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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 18, 2011

43 milhões de europeus sem dinheiro para comer.

De acordo com números hoje divulgados pelo Programa Europeu Alimentar, 43 milhões de europeus encontram-se numa situação de risco alimentar e sem dinheiro para pagar uma refeição. 79 milhões vivem abaixo do limiar de pobreza
43 milhões de europeus sem dinheiro para comer
Foto de Paulete Matos
A degradação da situação económica internacional, bem como a política de austeridade que tem sido seguida um pouco por toda a Europa, está a atirar cada vez mais europeus para situações extremas de pobreza.
Segundo o Eurostat, 79 milhões de pessoas vivem na Europa abaixo do limiar de pobreza e 30 milhões sofrem de subnutrição. Os programas comunitários de apoio alimentar aos mais carenciados, e que permitem fornecer alimentos que sobram dos excedentes agrícolas, têm vindo a ver o seu alcance diminuído com as sucessivas reformas da Política Agrícola Comum e o aumento do preço dos produtos agrícolas. Só este ano, 18 milhões de cidadãos de 20 países europeus beneficiaram destes programas.
Em declarações à rádio TSF, a presidente da Federação Portuguesa dos Bancos contra a Fome alertou para as consequências sociais da redução abrupta, de cerca de 20%, nas verbas do Programa Europeu de Apoio Alimentar a Carenciados.
“Se este programa desaparecer ou tiver uma redução drástica estes produtos deixam de existir e estas pessoas deixam de ser ajudadas de um ponto de vista alimentar”. “Há um conjunto de pessoas que têm graves necessidades e este programa é essencial na sua manutenção. Estamos a falar de produtos que são transformados através de matéria-prima: arroz, massa, esparguete, manteiga, leite, bolachas, cereais”, concluiu Isabel Jonet.
Recorde-se que, de acordo com os últimos números do Instituto Nacional de Estatística, sem as transferências sociais do Estado, e considerando apenas os rendimentos de trabalho e capital de cada um dos cidadãos, a taxa de portugueses em risco de pobreza nunca estaria nos 17,9 por cento registados, mas nos 41,5%.

Programa dos tucanos sem noção e o mundo real

GilsonSampaio
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FHC, também conhecido como Farol de Alexandria, segundo Millôr Fernandes, tem certeza que FhC é superlativo de Phd. No seu infausto reinado chamou seus críticos de nefelibatas, gente que vive com a cabeça nas nuvens.
As praças pelo mundão afora clamam contra a canalha bancária e o neoliberalismo, marcas da submissão de FHC e tucanalhada, e os jênios ainda dão a cara na tv para defender a catástrofe que cortou salários e aposentadorias, quase vendeu o país inteiro, quebrou o país três vezes e submeteu nossa soberania e nosso povo aos caprichos do imperialismo ocidental. É sempre bom lembrar que por pouco FHC não entregou a Base de Alcântara de porteira fechada para o EEUU, um crime de lesa pátria que consolidaria nossa condição de colônia americana.
Sem idéias, sem programa e sem noção a tucanalhada enquanto infla  o ego do seu ideólogo(?) e esvazia mais ainda a sua escassa credibilidade.
Vão ser nefelibatas assim nas nuves.

Bento XVI: Pecados e falta de memória

Vaz de Carvalho
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Não é raro que, quando altas figuras da hierarquia da Igreja Católica falam, o que exprimem não seja mais do que o realejo da ideologia da classe dominante, e que as ideias que expõem se encontrem em contradição com os preceitos da religião que deveriam representar.

1 - 8º Mandamento - Não levantar falsos testemunhos.
Sua Santidade Bento XVI, na sua recente visita à Alemanha comparou, numa missa, as “ditaduras negra e vermelha”, respectivamente do nazismo e do comunismo, para as quais “a fé cristã teve o efeito de uma chuva ácida”. SS Bento XVI, ou está muito esquecido ou peca contra o 8º Mandamento. Recordemos então. Desde 1931, pelo menos, que o Partido Católico do Centro negoceia com os nazis. Bruening, o seu líder, quer o apoio de Hitler para formar governo. Em agosto de 1932, o nº2 nazi, Goering é eleito presidente do Reichstag, com apoio do Partido Católico. A ânsia de se aproximarem de Hitler é tal que leva a dissidências no Partido Católico. Von Papen, é demitido do partido por tomar iniciativas de negociação com Hitler, à margem de Bruening, para formar governo – como virá a acontecer. Papen é então o principal apoiante de Hitler junto do velho Marechal Hidenburgo, presidente da República, que desprezava profundamente Hitler (“esse cabo austríaco”) e os nazis (arruaceiros). Von Papen conluiado com os nazis torna-se então chanceler, preparando o caminho de Hitler para o poder. (*)
Seria fastidioso descrever aqui todo o conjunto de intrigas, traições e violências sobre as forças democráticas e progressistas que se verificaram então. Dizer que Hitler alcançou o poder por via democrática é uma descabelada falsidade, mostrando até que ponto pode chegar a degradação da “democracia burguesa”, transmutada em ditadura do grande capital. Nisto se resumiu a entrega do poder aos nazis.
Em Novembro de 1932, o Parlamento é dissolvido e realizadas novas eleições. Os nazis perdem 2 milhões de votos e 34 deputados, o Partido Comunista ganha 750 mil votos e mais 11 deputados. Que acontece a seguir? Muito “democraticamente” em Janeiro é nomeado um governo Hitler / Papen, sob pressão dos interesses monopolistas e agrários (a “sociedade civil”?) e monsenhor Kass do Partido Católico negoceia com Hitler o apoio do partido.
Em Julho de 1933, com a “ausência” dos deputados comunistas, o Partido Católico garante os dois terços de deputados necessários para Hitler assumir poderes absolutos. Votam contra, os deputados social-democratas que não estavam presos ou em fuga. Apesar disto, em Maio tinham votado pela aprovação da política externa e procuravam apaziguar Hitler.
Nesse mesmo mês de Julho, o Partido Bávaro Católico e o Partido Católico do Centro autodissolvem-se assegurando o domínio absoluto dos nazis. Ainda neste mês é assinada a concordata com o Vaticano, sendo Hitler já formalmente ditador e os campos de concentração a encherem-se. A concordata proporcionou a Hitler prestígio e credibilidade que nessa altura bastante necessitava a nível interno e externo. O Núncio Apostólico em Berlim, será em breve o papa Pio XII.
“Chuva ácida” ou “água benta” para o nazismo?
O Vaticano mostrou inegável complacência – quando não apoio – para com “as ditaduras negras” fascistas e pro-nazis que infestaram a Europa nesse tempo. Mais recentemente, foi o silêncio em relação a Pinochet, Vilela da Argentina, e na prática a todos os cruéis ditadores sul-americanos, ou ao torcionário católico Ngo-Dinh-Dien – e ao seu irmão bispo - do então Vietname do Sul, ou ao Marcos das Filipinas. A lista é no mínimo tenebrosa.
Em compensação, foram marginalizados e perseguidos os padres, bispos e outros religiosos que participaram na Teologia da Libertação contra os fascismos e foi silenciado e esquecido o crime contra monsenhor Romero, de São Salvador, caído às mãos dos fascistas, pela sua coragem e dignidade.
Durante a 2ª guerra mundial nem uma palavra para defesa dos perseguidos e torturados. A duplicidade do Vaticano está bem retratada no drama histórico de Rolf Hochuth “O Vigário” que expõe a posição de Pio XII. Factualmente esclarecedora é a entrevista que o general De Gaulle teve com Pio XII nos finais de Julho de 1944 e que relata nas suas “Memoires de Guerre” vol. II. Escreve: “Para a Alemanha, que por muitas razões lhe é particularmente cara, (será ironia de De Gaulle?) vão as suas maiores inquietações. “Pobre povo – repete-me – Como vai sofrer!”
Espantoso, no momento em que sob o peso das derrotas, fundamentalmente frente ao Exército Vermelho, se aproximava o fim do nazi-fascismo, que os fascistas na sua retirada se vingavam massacrando populações, no momento em que milhões de seres humanos estavam a ser libertados dos horrores e da escravidão nazi-fascista, que prisioneiros eram dizimados antes dos campos de concentração serem abandonados, que a repressão e a crueldade mais se abatia sobre os povos sob o seu domínio, incluindo a resistência do interior da Alemanha (tudo isto hoje muito esquecido e deturpado, passando para a opinião pública que apenas os judeus foram vítimas de perseguições) a preocupação de Pio XII é clara. Prossegue De Gaulle: “Mas é a acção dos sovietes, hoje sobre terras polacas, amanhã sobre toda a Europa Central que enche de angústia o Santo Padre” (angústia pela libertação do terror nazi-fascista?!) Pio XII “Prevê que a cristandade vai suportar cruéis provas” e para isso deseja uma união estreita entre os Estados europeus católicos”, nos quais inclui, para erradicar o perigo a Espanha de Franco – na qual os pelotões de fuzilamento não tinham cessado - e o Portugal salazarista, onde campeavam torcionários e se mantinha o Tarrafal. “Água benta para o fascismo”, sim, nada de “chuva ácida”.
Não esquecemos, porém, os sacerdotes e crentes que tombaram na luta contra os fascismos ao lado do seu povo atormentado. Outra era a política do Vaticano.
“Chuva ácida” – aliás forma de poluição bastante destrutiva – foi a que se verificou com a ajuda da CIA. Em fevereiro de 1992, na revista TIME, Carl Bernstein (um dos dois jornalistas do Watergate) revela o que se passou no encontro entre o Papa João Paulo II e Ronald Reagan dez anos antes. Aí foi delineada a operação secreta para evitar a implosão do Solidariedade, apoiar Walesa e lançar a Polónia na instabilidade política e social. Foi estabelecida a colaboração entre sacerdotes e agentes da CIA que forneceram toneladas de equipamento de propaganda (impressoras, fax, rádios, etc.) organizaram manifestações, prepararam e financiaram agentes, proporcionaram fundos para nas Igrejas ser distribuído dinheiro, computadores e outros bens, remédios, etc. Na mesma altura foram delineadas operações secretas e apoio a organizações antisocialistas na Hungria e Checoslováquia e a intensificação das emissões da “Voz da América” e da “Europa Livre”.
A revista L’Expansion de 5 de Março de 1992 fez-se eco do artigo, desvalorizando-o: “a bem dizer faz muito poucas revelações”. O artigo é também parcialmente transcrito na brasileira “Manchete” em 22 de fevereiro de 1992.
O encontro com Reagan foi seguido de outros com o Secretário de Estado, A. Haig e o director da CIA W. Colby.
O que veio depois desta “chuva ácida” em termos de direitos humanos e espírito cristão, todos podemos saber ou mesmo ver com os nossos próprios olhos, mas isto é outra história da História.
* Seguimos a descrição dos acontecimentos na Alemanha conforme “Ascensão e Queda do III Reich” de William L. Shirer, 1º Vol.
2 – 2º Pecado Mortal: A avareza
Ainda acerca de pecados e esquecimentos temos o caso do Sua Eminência o Cardeal Patriarca D. José Policarpo. Certamente aspirando á santidade, diz (DN- 25.Setembro.2011) “que temos de nos sujeitar às condições dos que nos emprestam dinheiro”. Francamente não entendemos. O sr. Cardeal sabe muito bem como a especulação desenfreada corroeu as economias lançando-as na crise – também de valores morais – sabe também como age o BCE e a UE na defesa a todo o custo dos especuladores. Porém não recorda o pecado mortal, da “Avareza”.
Na concepção cristã, a avareza é considerada um dos sete pecados capitais, pois o avarento prefere os bens materiais ao convívio com Deus. Neste sentido, o pecado da avareza conduz à idolatria, que significa tratar algo, que não é Deus, como se fosse deus. Avareza, no cristianismo, é sinónimo de ganância, ou seja, é a vontade exagerada de possuir qualquer coisa. Mais caracteristicamente é um desejo descontrolado, uma cobiça de bens materiais e dinheiro, ganância.
Chamamos avareza ao excessivo desejo de acumular riqueza. Usura refere-se ao juro excessivo de dinheiro que se emprestou. No mundo actual campeia há décadas um pecado mortal: a avareza e a sua expressão mais cruel, a usura. Alguns teólogos consideram-na o mais grave pecado, pois não prejudica só quem o pratica mas todos os seus semelhantes. Além disso, é um pecado estúpido, pois o dinheiro assim criado não passa de uma potencialidade, uma imagem, uma ilusão de valor.
Ora, um pecado mortal, priva a alma da santificação da Graça que só pode ser restaurada pelo sacramento da penitência e reconciliação. Compreendemos que o sr. Cardeal na sua santidade queira absolver os especuladores e mesmo os banqueiros fraudulentos, mas como se persistem no pecado mortal? Pior, então quem faz penitência por eles são os inocentes deste pecado? Que Deus me perdoe, mas isto faz-me lembrar o culto de Baal - Moloch, ao qual se sacrificavam inocentes.
Mas, talvez estas coisas se percebam melhor se escutarmos os doutores da Igreja. (*)
Santo Agostinho, diz-nos que “as nações têm o regime ou sofrem as vicissitudes que merecem não segundo o juízo humano, mas sim segundo o critério para nós incompreensível da Providência” (Vol.I 139).
Agora entendemos: a Providência na UE tem o nome de Claude Trichet – ou será Angela Merkel?
O abade de Fleury Abão, no sec. IX, especificava que “a partir do momento da sagração, desobedecer ao rei é desobedecer ao próprio Deus” (Vol.I 193). Investido do Direito Divino, o poder temporal “para apaziguar a cólera divina, deve impor pelo terror e pela disciplina o cumprimento daquilo que os padres não conseguem fazer pela palavra”, segundo Isidoro de Sevilha (Vol.I 151)
Através dos séculos, com os “aggiornamentos” convenientes, a doutrina ter-se-á alterado na forma, pouco no conteúdo. No séc. XVII o sr. bispo Bossuet, mentor do Luís XIV – um criminoso, como a História comprova - reformulou o poder divino dos reis, agora sem a dependência do Papa. Dizia: ”Deus toma sob a sua protecção todos os governos legítimos, quaisquer que sejam a forma como estão estabelecidos. Quem tentar derrubá-los não é apenas inimigo público, mas também um inimigo de Deus”. “Para Bossuet a última palavra da política consiste na submissão ao poder” (Vol.II - 123-124).
Hoje a realidade do poder está nas mãos da finança especuladora que escandalosamente acumula fortunas imensas e crescentes (veja-se a listagem da “Forbes”) enquanto os povos que lhe estão submetidos são cada vez mais penalizados. As políticas impostas hoje serão amanhã, com o despertar dos povos tão obsoletas e infames como as práticas feudais.
Acerca disto dizia muito mais cruamente que o sr Cardeal Patriarca, o bispo Fulberto de Chartres (S. Fulberto – sec. XI): “Acima do povo deve ter lugar o Cavaleiro. E da mesma forma que aquele que monta o cavalo tem o direito de o conduzir para onde quer, assim o Cavaleiro deve dirigir o povo para onde lhe parecer melhor” (Vol.I 191).
Aqui chegámos, não é verdade, sr. Cardeal?
(*) – “História das Ideias Políticas” – Jean Touchard vol. I e II, ed. Europa América. Referências das páginas entre parêntesis.

segunda-feira, outubro 17, 2011

EUA preparam terreno no Irã

 

Será que chegou a vez do Irã ser palco de uma nova operação militar do gênero realizada mais recentemente na Líbia? A Arábia Saudita e Israel, dois países fundamentalistas a sua maneira, um muçulmano sunita e outro judaico, há tempos pressionam os Estados Unidos no sentido de iniciar uma ação militar contra o regime dos aiatolás. Documentos do site Wikileaks revelam esse interesse. E então surge mais uma história estapafúrdia envolvendo a CIA, narcotraficantes mexicanos e dois agentes do regime iraniano que preparavam um suposto atentado contra a vida do embaixador saudita nos Estados Unidos.

 

O que se pergunta é qual exatamente seria o interesse do regime iraniano em assassinar um representante saudita exatamente nos Estados Unidos e ainda por cima em um restaurante, o que provocaria vítimas civis? Mas antes mesmo de esclarecer o fato, que não se sustenta, diga-se de passagem, a Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton sai em campo para convencer os mesmos governos de sempre a adotarem mais represálias contra o Irã.

 

O Pentágono não fez por menos. Segundo declarou um dos porta-vozes, George Little, “o objetivo por enquanto é seguir impondo uma pressão financeira e diplomática sobre os iranianos". Ressalta-se o “por enquanto”, pois o resto vai depender de como as autoridades estadunidenses conseguirem convencer os demais governos no episódio.

 

A União Europeia segue o mesmo diapasão dos EUA e a mídia de mercado de todos os quadrantes do mundo dá o maior destaque ao suposto preparativo do atentado. A notícia é espalhada pelo mundo como se fosse uma verdade absoluta, praticamente sem contestação, apesar do desmentido veemente do governo de Mohamed Ahmadinejad. O dirigente iraniano não só negou como ainda assinalou que “assassinato é coisa de vocês"(estadunidenses).


Cria-se o clima propício para o Ocidente, com o apoio de monarquias do Golfo que abrigam bases militares dos EUA, como Bahrein e a própria Arábia Saudita, a aumentar a demonização do regime iraniano.

 

Não é de hoje que os serviços secretos dos EUA, de Israel e da Arábia Saudita estão mobilizados na cruzada para preparar o terreno no sentido de ampliar as represálias contra o Irã e até mesmo em determinado momento iniciar uma ação militar com a colaboração inestimável da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

 

Para que isso aconteça é necessário criar fatos. Todas as recentes ações militares dos EUA foram precedidas de denúncias que geralmente depois não se comprovaram, como no caso do Iraque e mais recentemente da própria Líbia.

 

A propósito deste país do Norte da África, as batalhas continuam em Sirte e Bani Walid, que o Conselho Nacional de Transição (CNT) havia anunciado que estavam praticamente controladas por suas forças. Os fatos demonstraram que as informações não passavam de uma estratégia de manipulação midiática.

 

Neste mesmo contexto insere-se o fato mais recente da prisão de um dos filhos de Muammar Kadhafi. Os opositores de Kadhafi em um primeiro momento anunciaram com toda a pompa a prisão em Sirte de Muatassim Kadhafi e complementaram informando que ele estava sendo conduzido para Benghazi. Nenhuma foto foi apresentada e horas depois a notícia foi desmentida. Repetiu-se a história de outro filho, Seif al-Islan Kadhafi, que tinha sido anunciado como preso e posteriormente apareceu conversando tranquilamente com jornalistas que se encontravam em Trípoli.

 

A Anistia Internacional acusou o CNT de desrespeitar os direitos humanos com a prisão indiscriminada de 2.500 homens das forças de Kadhafi. Mas isso pouco importa à OTAN, que com o tempo vai criar o seu primeiro protetorado na África. É tudo uma questão de tempo.

 

Em relação ao ex-presidente George W. Bush, os seus crimes cometidos durante dois mandatos presidenciais não foram esquecidos. Tanto assim que a Anistia Internacional (AI) pediu às autoridades canadenses para prendê-lo e processá-lo judicialmente por crimes cometidos contra o direito internacional. A Anistia entende que isso poderá ser feito quando o ex-presidente estadunidense estiver no Canadá na próxima quinta-feira (20).

 

No entender de Susan Lee, diretora da Anistia para a região das Américas, “o Canadá deve cumprir as suas obrigações internacionais e prender e processar judicialmente o ex-presidente Bush, dada a sua responsabilidade em crimes contra o direito internacional, incluindo tortura”.


As acusações estão relacionadas com um programa secreto da CIA, aplicado entre 2002 e 2009, que segundo a AI permitia contra os detidos o uso “de tortura e de outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes”.

 

No mais, na próxima quarta-feira (19), dentro das atividades da Semana de Democratização da Mídia, de 17 a 21 de outubro, entidades dos movimentos sociais estarão promovendo a faxina da calçada de TV Globo, a partir das 14 horas, na rua Von Martius, no Jardim Botânico, em protesto contra a manipulação da informação produzida pela emissora.

Mário Augusto JakobskindÉ correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE Direto da Redação.

O porquê do banditismo de Veja e TV Globo

O movimento requenta-denúncia contra o Ministério dos Esportes
Luis Nassif Online

Vamos tentar encaixar algumas peças nesse quebra-cabeças do Ministério dos Esportes.

Como tenho escrito seguidamente, a velha mídia tem sua prateleira de escândalos reais ou potenciais, com indícios ou sem provas, velhos ou novos, que são utilizados de acordo com as conveniências do momento.

Duas questões chamam a atenção: independentemente do mérito ou da veracidade, as duas denúncias contra o Ministério dos Esportes são velhas. A da Veja já tinha sido levantada na própria campanha eleitoral de Brasília – conforme vocês conferiram no Blog. A do Fantástico já tinha sido denunciada pelo Estadão no início do ano.

A ONG do PM de Brasília desviou R$ 4 milhões do Ministério e seus proprietários foram presos e respondem a processos. Na época contou para o Correio Braziliense a mesma história que contou para a Veja. O Correio queria atingir a campanha de Agnelo; Veja queria atingir Orlando Silva. Pelo próprio blog do acusado, fica-se com a sensação de que a revista pegou o mesmo depoimento e trocou o nome de Agnelo pelo de Orlando.

A tal ONG da pivô de basquete Karina tinha convênio antigo. Como as prefeituras podiam fechar convênio diretamente com o Ministério, é evidente que sua ONG se beneficiou dos contatos no Ministério para oferecer os serviços às prefeituras. Conseguiu atuar em 17 cidades.

É uma das ONGs investigadas no programa Segundo Tempo.

O Programa, de estímulo ao esporte nos municípios, tem 350 convênios, pelo menos 10 problemáticos. Nenhum convênio com prefeitura deu problema; todos os problemáticos são com ONGs.

Quando assumiu, Dilma Rousseff ordenou que fossem suspensos todos os convênios com ONGs. O que foi feito.

Qual o objetivo de requentar as denúncias?

Uma hipótese seria o endurecimento do governo com a Fifa, nas negociações da Lei Geral da Copa – normatizada há duas semanas.

Três pontos ficaram pendentes e foram questionados pela Fifa:

1. Meia entrada para idosos, que é Lei Federal.

2. Meia entrada para estudantes, que depende da legislação de cada estado.

3. Venda de bebidas nos estádios.

Mas houve um quarto ponto, que foi o direito de imagem a todas as emissoras de televisão, de filmar de dentro do estádio. Na Copa da África do Sul, a filmagem poderia custar sete anos de prisão para os envolvidos.

Este ponto pode ter sido o deflagrador do movimento requenta-denúncia.

*esquerdopata

Globo sabota jogos Pan-Americanos

Por Altamiro Borges

No momento em que setores da sociedade discutem a urgência de um novo marco regulatório da mídia, é emblemática a postura da prepotente TV Globo na cobertura dos jogos Pan Americanos, que ocorrem em Guadalajara, México. A emissora, que cochilou e perdeu o direito de exclusividade da transmissão para a TV Record, simplesmente decidiu invisibilizar o torneio. Ela está sabotando o Pan!

O caso é tão cavernoso que gerou protestos de telespectadores. Nas redes sociais, a emissora foi bombardeada. Diante da reação, o Jornal Nacional só rompeu o silêncio no sábado e reservou “longos” 20 segundos para falar das medalhas já conquistadas pelos brasileiros. Renata Vasconcelos, âncora do programa, relatou friamente as conquistas das medalhas no taekwondo e no pentatlo.

O crime será apurado?

Foi a primeira vez que o JN tratou dos jogos de Guadalajara - em pauta há vários meses. Na sexta-feira (14), dia da cerimônia de abertura oficial do Pan, a emissora simplesmente se fingiu de morta. Os jogos viraram “não notícia”, penalizando milhões de brasileiros que ainda assistem esta concessionária pública. Um crime que mereceria apuração, caso houvesse um órgão regulador da mídia no Brasil!

No artigo “O Pan olimpicamente ignorado”, publicado no Observatório da Imprensa, o jornalista Rogério Christofoletti já havia alertado para a gravidade do assunto. Reproduzo alguns trechos da sua crítica:

*****

O fato de a emissora de TV do Jardim Botânico não ter os direitos de transmissão da competição tem feito com que o evento seja simplesmente tratado como dispensável na pauta do seu noticiário. Pior que não ter comprado os direitos de transmissão é ter perdido a exclusividade para o grupo de comunicação que mais vem ‘incomodando’ com índices crescentes de audiência...

Alguém aí pode achar natural que não se coloque azeitona na empada alheia, já que estamos tratando de competidores em audiência e de rivalidade de mercado. Mas informação é um bem diferente de azeitonas em conserva ou empadas. Informação é uma mercadoria de alto valor agregado, que não se degrada com a sua difusão ou compartilhamento e que, muitas vezes, auxilia o seu portador a tomar decisões, escolher caminhos, reorientar-se no mundo.

Isto é, informação é um bem de finalidade pública, embora seja cada vez mais freqüente que empresas controladas por grupos privados a produzam e a façam circular. Independente disso, o produto carece de cuidados e atenções distintas.

Então, cobrir o Pan de Guadalajara é mais do que rechear a empada alheia. É garantir que o público tenha acesso a informações que julga relevantes e interessantes. Afinal, convenhamos, não se pode ignorar os Jogos Pan-Americanos. É uma competição tradicional – existe desde 1951 –, é importante – pois funciona como uma prévia regionalizada dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012 – e é abrangente por ser continental e reunir 29 modalidades esportivas. Esses argumentos bastariam para colocar o evento na pauta de qualquer veículo de comunicação que se preze.

No caso das Organizações Globo, ignorar a efeméride é simplesmente deixar de lado seus recém-anunciados Princípios Editoriais. No documento, os veículos do grupo se comprometem a produzir um jornalismo calcado no que consideram ser os atributos da informação de qualidade: isenção, correção e agilidade. No item que trata de isenção, os princípios são bastante claros, e cito alguns trechos que colidem com o atual comportamento do grupo:

... “(d) Não pode haver assuntos tabus. Tudo aquilo que for de interesse público, tudo aquilo que for notícia, deve ser publicado, analisado, discutido”…

“(n) As Organizações Globo são entusiastas do Brasil, de sua diversidade, de sua cultura e de seu povo, tema principal de seus veículos”…

“p) É inadmissível que jornalistas das Organizações Globo façam reportagens em benefício próprio ou que deixem de fazer aquelas que prejudiquem seus interesses”

Este é um caso típico de descolamento entre o dito e o feito. Claro que as Organizações Globo podem estar preparando coberturas especiais sobre o evento ou correndo para apresentar um material diferenciado às suas audiências. Tomara. Mas se for assim, os veículos do conglomerado estarão atrasados, contrariando outra lei de ouro de seus Princípios Editoriais, a agilidade.


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O exemplo da Argentina

Só para refrescar a memória e irritar os barões da mídia nativa: por motivos semelhantes, o governo da Argentina decidiu retirar do Grupo Clarín – tão arrogante e poderoso como a Rede Globo – o direito de exclusividade nas transmissões do campeonato de futebol. Uma concessão pública não pode realçar ou omitir o que lhe interessa. Daí a urgência da regulação da mídia no Brasil!


A cobiça pelo Ministério do Esporte

Por José Dirceu, em seu blog:

"Uma pessoa que já foi presa e é alvo de um inquérito policial vira a fonte da verdade. Coloco-me à disposição para ir ao Congresso dar explicações. Um bandido me acusa e eu tenho que me explicar". Esta foi a primeira reação do ministro dos Esportes, Orlando Silva, ao responder à matéria principal da revista Veja desta semana, na qual ele é acusado de receber dinheiro de ONGs.

O ministro emitiu nota desmentindo ponto a ponto da matéria e adiantou que já forneceu explicações ao governo. O principal denunciante na reportagem é um policial militar de Brasília, dono de academias de esportes e dirigente de ONGs que lhe possibilitaram firmar convênios com o Ministério dos Esportes, dentro do Programa Segundo Tempo.

O denunciante foi processado e preso sob a acusação de que não aplicou devidamente os recursos obtidos com essas parcerias. Segundo integrantes do PC do B, há meses, a partir do momento em que o Ministério passou a lhe cobrar legalmente a devolução de R$ 3 milhões desviados desses convênios, ele passou a achacar pessoas da Pasta e a ameaçar usar a imprensa para passar a acusação que fez.

Desde que foi criado no governo FHC o Ministério dos Esportes era considerado inexpressivo. Há algum tempo, porém, com os milhões que tem de administrar em obras para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 no Brasil tornou-se muito cobiçado. O Ministério peita, ainda, interesses poderosos - inclusive da parte da FIFA - que querem derrubar a meia entrada e a venda de bebidas alcoólicas em estádios na Copa do Mundo no Brasil.


As fontes sinistras da revista Veja

Por Altamiro Borges

Atacado em sua honra pela revista Veja, o ministro dos Esportes, Orlando Silva, foi rápido nas respostas. Ainda de Guadalajara, no México, onde participou da abertura dos Jogos Pan-Americano, ele solicitou que a Polícia Federal investigue as denúncias, colocou à disposição o seu sigilo fiscal e bancário e anunciou que refutará as acusações no Congresso Nacional já na próxima semana.









Orlando Silva, Geraldo Alckmin, Bruno Covas - Como cada um reage às denúncias.

Três casos de denúncias de corrupção estão na pauta da imprensa nesta semana, e é curioso a diferença de atitudes e do noticiário a respeito de cada um.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB/SP):
(seus secretários de estado estão envolvidos no escândalo da venda de emendas pelos deputados estaduais de sua base de apoio, na Assembléia Legislativa de São Paulo):

- não apura as denúncias;
- tenta abafar;
- foge da polícia e do ministério público como o vampiro foge da cruz;
- não processa ninguém que faz acusações pesadas;
- não vai e não deixa seus secretários de estado irem ao legislativo prestarem esclarecimentos, nem mesmo sabendo que a maioria da Assembléia é "cúmplice" governista;
- não vai à imprensa, não dá entrevistas coletivas sobre o assunto, mesmo sabendo que a imprensa paulista é parceira do governador (inclusive financeira) e chapa-branca;
- esconde os dados do público e da imprensa (não disponibiliza os dados com transparência na internet - até o ministério público estadual reclama);
- o TCE (Tribunal de Contas de São Paulo) está contaminado de corrupção comprovada entre os conselheiros amigos do governador (confira aqui e aqui);
- Não faz uma auditoria rigorosa (o governo de São Paulo nem tem um órgão de auditoria com o rigor da CGU federal).

Orlando Silva:
(atacado na revista Veja por denúncia verbal, de corruptos que caíram na malha fina do ministério):



- chama a Polícia Federal para colocar tudo em pratos limpos;
- enfrenta seus detratores, anunciando que irá processá-los;
- não cede à chantagens daqueles que ameaçam forjar escândalos;
- apura as denúncias;
- vai a imprensa dar entrevista coletiva olho-no-olho (para todos os veículos, indistintamente), inclusive enfrentando a imprensa declaradamente oposicionista;
- vai ao Congresso por vontade própria para prestar todos os esclarecimentos e enfrentar a oposição olho-no-olho;
- colocou seus sigilos bancários e fiscal à disposição das investigações por autoridades;
- escancara os dados do ministério na internet, nos portais de transparência;
- acionou há muito tempo o TCU (Tribunal de Contas da União);
- acionou há muito temo a CGU (Controladoria Geral da União);

Bruno Covas:
(PSDB/SP, secretário estadual de meio ambiente do governo Alckmin, envolvido no escândalo de vendas de emendas):




- repete o mesmo comportamento de culpado e os mesmos vícios do governador Geraldo Alckmin;
- já fugiu duas vezes de ir ao legislativo se explicar (uma vez fugiu de audiência na comissão de ética, outra vez fugiu da comissão de meio-ambiente);
- deu entrevista um mês antes do escândalo, dizendo que acobertou um prefeito corrupto, e depois não enfrentou a imprensa para tentar se explicar olho-no-olho;

A diferença de comportamento é evidente:

Com o comportamento do ministro Orlando Silva, não há como acabar em pizza. Alguém vai se dar muito mal: ou seus detratores ou ele mesmo, ou seja: quem tiver culpa não escapa, porque as investigações estão escancaradas, e ele mesmo tomando a iniciativa de se colocar a disposição para todos os esclarecimentos.

Já no caso de Geraldo Alckmin e Bruno Covas, é preciso muita reza brava do povo, para não acabar em pizza, porque tudo está sendo feito para abafar; para jogar o lixo para baixo do tapete, eternizando a corrupção impune em São Paulo, como uma corrida de revezamento, onde Maluf passa o bstão para Quércia, que passa Alckmin, que passa para Serra, que devolve para Alckmin.

Ahhh... Não há vídeo de Geraldo Alckmin, porque não existe. Ele, tal qual um avestruz, prefere ficar com a cabeça enfiada em um buraco.

Já a velha imprensa demo-tucana...

Quando Orlando Silva dá entrevista coletiva, sem fugir de nenhuma pergunta, olho-no-olho, essa imprensa, sem saber mais o que dizer, e sem fatos para sustentar, diz que ele "ainda não provou sua inocência".

Quando Alckmin diz que "quem acusa tem provar" e não explica nada, aceitam bovinamente sem qualquer questionamento, e engavetam o assunto nas redações dos jornais, revistas, rádio e TV.

Mesmo que a denúncia que atinge o governo Alckmin tenha partido de um deputado estadual da base de apoio do próprio governador, e mesmo que já há casos comprovados de emendas pra lá suspeitas, com obras suspeitas de superfaturamento, com empreiteiras ligadas ao esquema espalhadas em várias cidades paulistas.
*osamigosdopresidentelula

Españistán, Este pais se va a la mierda

Bolsa-Família é caro? O “bolsa-rentista” é mais…

O jornal Valor Econômico traz hoje um levantamento do número de famílias que deixaram de receber, por elevação da renda, os benefícios do Bolsa-Família. São 2,227 milhões, o que equivale a cerca de 10 milhões de brasileiros que deixaram a pobreza extrema. E este número pode ser ainda muito maior se cosideramos de nos outros 3,6 milhões de benefícios cancelados, muitos deles têm a melhoria da situação como motivo pelo desinteresse em comprovar o cumprimento das condicionalidades em educação e saúde ou mesmo de participar dos recadastramentos.
Por mais que sejam importantes os cursos de qualificação oferecidos aos beneficiários, o cerne desse fenômeno é o crescimento da economia e, com ela, do emprego.
Dez milhões de pessoas saírem de um estado de semi-indigência já teria valido o investimento. Mas ele rendeu mais, embora continue sendo atacado de forma obtusa por quem procura encobrir sua insensibilidade debaixo de razões contábeis.
Ontem, o jornal O Globo deu manchete para um “escândalo”: os programas de transferência de renda somam o dobro dos recursos orçamentários previstos para investimentos públicos.Ou R$ 114 bilhões, contra R$ 44,6 bilhões.
A conta não se sustenta para quem não tem uma obtusa “cabeça de planilha”, como diz o jornalista Luís Nassif.
A primeira e fundamental diferença entre um e outro gastos é simples: as transferências de renda se convertem, imediatamente, em consumo e este em impostos. E consumo de pobre, já se mostrou aqui, paga muito imposto: mais de 40%, segundo o Ipea, para famílias de até dois salários mínimos de renda.
Portanto, mais de 40% destes recursos voltam  para os cofres públicos da União, Estados e Municípios quase que de imediato, ao contrário do que ocorre com os investimentos, que retornam em escala menor e mais lenta aos cofres públicos.
Mas o jornal não toca nem de leve no xis da questão quando se fala na falta de recursos para investimentos públicos.
Porque isso mexe com um “santo” do altar neoliberal: os juros.
O país vai pagar, este ano, R$ 240 bilhões em juros e serviço da dívida pública. Talvez um pouco menos, se o Copom, esta semana, baixar um pouco mais a taxa Selic, porque cada ponto percentual dela vale a bagatela de R$ 17 bilhões. Fora outros R$ 110 bilhões que os juros tiram das pessoas e empresas.
Em termos proporcionais, isso representa 36% do Orçamento, contra 17% dos programas de transferência de renda para os pobres e 7% de investimentos.
Mas essa rubrica, a mais pesada de todo o Orçamento é intocável, não é?
Aliás, no , o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas, Luiz Aubert Neto, usa uma frase perfeita para definir o que é a política de endividamento e juros altos que o Brasil segue – e é prisioneiro dela, em boa parte – desde o início do governo FHC:
- A política de juros altos dos últimos 17 anos representa a maior transferência de renda da história do capitalismo neste planeta.
Transferência de renda para os ricos, claro. Esta não escandaliza O Globo.
*Tijolaço