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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, dezembro 08, 2011

TER CABELO CRESPO É...

 1-Ter de aturar sempre alguém querendo tocar no seu cabelo (geralmente desconhecidos).
2- Ser chamada/conhecida por nomes de artistas com o mesmo tipo de cabelo.
3-As pessoas acharem que você tem por obrigação curtir Reggae, "Aposto que você curte um Bob Marley, um baseado..."

4-Algum parente distante (ou muuuuito próximo) perguntar: "Quando você vai alisar?
" 5-Você ter que camuflá-lo, fazer escova e até ser mais radical e alisá-lo só para poder ser aceita no mercado de trabalho. Pois nosso tipo de cabelo muitas vezes é visto como cabelo mal cuidado, fora dos padrões, RUIM!
6-Lavar com shampoo, condicionador,
desembaraçar com os dedos, hidratar, passar leave-in, amassar, secar com toalhas próprias e ainda ter de ouvir que seu cabelo é muuuito prático "molhou & balançou" tá pronto! (isso quando não pensam que você nem lava e que você tem piolhos)
7-Ouvir que seu cabelo parece de palhaço, e se for vermelho ou algo parecido com esse tom então, prepare-se: você é o Ronald Mcdonalds. Sem contar nos apelidinhos menos poéticos como: assolan, árvore, cotonete de orelhão, capacete e etc.
8-Ficar p* da vida com o fator encolhimento.
9-Ter de aprender na marra a cortar e cuidar do seu próprio cabelo. Pois não existem muitos profissionais capacitados para lidar com esse "tipo" de cabelo.
10-Você finalmente encontrar "O" produto de cabelo, ser caro, você comprar mesmo assim. Ele super funcionar no começo e você não viver mais sem, depois como num passe de mágica... ele perder o efeito!
11-Pessoas perguntando se é peruca.
12-Sempre ouvir pessoas de cabelo liso e/ou alisado falando: "Queria ter o cabelo igual ao seu!" (se quer encrespa, oras!) 13-Você gastar 3 horas tentanto fazer o penteado afro "baphônico" que você viu num tutorial do youtube, e no fim ficar uma merda!
14-Ouvir o tio calvo falar que já usou esse tipo de cabelo no passado e você tentar imaginar como ele era.
15-Ficar com muita raiva quando descobre que alguém está usando os seus melhores produtos de cabelo.

16-Ter que ouvir que seu cabelo não é natural pelo simples fato de você tê-lo pintado, feito mechas e afins.
17-Sempre achar que o cabelo crespo das outras mulheres é mais bonito e brilha mais que o seu.
18-Testar um super penteado num dia despretensioso e na hora de executá-lo pra arrasar num evento, não dar certo.
19-Ver um espelho, checar o black e dar aquela minusciosa passada de mão, ajeitando para o alto.
20-Ser a única na festinha de aniversário a não usar chapéu.
21-Ser o centro das atenções por onde passa.
22-Ter receio de ir com o cabelo solto ao cinema.
23-Apesar disso tudo ter paciência, não ligar para o que falam ou pensam, e amar o seu cabelo crespo assim como Deus te deu. Cada dia mais e mais!

Kassab descumpre promessa com catadores

Bem ao seu estilo, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab descumpre mais uma promessa aos “diferenciados” da capital paulistana, os catadores de material reciclável, e não entrega o galpão que havia prometido.
Reportagem da Rede Brasil Atual informa que os catadores de material reciclável da Granja Julieta, zona sul da capital paulista, continuam a luta por um espaço adequado para trabalhar. Após inúmeras manifestações para cobrar da Prefeitura de São Paulo um novo local, o prefeito Gilberto Kassab assumiu o compromisso de oferecer, no mês de agosto, um galpão para os trabalhadores. Apesar de a decisão ter sido publicada no Diário Oficial em 15 de outubro, a Prefeitura informou à cooperativa que o proprietário do imóvel prometido havia desistido de alugar o galpão e que não há previsão para que outro espaço seja providenciado.
Partindo de quem vem, não é de se estranhar o descumprimento da promessa. Bem ao estilo dos governantes de São Paulo nas duas últimas décadas.
Por: Eliseu
*OCarcará

Marta amplia apoios para lei anti homofobia

                             Marta amplia apoios para lei anti homofobia Foto: Felipe L. Gonçalves/Edição/247

Senadora fez modificações em projeto original de lei que criminaliza o preconceito aos gays; intenção foi aumentar áreas de consenso; crítica de cunho religioso, como as feitas pela Igreja Universal, do pastor Crivella, não são vedadas no novo texto; “só podemos dar um passo à frente de cada vez”, justifica a relatora; votação marcada para esta quinta

Evam Sena_247, em Brasília – O Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122, que criminaliza a homofobia, está na pauta de votação da Comissão de Direitos Humanos do Senado (CDH) para a próxima quinta-feira, 8. Desde a divulgação de sua última versão pela senadora relatora Marta Suplicy (PT-SP), ele tem sido contestado pelo próprio movimento LGBT, que o acusa de “inócuo”. “Eles irão perceber que, do jeito que ficou, o projeto tem condições de ser aprovado e é um grande avanço social”, defende Marta. “Sem as alterações, simplesmente não conseguiríamos maioria”. Entre o texto apresentado na segunda-feira 5 por Marta e a proposta aprovada na Comissão de Assuntos Sociais do Senado em 2009, há algumas diferenças que, para a relatora, deixam a lei mais específica. Em vez de ampliar a Lei de Crimes Raciais (7.716/89), o projeto de lei de Marta cria uma lei específica para a descriminação de sexo, orientação sexual ou identidade de gênero, que seria chamada Lei Alexandre Ivo, em referência ao jovem de 14 anos assassinado ano passado por homofobia.
Ficaram especificados os atos puníveis como discriminação no mercado de trabalho, nas relações de consumo e na prestação de serviços públicos por homofobia. Marta também propõe acrescentar a homofobia nas agravantes do Código Penal. Desta forma, o crime de homicídio, se for motivado por discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero, será classificado como qualificado, cuja pena é maior. Nos casos de lesão corporal, exposição ao perigo, injúria e incitação ao crime, se forem motivados por homofobia, a pena aumentar em um terço, chegando a detenção de até três anos.
A concessão mais polêmica feita no novo PLC 122 é a isenção das punições se a manifestação homofóbica for decorrente da fé. “Não podemos ignorar que muitas religiões consideram a prática homossexual uma conduta a ser evitada. Não podemos nos esquecer do princípio da liberdade religiosa, segundo o qual é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida a proteção aos locais de culto e suas liturgias”, disse Marta.
O contraponto, segundo a relatora, é a manutenção de artigo que criminaliza também a indução a pratica de violência por homofobia. Segundo Marta, esse dispositivo tem o apoio do senador e bispo da Igreja Universa,l Marcelo Crivela (PRB-RJ). “[Esse artigo] vai tornar menos agressivas algumas falas que nós escutamos contra homossexuais, e vai inibir algum tipo de expressão extremamente negativa. Vai ser muito difícil obter condenação, o que traz proteção aos religiosos, mas [o artigo] vai inibir de se falar”, disse Marta à imprensa.
Outra crítica do movimento LGBT é a retirada da garantia de que casais homoafetivos poderiam demonstrar afetividade em locais públicos ou privados abertos sem que fossem impedidos ou restringidos.
O novo PL contra Homofobia foi elaborado por Marta, com a ajuda do presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Transexuais, Travestis e Transgêneros), Toni Reis; do senador Marcelo Crivella, da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) e do líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO). Demóstenes foi convidado para ser o relator da proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), para onde seguirá se for aprovado na CDH.
“Não é o projeto ideal, mas também não temos a força ideal”, comentou Toni Reis sobre o texto atual, pedindo calma à militância. Em sua defesa, a senadora afirma que, com as mudanças, o projeto tem chance  de ser aprovado. “Se conseguirmos aprovar, nós vamos dar um passo adiante do que temos hoje, um passo do que é possível construir com esses senadores que temos, com esse ambiente que vivemos. Se nós formos esperar para ter um consenso para poder aprovar o PLC 122 original, aqui ele não tem nenhuma condição de passar”, afirmou.
O novo texto abriu uma cisão no próprio Congresso, na Frente Parlamentar LGBT. O presidente do grupo de parlamentares, deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), classificou o projeto como “inócuo” e “fingimento político”, e prometeu alterações quando ele voltar para a Câmara, onde teve origem e foi aprovado em 2006. “Na Câmara, poderão tentar fazer um texto mais de acordo com o que o segmento deseja - acho que é tão difícil quanto aqui - ou aprovar o que foi aprovado aqui e propor um novo [projeto], que faça outro avanço”, defendeu Marta.
Os deputados da frente reclamam que suas reivindicações não foram atendidas. Marta apresentou à frente uma proposta em setembro. Segundo Wyllys, as sugestões foram ignoradas. “Não podemos acatar um texto inócuo como o que está em pauta e que não leve em consideração as demandas justo da parcela da população da qual ele diz respeito”, afirmou o deputado.
Militantes gays independentes se organizam para protestar contra a nova redação e realizam um “twitaço” com a hashtag #PLC122deverdade. Muitos acreditam que, se aprovada como está, a Lei contra Homofobia não vai sair do papel. Estão programadas manifestações durante a votação no Senado.
**Blogdoamoralnato

Movimento Occupy Wall Street dá apoio a moradores despejados nos EUA

occupy-casas

Manifestantes anti-Wall Street lançaram uma nova onda de ativismo na terça-feira (6), no momento em que cidades pelos Estados Unidos encerram os acampamentos de dois meses do movimento Ocuppy Wall Street. Agora eles começaram a dar apoio a proprietários que resistem ao despejo de suas casas retomadas por falta de pagamento das prestações.
Manifestantes se reuniram em frente a uma casa em um bairro decadente de São Francisco, enquanto na vizinha Oakland ocuparam uma propriedade desocupada pertencente a um banco e a ofereceram como abrigo para moradores de rua. Em Los Angeles, eles ajudaram um ex-integrante da Marinha a enviar seus pertences de volta à sua casa hipotecada.
Na Filadélfia, manifestantes disseram estar se aproximando de uma estratégia semelhante para focar a atenção do público nos grandes bancos e em outros financiadores que se beneficiaram dos pacotes de resgate do governo, pagos pelos impostos cobrados dos cidadãos, para depois negar-lhes o direito a permanecer nas casas hipotecadas.
A mudança na estratégia foi feita depois que autoridades em muitas cidades dos EUA, muitas vezes citando condições de saúde e segurança, começaram a desmontar os acampamentos de protestos que surgiram como parte do movimento Occupy, que critica a desigualdade econômica e os excessos do sistema financeiro americano.
"As pessoas estão se recusando a sair", disse Vivian Richardson, falando em frente a sua casa no bairro de São Francisco, onde está lutando contra o despejo.
- Hoje é o dia nacional de reocupar nossas casas.
Ativistas anunciaram uma série de ações coordenadas em diversas das grandes cidades, organizadas por dezenas de grupos defensores do direito à moradia. Algumas tentativas anteriores para ocupar propriedades retomadas em São Francisco fracassaram quando manifestantes foram expulsos pela polícia.
Em comunicado, a Aliança de Californianos para o Fortalecimento Comunitário afirmou que a ocupação de casas hipotecadas é "uma nova fronteira" para o movimento.
- Essas ações fazem parte do começo de uma nova fronteira para o movimento Occupy: a liberação de residências pertencentes a bancos para aqueles que precisam delas, e a defesa de famílias ameaçadas de execução hipotecária e despejo.

“… Falamos da vida — e não de idéias, de teorias, de práticas ou de técnicas. Falamos para que olhe esta vida total, que é também a sua vida, para que lhe dê atenção. Isso significa que não pode desperdiçá-la. Tem pouquíssimo tempo para viver, talvez dez, talvez cinquenta anos. Não perca esse tempo. Olhe a sua vida, dê tudo para compreendê-la”.
(Jiddu Krishnamurti)
SOBRE O AMOR E OS RELACIONAMENTOS

Na obra do amor...plenamente decidido...a união afetiva escreve o conhecimento de ambos...no auto dos dois...e num todo só...

A solidão...só é vivida como ausência de alguém ou de algo...
quando o acesso da consciência...atinge apenas o “ser no mundo”...
e não o mundo consciente no ser...
O amor...num relacionamento afetivo...pode significar um processo saudável e natural...
se o contraponto realizado na alma de ambos...se iniciar numa consonância perfeita...
dentro da individualidade harmônica de cada um...

Os sentimentos...as emoções humanas...são como símbolos musicais autônomos e independentes...Isso soa em sintonia com a alegria de ser...e a espontaneidade em estar......
Quando o nosso eu...encontra a resolução da vida externa...não há necessidades protecionistas...ou escoras emocionais...

Na cadência da satisfação...na vida interna...
a solidão significa desconhecimento do amor...em si mesmo...
(Nirma Regina)
*aartedoslivrepensadores

Filie-se ao PT e continue mobilizando o Brasil (programa de TV, 8.dez.2011)

“Os índios nunca foram atrasados, eles sempre viveram seu próprio tempo”

Via Brasil de Fato
Carlos Walter Porto Gonçalves critica visão eurocêntrica de “modernidade” e “atraso” e indica a importância da resistência indígena e camponesa
Joana Tavares

            Adolescente indígena guajajara tem o rosto pintado -                                 Foto: Christian Knepper/Funai
O professor Carlos Walter Porto Gonçalves vem dedicando suas análises sobre a Pátria Grande, a América Latina. Um antigo defensor das lutas indígenas e camponesas e ex-assessor de Chico Mendes, ele diz que não faz sentido querer um ambiente sem gente nem um desenvolvimento para as pessoas sem cuidar necessariamente do ambiente. Corrobora com a filosofia do ex-líder sindical e ambientalista, assassinado em 1988: “Não há defesa da floresta sem os povos da floresta”. E também se inclui na filosofia do ecossocialismo, como a união das lutas contra a devastação e o capitalismo. Nesta entrevista, ele fala sobre a América Latina e a posição arrogante do Brasil, critica o projeto e a visão da modernidade e defende a força da luta e das ideias indígenas.
Brasil de Fato – Por que há tanto desconhecimento no Brasil em relação à América Latina?
Carlos Walter Porto Gonçalves – A história do processo colonial, o fato de o Brasil ter sido colonizado por Portugal e a maioria dos países pela Espanha, implica certas diferenças. Nosso continente foi marcado por presenças coloniais diversas, como a inglesa, francesa, holandesa, e ainda há países que são colônias mesmo hoje, como a Guiana Francesa. Mas não é só isso. Parece que a nossa dificuldade de nos aproximar do resto da América Latina e do Caribe não é uma questão de língua – com certo esforço a gente acaba se entendendo –, mas o processo de independência diferenciado. O Brasil não seguiu a ideia do “inventar ou errar” – uma expressão de Simón Rodríguez – dos outros países, que tentaram inventar um regime republicano, diferente do regime monárquico que reinava nas metrópoles colonizadoras. O Brasil foi o único que fez a independência e se manteve como império, inclusive com uma monarquia, com uma casa real. E achava que por ser uma monarquia era superior às “repúblicas de caudilho” da América Latina, expressão que continua a ser usada hoje pelas elites brasileiras e pela mídia. E de certa forma os países de colonização hispânica são obrigados a conhecer um pouco mais uma história que lhes é comum, haja visto que muitos países surgiram se emancipando de outros, como a Colômbia da Venezuela. A história deles tem que se remeter uma à outra. A história do Brasil em face de nossos vizinhos é mais desconfortável, por ter se apropriado de territórios que, a rigor, eram de outros países. Cabe também falar que a maior parte das elites formadas na América Latina continuou preocupada em se integrar com as elites europeias e dos países imperialistas para continuar exportando seus diversos produtos.
Qual o sentido político do termo “América Latina”?
O termo “América Latina” foi usado pela primeira vez por um poeta colombiano, José María Caicedo, num poema chamado “As duas Américas”, em 1854. Ele usou essa expressão com clara posição de tensão em relação à América anglo- saxônica. Ele estava muito impactado pelo que havia acontecido, numa data que todos nós deveríamos ter sempre em mente: 1845- 1848, que é o período da guerra dos EUA contra o México. Quando os EUA fizeram a independência eram apenas as 13 colônias situadas a leste. Todas as terras do Texas até a Califórnia – com todos aqueles nomes em espanhol – foram tomadas do México. De certa forma, o Caicedo dá continuidade ao que Simón Bolívar tinha percebido nos anos de 1820 em função da posição norte-americana em relação ao Haiti, o primeiro país do mundo a abolir a escravidão. O que faz os Estados Unidos? Junto com a França, faz pressão para que o Haiti pague por cada escravo que tinha se tornado livre, o que faz com que o país fique sufocado em dívidas. E Simón Bolívar, que recebeu armas dos revolucionários haitianos para fazer os processos de libertação da América Latina, percebe que a doutrina de Monroe, “América para os americanos”, era para os americanos do norte, para os estadunidenses. Percebeu isso em 1823 e denunciou imediatamente, convocando uma integração entre os países, entre iguais, não uma integração subordinada. Ele usava a expressão “Pátria Grande”, a América integrada; ele dizia que tínhamos uma “pátria chica” – Brasil, Venezuela etc. – mas também a Pátria Grande. Então, a expressão “América Latina” tem um significado muito forte, porque abriga o caráter anti-imperialista, antagoniza com a América anglo-saxônica. Mas ao lado do seu caráter emancipatório, Caicedo não estava livre de um certo eurocentrismo. A expressão ‘latina’ ignora todo o patrimônio civilizatório que aqui existe e que não é de origem latina, como os quéchuas, os aimarás, os tupiguarinis, os maias.
Qual o papel dos países latinoamericanos no mercado mundial?
A demanda de matérias-primas em países como a China faz com que o Brasil e outros países da América Latina passem por um processo de reprimarização da sua pauta de exportações. E as pessoas estão vendo isso como uma vantagem! Para os capitalistas com visão de curto prazo é bom, porque estão ganhando dinheiro. Na verdade, isso é uma nova fase de um processo que tem 500 anos. Sempre fomos exportadores de produtos primários ou manufaturas. Há um mito de que estamos vivendo um processo de modernização tecnológica, com o agronegócio e seus equipamentos modernos. É um mito porque o Brasil no século 16 já exportava manufaturados, como o açúcar. Nossa história é muito colonizada, contamos a história como os europeus nos contaram. Inclusive europeus que nos são caros, como Marx. Marx conta a história da revolução industrial a partir da Europa, mas as primeiras manufaturas, os engenhos de açúcar, estavam no Brasil, no Haiti, em Cuba. Nós já éramos modernos tecnologicamente, mas uma tecnologia colocada aqui não para nos servir, mas para nos explorar. A rigor, um trator e computador fazendo plantio direto hoje é o equivalente ao que fazíamos no século 16, com tecnologia de ponta. Que ideologia é essa da “modernidade” que achamos que veio para nos salvar? A modernidade sempre nos fez ser o que somos. A gente não consegue se desprender da ideologia eurocêntrica da modernidade e acabamos propondo como solução o que é parte do problema.
O que são os megaprojetos de infraestrutura colocados para o continente hoje?
Há muitos projetos de infraestrutura em curso. Na América Central, há um projeto de integração física, que é o Plano Puebla Panamá, hoje rebatizado como Plano Mesoamérica. E temos a Iirsa, Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana, proposta numa reunião convocada pelo Fernando Henrique Cardoso no ano 2000. É um grande projeto de portos, aeroportos, estradas, uma rede de comunicação, que torna o espaço geográfico mais fluido e diminui o tempo socialmente necessário para a produção. Essas obras estão sendo feitas a partir de uma proposta das elites, feita pelo capital. No caso do Brasil, feitas com a presença muito incisiva do BNDES, que tem mais dinheiro que o Banco Mundial para investir. Esses investimentos já estão trazendo problemas, no Equador, na Bolívia, na Argentina.
O Brasil tem uma postura imperialista em relação aos outros países da América Latina?
A estratégia brasileira não é antagônica com a estratégia norte-americana. A burguesia brasileira sabe manejar muito bem o Estado quando lhe é conveniente. Sabe manejar o BNDES para os seus interesses, usar os recursos. As grandes empresas de engenharia civil do Brasil estão presentes em todos os países da América Latina. O complexo de poder envolvido no agrobusiness é um belíssimo exemplo: é um complexo de aliança política entre as burguesias brasileiras articuladíssimas com a burguesia internacional, que estão se beneficiando dessas estruturas. É uma burguesia associada ao imperialismo americano, mas que tem um projeto próprio ao mesmo tempo. A ideia de subimperialismo de Ruy Mauro Marini me parece correta. A diplomacia brasileira não usa o termo “América Latina”, diz “América do Sul”, quer dizer, está preocupada com a integração física para exportar. Estamos fazendo com nossos povos aquilo que sempre fizemos desde o período colonial.
Como esse projeto impacta as populações indígenas e camponesas?
Quem está se revelando os maiores antagonistas desse projeto são as populações indígenas, camponesas e afro-latino- americanas. Elas que estão sendo expulsas de suas terras. A Iirsa diz claramente que os projetos vão se expandir para áreas de vazios demográficos. A Amazônia não é vazia. Não é à toa que o imperialismo diz que os indígenas são os novos comunistas. São áreas cujas populações historicamente sempre viveram com a Pachamama. Os índios sequer têm um nome para a “natureza”, porque significaria pensar o homem como fora da natureza. A Pachamama não é a natureza, é a origem de tudo, de todas as energias, todos nós fazemos parte dela. Eles não são antropocêntricos, não vivem na matriz da racionalidade que vem da Europa, que hoje é parte da crise. Se há 50 anos as forças hegemônicas podiam passar um trator por cima dessas comunidades, hoje essas populações conseguem se mobilizar e encontram eco para suas denúncias. O próprio capitalismo não sabe o que fazer com essas áreas. Tem um setor novo do capitalismo que é o da biotecnologia, que depende de informação do geoplasma. Para esse capitalismo, a diversidade biológica é um valor, ele se confronta com o capitalismo predador que quer derrubar a mata para entrar com gado na Amazônia. Hoje, o capitalismo tem dentro de si um confronto sobre o que fazer com essas regiões. Nessa brecha de dúvida sobre o modelo que vai imperar, abriu-se um espaço para que as populações indígenas encontrassem uma possibilidade maior de falar. Antes havia um consenso, inclusive entre a esquerda, com raríssimas exceções, que achava que tinha que passar o trator. Era uma noção eurocêntrica de “moderno” e “atraso”. Os índios nunca foram atrasados, eles sempre viveram seu próprio tempo. Para nós é fundamental fazer a crítica não só ao capitalismo, mas à mentalidade colonial, à colonialidade do saber e do poder. A discussão dessas populações que estão sendo atingidas é fundamental. A própria ideia de uma Via Campesina só é possível na medida em que essas populações adquirem uma centralidade muito mais importante nos dias de hoje; o campesinato e aquilo que o Darcy Ribeiro chamava de indigenato, um campesinato etnicamente diferenciado. Estamos vivendo uma crise do capitalismo e ao mesmo tempo uma crise de padrão civilizatório. E, nesse sentido, até setores de esquerda, que embarcaram numa visão desenvolvimentista, não perceberam que na verdade existem múltiplas forças produtivas que se desenvolveram por populações outras. Já havia uma sofisticada metalurgia entre as populações originárias de nuestra América, uma sofisticada agricultura, arquitetura, como Machu Pichu. Os indígenas, sabe-se lá como, conseguiram preservar muitas das coisas desse período, conseguiram manter sua identidade própria. Esses povos têm algo a nos ensinar. Temos que ter a humildade de ver como, depois de 500 anos, eles ainda resistem com essa força. Eles estão mais vivos do que nunca.
Carlos Walter Porto-Gonçalves é doutor em Geografia e professor do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros (1998-2000). É Membro do Grupo de Assessores do Mestrado em Educação Ambiental da Universidade Autônoma da Cidade do México (Unam). Ganhador do Prêmio Chico Mendes em Ciência e Tecnologia em 2004 e do Prêmio Casa de las Américas (Ensaio Histórico-social) em 2008, é autor de diversos artigos e livros publicados em revistas científicas nacionais e internacionais.