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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, novembro 10, 2011

Você já parou para pensar nesse bebê?



O bebê Minhaj Gedi Farah se tornou símbolo da fome que devasta a Somália, quando há três meses uma foto sua chocou o mundo. Com graves problemas de desnutrição, nem seus pais acreditavam que aquele esquelético Minhaj poderia sobreviver e se transformar numa criança que hoje, com 8 quilos, pode até ser chamada de gordinha.
O quase inevitável destino de Minhaj foi transformado graças a ajuda do grupo International Rescue Commitee. A fome já matou dezenas de milhares de pessoas na Somália, mas a ONU garante que, apesar das restrições do movimento de insurgência islâmica al-Shabbab, está aumentando o alcance de suas agências no país.
- Nem a mãe dele (de Minhaj) imaginava que ele poderia se recuperar. Cada membro da família está feliz - disse Sirat Amin, uma das enfermeiras que ajudaram a monitorar o tratamento de Minhaj. - Agora, ele pode sentar sozinho, está engatinhando.
Em julho, a ONU decretou fome em cinco zonas da Somália. Minhaj era um dos bebês internados em estado grave no campo de Dadaab, no Quênia, para onde muitos somalis fogem da crise humanitária e da violência. Com 7 meses, Minhaj pesava apenas 3.2 quilos, menos que muitos recém-nascidos. Três meses depois, a balança marca 8 quilos, peso normal para os bebês da sua idade.

BBC: o preconceito contra o turista de Classe C


Casal viajou de avião pela primeira vez, pagou a passagem em dez vezes e não tem medo de preconceito


Saiu na BBC:



Preconceito ronda jornada turística da nova classe média


Paulo Cabral


Enviado da BBC Brasil a Porto Seguro


O casal de aposentados Osmar e Maria Ferreira conseguiu realizar um sonho de longa data: pela primeira vez os dois viajaram em um avião a caminho de uma semana de descanso sob o sol de Porto Seguro, na Bahia.


As dez parcelas que eles ainda têm de pagar vão morder todo mês um bom pedaço da renda do pintor aposentado e dos lucros de Maria – que ainda trabalha em casa como manicure – mas eles têm a certeza que é dinheiro bem gasto.


“Comida não é a única coisa que precisamos para viver”, diz Ferreira enquanto relaxa a beira-mar. “Isso é que é viver! Olha que beleza!”


À medida que a nova classe média chega a mais lugares e tem acesso a novos serviços, surgem, no entanto, tensões com a classe média tradicional brasileira, que parece sentir seu espaço sendo tomado.


Ao longo dos anos, a mistura de história e praias tropicais fez de Porto Seguro um dos principais destinos turísticos do Brasil.


Com a economia crescendo e o crédito em expansão, a “nova classe média” – ou classe C – tem pela primeira vez a oportunidade de desfrutar das maravilhas naturais do Brasil, que há não muito tempo eram privilégio de turistas estrangeiros ou brasileiros de maior renda.


Números do Instituto Data Popular – uma empresa de pesquisa de mercado especializada na classe C – mostram que entre 2002 e 2010 a participação desse grupo na indústria do turismo saltou de 18% para 34%. Eles já representam quase a metade (48%) das pessoas que viajam nas companhias aéreas do país.


Para Maria Ferreira, “é triste que exista esse preconceito”.


“Espero que algum dia as pessoas comecem a compreender uns aos outros pelo que realmente somos. Eu conheço muitas pessoas ricas que não são felizes”, diz.


‘Resistência à igualdade’


Uma rápida travessia de balsa e a uma hora de carro ao sul de Porto Seguro fica a vila de Trancoso, bem mais exclusiva, graças à distância e aos preços mais altos. No entanto, mais gente está chegando e quem frequenta a região há mais tempo teme a invasão do turismo de massa.


“As pessoas que estão chegando agora a Trancoso têm que mostrar mais educação e mais respeito por este lugar. É um público muito diferente, que começou a vir aqui ao longo dos últimos anos”, reclama a bombeira reformada Norma Sandes, que há mais de uma década frequenta a região.


O antropólogo brasileiro Roberto DaMatta, professor emérito da Universidade de Notre Dame (EUA), diz que o crescimento evidenciou a “resistência à igualdade” dos brasileiros.


“Nossa fixação por títulos e hierarquia é parte do nossa herança portuguesa. As pessoas aqui querem ser vistas como diferentes, como superiores aos outros, e não gostam de se misturar”, diz ele.


Os turistas que vão para os grandes resorts em Porto Seguro costumam fazer apenas passeios de um dia em Trancoso – onde dormir e comer custa bem mais.


“Dá para ver que esse pessoal todo aqui hoje não é de classe A e B. Tem muita gente de classe C já vindo para cá,” diz a jornalista Ana Campolino. “Dá para ver pelas roupas, pelos hábitos, pelo lugares que frequentam.”


Desconforto


Uma pesquisa realizada pelo Data Popular dá algumas noção do desconforto sentido pelas classes mais elevadas, que agora tem que compartilhar alguns espaços.


De acordo os números, 48,4% dos entrevistados disseram que “a qualidade dos serviços piorou, agora que eles são mais acessíveis” e 49,7% disseram que preferem lugares “com pessoas de mesmo nível social.”


“Decidimos fazer essa pesquisa quando começamos a perceber as pessoas reclamando, por exemplo, sobre os aeroportos, que estão muito mais lotados agora. E nossas pesquisas têm mostrado que há uma resistência muito forte das classes superiores em aceitar os recém-chegados”, diz o presidente do Data Popular, Renato Meirelles.


Meirelles diz que a tensão só será resolvida quando o Brasil estiver preparado para oferecer esses serviços com qualidade para todos os seus cidadãos. “Os aeroportos, por exemplo, estão lotados para todo mundo. Se houvesse bastante espaço para todos as tensões, começariam a desaparecer.”


Preconceito


Já os turistas de classe mais alta e empresários do setor negam a existência de qualquer “tensão” entre a velha e a nova classe média. Um porta-voz do Sindicato da Hotelaria de Porto Seguro e Região, Paulo Cesar Magalhães, diz que “há espaço para todos”.


“Naturalmente os turistas vão para áreas que tenham a ver com seu perfil. Aqui no distrito-sede de Porto Seguro, onde há mais hotéis e restaurantes, há mais opções para as pessoas com um orçamento mais baixo. As praias mais distantes são as melhores opções para quem pode gastar mais dinheiro”, diz ele.


Magalhães diz que, do ponto de vista das empresas, Porto Seguro não tem nada a reclamar sobre os novos clientes. “Para muitas pessoas este é um momento mágico, a primeira oportunidade de viajar pelo Brasil e toda esse deslumbramento acaba traduzido em gastos na nossa cidade”, diz ele.


Se a economia do Brasil continuar a crescer a indústria do turismo deve seguir pelo mesmo caminho e com a nova classe média também viajando cada vez mais.


“Há preconceito, claro. Mas agora eu estou aqui e eles vão ter que me engolir”, diz Osmar Ferreira no meio de uma gargalhada.

*PHA

Neymar fica no Santos: Neto “errou” novamente

Neto, comentarista da BAND, afirmou que Neymar assinou contrato com o Real Madrid, em seu blog.
Sabemos todos que, mais uma vez, se equivocou.
A grande dúvida é saber que fatores estariam levando o ex-atleta a errar tanto nos últimos meses?
Irresponsabilidade, incompetência ou inconfessáveis motivações?
Tenho certeza que o leitor deste blog, inteligente, sabe bem qual é a resposta.
*Blog do Paulinho

O supra-sumo do (j)ornalismo (b)rasileiro

Folha reúne burguesas reacionárias para planejar estratégias para o golpe
Da construção de creches à invasão da reitoria da USP. Foi ampla a pauta do encontro do Grupo de Ação em Cidadania, composto por socialites de São Paulo, ontem à tarde, no bairro dos Jardins.
Marcado por e-mail como uma "reunião política", o encontro foi promovido para discutir o combate à corrupção.
Antes mesmo de todas as convidadas chegarem ao local, algumas lideranças femininas da elite paulista já debatiam com entusiasmo a desocupação da reitoria da USP, ocorrida no início da manhã de terça.
Foi lindo ver estampada em botox e peeling a ideologia das damas que marcharam com Deus pela liberdade na juventude e hoje, com outros modos - mas as mesmas intenções -, seguem coerentemente seu caminho em defesa da ditadura.
E o encerramento do vídeo, com a "não-elite" limpando o chão foi por demais eloquente! Uma edição digna de um Coppola!
O ex-governador Cláudio Lembo fala sobre essa raça maldita em 18 de maio de 2006, logo após os ataques do PCC:
"A burguesia é cínica e perversa", diz Lembo
Sobre a elite brasileira
"O Brasil é um país que só conheceu derrotas. Derrotas sociais... Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa"
"Em suas lindas casas dizem que vão sair às ruas fazendo protesto. Vão fazer protesto nada! Vão é para o melhor restaurante cinco estrelas com outras figuras da política nacional fazer o bom jantar".
"Nossa burguesia devia é ficar quietinha e pensar muito no que ela fez para esse País".
Esse país tem que deixar de ser cínico. Vou falar a verdade, doa a a quem doer, destrua a quem destruir, por que acho que só a verdade vai construir este País".
Sobre a reação da elite paulistana
"O que eu vi em entrevistas da Folha de S. Paulo foram dondocas dizendo coisinhas lindas. Todos são bonzinhos publicamente. E depois exploram a sociedade, seus serviçais, exploram todos os serviços públicos. Querem estar sempre nos palácios dos governos porque querem ter benesses do governo".
Assista ainda a um outro depoimento brilhante:
 
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0nvj_SgvLpMO2tJQUCpHmruVeIdvnUOS5N2-JfTQMjY18_-5qhvhlQZpQ1_s5ZHQgtl3oEhMmC24Rtxkr8vAnKIrzoZwpmcKOzsrZrVCMo9ZBwUjTz8B9U5eBSuX1EsC3iuBufnRg5Rdl/s1600/charge+angeli+29072007.gif*comtextolivre

Charge do Dia

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJrI34lwfieIT2RcO9HFlfMnn1AYGPFQ9aAiejMm9ZtShmz5dSMycPUvvkG9RqU_0YsjyD0xXJjMM3moBWsk8F5qKjLXdkI6vytwvcD2n8mgwT_oq7sGOJOeB1_6p1-GXBIBJXya7x5it1/s1600/ALCKMIN+E+A+USP.jpg

"Vou fumar maconha hoje". Será que vão prender Snoop Dog?

Famoso rapper americano faz show hoje no Rio; ele provoca e alimenta debate sobre uso da maconha no Brasil; antes da invasão da USP, três estudantes foram detidos por um baseado; não está na hora de repensar a legislação?
A provocação do rapper Snoop Dog, que se apresenta nesta noite no Rio de Janeiro, vem em boa hora para incendiar a discussão que os estudantes da USP tentaram levar a cabo. Ainda que não tenham optado pela saída mais razoável (“uh! uh! vamo invadir!”), os universitários se propunham a debater a legalização da maconha. Afinal, a confusão da USP começou depois que três alunos fumando baseado foram detidos pela Policia Militar. Agora, o que se pergunta é: os policias vão invadir o palco do Vivo Rio e levar Snoop Dog algemado?
“Ninguém me pediu isso (para não fumar maconha). Vou fumar. Muito!”, prometeu o cantor norte-americano. A pedra que Snoop Dog cantou hoje já está rolando na sociedade brasileira há muito tempo. Nas universidades, discute-se como a descriminalização da erva afetaria o tráfico de drogas. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende a revisão da legislação brasileira e se empenha hoje na formulação de uma política global sobre drogas. O debate sobre a cannabis sativa, no entanto, continua um tabu.
Os manifestantes da USP foram tachados de “maconheiros mimados”. De fato, foram invasores da Reitoria. E depredaram patrimônio público. [Ou foi a PM quando invadiu?] Mais de 70 foram presos. Diante da opinião pública, essas ações certamente desqualificam o sujeito. O argumento deles – pró-liberdade – acaba soando como um objetivo egoísta. É a galera que puxa o beque!
Mas não, não é só a galera que puxa o beque que quer refletir sobre o uso de drogas no Brasil. Artistas, intelectuais, jovens, idosos, políticos, a la esquerda, a la direita, trazem essa discussão na agenda. A maconha deve ou não ser legalizada? Com a descriminalização, o tráfico não sai perdendo? Por que fumar maconha ainda é considerado mais grave que fumar o cigarro legal – que mata uma pessoa a cada seis minutos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde?
Essas são perguntas que precisam ser feitas, pensadas e debatidas. Por estudantes, policiais e toda a sociedade. Pense a respeito e dê sua opinião nos Comentários. Depois, é claro, de assistir ao “maconheiro mimado” da noite: Snoop Dog!
*Amoralnato
 

FHC defende "recato" no uso de maconha na USP, mas critica repressão

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) lamentou, na noite desta quarta-feira (09), a detenção de 72 estudantes que ocupavam a reitoria da USP, numa operação da Polícia Militar.
- O episódio na USP foi lamentável do começo ao fim. Uma coisa é defender a regulação do uso de drogas, mas pior ainda foi usar isso como pretexto para invadir a reitoria. A reitoria então tem razão - disse FHC, na sessão de autógrafos do DVD do documentário "Quebrando o Tabu", na livraria Saraiva, do shopping Higienópolis.
Questionado se a polícia deveria ter detido os três estudantes usuários de maconha, o ex-presidente defendeu o "recato":
- Depende, porque a lei especifica quantidades diferentes... Mas eu acho que tem que ter um certo recato. O fato de você estar ali abertamente é uma provocação, não vejo razão para isso.
Entretanto, durante o debate com os presentes ao lançamento do DVD de "Quebrando o Tabu", do diretor Fernando Grostein de Andrade, FHC criticou, de forma genérica, a ação repressiva:
- A repressão não funciona, só piora o problema.
Citou o exemplo do México e concluiu, no final:
- Se você puser na cadeia, vai aumentar o consumo. Não é a cadeia que vai resolver.
Dayanne Sousa
*Terra
 

“Epidemia grave de iranofobia nuclear”

Pepe Escobar
No auge de um frenesi de “vazamentos” na imprensa-empresa ocidental que chegou – literalmente – à histeria nuclear, os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica [ing. International Atomic Energy Agency (IAEA)] afinal divulgaram relatório no qual, essencialmente, dizem que Teerã, ainda no final do ano passado, tentava projetar uma bomba atômica que se adaptasse a uma ogiva de míssil.
Segundo o relatório, o Irã trabalhou “no desenvolvimento de projeto próprio de uma arma nuclear incluindo teste de componentes”.
Além da acusação de ter-se esforçado para redesenhar e miniaturizar uma arma nuclear paquistanesa, Teerã também é acusada de tentar montar operação clandestina para enriquecer urânio – o “projeto sal verde” [ing. green salt project] – que poderia ser usado “em programa clandestino de enriquecimento”.
Tudo isso levou a IAEA a expressar “sérias preocupações” sobre pesquisa e desenvolvimento “específicos para armas nucleares”.
O relatório vende a ideia de que, enquanto a IAEA tentava, ao longo de anos, monitorar os estoques iranianos declarados de minério de urânio e de urânio processado – hoje, 73,7 kg de urânio enriquecido a 20% em Natanz, mais 4.922 kg de urânio enriquecido a menos de 5% – Teerã, em segredo, tentava construir uma bomba atômica.
Inteligência fraca
A IAEA repete insistentes vezes que se baseia em inteligência “confiável” – mais de mil páginas de documentação – de mais de dez países, e que se ampara em oito anos de “provas”.
Mas a IAEA não tem meios independentes para confirmar a enorme massa de informação – e desinformação – que recebe mensalmente, a maior parte, das potências ocidentais. Mohammad El Baradei – que antecedeu o japonês Yukya Amano na presidência da Agência Internacional de Energia Atômica – disse isso várias vezes, claramente. E sempre contestou o que o que aparecia como “inteligência iraniana” – porque sempre soube que era informação extremamente “politizada”, atravessada por ondas de boatos e especulação.
Nenhuma surpresa, portanto, que o jornal iraniano Kayhan, ultraconservador, tenha perguntado se se trataria mesmo de relatório da IAEA, ou não passava de diktat ordenado pelos norte-americanos a um Amano fraco, facilmente pressionado.
O relatório nada traz que pudesse, nem de longe, abalar o mundo – só imagens de satélites e especulação de “diplomatas”, apresentadas ao mundo como se fossem “inteligência” irrefutável. Se parece etapa da construção da guerra contra o Iraque, é porque é isso, exatamente. Não passa de regurgitação de farsa já velha, de quatro anos passados, conhecida então como “o laptop da morte”. [1]
Cenário mais próximo da realidade – ainda que se acredite que haja um programa nuclear secreto no Irã, o que nunca foi provado – sugere fortemente que seria contraproducente, para Teerã, construir bomba atômica ou ogiva nuclear.
E, seja como for, o Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos [ing. Islamic Revolutionary Guards Corps (IRGC)] – que comanda todos os programas militares de alto nível – continua a ter a opção de construir, rápidos como raio, uma ogiva nuclear, a ser usada como arma de contenção no caso de terem absoluta certeza de que os EUA invadirão o Irã, ou lançarão alguma modalidade expandida da “Operação Choque e Pavor”. O indiscutível verdadeiro efeito de o Irã vir eventualmente a ter sua bomba atômica será acabar, de uma vez por todas, com a eterna ameaça de o país ser alvo de ataque americano. Quem tenha dúvidas sobre essa questão consulte, por favor, o dossiê Coreia do Norte.
O regime de Teerã pode ser impiedoso, mas eles não são amadores; construir uma bomba nuclear – secretamente ou à vista da IAEA – e mandar tudo pelos ares não os levará a lugar algum. Em termos geopolíticos, o regime – que já está às voltas com complexa e terrível disputa interna entre o Supremo Líder Ali Khamenei e o grupo do presidente Mahmud Ahmadinejad – ficaria completamente isolado.
A população iraniana já vive preocupada demais com inflação, desemprego, corrupção e o desejo de participar mais na vida política do país, para ser jogada no centro de uma disputa nuclear global. Há amplo consenso no Irã a favor do programa nuclear civil. Mas nada sugere que sequer alguma minoria aprovaria uma “bomba islâmica”.
Israel está blefando
O que arrepia os nervos não só de Israel, mas também dos poderosos interesses norte-americanos que, 32 anos depois, ainda não se conformaram com o fim do seu sentinela preferido na região (o Xá do Irã), é que o Irã os mantém em eterno suspense.
Muito previsivelmente, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Israel continuará a latir latidos ensurdecedores, ao mesmo tempo em que tenta todos os disfarces possíveis para trair os norte-americanos para sua armadilha.
O mesmo Netanyahu que nem Barack Obama nem Nicolas Sarkozy aguentam mais, é homem de estratégia obsessiva: obrigar Washington e alguns outros poucos, dos britânicos à Casa de Saud – o que nada tem a ver com alguma “comunidade internacional” – a aplicar pressão máxima contra Teerã. Ou Israel atacará.
É perfeito absurdo, porque Israel não pode atacar nem cachorrinho de madame. Todo o armamento crucial para Israel é norte-americano. E depende de autorização para cruzar o espaço aéreo iraquiano ou saudita. Nada faz sem luz verde de Washington, de A a Z. Pode-se acusar o governo Obama de várias coisas, não de terem tendências ao suicídio.
Só aquelas não-entidades no Congresso dos EUA – desprezadas pela ampla maioria dos norte-americanos, segundo todas as pesquisas – poderiam ainda acreditar nas marciais ordens de marcha avante que recebem de Netanyahu, via o poderoso lobby do AIPAC (American Israel Public Affairs Committee).
Resta afinal, só, então, o caminho de mais e mais sanções. Quatro rodadas de duras sanções do Conselho de Segurança da ONU já atingem as importações e os setores bancário e financeiro do Irã. Mas é só. Fim da linha.
O relatório da IAEA não convenceu a Rússia, como os russos já disseram claramente; tampouco impressionou a China. A IAEA, simplesmente, não encontrou prova alguma que realmente a autorizasse a acusar o Irã de manter programa ativo para construir bombas atômicas.
Assim sendo, esqueçam a possibilidade de Rússia e China aceitarem mais uma rodada de sanções que os EUA imponham na ONU, e que poderia ser, essa sim, literalmente, nuclear: boicote de facto, que paralise as vendas de gás e petróleo do Irã.
Só alguma trupe de palhaços assumiria que a China votaria contra os interesses de sua própria segurança nacional no Conselho de Segurança da ONU. O Irã é o terceiro maior fornecedor de petróleo para a China, depois de Arábia Saudita e Angola. A China importa cerca de 650 mil barris de petróleo por dia, do Irã – 50% a mais, em comparação ao ano passado. É mais de 25% do total das exportações de petróleo do Irã.
O próprio governo Obama já teve de admitir publicamente que um boicote é inimaginável: tiraria da economia global já deprimida nada menos que 2,4 milhões de barris de petróleo por dia. O barril chegaria a $300, $400.
Teerã tem – e continuará a encontrá-los – meios para contornar as sanções financeiras. A Índia pagou o que tinha a pagar ao Irã, nos negócios de importação, através de um banco turco. E Teerã também já está usando um banco russo.
O que também prova que o mantra de Israel, segundo o qual a “comunidade internacional” teria isolado o Irã não passa de monumental blefe. Atores chaves, como os BRICS - Rússia, China e Índia - mantêm relações comerciais muito próximas com o Irã.
E, sobretudo: em pleno surto de histeria iranofóbica, a Organização de Cooperação de Xangai [ing. Shanghai Cooperation Organization (SCO)] – China, Rússia e os quatro “-...stões” da Ásia Central – iniciou sua reunião de cúpula em São Petersburgo. O Irã lá está – como observador – representado pelo ministro de Relações Exteriores Ali Akbar Salehi. Mais dia, menos dia, o Irã será admitido como membro pleno.
Se, ainda antes de o Irã tornar-se membro da Organização de Cooperação de Xangai, China e Rússia já veem qualquer ataque contra o Irã como ataque contra esses próprios países (além de ataque, também, contra a ideia da integração de toda a energia da Ásia), será realmente muito interessante observar o que Israel fará, tentando convencer os EUA a atacarem... a Ásia! 
*comtextolivre

Occupy Wall Street inicia marcha em direção à Casa Branca

Via Ópera Mundi
Manifestantes vão caminhar 30 quilômetros por dia para chegar até a capital Washington em duas semanas
Os manifestantes de Wall Street vão iniciar nesta quinta-feira (10/11) uma marcha que sairá de Nova York em direção a Washington, com o objetivo de levar suas mensagens de protestos às comunidades rurais, ao Congresso dos Estados Unidos e à Casa Branca.
A passeata, batizada de Occupy The Highway (Ocupe a Estrada), partiu da praça Zuccotti, no sul de Manhattan, onde os manifestantes do Occupy Wall Street estão reunidos desde o dia 17 de setembro. Os organizadores dos protestos esperam andar trinta quilômetros por dia para chegar à capital americana em duas semanas.
Durante o trajeto, os manifestantes passarão por cidades de Nova Jersey, Pensilvânia, Delaware e Maryland, e aproveitarão para se reunir com o movimento da Filadélfia e Baltimore. No fim, irão se reunir em frente à Casa Branca no dia 23 de novembro, quando será realizada a reunião do super comitê bipartidário do Congresso,
Nessa data, os organizadores convocarão os americanos a fazer uma passeata pelas ruas de Washington. De acordo com os integrantes do movimento, um dos objetivos é acabar com as isenções fiscais aprovadas pelo governo de George W. Bush e que beneficiam as camadas mais ricas da população.
O super comitê foi criado em agosto para discutir a dívida pública americana e elaborar um plano para a redução do déficit em pelo menos US$ 1,2 trilhão.
"Queremos estar em Washington nesse dia, para lutar pelos 99% que está lutando contra o 1% que segue enriquecendo", afirmaram os manifestantes num comunicado. Os protestos serão realizados na capital das 9h às 17h, no horário em que os bancos estiverem abertos.

Ocupar prédios é preciso. Porque gente vale mais que barata

do Sakamoto

Mais de 3,5 mil pessoas ligadas a movimentos por moradia ocuparam, na madrugada de segunda, dez prédios abandonados na capital paulista. A ação foi coordenada por 14 movimentos por moradia, entre eles o Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC), a Unificação das Lutas dos Cortiços (ULC) e o Movimento de Moradia do Centro (MMC). Eles também denunciam acordos não cumpridos com o poder público.
Entre as demandas comuns a todas as 14 entidades envolvidas na ocupação, estão uma solução para os que foram vítimas da desapropriação dos Edifícios São Vito e Mercúrio, a garantia de 5 mil unidades habitacionais para o atendimento no Programa de Locação Social e de 5 mil atendimentos no Programa Bolsa Aluguel para situações emergênciais e o atendimento da demanda dos movimentos de moradia que atuam no Centro dos 53 prédios que a Prefeitura afirma estar desapropriando.
O déficit qualitativo e quantitativo de habitação poderia ser drasticamente reduzido se esses imóveis trancados por portas de tijolos pudessem ser desapropriados e destinados gratuitamente para quem precisa. Mas, ao invés disso, o governo federal investe em programas que facilitam o financiamento de novos empreendimentos, como o “Minha Casa, Minha Dívida”, quando poderiam estar entregando às famílias de baixíssima renda apartamentos existentes que hoje só servem para criar ratos e baratas.
Enquanto isso, Estado e município não têm coragem de enfrentar os grandes latifundiários urbanos. Há prédios que devem milhões de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e poderiam ser alvo do Decreto de Interesse Social, uma vez que permanecem vagos por anos. Mas em uma sociedade cuja pedra fundamental são a intocabilidade da propriedade privada e a possibilidade de lucro e não o respeito à vida isso fica difícil.
Por isso, o apoio às ocupações que começaram nesta segunda em São Paulo é a diferença entre a civilidade (e a consciência de que o respeito à dignidade humana e não a antropofagia é que deveria nos unir) e a barbárie (de pessoas morando em palafitas sobre córregos de merda, enquanto outras vivem em triplex com mais de mil metros quadrados).
Já disse isso aqui antes: a área central de São Paulo é alvo prioritário dos movimentos por moradia por uma razão bem simples: porque já tem tudo, transporte, cultura, lazer, proximidade com o trabalho. Ao longo do tempo, fomos expulsando os mais pobres para regiões cada vez mais periféricas. Eles, que possuem menos recursos financeiros, gastam mais tempo e mais de sua renda com transporte do que os mais ricos que ficaram nas áreas centrais (com exceção dos condomínios-bolha espalhados no entorno, com suas dinâmicas de segregacionismo próprias).
Cortiços em regiões retratadas no passado por Alcântara Machado no livro “Brás, Bexiga e Barra Funda” e também nos antes requintados Campos Elísios abrigam dezenas de famílias. Sem o mínimo de saneamento básico, às vezes sem água e sem luz. A maioria dos moradores desses locais prefere continuar assim, pois transporte é o que não falta e a casa fica próxima ao trabalho – ao contrário do que acontece em bairros da periferia, onde o trajeto até o centro chega a levar três horas, dentro de ônibus superlotados.
Cresci no Campo Limpo, bairro periférico de São Paulo. Fiz o ensino médio técnico no Pari, perto da Rodoviária Tietê, do outro lado da capital. Mais de duas horas para cruzar a cidade de transporte público. Depois da faculdade, sem carro, mantive uma rotina longa até me mudar para o principado paulistano do Sumaré. Contudo, mesmo os trajetos intermináveis eram fichinha para quem foi lançado às rebarbas da cidade, como o Jardim Pantanal ou o Grajaú – de onde saem boa parte daquela “gente diferenciada” que vive para servir.
A carta dos movimentos por moradia endereçada ontem ao governador Geraldo Alckmin e ao prefeito Gilberto Kassab desabafa: “Realizamos os principais serviços para o bom funcionamento desta cidade, entretanto nossas famílias estão espremidas por um conjunto de necessidades. Lutamos e trabalhamos muito para sobreviver, mas a cidade regida pelas leis do mercado, especialmente imobiliário, impede que nossa renda assegure nossos direitos. Sabemos que a situação de nossas famílias decorre da injustiça histórica. Sabemos também, que nas circunstâncias atuais, nosso sofrimento não tem razão de continuar.Por isso, nos organizamos e ocupamos esses imóveis abandonados, sem função social respaldados por nossas Leis, que assegure nosso direito à moradia e por meio de nosso direito de agir”.
José – o nome é fictício, pois o morador não quis se identificar – morava com a mulher, filhos, cunhado e primos em um velho casarão, semidestruído, então propriedade da Universidade de São Paulo, na Rua Havaí, localizada no caro bairro de Perdizes. O local não possuía a mínima segurança, uma vez que as tábuas caíam ao se caminhar pela casa. Mesmo assim, José não arredava pé de lá. “Se sair não tenho para onde ir.” Passaram-se os meses e a universidade mandou demolir a casa. Para onde foram José e o populacho que lá vivia? Ninguém nunca soube dizer. Provavelmente engrossam a densidade demográfica de outro cortiço. Ou passaram frio em algum lugar precário. Que logo seria igualmente derrubado.
A recuperação da área central de São Paulo não se restringe a uma valorização estética das ruas, edifícios e bens culturais. Inclui também o repovoamento do local, trazendo vida à região, com incentivos para o estabelecimento das classes média e baixa. O que tem sido feito até agora é o contrário: expulsa-se o povão e ergue-se monumentos à música e às artes.
Sabe o artigo 6o da Constituição Federal que garante o direito à moradia? Então, é mentira. Do mesmo tamanho daquela anedota contada no artigo 7o que diz que o salário mínimo deve ser suficiente para possibilitar “moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social”.
Função social da propriedade? Por aqui, isso significa garantir que a divisão de classes sociais permaneça acentuada como é hoje. Cada um no seu lugar. Afinal de contas, viver em São Paulo é lindo – se você pagar bem por isso.