abriria a minha própria. Mas tenho algumas ideias com relação às práticas pedagógicas, que não dependem diretamente da estrutura institucional. Essa prática se sustenta em quatro saberes: procurar, ver, ouvir e contar (irei detalhá-los num próximo texto).
O fundamento de todos esses saberes é a curiosidade. Por isso, acredito que a grande missão do professor é “provocar curiosidade”, o primeiro passo de uma reflexão crítica. Como lembra Rubem Alves, é necessário que o estudante veja no professor alguém curioso, a começar por aquilo que o próprio aluno diz e faz.
Existem muitas maneiras de desenvolver a curiosidade, e a mais prazerosa que conheço é por meio da leitura. A boa leitura pode propiciar, além do prazer imenso, novas perspectivas de ver e de entender o mundo. O leitor é, em essência, um curioso e será, provavelmente, questionador e crítico.
A curiosidade, de alguma forma, estimula a sensibilidade. Quem está questionando e se questionando sobre as coisas à sua volta, torna-se sensível a este mundo. Não é, lógico, um passo automático, mas um passo possível.
Além disso, é preciso estimular a ruptura dos padrões, para que os alunos escrevam sem amarras, sem manuais, tentando encontrar seus próprios caminhos – indicando a eles textos jornalísticos inteligentes e criativos, que revelem as infinitas possibilidades de se contar uma história.
Uma das funções do jornalismo, até que se prove o contrário, é contar uma história real, e contá-la bem, com precisão, honestidade e, se possível, com algum charme, tentando alcançar “a melhor versão possível da verdade”, como ensinou Carl Bernstein. A propósito, muitos estudantes concluem o curso sem saber quem é Carl Bernstein.
Hoje, dois anos depois, gostaria de reencontrar aquele “menino da lanchonete”. Se ele mantiver a curiosidade, terá plenas condições de se tornar um bom jornalista, se assim o quiser. Mas, cá entre nós, se for esperto, fará coisa mais interessante na vida. Talvez, ele faça algum curso de exatas e possa escrever, sem erros grosseiros, um ditado de 30 palavras.
*Desacato