A imprensa estadunidense quer a guerra e a nossa quer tomar o poder
Mark Weisbrot
O Brasil precisa frear os EUA
Todos os governos que não querem uma guerra contra o Irã devem agir antes que seja tarde para impedi-la
É como se não tivessem aprendido nada com as mentiras e a sede imperial
de poder que nos arrastaram para uma guerra assassina com o Iraque que
consumiu trilhões de dólares. Na sexta, o conselho editorial do "New
York Times" aplaudiu as ameaças militares dos EUA contra o Irã e pediu
"pressão econômica máxima" contra o país.
E esse é o mais influente jornal "progressista" da América. A imprensa de direita, com um discurso de ódio que alcança milhões de pessoas por dia, é ainda pior.
O Irã vem reagindo com ameaças próprias de fechar o estreito de Hormuz -por onde passa um sexto do petróleo do mundo- se os EUA cortarem suas exportações de óleo. Não surpreende, já que o governo americano tenta estrangular economicamente o Irã. O enorme esforço diplomático e de propaganda internacional dos EUA pode não levar imediatamente a uma guerra -como foi o caso com a Guerra do Iraque, o timing de qualquer ataque será sujeito a considerações eleitorais.
O problema é que essas pessoas deitam as bases para uma guerra que ocorrerá quando o presidente decidir que convém. Quando essa hora chegar, é provável que seja tarde demais para impedir a guerra. Foi o que ocorreu no Iraque.
A marcha em direção à guerra acelera-se agora devido às eleições de 2012 nos EUA. A primária presidencial republicana é em sua maior parte um circo, com todos os candidatos, menos o libertário Ron Paul, lançando chamados por guerra e criticando Obama por não ser "suficientemente duro". Como Obama tenta arrebatar votos dos republicanos, sua reação é mostrar-se o mais aguerrido possível sem de fato iniciar uma guerra real.
Enquanto isso, o Congresso, com a Câmara controlada por republicanos e o Legislativo inteiro fortemente pelo lobby de Israel, soma mais pressão em favor da guerra.
Mas que ninguém se engane, imaginando que essa promoção da guerra em um ano eleitoral reflete a vontade dos eleitores americanos.
Os pré-candidatos republicanos estão competindo na primária pelos votos dos eleitores mais de direita, mais extremistas pró-guerra no mundo, e Obama os está seguindo.
E o lobby de Israel está seguindo o governo israelense de direita, pró-guerra. Mas dados de pesquisas indicam que, a despeito da lavagem cerebral diária, a imensa maioria dos americanos não deseja uma guerra com o Irã.
Como a mídia americana não reconhece a vontade da sociedade civil independente no que tange questões de política externa, a voz do povo americano passa sem ser ouvida. E não ajuda o fato de o governo americano ter usado sua influência na ONU para nomear um chefe submisso da Agência Internacional de Energia Atômica. Isso pode explicar a mudança recente de tom da agência, que adotou discurso mais aceitável pelo lado favorável à guerra.
Por isso tudo, apelamos ao Brasil e a outros governos que não querem essa guerra que nos ajudem a impedi-la. Quando, em maio de 2010, o Brasil e a Turquia propuseram um acordo de troca de combustível nuclear do Irã, isso funcionou como freio temporário da máquina de guerra. Precisamos de mais ajuda diplomática desse tipo.