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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, dezembro 04, 2011

“Gozar virou uma obrigação que não tem nada a ver com prazer”, afirma historiadora


"O brasileiro continua profundamente racista, machista e homofóbico"

Rachel Duarte no SUL21

Sexo. Quais heranças do passado ainda estão presentes na sociedade quando o assunto é sexualidade e erotismo? A historiadora paulista Mary Del Priore, especialista em História do Brasil, conta como foi o rápido processo de transformação do comportamento da sociedade brasileira desde os tempos da censura até os dias de hoje. Autora do livro Histórias Íntimas: Sexualidade e Erotismo na História do Brasil (2010), Mary Del Priore descreve como, desde o século XVII, o sexo é considerado algo sujo, principalmente por influência católica. Apesar de evoluírem para relações mais livres, homens e mulheres ainda sofrem para compreender as mudanças e sua própria sexualidade.
De acordo com a historiadora, ainda que as pessoas digam que convivem melhor hoje com a homossexualidade, boa parte da sociedade vive uma dupla personalidade. “Na vida pública o brasileiro é descolado, gosta de piada suja, paquera a mulher do próximo e topa todas. Mas, na sua vida privada e intimidade, ele continua profundamente racista, machista e homofóbico”, afirma.
Outro aspecto que Mary Del Priore analisa na entrevista ao Sul21 é que as conquistas das mulheres ao longo da história foram positivas sob muitos aspectos, mas que o Brasil ainda careceria de políticas públicas para o gênero feminino. “Temos muitas mulheres nos governos, mas ainda precisamos de ações concretas visando a garantia de direitos”, critica. Ela cobra das próprias mulheres a mudança de postura diante da liberdade sexual para o enfrentamento do que chama de “cachorrice”, um comportamento massificado de mulheres que agem de forma a contribuir com a manutenção de esteriótipos machistas. “É um anacronismo a gente achar que as mulheres de antigamente — por não gozarem tanto quanto as de hoje — eram frustradas”, afirma.

Sul21 – A senhora lançou um livro sobre sexualidade e erotismo na História do Brasil. O quanto a sociedade se modificou e o quanto ainda estão presentes as heranças dos séculos passados?

Mary Del Priore - Sexualidade e erotismo sempre foram assuntos tratados na literatura mundial. Na Ásia, com as poesias eróticas; na Europa, principalmente na Itália e na França, houve grande produção de textos e contos eróticos nos séculos XVII e XVIII. Mas, aqui no Brasil, esta literatura só vai aparecer no final do século XIX. São textos curiosos porque os termos da linguagem chula e os palavrões eram alterados em razão da censura que sempre houve em relação ao assunto, então surgiam coisas engraçadas como ‘apêndice varonil’ ou ‘cetro’. Nada era dito de forma explícita. Sempre tivemos um mal estar para tratar das questões do sexo e do erotismo no Brasil. Estudos sobre a história da sexualidade brasileira são raros. Apareceram, por exemplo, implicitamente em outros trabalhos de autores como Ronaldo Vainfas e do antropólogo baiano Luis Moti. Poucos estudos foram sistemáticos.
"O sexo no Brasil, em razão da presença da Igreja Católica, de outras igrejas e de uma sociedade patriarcal, sempre foi sinônimo de sujeira, de pecado ou de alguma coisa que tinha que ser escondida debaixo do tapete"

Sul21 – Qual é a influência da miscigenação na sexualidade brasileira em termos de formação de padrões estéticos, corporais e sexuais?

Mary Del Priore – É uma história de muita repressão e ao mesmo tempo de muito espaço. O sexo no Brasil, em razão da presença da Igreja Católica, de outras igrejas e de uma sociedade patriarcal, sempre foi sinônimo de sujeira, de pecado ou de alguma coisa que tinha que ser escondida debaixo do tapete. Só podemos pensar em liberação nos anos 70, quando houve um movimento mundial não só de afirmação das minorias (mulheres, gays), mas também movimentos de liberação de costumes amplificados pela pílula anticoncepcional. Foi a época do maio de 68 na França, do movimento hippie nas universidades americanas, da batida pesada do rock com letras que falavam de sexo como “(I Can´t Get No) Satisfaction”, dos Rolling Stones. Então, na época, toda esta discussão mundial começou a chegar à praia brasileiras, contaminando a juventude universitária que se unia no movimento de militância contrária ao governo militar. A liberação sexual se integrou a isso. Então, eu digo que os anos 70 e 80 é quando todos os tabus começaram a ser colocados em xeque por nossa sociedade. Discussões sobre o orgasmo, discussões sobre casais mais igualitários, divórcio. É lógico que a sociedade machista respondeu rapidamente. Tal período de libertação foi quando ocorreram os crimes mais violentos contra as mulheres brasileiras. Isto deu origem ao primeiro movimento feminista intitulado “Quem ama não mata”. Mulheres foram mortas por usarem biquini, por fumar, por assistirem ao seriado Malu Mulher. Tudo era motivo para os homens mostrarem seu machismo frente às mudanças em curso.

Sul21 – No século 21, é possível dizer que sexo ainda é tabu?

Mary Del Priore – As regiões são diferentes. Rio Branco, no Acre, é diferente de Porto Alegre. A periferia do Amapá também não tem nada a ver com a periferia do Rio de Janeiro. O que eu acho interessante e procuro explorar no meu livro é a permanência de determinadas características que são muito antiquadas no que se refere ao sexo. Na vida pública, o brasileiro é descolado, gosta de piada suja, paquera a mulher do próximo e topa todas. Mas, na sua vida privada e intimidade, ele continua profundamente racista, machista e homofóbico. Eu acho lamentável, para um país que é a oitava economia do mundo, o fato de possuir uma cidadania tão partida. As pessoas não podem mais continuar vivendo com estas duas caras. Uma discussão precisará se impor. A legislação que protege as mulheres e garante o casamento homoafetivo ajuda a consolidar certas posições que foram duramente conquistadas. Mas precisamos avançar para uma tolerância maior das diferenças e uma aceitação das sexualidades diferentes.
Gozar virou uma obrigação que não tem nada a ver com ter prazer. Tudo isso é reflexo das mudanças muito rápidas e deveria fazer a sociedade brasileira refletir para onde está indo.
"Nas grandes cidades, a religião foi substituída por produtos religiosos"

Sul21 – Qual o limite entre a liberdade e a libertinagem?

Mary Del Priore - Aí é que está. O Brasil sempre foi um país pobre. Até a metade do século XIX, a maior parte das pessoas tinha relações sexuais em esteiras, no chão duro ou em redes. As pessoas não tinham dinheiro para comprar uma cama. O quarto do casal é uma coisa inventada e construída pela privacidade na metade do século XIX, assim como a chegada dos produtos de higiene que permitiram as relações com mais liberdade. Este processo de construção da privacidade foi completamente detonado com a chegada da era tecnológica. Hoje, com a aparelhagem eletrônica, computadores, câmeras, a internet, qualquer pessoa, mesmo na sua “privacidade”, pode se dar a ver. Qualquer moça pode mostrar sua nudez, se prostituir via internet. Temos o aumento da pedofilia e prostituição na internet. O mundo da telinha, seja ela do computador ou do celular, abriu uma possibilidade enorme para a pessoa ficar mostrando aquilo que elas têm de mais privado. É muito questionável a passagem desta liberdade para a chamada libertinagem. Eu diria que o que falta é a consciência das pessoas sobre seu próprio corpo e sua própria sexualidade. As transformações ocorreram de forma muito rápida. As mulheres foram drenadas para dentro do mercado de trabalho, associando trabalho com liberdade financeira, pílula, prazer. Foram bombardeadas por uma série de imagens em revistas e na televisão. Criou-se a ideia de que elas tem que gozar. Gozar virou uma obrigação que não tem nada a ver com ter prazer. Tudo isso é reflexo das mudanças muito rápidas e deveria fazer a sociedade brasileira refletir para onde está indo. Falta um momento de pausa para reflexão.

Sul21 – Como alcançar isto diante da complexidade que ainda é enfrentar o tema da sexualidade no Brasil? Qual é o papel do estado neste processo?

Mary Del Priore – Apesar de termos mulheres no poder, falta avançar nas políticas de valorização do gênero feminino. Faltam políticas de amparo da gravidez na adolescência, para crianças abandonadas, para mulheres que trabalham. Temos muitas mulheres na política e poucas políticas de gênero. Um exemplo grosseiro do que eu estou dizendo, é a iniciativa da ministra que tentou impedir a propaganda com a Gisele Bündchen. Ela é uma belíssima modelo, não tenho nada contra ela. Mas, uma propaganda destas na França, em que movimentos de mulheres são muito bem organizados, jamais iria ao ar. Eu acho que a ministra tinha toda a razão de retirar do ar este anúncio na medida em que ele “coisifica” a mulher brasileira e reitera que através do sexo se consegue tudo. Esta associação permanente da mulher como desfrute e com disponibilidade sexual tem que ser combatida.

Sul21 – A mudança comportamental da sociedade contemporânea sofre a influência da mídia, como a senhora mesmo salienta. O quanto mudou desde as chanchadas e contribuições de nomes como Nelson Rodrigues — os quais falavam de erotismo indiretamente, sem serem explícitos como as produções atuais — até os filmes pornográficos, hoje amplamente acessíveis?

Mary Del Priore – Os teóricos procuram matizar tudo isso.  Há quem defenda que a pornografia não é pornográfica. Há também quem defenda que a mídia não dita, ela apenas representa os anseios da sociedade, mas na verdade nós estamos num país de analfabetos, de pessoas muito pouco educadas. Não sou eu que digo isto. Há pesquisas internacionais que apontam o atraso do país em termos educacionais, isto não é novidade nenhuma. E é óbvio que com um baixo nível de escolaridade, o impacto da imagem é muito maior aqui do que em países em que a educação permite o discernimento sobre o que está sendo visto. A imagem acaba modelando comportamentos. Onde há educação, as pessoas se aproximam das informações de forma crítica. O que observamos, por exemplo, é que frente a esta “Cachorrice” — que é o movimento das meninas que frequentam os bailes funks e transam com todos e engravidam sem medir as conseqüências — , há o movimento das “Princesas”, originário das igrejas protestantes, que são moças querem casar virgem e valorizam a castidade. Haverá o momento em que iremos ver mulheres se organizando para  serem identificadas como algo além do que um pedaço de carne.

Sul21 – Qual o peso da igreja na sexualidade dos brasileiros?

Mary Del Priore – De novo temos que considerar as características das diferentes regiões. Nas áreas rurais, por exemplo, as religiões ainda ditam as normas, a igreja organiza a sociedade. As comunidades rurais tendem a ser controladas de forma mais próxima. É difícil que um adultério não seja logo conhecido ou que um gay não seja logo reconhecido e venha ter problemas. Tudo que “foge a regra” é mais fácil de perceber. Nas grandes cidades não. Nelas a religião assume outras formas. A religião institucional foi substituída por produtos religiosos. Shows, cultos, padre que canta e lança CD. Chamo isto de o “difuso religioso” que tomou conta das grandes capitais.
A autoestima masculina está tão baixa que eles passaram a usar o artifício da dor de cabeça para não ter relações sexuais.
Sul21 – Mas o modo como a igreja vê o matrimônio ainda castra e condiciona?
A capa do livro de Mary del Priore

Mary Del Priore – No meu livro, eu discorro sobre como o casamento é concebido pela Igreja Católica nos séculos XII e XIII. Ele acaba sendo uma espécie de não-lugar do erotismo. É apenas o lugar de encontro para a procriação. O mais importante era a família ter filhos. O sexo de lazer e diversão ficava para os homens no bordel. Eu lembro que é um anacronismo a gente achar que as mulheres da época, por não gozarem tanto quanto as de hoje, eram frustradas. Muito pelo contrário, as mulheres tinham outros projetos. A agenda delas era outra. Elas ficavam muito satisfeitas em criarem seus filhos, em serem mães de família, em terem poder de mando dentro de suas casas. O projeto feminino, até os anos 50, foi muito diferente do que o nosso hoje. Hoje é ter carreira, ascensão, é ganhar dinheiro. Nós estamos num percurso muito diferente. Então, enquanto o casamento era o lugar para a procriação, a igreja tinha enorme influência, sobretudo conduzindo os casais na forma estes deveriam se relacionar sexualmente. O sexo deveria ser breve, objetivo. Uma vez que a mulher engravidasse eram suspensas as relações sexuais. Durante a amamentação também não se podia ter relações sexuais. A partir do século XIX, a medicina também passa a exercer um papel importante na sexualidade, tentando associar a família feliz à família saudável. A família saudável era aquela que tinha filhos saudáveis, bem constituídos. Por isso, também se recomendava aos casais que não perdessem tanto tempo rolando na cama durante as relações, porque isso enfraqueceria os corpos. Já o século XX é o da descoberta do corpo, do esporte, da modificação da indumentária, da entrada da mulher no mercado de trabalho, do aparecimento da lingerie. Claro que estas questões impactam no casamento. Discussões de relações mais igualitárias começam a se fazer presentes. À medida que a mulher foi ganhando dinheiro, passou a controlar a sua procriação e foi em busca do prazer. Este se tornou um tema novo para os casais. Hoje as coisas estão bastante diversificadas também. Os homens também alegam estar com dor de cabeça, o que antes eram coisas das mulheres. Os homens estão sentindo o impacto destas transformações. A autoestima masculina está tão baixa que eles passaram a usar o artifício da dor de cabeça para não ter relações sexuais.
(risos)

Sul21 – O comportamento na era pós-moderna ou contemporânea caminha para termos uma futura sociedade poligâmica e bissexual?

Mary Del Priore – Não. No Brasil ainda se casa muito. O casamento ainda é uma instituição importante. O número de divórcios aumentou, mas ainda há a preocupação em constituir famílias, em se unir no matrimônio. A família ainda é uma instituição muito valorizada.  As relações parentais mudaram muito. As mulheres, por estarem no mercado de trabalho, passaram a ter filhos cada vez mais tarde. Então, quando eles vêm, são extremamente valorizados. O número de filhos caiu brutalmente para uma média de dois por família, não de seis como na década de 60. Tudo isso leva a uma valorização da vida do casal monoparental. Portanto, as coisas mudaram. O que é interessante, segundo a pesquisa do IBGE, é que homens e mulheres são realmente sexos opostos, no sentido de que eles definições muito diversas a respeito do casamento. Para o homem brasileiro, o casamento é o momento de constituir família. Portanto, brigas ou infidelidades não causam tantos arranhões. Para as mulheres é uma questão de amor e sobretudo o desejo de viver uma paixão. Quando elas não veem cumprida esta agenda, querem mudar de parceiro. Por isso, temos aumento de casamentos e também de divórcios.
Podemos terminar como na Alemanha, onde na maior parte dos domicílios vivem pessoas sozinhas. Não se precisa do outro. Você faz sexo sozinho, se comunicando e masturbando através da telinha.

Sul21 – Segundo dados do IBGE, as pessoas casam e se separam cada vez mais. Isto não seria uma espécie de poligamia?

Mary Del Priore - Poligamia eu acho que não. Mas eu até encerro meu livro dizendo que esta espetacularização do sexo trazida pela internet — em que se pode fazer sexo virtual, ver sexo na telinha, sozinho diante da mesma — , aponta para um individualismo crescente das relações. Podemos ficar como a Alemanha, onde na maior parte dos domicílios vivem pessoas sozinhas. Não se precisa do outro. Você faz sexo sozinho, se comunicando e masturbando através da telinha. Então, há autores que defendem que esta é a nossa tendência também. E há outros, mais liberais, que dizem que isto são experiências como outras quaisquer. Eu costumo dizer que, como historiadora, eu só posso olhar para o retrovisor. Eu não consigo projetar nada, isto é para os sociólogos. Mas, diante destas visões todas, acho que ninguém ousa dizer o que será daqui 30 anos.

Sul21 –  A decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a união homoafetiva e o aumento crescente de gays assumidos causam reações violentas no país. Parece que a homossexualidade passou a existir só agora.

Mary Del Priore – A história da homossexualidade no Brasil é horrível. Os casais homossexuais sempre sofreram brutalmente. O jovem homossexual, seja homem ou mulher, sofre muito com a segregação familiar. Se olharmos para trás, veremos que esta perseguição começa no século XVI, com as visitas da Santa Inquisição ao Brasil. Lá, já perseguiam os sodomitas. Eles perseguiam mais os homens do que as mulheres. Eles achavam que aquilo que as mulheres podiam fazer entre elas, como não haveria desperdício de sêmen, não era um pecado tão grave, diferentemente das relações entre homens. Toda a medicina do século XIX vai perseguir o que foi chamado de “missexuais”. Vai definir que estas pessoas são doentes. Vemos isto inclusive nos manuais de educação sexual que são publicados durante o governo Getúlio Vargas. A intenção era extirpar os homossexuais do Brasil. A obsessão pela virilidade torna o homossexual um bode expiatório. Como se não bastasse, o anúncio da chegada da Aids no Brasil, nos anos 80, foi feito no programa Fantástico, com o locutor, de voz fúnebre, anunciando a doença como uma doença de gays. Até os anos 80, os gays foram sempre associados a coisas terríveis das quais eles não tinham a menor culpa. Foi algo desumano e que só se explica pelo profundo machismo da nossa sociedade.
*Blogdoturquinho

O sonho de Bolívar está entre nós

http://desacato.info/wp-content/uploads/2011/12/celac_foto_oficial.jpgOs chefes de Estado e de Governo da América Latina e o Caribe aprovaram neste sábado o nascimento da Comunidade de Estados Latinoamericanos e do Caribe (CELAC). Foi redigida a Declaração de Caracas e o Chile assumiu a presidência pro tempore. No ano que vem a reunião da CELAC será no Chile e em 2013 em Cuba.
O Chebola tbém / o Portal Desacato festeja este novo organismo que é só o começo para a Nossa Segunda Independência.
 *
O ex-presidente Lula, torcedor do Corinthians, divulgou nesta manhã uma nota de pesar pela morte de Sócrates.




São Paulo, 4 de dezembro de 2011
“O Doutor Sócrates foi um craque no campo e um grande amigo. Foi um exemplo de cidadania, inteligência e consciência política, além de seu imenso talento como profissional do futebol.
A contribuição generosa de Sócrates para o Corinthians, para o futebol e para a sociedade brasileira jamais será esquecida. Neste momento de tristeza, prestamos solidariedade a esposa, familiares e amigos do Doutor.
Luiz Inácio Lula da Silva, Marisa Letícia e familiares”

Muere Sócrates, el demócrata del fútbol



*Tecedora

Sócrates foi um show à parte.

Mêdo


*ReginaSchimitz

O papel Didático dos Líderes




Peço perdão por escrever na primeira pessoa, mas é necessário.
Em 2005, quando estive na Venezuela, tinha – e o confesso – uma certa reserva em relação a Hugo Chávez.
Embora o considerasse um líder popular de grande valor, não conhecia suas qualidades intelectuais e, com preconceito, achava que não eram grandes.
Mas,coincidentemente, eu estava vendo televisão no dia da Independência. Intrigou-me o insólito, para quem acompanha os nossos desfiles aqui, de ver  soldados do Exército vestidos com uniformes de quase dois séculos, executando grandes coreografias das batalhas que levaram à independência do país,  com cargas, recuos e uma representação dos revezes e vitórias daqueles combates.
Pouco mais tarde, assisti também Chávez falar na cerimônia do das “actas de la independencia” , onde se registraram as decisões de livrar o país do jugo espanhol.
Falou por quase duas horas. E, confesso, nunca tive a oportunidade de aprender tanto sobre a relação das guerras napoleônicas, no início do século 19, na Europa e os movimentos de libertação na América Latina – e olhem que a nossa, em 1822, tem também nelas a sua raiz.
A fala era simples, mas com momentos de arroubos e metáforas.
Naquela ocasião, um mês depois da morte de Brizola, fiquei pensando: porque certos líderes falam tanto, de maneira tão original e tão presos a contar a história de seus países e vidas?
Muitas vezes penso nisso, quando vejo a objetividade marqueteira que tomou conta de nosso discurso político, o desaprendizado de nossa história, a pobreza intelectual fantasiada em termos pedantes ou sofisticados que tomou conta da vida pública – e nisso não estão apenas os partidos e os governos, mas a imprensa, a intelectualidade, os “profissionais” e o “politicamente correto”.
Sábados chuvosos são propícios a dores nas juntas e a reflexões aparentemente descabidas como esta.
Mas, como nos sobra algum tempo, achei que devia reproduzir o vídeo acima, que reproduz o  diálogo entre Hugo Chávez e Cristina Kirchner, num encontro entre ambos esta semana, durante a cúpula da América Latina e do Caribe, em Caracas, capital venezuelana.
Faria Duda Mendonça e Nizan Guanaes, os nossos papas da marquetagem política ter uma síncope ver dois presidentes conversando assim, diante das câmaras de televisão.
Mas é, para quem tem capacidade para ouvir algo diferente do som oco da política, uma aula, não só de história, mas também do papel didático que os líderes populares devem ter: o de ajudar seu povo a compreender sua história, a entender-se com parte de uma grande marcha humana e a eles, líderes, não como indivíduos apenas, mas como personagens de um processo social que cruza o tempo, ora evidente e agitado, ora subterâneo e silencioso.
Se puder, assista. O castelhano é, com um pouco de esforço, compreensível. Uma ou outra referência histórica que nos falte é insignificante. O sentido geral da liberdade e da afirmação dos povos está ali, nítido, evidente, sonoro. A simplicidade que marca os grandes, também.

A moça da foto não podia falar ali. Mas falou, quando pôde

Agora, sim, e por sugestão da nossa jovem e veterana leitora Aline, a foto não precisa de mais nenhuma palavra, a não ser daquela a quem ela retrata.

A verdade não esconde o rosto

A foto ao lado, que ilustra o livro “A vida quer coragem”, de Ricardo Amaral, a ser lançado nos próximos dias, foi publicada pela revista Época, uma biografia de Dilma Rousseff. Não conheço o livro, para que dele possa falar.
Mas a foto, como tantas vezes acontece, diz em silêncio tantas coisas que, escritas, obrigariam a longos raciocínios.
As mãos que encobrem o rosto dos oficiais que se sentavam no tribunal militar que julgaria e condenaria a “subversiva” tinham todo o poder, todo o mando, mas tampavam suas faces.
Não, não era medo de ataques da guerrilha, porque seus nomes eram sabidos e pouco ou nada lhes adiantaria esta “máscara” manual.
Era, talvez, o gesto inconsciente da vergonha que o olhar e a expressão altiva de uma moça de pouco mais de 20 anos tinha ao enfrentar aquele abuso, mesmo depois de dias e dias de tortura e maus-tratos.
A foto deveria ser o inverso, os olhares reprovadores e duros dos juízes, o rosto enterrado entre as mãos do desespero de quem agiu como sua consciência mandava e que, agora, tinha de enfrentar o cárcere na fase mais luminosa da vida.
Mas a história tem seus caprichos e ironias, mesmo demorados e dolorosos.
Aqueles rostos escondidos perderam-se no tempo. As mãos que os encobrem também os expõem, às suas consciências, hoje.
Mas não são as mãos dos rostos que a Comissão da Verdade deve tirar, porque os homens das fotos estavam, dentro do arbítrio, presos aos limites “legais” da própria ditadura.
Foram cúmplices daquele período que não pode mostrar o rosto, como eles.
O que é preciso tirar, sim, são os capuzes dos que humilharam, torturaram, abusaram e mataram centenas de jovens como a da foto e outros, nem tão jovens, como Rubens Paiva.
É para isso, para lhes tirar os capuzes e deixar que, como todos, tenham de enfrentar o julgamento público pelo que fizeram.
Os nossos juízes, civis, que recusam o óbvio e negam o compromisso do Brasil ante o mundo de considerar tortura e assassinato político imprescritíveis, muito mais razões têm que aqueles oficiais para encobrirem seus rostos.
Porque condenam não uma pessoa, mas o direito desta Nação de  nunca mais haja capuzes para acobertar a violência e a brutalidade neste país.



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O papel didático dos líderes

Peço perdão por escrever na primeira pessoa, mas é necessário.
Em 2005, quando estive na Venezuela, tinha – e o confesso – uma certa reserva em relação a Hugo Chávez.
Embora o considerasse um líder popular de grande valor, não conhecia suas qualidades intelectuais e, com preconceito, achava que não eram grandes.
Mas,coincidentemente, eu estava vendo televisão no dia da Independência. Intrigou-me o insólito, para quem acompanha os nossos desfiles aqui, de ver  soldados do Exército vestidos com uniformes de quase dois séculos, executando grandes coreografias das batalhas que levaram à independência do país,  com cargas, recuos e uma representação dos revezes e vitórias daqueles combates.
Pouco mais tarde, assisti também Chávez falar na cerimônia do das “actas de la independencia” , onde se registraram as decisões de livrar o país do jugo espanhol.
Falou por quase duas horas. E, confesso, nunca tive a oportunidade de aprender tanto sobre a relação das guerras napoleônicas, no início do século 19, na Europa e os movimentos de libertação na América Latina – e olhem que a nossa, em 1822, tem também nelas a sua raiz.
A fala era simples, mas com momentos de arroubos e metáforas.
Naquela ocasião, um mês depois da morte de Brizola, fiquei pensando: porque certos líderes falam tanto, de maneira tão original e tão presos a contar a história de seus países e vidas?
Muitas vezes penso nisso, quando vejo a objetividade marqueteira que tomou conta de nosso discurso político, o desaprendizado de nossa história, a pobreza intelectual fantasiada em termos pedantes ou sofisticados que tomou conta da vida pública – e nisso não estão apenas os partidos e os governos, mas a imprensa, a intelectualidade, os “profissionais” e o “politicamente correto”.
Sábados chuvosos são propícios a dores nas juntas e a reflexões aparentemente descabidas como esta.
Mas, como nos sobra algum tempo, achei que devia reproduzir o vídeo acima, que reproduz o  diálogo entre Hugo Chávez e Cristina Kirchner, num encontro entre ambos esta semana, durante a cúpula da América Latina e do Caribe, em Caracas, capital venezuelana.
Faria Duda Mendonça e Nizan Guanaes, os nossos papas da marquetagem política ter uma síncope ver dois presidentes conversando assim, diante das câmaras de televisão.
Mas é, para quem tem capacidade para ouvir algo diferente do som oco da política, uma aula, não só de história, mas também do papel didático que os líderes populares devem ter: o de ajudar seu povo a compreender sua história, a entender-se com parte de uma grande marcha humana e a eles, líderes, não como indivíduos apenas, mas como personagens de um processo social que cruza o tempo, ora evidente e agitado, ora subterâneo e silencioso.
Se puder, assista. O castelhano é, com um pouco de esforço, compreensível. Uma ou outra referência histórica que nos falte é insignificante. O sentido geral da liberdade e da afirmação dos povos está ali, nítido, evidente, sonoro. A simplicidade que marca os grandes, também.
No próximo post a gente devaneia menos e volta à objetividade…perdoem.
*Tijolaço

Bomba ! Bomba !
O que o FMI acha do FHC



O Bessinha assistiu (disfarçado) à entrevista da diretora gerente do Fundo Monetário Internacional com o Ministro Guido Mantega.

Como se sabe, ela veio dizer que o Barsil está sólido, tem condições de enfrentar o PiG (*) – aqui para ler – , e veio pedir uma grana.

Aí, o Guido Mantega perguntou o que ela achava do Fernando Henrique.

Esse Bessinha …

Paulo Henrique Amorim

Saiba mais sobre a Operação Sinal Fechado, que prendeu o braço direito de Serra

Garibaldi enxerga longe
O ministro da Previdência Social, senador licenciado Garibaldi Filho (PMDB), disse à imprensa ontem que a denúncia do Ministério Público estadual contra os 34 acusados da Operação Sinal Fechado, que não cabe aos políticos tecer comentários para denegrir a imagem de ninguém, evidentemente se referindo aos ex-governadores Wilma de Faria e Iberê Ferreira, seus adversários políticos.
Mas Garibaldi enxerga mais longe. Afinal seu nome apareceu nas interceptações telemáticas que subsidiaram a petição inicial do MP. O decreto que subsidiou todo o processo que levou à necessidade da inspeção veicular e a consecução do esquema fraudulento é de 2002, quando o ministro era governador. Em um e-mail, George Olímpio diz isso ao lobista Alcides Nogueira. No e-mail, George destaca que a Lei que tramitaria na Assembleia, aprovando o esquema da inspeção, era fundamental porque autorizaria o regime de concessão. O próprio MP destaca que o regime de concessão para a inspeção não é obrigatório, mas, inclusive atendendo a orientação de Harald Zwatkoff, da Controlar de São Paulo, a organização se mobiliza para efetivar a concessão - assim, o recurso entraria diretamente para os envolvidos, sem sequer passar nos cofres públicos.
Um outro momento em que Garibaldi aparece com clareza nas investigações diz respeito ao momento em que o ministro era presidente do Senado Federal. Ainda na primeira fase da fraude, aquela que envolvia o registro dos financiamentos de veículos nos cartórios, através da articulação de João Faustino e de seu genro Marcus Procópio, Garibaldi recebe um grupo, liderado por George Olímpio, que tenta intervir na Medida Provisória em discussão no Congresso. Querem, inclusive, que seja designado como relator o ex-senador tucano Tasso Jereissati (CE). Em 8 de novembro de 2008, Marcus Procópio faz um relato a João Faustino, que era suplente de Garibaldi e, àquela altura, atuava como subchefe da Casa Civil do governo tucano de José Serra em São Paulo. Em seguida, orienta em outro e-mail como George Olímpio deve se comportar na audiência.
Os meandros da Operação Sinal Fechado, inclusive suas relações com as investigações da Pecado Capital, são profundos. Difíceis de serem facilmente elucidados. Mas não são o suficiente para justificar algum silêncio cúmplice que vemos por aí.
~ o ~ 
Cassiano Arruda atuou como lobista?
Pelo menos três nomes relacionados à comunicação aparecem translúcidos nas investigações da Operação Sinal Fechado. O primeiro deles, denunciado ontem pelo Ministério Público, é o publicitário e lobista Ruy Nogueira. Nogueira, por indicação de Alcides Barbosa, é contratado pela organização criminosa, já em 2011, para pressionar o governo Rosalba pela liberação das inspeções veiculares. A tarefa de Ruy Nogueira seria plantar notícias contra Rosalba na imprensa nacional. Provavelmente as notícias não seriam relativas ao governo estadual, mas às três gestões que a governadora teve à frente da prefeitura de Mossoró. Ruy Nogueira foi denunciado pelo crime de extorsão.
No contexto em que aparece Ruy Nogueira surge o nome do jornalista potiguar Gaudêncio Torquato. Quando destaquei pelo twitter o nome de Gaudêncio, fui chamado por ele de fofoqueiro e bloqueado por ele. Mas o nome dele aparece, na boca de Alcides Barbosa, atribuindo-lhe sociedade com Ruy Nogueira. Posteriormente, através de nota, Ruy negou sociedade com Gaudêncio. Uma fonte, porém, me contou que seria possível haver uma sociedade oculta entre eles, mas nada que se confirme.
Mas o nome que aparece com muita força da mídia potiguar, e foi solenemente ignorado pela cobertura de imprensa, é o nome de Cassiano [Arruda] (?).
Cassiano liga em nome de João Faustino para Alcides Barbosa.  Pedem que o grupo não se movimente em São Paulo.  Em paralelo a isso, mostram as interceptações, havia uma negociação em curso com o atual governo.  George orienta Alcides a conversar com Ruy Nogueira e dizer-lhe para esperar um sinal verde para agir.  Parece se referir ao esgotamento de possibilidades com o governo atual.  Se o telefone de Alcides foi interceptado, evidentemente o MP tem a conversa deste com Cassiano.   Mas acredito que o telefone de Alcides não havia sido interceptado (corrigido por causa desse post)
Posteriormente, Ruy mandou um e-mail para Cassiano, tratado inicialmente na conversa como "nosso amigo do jornal" e, depois, melhor identificado.
Curioso é que no dia 04 de fevereiro de 2011, Cassiano Arruda fala sobre o problema do Consórcio INSPAR, tratando o caso como risco ao governo pela insegurança jurídica.  Nos dias seguintes, diversas notas versando sobre o tema foram publicadas pelo Novo Jornal:
Destaque-se que a execução da inspeção veicular estava suspensa desde os primeiros dias de janeiro e o governo discutia o que faria do contrato com o INSPAR, ameaçando cancelar.
No domingo, 06 de fevereiro, Cassiano Arruda publicou outra nota:
No dia 09 de fevereiro, Cassiano voltou ao tema:
Curioso que no dia 8 conversam George e Alcides Barbosa sobre o tema a ser tratado na campanha de mídia para pressionar o governo.  Resposta? Insegurança jurídica gerada pelo cancelamento do contrato.
O governo Rosalba anunciou a anulação do contrato do INSPAR no mesmo dia, 09 de fevereiro.  No entanto, estranhamente, em 25 de maio a anulação ainda não havia sido efetivada, como se vê nesta matéria do Portal No Minuto.   A anulação, anunciada com circunstância em fevereiro, somente aconteceu em maio.  Mas isso é assunto para outro post.
Há, ainda, uma outra referência a Cassiano na Petição do Ministério Público, em uma conversa do dia 7 de fevereiro entre George e Alcides Barbosa:
Cassiano ligou para Alcides afirmando que João Faustino havia encontrado uma solução.  João pediu, através de Marcus Procópio, para que fosse abortada qualquer missão em São Paulo ("pelo amor de Deus").  Qual solução teria encontrado João Faustino?
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Investigação entra pelas portas do governo Rosalba
Não é apenas pela denúncia contra o atual diretor-geral do Detran/RN, Érico Ferreira, que a investigação da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público entra pelas portas do governo Rosalba Ciarlini (DEM), apesar de ser essa a manifestação mais evidente.
Enquanto os indícios do envolvimento dos ex-governadores Wilma de Faria e Iberê Ferreira estão cada vez mais presentes nas páginas dos jornais e na blogosfera, a incursão da organização criminosa no governo Rosalba estava restrita às notas de rodapé até a denúncia apresentada pelo Ministério Público contra o diretor-geral do Detran, Érico Ferreira.
Com a pressão da mídia e da opinião pública, o governo Rosalba suspendeu a vigência do contrato que previa a inspeção veicular obrigatória em 7 de janeiro, por 45 dias.  Em 9 de fevereiro, a governadora anunciou a anulação do contrato com o INSPAR, ainda que dissesse também que seria analisada a melhor maneira de realizar a inspeção veicular no estado.  Mesmo assim, apenas no fim de maio o contrato foi efetivamente cancelado.  Por quê?  O que acontecia nos bastidores?
Antes disso, porém, precisamos avançar até julho.  Mesmo depois da suspensão e posterior cancelamento do contrato entre Detran e Inspar, a organização criminosa continuou se movimentando.  E fez pressão sobre o vice-governador Robinson Faria (PSD) e sobre o primeiro-cavalheiro Carlos Augusto Rosado.
Carlos Augusto Rosado disse a Gilmar da Montana que, sobre reabrir o negócio da inspeção, "esse ano não dá mais, e que por ele não sabe quando".  Gilmar disse a Mou também neste telefonema, de 12 de julho, que havia um acerto com Érico Ferreira mas que o diretor-geral do Detran "agora diz que não pode".
Em outra ligação, em agosto, Alcides diz a George Olímpio que o problema para as negociações com o governo Rosalba não avançarem é que Carlos Augusto Rosado tem "ódio" de George:
As conversas entre Alcides Barbosa e Pablo, em maio, revelam mais detalhes da negociação travada com o governo Rosalba.  Alcides fala da possibilidade de chegar ao vice-governador Robinson Faria, inclusive se utilizando de sua proximidade com o prefeito Gilberto Kassab, principal articulador do partido do vice-governador Robinson, o PSD.
O mais grave entre as coisas que são ditas nesse diálogo é a constatação de que Robinson é a última resistência a um acordo pela retomada da inspeção veicular no governo Rosalba.  (O nome de Robinson está grafado erroneamente na transcrição).
Os dois têm a intenção de envolver o vice-governador oferecendo construir as bases em terrenos de sua propriedade.  
Se parecer que Robinson tem uma resistência ética ao envolvimento com a questão, Pablo trata de esclarecer.  Diz a transcrição que Pablo "já tinha iniciado essa conversa, e que o mesmo está esperando retorno dele, mas parou um pouco por não precisar mais, mas agora é só retomar".  
No dia seguinte, os dois se falam novamente sobre essa articulação com Robinson Faria.
Fica claro que Robinson tem resistência contra um dos participantes do esquema fraudulento, mas não fica claro contra quem.  Pablo diz que com Alcides não tem problema.  E Pablo, demonstrando que o vice-governador já conhecia as propostas que o grupo poderia apresentar, diz que pode apresentar Alcides dizendo que é "o parceiro da inspeção de São Paulo, é o cara que trouxe a Direcional pra cá também e é interessante você receber esse cara".  Pablo pergunta a Alcides se é interessante apresentá-lo como ligado a Kassab, que responde não ser necessário, "mas pode dizer que é um cara que já trabalhou com o KASSAB quando o mesmo foi secretário do PITTA, e pede que não deixe isso vazar para ninguém".
A negociação do governo atual com a quadrilha fica mais clara nesta gravação de conversa entre Alcides e Marco Aurélio, de outubro.
A petição esclarece que "o cara" seria Carlos Zafred.  Perceba que Marco Aurélio diz que a dificuldade de negociação com o governo é a pressão de Marcos Rola, da construtora EIT.
É nesse ponto que cabe trazer para a história o outro ponto de negociação com o governo do Estado.  É o senador José Agripino (DEM), de quem João Faustino é suplente.
A governadora Rosalba Ciarlini (DEM) anunciou o cancelamento do contrato entre Detran e Inspar na tarde do dia 9 de fevereiro, mas os integrantes da quadrilha já sabiam, desde o final da manhã, que "a ordem é para mandar cancelar".
Eduardo Patrício diz a George, então, que a solução possível é "seguir com José [Agripino]".
Além disso, George está embarcando para Brasília para uma reunião com o senador.  Cerca de duas horas depois de George dizer a Gilmar que estava indo a Brasília, João Faustino diz a George que falou com José Agripino "e este iria ligar para Governadora e para Paulo de Tarso".  A reunião entre George e José Agripino, com o advogado José Delgado seria às 18h no gabinete do senador em Brasília.
José Agripino, o senador "probo", intercedeu em favor do consórcio Inspar.  Chegou a ser noticiado que o consórcio havia contribuído com R$ 700 mil na sua campanha.  Falei sobre isso aqui.
Os promotores do Patrimônio Público descobriram que a organização criminosa repassou R$ 140 mil para o denunciado Eduardo Patrício, que na transcrição acima afirma que agora restava seguir com José Agripino.  Aí a Delphi Engenharia repassou, em três parcelas, R$ 150 mil para a campanha de Wilma de Faria. (clique nas imagens para ver maior).  O Ministério Público acredita que essa tenha sido uma triangulação para que o consórcio doasse à campanha de Wilma.
Com base nessa informação, é possível supor outros desdobramentos.  Se Iberê recebeu R$ 1 milhão do esquema fraudulento, como revelam as escutas, o dinheiro deve ter seguido para a campanha.  Pode ter entrado para caixa dois, mas provavelmente a entrada nas contas de campanha deve ter sido legalizada. 
Nas prestações de contas do PSB e de Iberê há apenas uma doação cujo valor é R$ 1 milhão.
Será que houve triangulação semelhante nas doações?
Como mostrei no post de dois dias atrás, entre os dias 13 e 22 de setembro há uma movimentação intensa nas contas do DEM e do senador, envolvendo um valor muito próximo aos R$ 700 mil e uma construtora:
Observação: Acima, onde se lê "setembro de 2009", leia-se "setembro de 2010"
Aí você pode voltar algumas linhas e perceber que em gravação do dia 05 de outubro de conversa entre Alcides e Marco Aurélio.  Ali, Marco diz que o governo do estado quer negociar mas tem Marcos Rola, da EIT, por trás, atrapalhando.   Além disso, basta lembrar, também, que José Agripino tem uma relação antiga com a empresa de quem foi engenheiro, antes de se tornar prefeito biônico de Natal no fim dos anos 1970.
Para além da denúncia do atual diretor-geral do Detran, como visto, entra o escândalo pela sala da governadora Rosalba Ciarlini (DEM).
E isso sem termos falado sobre o plano de João Faustino para salvar o negócio da organização.
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Novo Jornal apoiava inspeção desde 2010
Pelo menos em duas matérias em outubro de 2010 o Novo Jornal se posicionou de forma extremamente favorável ao Consórcio INSPAR e à inspeção veicular.
Em 09 de outubro de 2010
Em 23 de outubro de 2010
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Art&C apresenta a inspeção veicular do INSPAR
A Art&C, agência de Arturo e Cassiano Arruda, era a agência do Consórcio INSPAR 
*comtextolivre