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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Conformismo ou

“Não sei, mas as coisas sempre foram assim por aqui“.


Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula. Bem ao centro, havia uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia na escada para pegar as bananas, um jato de água fria era acionado contra os que estavam no chão.
Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros o pegavam e enchiam de pancada. Com mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.
Então os cientistas substituíram um dos macacos por um novo. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não subia mais a escada.
Um segundo macaco veterano foi substituído e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado com entusiasmo na surra ao novato.
Um terceiro foi trocado e o mesmo ocorreu.
Um quarto, e afinal o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas, então, ficaram com um grupo de cinco macacos que mesmo nunca tendo tomado um banho frio continuavam batendo naquele que tentasse pegar as bananas. Se possível fosse perguntar a algum deles porque eles batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria:
- “Não sei, mas as coisas sempre foram assim por aqui“.
*Gilsonsampaio

domingo, janeiro 08, 2012

Guerra do Iraque: um milhão de milhões de dólares e um milhão de mortos depois...


6 de Janeiro de 2012
octopedia.blogspot.com
Fonte: octopedia.blogspot.com
Oito anos após o início da “Operação Liberdade do Iraque” (Operation Iraqi Freedom) a coligação liderada pelos Estados Unidos deixa no país um rasto de morte e destruição. 
Esta guerra terá tido um custo de um milhão de milhões de dólares, mas é sobretudo o custo humano que tem números arrepiantes: mais de 70 000 soldados americanos e cerca de 1 000 000 de iraquianos mortos, sem contar um número astronómico de feridos e deficientes.


A guerra dos números.

Nada justifica a perda de uma única vida, aqui estamos perante números aterradores. 
Oficialmente, terão sido 3 865 os soldados americanos vítimas da guerra do Iraque (1). A Associação dos Antigos Combatentes americanos aponta para mais de 70 000, o seja um número superior ao dos soldados mortos durante a guerra do Vietname que terão sido de  58 195. 
Segundo essa associação, terão morrido, no Iraque, 73 846 americanos, dos quais 17 847 soldados no campo de batalha e 55 999 do pessoal de apoio. 
Aparece também um número curioso, para meditar, é o número das chamadas doenças não-diagnosticas que terão sido de 14 874. 
O número de queixas interposto pelos soldados por deficiência adquirida durante a guerra é de 1 620 906, ao todo 36% dos soldados dizem-se vitimas de uma qualquer deficiência. 
Um assunto tabu é o número de suicídios de antigos combatentes que o Pentágono procura esconder. Só no ano de 2005, a televisão CBS, após um inquérito, descobriu 6 256, o que dá uma média de 120 suicídios por semana.
 
Mais de um milhão de iraquianos mortos.
O número exacto de iraquianos mortos durante esta guerra é difícil de estabelecer. Na realidade, ninguém sabe ao certo quantos iraquianos morreram durante este conflito. A frieza dos números aponta para um valor que varia entre 100 000 e 1,2 milhões de mortos, dependendo da fonte.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o ministério da saúde iraquiano, durante um inquérito realizado durante o ano de 2007, tinham chegado à conclusão de que teria havido 151 000 mortos iraquianos durante os primeiros 3 anos de guerra, ou seja uma média de 120 por dia.
Um outro inquérito da revista médica “The Lancet”, publicado em 2006 dava conta de mais de 600 000 iraquianos mortos. Este número arrepiante, significa mais de 500 mortos por dia e um total de 2,5% da população.
Por fim, o instituto de sondagens britânico Opinion Research Business (ORB) dava conta, em 2007, que 16% dos iraquianos entrevistados afirmavam ter tido um membro da família morto, e 5% dois. Chegaram à conclusão que, contas feitas, terá havido mais de um milhão de iraquianos mortos durante a guerra, numa população de 26 milhões de habitantes.
 
Estados Unidos abandonam um Iraque radioactivo.
Mais de 1820 toneladas de resíduos radioactivos (urânio empobrecido) rebentaram no solo iraquiano. Um enorme desastre ecológico. Em comparação, a bomba de Hiroshima tinha 64 kg, o que representa mais de 14 000 bombas de Hiroshima. 
Durante centenas de anos esses resíduos radioactivos irão continuar a matar. Alguns cientistas pensam que actualmente existe matéria radioactiva suficiente para matar um terço da população mundial.
Apesar de nunca terem sido encontradas armas de destruição massiva no Iraque, são os Estados Unidos que colocaram agora no terreno essas ditas armas, sob a forma de material radioactivo. A taxa de malformação congénita aumentou 600%.

Quanto maior a destruição, maior o negócio da reconstrução.
O custo da reconstrução do Iraque está avaliado em 100 mil milhões de dólares. O negócio do século. Praticamente tudo foi destruído pelos bombardeamentos: poços de petróleo, hospitais, estradas, aeroportos, portos, redes eléctricas e de água, escolas... 
As empresas escolhidas para a reconstrução são apenas seis, todas americanas, todas seleccionadas pelo ministério da defesa americano. A cabecear esta lista: Halliburton, cujo o antigo presidente era o vice-presidente americano Dick Cheney, o qual ainda faz parte do conselho de administração da filial Kellog Brown & Root. Também temos a empresa Bechtel Corp. que era presidida por George Shultz, antigo secretário de estado americano.
A principal diferença entre o plano Marshall e a reconstrução do Iraque é que o primeiro destinava-se a reconstruir o que os nazis tinham destruído durante a a guerra, enquanto que no Iraque, foram os próprios Estados Unidos que destruíram as redes de água, electricidade, aeroportos, escolas e hospitais. 
Tudo leva a crer que essa destruição foi premeditada, senão como explicar, por exemplo, o bombardeamento das redes de água e electricidade em Bagdade, quando os americanos não se cansavam de referir que as suas “bombas inteligentes” apenas destruíam com grande precisão objectivos bem definidos.
Como é o Pentágono que decide quais são as empresas que vão participar na reconstrução, os Estados unidos contrataram-se a eles próprios. Na escolha das empresas de reconstrução não intervêm quaisquer organizações internacionais.
Do ponto de vista puramente comercial, o acordo de Camp David, em 1989, previa que as empresas egípcias e israelitas teriam um tratamento preferencial nos casos em fossem necessárias reconstruções em países do Médio-Oriente. O Egipto nunca beneficiou desse tal acordo, enquanto que as empresas de Israel já obtiveram contratos de mais de 7 mil milhões de dólares.
Nota:
1- 4484 militares dos EUA mortos no Iraque, segundo icasualties.org (nota do TMI)
 
*GrupoBeatrice

O taxísta bailarino

 do Informação Incorrecta
Hoje estive num supermercado, o que já não é bom, e enquanto ficava na fila reparei em três coisas.
1. Os preços aumentaram de forma brutal.
Tá bom, é o que merecemos por causa da nossa intrínseca estupidez, não é que haja muito a dizer acerca deste assunto.
2. Numa outra fila havia uma mãe com um bebé nos braços.
Este estava embutido num casaco que parecia um colchão, estava vermelho como um pimento e fartava-se de chorar. E com razão, pois de facto estava a assar de forma lenta: eu, por exemplo, estava de mangas curtas (embora seja verdade o facto de eu ser exagerado no que diz respeito ao calor; doutro lado estou habituado à neve, não ao pseudo-frio português...).
Não é a primeira vez que reparo em situações similares e não entendo a atitude destes pais: não é que manter um bebé na casa dos 40º graus signifique torna-lo mais saudável. Aliás, acho ser exactamente o contrário: sem contar com a constante transpiração, da primeira vez que a criatura tiver verdadeiramente frio ficará logo com uma pneumonia, pois o corpo dela nunca terá tido a possibilidade de desenvolver as defesas naturais.
O máximo são os carrinhos para bebé com cobertura em plástico transparente: autênticas estufas onde não circula ar nem oxigénio, foram inventados para "proteger da chuva" mas na verdade são utilizados em todas as ocasiões, Verão incluído. Acho que o projectista deve ter sido um velho oficial das SS, antigamente empregado em qualquer campo de extermínio.
3. Mais à frente encontrava-se a caixa.
Uma rapariga bonitinha cujo papel era passar os artigos por cima do leitor óptico, fornecer sacos de plástico e perguntar qual a forma de pagamento: dinheiro ou cartão?
Um trabalho emocionante, sem dúvida.
Lembrei dos tempos do liceu quando um dia participei numa reunião dum grupo comunista ("Luta Comunista" ou algo de parecido): o assunto em debate era a alienação do trabalhador.
Solução: fazer que cada trabalhador fosse empenhado em vários trabalhos. Magnífico.
Eu fiquei logo fascinado por esta sociedade ideal onde os carros iam todos em marcha atrás e onde os telemóveis faziam travar os comboios.
- O senhor deseja também mudar o óleo?
- Mas eu tenho que ser operado de apendicite...
- Sim mas hoje o cirurgião é o mecânico.
Não sei, se calhar foi naquela altura que começou a minha desconfiança em relação ao Comunismo.
Mas o problema da alienação existe e disso não há dúvida.
Mais: não é apenas um problema de desenvolver um trabalho monótono e repetitivo: com o actual sistema é a mesma sociedade que fica a perder.
Por exemplo: Walner é taxista em Rio de Janeiro, por acaso uma profissão simpática. Talvez seja o melhor taxista de Rio, mas não poderia ser também um excelente pintor? Ou genial cientista? Ou grande músico? Ou o melhor escritor do planeta?
Porque não? Como podemos saber quais as melhores aptidões duma pessoa?
É dito que a escola serve também para isso. O que é uma mentira.
O menino Max, quando acabou a escola obrigatória, enfrentou o dilema: e agora? Qual escola? Os meus pais falaram com os antigos professores os quais não tiveram dúvidas: o menino é muito bom na Matemática, dotado mesmo.
Eu não sabia de ter este dom, por isso confiei e escolhi um endereço científico onde, óbvio, a Matemática abundava. E, de forma igualmente óbvia, o menino Max cedo descobriu a sua total aversão para tudo o que tinha a ver com números. De facto, não é que eu não goste de Matemática: simplesmente, perante uma equação, começam as tonturas, perda de memória, taquicardia, fibrilação e por fim o desmaio.
Na verdade odeio um universo onde 2 + 2 é sempre 4.
Então, que tinha acontecido? Duas coisas:
a diferença entre a matemática do ensino básico e aquela da escola secundária era abismal. Até quando tudo ficava resumido a operações elementares, o meu cerebrinho aguentava; ultrapassado este limite, as sinopses começavam a falhar. De facto, os professores (tal como os meus pais e até mesmo eu) não tiveram os instrumentos para avaliar o meu desempenho nesta área.
em breve descobri quais as matérias que  mais conseguiam estimular-me: línguas no geral, escrita, geografia, filosofia, história, música. Mas percebi isso só depois, porque o ensino básico não foi capaz de dar-me suficientes "dicas" acerca disso.
Agora, ampliamos o discurso. Quantos entre nós descobriram paixões ao longo da vida, entendo só depois ter acabado a própria formação? O problema é que após a formação começa o trabalho (com sorte nos dias que correm) e já não sobra muito tempo para cultivar outros interesses.
Outro exemplo: publiquei dois cd enquanto já trabalhava e sempre encarei a música como um passatempo e nada mais do que isso. Poderia ser eu um novo Beethoven? Duvido muito, além disso não gostaria de ficar surdo como ele. Mas, tal como Walner, poderia brilhar em outras áreas, algumas das quais se calhar nem consigo imaginar agora.
Estamos a falar, é claro, do potencial que cada um de nós tem e que a nossa sociedade não valoriza.
A menina da caixa com certeza terá atitudes bem mais interessantes do que transitar mercadoria por cima dum leitor óptico: mas nesta altura é o melhor que consegue, pois vive num País em profunda crise (Portugal!) e ainda fica satisfeita por ter um trabalho.
É um assunto complicado, sem dúvida, mas acho ser algo de extremamente importante, apesar de nem conseguir vislumbrar uma solução. Pois não é apenas a menina da caixa que fica a perder, é toda a sociedade que abafa um oceano de possibilidades.
Imaginem se fosse possível encontrar uma maneira para as pessoas exprimirem toda a potencialidade delas: teríamos os melhores cientistas, os melhores médicos, os melhores escritores, os melhores canalizadores, os melhores jardineiros, os melhores blogueiros...não, desculpem, isso já temos e sou eu.
Toda a sociedade ficaria a ganhar. E uma pessoa poderia distinguir-se em mais do que uma área: Walner poderia ser ao mesmo tempo o melhor taxista, o melhor bailarino de samba de Rio e um entre os melhores costureiros do Brasil (bailarino, costureiro...mah...).
Sempre pensei nisso acerca dos Países mais sub-desenvolvidos, aqueles onde as pessoas morrem de fome: quantos Einstein sofrem de disenteria nesta altura?
Ipse dixit.
*Gilsonsampaio

Charge do Dia

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Os intelectuais orgânicos do totalitarismo financeiro







O que move o partido-imprensa 
Merval Pereira, Miriam Leitão, Sardenberg, Eliane Cantanhêde, Dora Kramer e outros mais necessitam ser analisados pelo que são: intelectuais orgânicos do totalitarismo financeiro. O conteúdo de suas colunas representa a tradução ideológica dos interesses do capital financeiro.
Gilson Caroni Filho
A leitura diária dos jornais pode ser um interessante exercício de sociologia política se tomarmos os conteúdos dos editoriais e das principais colunas pelo que de fato são: a tradução ideológica dos interesses do capital financeiro, a partitura das prioridades do mercado. O que lemos é a propagação, através dos principais órgãos de imprensa, das políticas neoliberais recomendadas pelas grandes organizações econômicas internacionais que usam e abusam do crédito, das estatísticas e da autoridade que ainda lhes resta: o Banco Mundial (BIrd), o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC). É a eles, além das simplificações elaboradas pelas agências de classificação de risco, que prestam vassalagem as editorias de política e economia da grande mídia corporativa. 
Claramente partidarizado, o jornalismo brasileiro pratica a legitimação adulatória de uma nova ditadura, onde a política não deve ser nada além do palco de um pseudo-debate entre partidos que exageram a dimensão das pequenas diferenças que os distinguem para melhor dissimular a enormidade das proibições e submissões que os une. É neste contexto, que visa à produção do desencanto político-eleitoral, que deve ser visto o exercício da desqualificação dos atores políticos e do Estado. Até 2002, era fina a sintonia entre essa prática editorial e o consórcio encastelado nas estruturas de poder. O discurso "modernizante" pretendia - e ainda pretende - substituir o "arcaísmo" do fazer político pela "eficiência" do economicamente correto. Mas qual o perigo do Estado para o partido-imprensa? Em que ele ameaça suas formulações programáticas e seus interesses econômicos?
O Estado não é uma realidade externa ao homem, alheia à sua vida, apartada do seu destino. E não o pode ser porque ele é uma criação humana, um produto da sociedade em que os homens se congregam. Mesmo quando ele agencia os interesses de uma só classe, como nas sociedades capitalistas, ainda aí o Estado não se aliena dos interesses das demais categorias sociais.
O reconhecimento dos direitos humanos, embora seja um reconhecimento formal pelo Estado burguês, prova que ele não pode ser uma instituição inteiramente ligada aos membros da classe dominante. O grau maior ou menor da sensibilidade social do Estado depende da consciência humana de quem o encarna. É vista nesta perspectiva que se trava a luta pela hegemonia. De um lado os que querem um Estado ampliado no curso de uma democracia progressiva. De outro os que só o concebem na sua dimensão meramente repressiva; braço armado da segurança e da propriedade.
O partido-imprensa abomina os movimentos sociais os sindicatos (que não devem ter senão uma representatividade corporativa), a nação, antevista como ante-câmara do nacionalismo, e o povo sempre embriagado de populismo. Repele tudo que represente um obstáculo à livre-iniciativa, à desregulamentação e às privatizações. Aprendeu que a expansão capitalista só é possível baseada em "ganhos de eficiência", com desemprego em grande escala e com redução dos custos indiretos de segurança social, através de reduções fiscais.
Quando lemos os vitupérios dos seus principais articulistas contra políticas públicas como Bolsa Família, ProUni e Plano de Erradicação da Pobreza, dentre outros, temos que levar em conta que trabalham como quadros orgânicos de uma política fundamentalista que, de 1994 a 2002, implementou radical mecanismo de decadência auto-sustentada, caracterizada por crescentes dívidas, desemprego e anemia da atividade econômica.
Como arautos de uma ordem excludente e ventríloquos da injustiça, em nome de um suposto discurso da competência , endossaram a alienação de quase todo patrimônio público, propagando a mais desmoralizante e sistemática ofensiva contra a cultura cívica do país. Não fizeram- e fazem- apenas o serviço sujo para os que assinam os cheques, reestruturam e demitem. São intelectuais orgânicos do totalitarismo financeiro, têm com ele uma relação simbiótica. E é assim que devem ser compreendidos: como agentes de uma lógica transversa.
Merval Pereira, Miriam Leitão, Sardenberg,  Eliane Cantanhêde, Dora Kramer e outros mais necessitam ser analisados sob essa perspectiva. É ela que molda a ética e o profissionalismo de todos eles. Sem mais nem menos.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

*esquerdopata

Kassab, o burguês higienista!

SABATINA GILBERTO KASSAB - 14.10.2008;O atual prefeito e candidato a prefeitura Gilberto Kassab pelo partido DEM, e sabatinado no teatro Folha. Brasil - Foto: Fernando Donasci/Folha Imagem.O burguês e higienista prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que tem sua administração (?) marcada por polêmicas como defensor da burguesia e de uma política que pretende acabar com a miséria de uma maneira bem peculiar, mandando os miseráveis para bem longe da Capital Paulistana. Exemplos não faltam, como a denúncia do Sindicato dos Guardas  Civis Metropolitanos de São Paulo, Carlos Augusto Souza Silva, que apresentou um documento em que confirma a orientação para que a corporação retire a população em situação de rua do centro da capital, o descumprimento da promessa aos “diferenciados” da capital paulistana, os catadores de material reciclável, a que Prefeitura de São Paulo aproveita incêndio para desalojar Comunidade do Moinho e tantas outras que fica difícil enumerar, agora vem dizer que não sabia da operação da polícia na cracolândia.
De acordo com um dos tentáculos do PIG, a Folha, “o prefeito Gilberto Kassab (PSD) disse que não foi avisado do início da operação da cracolândia. Ele visitou ontem as obras de um complexo destinado ao atendimento de pessoas de rua, dependentes de álcool, crack e outras drogas”.
Ainda de acordo com o jornaleco, Kassab disse que a inauguração será até o início fevereiro, a um custo de R$ 8 milhões.  A informação de que o prefeito não fora avisado foi publicada ontem por outro integrante do PIG, o jornal "O Estado de S.Paulo".
cracolândiaA operação começou sem que o complexo que ele visitou estivesse pronto. O prefeito minimizou o episódio, sob o argumento de que a prefeitura tem outros locais para encaminhar os dependentes de crack.
Mas o que se tem visto são os dependentes de crack vagando desnorteados, aos bandos, por outros pontos da Capital Paulistana, sem que nenhuma medida social efetiva tenha sido tomada pela prefeitura.
Por: Eliseu 

"Ação da polícia na cracolândia parte de visão higienista"

cracolandia-operacao-policia-sao-paulo-20120104-12-size-598Desde terça-feira (3), a Polícia Militar comanda a Operação Sufoco contra o tráfico de drogas na Cracolândia, centro de São Paulo. Dividida em três fases, a medida pretende “criar um ambiente seguro” para ações sociais e de saúde a usuários de crack, além de manter a região da Nova Luz, que passará por uma revitalização a ser concluída em 2026, sem novos grupos de dependentes e criminosos.

A ação é, porém, criticada por especialistas por comprometer o trabalho dos agentes da Secretaria Municipal de Saúde que tentam criar uma relação com os usuários para propor o tratamento voluntário. “Uma medida repressiva resulta no oposto do pretendido”, diz Dartiu Xavier, psiquiatra e diretor do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes da Unifesp.
O especialista destaca que medidas repressivas sem propor auxílio ou ajuda aos dependentes são equivocadas e ineficientes. “As pessoas estão incomodadas com indivíduos se drogando na rua, mas se este é o grande mote para a ação, há uma medida higienista”, afirma. E completa: “Essa situação é atribuída à droga, mas a causa do problema é a exclusão social, ausência de moradia e saúde.”A polícia pretende identificar traficantes e cortar a chegada do crack na região no prazo de um mês, com a ajuda de 100 policiais que atuam na área 24 horas por dia. Segundo a organização, houve estudos e reuniões preparatórias para a operação, que, ao diminuir a quantidade da droga nas ruas, espera forçar dependentes a procurar ajuda. “Os usuários vão simplesmente ir para outros bairros buscar novos fornecedores”, aponta Dartiu.
Rosângela Elias, coordenadora da Área Técnica de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, defende que a tática da polícia pode ser útil para apoiar usuários em tratamento. “Essas pessoas sabem onde encontrar o crack, mas se em um momento de ‘fissura’ enfrentarem dificuldades para achar a droga, isso pode ajudá-las a se esforçar mais contra o vício.”A coordenadora afirma que agentes de saúde já acompanham a movimentação dos dependentes, dispersados após a operação da polícia no centro, para mapear a nova concentração dos usuários e manter o fornecimento de ajuda médica. Segundo Elias, apesar de ser uma operação em parceria com a PM, a Secretaria não participa das ações de repressão. “Temos objetivos diferentes, a polícia precisa enfrentar o crime, o tráfico de drogas e fornecer segurança pública”, declara. “Os agentes de saúde não podem se misturar com a repressão, pois trabalham com vínculos de confiança.”Em 2009, a região também foi alvo de uma operação da polícia, que acabou abandonada por falta de recursos. Agora, a polícia espera conseguir aumentar a cooperação da Justiça para a internação compulsória. “Esse é o tipo de tratamento com a menor eficácia, tem até 98% de recaída”, destaca Xavier.
Elias aponta, contudo, que a prefeitura tem outras opções disponíveis para os dependentes. A cidade conta com 70 unidades de Centros de Atenção Psicossocial (Caps), serviços de atenção integrados na cracolândia e hospitais gerais em rede. “Construímos uma rede para dar maior atenção a essa população e vamos analisar os pacientes que forem chegando para ver a melhor forma de ajudá-los.”Até a tarde de quinta-feira (5), a operação havia prendido quatro pessoas, realizado 538 abordagens e capturado dez condenados. Além disso, a PM informou que mais de sete toneladas de lixo foram removidas da região e prédios abandonados ocupados por dependentes foram esvaziados.
Por: Vermelho, via CartaCapital
 *Ocarcará

Leitura obrigatória para o senador do DEM,antes que acabe, Demóstene Torres. Viu, senador, como V.Exa. estava errado?


Cotistas se dão bem na sua maior prova: a carreira

Nove em cada 10 formandos beneficiados por reserva de vagas estão no mercado de trabalho. Seis, na sua área de formação

POR MARIA LUISA BARROS
Rio - Oito anos após o início do programa de reserva de vagas no ensino superior para negros e estudantes da rede pública, ex-cotistas estão se saindo muito bem na prova mais importante: a carreira profissional. Sete em cada dez estudantes que ingressaram na universidade pelo sistema de cotas já conquistaram uma vaga no mercado de trabalho, sendo seis deles na sua área de formação. Dois se preparam para concursos e apenas um não conseguiu emprego após a formatura.

Os dados inéditos fazem parte da primeira pesquisa feita, no ano passado, pela Universidade do Estado do Rio (Uerj), com 20% dos 4.280 ex-cotistas. O levantamento coordenado pela Sub-reitoria de Graduação revelou que 90% dos cotistas pioneiros não pensam em parar os estudos. Entre os egressos, 67% já concluíram cursos de pós-graduação e 39% frequentam mestrado, como Bruna Melo dos Santos, 30 anos.

Alexandre Brum / Agência O Dia
Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Formada em História, ela está na segunda faculdade, de Arquivologia, que concilia com o curso de mestrado. “Eu só precisava de uma chance de provar que era capaz. Daqui a dois anos pretendo fazer doutorado na Inglaterra”, planeja ela, que agradece aos patrões da mãe, doméstica, pela ajuda nos anos difíceis da faculdade. “Eles me davam vales-alimentação, transporte e até curso de inglês. Foram anjos na minha vida”, conta Bruna, que viu o padrão de vida mudar após os estudos. Ela comprou um apartamento junto com o marido, também ex-cotista, e se mudou de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para Irajá, na Zona Norte do Rio, para ficar mais perto do trabalho.

As amigas Ana Paula Ferreira de Melo, 27, e Camila Rodrigues de Souza, 26, trilharam o mesmo caminho, fazendo as duas faculdades. Ana Paula é professora das redes municipal e estadual do Rio e Camila trabalha como arquivista na iniciativa privada.

“Vejo nos meus alunos que a maioria não sonha. Tento servir de exemplo”, diz Ana, que também comprou apartamento. “Estudávamos muito porque a cobrança era maior em cima da gente. Não queríamos que ninguém dissesse que jogamos fora a oportunidade”, conta Camila.

Beneficiados por cota se formam mais que os outros

Formada na primeira turma de cotistas da Uerj, em março de 2007, a dentista Priscila Seraphim, 26 anos, é a prova de que, às vezes, basta uma oportunidade. Ela se divide em três clínicas odontológicas e o curso de especialização. Durante a faculdade, Priscila contou com a ajuda da aposentadoria da avó para custear R$ 2 mil por semestre com o material da aula prática, livros, roupa branca, alimentação e transporte: “Havia livros que custavam R$ 300 e não tinha para todos na biblioteca”.

Como ocorreu com Priscila, a Sub-reitoria de Graduação da Uerj identificou que a maior dificuldade dos cotistas era permanecer até a formatura. Por isso ampliou a assistência estudantil. Além da bolsa-auxílio de R$ 300 e de oficinas de reforço escolar, a universidade passou a fornecer livros, calculadoras e kits básicos para alunos de Medicina e Odontologia, que incluem instrumentos como estetoscópio e material para aulas em laboratório.

Como tartarugas da fábula, cotistas começam em desvantagem, mas podem ser os primeiros na linha de chegada, incentivados pela determinação que os leva a seguir sempre em frente. Eles se formam mais (25,9%) do que os não-cotistas (20,5%). “Agarram com unhas e dentes a oportunidade e fazem melhor uso do dinheiro público, já que não abandonam o curso”, reconhece a sub-reitora Lená Menezes.

Boçal


Heráclito Fortes, o Mubarak do Piauí

Por Altamiro Borges

“Eu me sinto como o Mubarak, após 28 anos de mandato”, confessou à Folha o ex-senador Heráclito Fortes, do DEM do Piauí. O demo, um dos mais ácidos inimigos do governo Lula e das causas progressistas, entrou em parafuso após a derrota nas eleições de outubro passado. “Ociosidade é algo que nunca tinha experimentado. O começo é meio chocante”, admitiu.

Segundo o jornal, o ex-primeiro-secretário do Senado tirou 90 dias para ficar “de perna pro ar” e estuda convites para atuar em conselhos de administração de algumas empresas. Ele não pretende abandonar a vida política, como fiel representante da direita nativa, mas se ressente da falta do mandato parlamentar.

Filhote da ditadura e serviçal de FHC

A lembrança de Mubarak foi um lapso de sinceridade do ex-senador. Ele sempre teve identidade com ditaduras e atuou como serviçal dos interesses imperiais dos EUA – a exemplo do egípcio derrubado pela revolta popular. Heráclito estreou na política durante o regime militar, sendo oficial de gabinete do vice-governador de Pernambuco, José Antônio Barreto Guimarães (1971-1973), e assessor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de 1973 a 1975, entre outros cargos no período da ditadura.

Em 1978, ele disputou uma vaga de deputado federal pela extinta Arena, o partido dos generais, e ficou na segunda suplência. Com forte senso de oportunidade – para não dizer oportunismo –, Heráclito passou por vários partidos – PP, PMDB e PDT, até chegar ao ex-PFL, que deu origem ao atual DEM. Em 1988, ele foi eleito prefeito de Teresina (PI). Já no reinado neoliberal de FHC, ele virou líder do governo na Câmara dos Deputados, comandando todas as contra-reformas do tucano no Congresso Nacional.

Inimigo raivoso do MST

A partir de 2002, Heráclito Fortes começou a sentir o bafo no cangote. Foi eleito senador num pleito bastante apertado, o que já indicava o início de um novo ciclo político no país aberto com a vitória de Lula à presidência. Em 2006, foi um dos coordenadores da campanha derrotada de Geraldo Alckmin. Como senador, tornou-se uma das vozes mais estridentes contra o governo Lula. Agora, em outubro de 2010, o povo deu o troco e Heráclito ficou num humilhante quarto lugar na disputa para a sua reeleição.

Além de ser um dos chefões da oposição de direita, Heráclito ganhou fama por sua postura raivosa contra as lutas dos trabalhadores. Em 2009, ele apresentou vários requerimentos solicitando a quebra dos sigilos bancário e fiscal do MST, acusando o movimento de ser uma “organização terrorista”. Também fez vários discursos na tribuna contra o sindicalismo, destilando ódio contra as centrais e contrapondo-se às principais reivindicações trabalhistas.

O informante do império

Heráclito virou um dos principais porta-vozes dos interesses dos EUA no Brasil. Segundo documento recentemente vazado pelo Wikileaks, ele chegou a sugerir ao governo ianque que estimulasse a produção de armas no país para conter supostas ameaças da Venezuela na região. Em memorando da diplomacia estadunidense, o então embaixador Clifford Sobel relata os diálogos que teve o parlamentar piauiense, que na época presidia a Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado.

Segundo o documento, o senador pediu uma reunião “urgente” com Sobel. Na conversa teria se declarado “verdadeiramente preocupado” com uma suposta atividade terrorista no Brasil e com a influência do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Ele sugeriu um plano para armar o Brasil e a Argentina contra a suposta ameaça bolivariana, “antes que fosse tarde”, e propôs ainda acionar empresas privadas para mascarar a ação estadunidense. Em outro telegrama, de 2008, Sobel afirma que Heráclito relatou a suposta presença de terroristas numa ONG do Piauí e disse temer a instalação de uma “guerrilha esquerdista” em Rondônia.
*Brasilmostraatuacara

Moradores reclamam de 'casa de barro' feita pelo governador do PSDB em SP


Toda vez que chove, a autônoma Leandra Aparecida Pereira, 31, e os três filhos já sabem: os móveis têm que ser arrastados e os rodos devem estar por perto.

Desde que se mudaram para uma casa popular no Jardim Santa Bárbara, em Franca (SP), há oito meses, o problema é o mesmo: a água escorre do forro e desce pelas paredes de todos os cômodos.

A mesma situação é vivida por todos os 15 moradores.As casas, entregues pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) a 72 famílias em maio do ano passado, ficam em uma área sem asfalto.


A reportagem  da Folha constatou goteiras, rachaduras, trincas, vazamentos, pias soltas, umidade e bolor nas paredes, forro solto e até a falta de muros de arrimo. "Fizeram casas de barro e nós estamos pagando. É uma falta de respeito", afirmou a sapateira Rosimary Cruz de Souza, 39.

O autônomo Cosmiro Leonardo dos Santos, 42, disse que pensa em voltar a morar em seu antigo barraco de tábua, no Jardim Cambuí.

"Onde eu morava era muito melhor. Não tinha água, mas também não tinha vazamento, piso solto", afirmou.

Na quadra em que mora, na rua Maura da Silva Santana, todas as casas ficam alagadas durante a chuva.

RIBEIRÃO
Moradores de casas da CDHU em Ribeirão Preto (SP) mostram vazamento de esgoto

O drama dos moradores de Franca é semelhante ao vivido por quem se mudou para o Paulo Gomes Romeo, em Ribeirão Preto, há 11 meses.

A reportagem percorreu 23 casas da primeira etapa do conjunto e, em 20 delas, foram constatados ao menos um problema. Todas têm rachaduras e infiltrações e em nenhuma as janelas fecham.

Pela falta de segurança, a auxiliar de cozinha Clarinda Duarte Rosa, 51, pediu demissão para cuidar da filha. "Já tentaram entrar em casa três vezes", afirmou.

A dona de casa Cristiana Camargo, 30, improvisou um balde embaixo da pia da cozinha por causa de vazamentos desde a mudança.

No banheiro da casa do vigilante José Bento Ramos, 53, a água escorre para o corredor, em vez do ralo. "Tem que tomar banho usando o rodo", afirmou. O mesmo problema ocorre em outras cinco casas. Na Folha


E já que as casas construidas pelo PSDB não prestam... Dilma e Alckmin têm acordo para financiar casa popular

Por que Estados pagam 600 vezes mais juros?

Através da Agência Imediata, o impactante artigo publicado há dias pelo Le Monde pelo ex-primeiro-ministro francês Michel Rocard,  e pelo economista Pierre Larrouturou, sob o título “Porque os Estados devem pagar 600 vezes mais que os bancos?” Eles dão razão a Franklin Roosevelt que,  há oitenta anos, já dizia: “ser governados pelo dinheiro organizado é tão perigoso quanto ser governado pelo crime organizado”.
Embora focado na crise europeia e norteamericana contém uma série de reflexões úteis para nós, cujo potencial de crescimento, a muito custo, tenta se livrar do jugo dos juros.
E que tem parte do seu pensamento econômico com um comportamento em relação ao capital financeiro em tudo semlhante àquela “Sindrome de Estocolmo”: admira e idolatra o sequestrador que a priva da liberdade.
Leitura imperdível.
“São cifras inacreditáveis. Já se sabia que, em fins de 2008, George Bush e Henry Paulson tinham colocado sobre a mesa 700 bilhões de dólares (540 bilhões de euros) para salvar os bancos dos EUA. Uma soma colossal. Mas recentemente, um juiz estadunidense deu razão aos jornalistas da Bloomberg que exigiam transparência de seu banco central quanto à ajuda dada ao sistema bancário.
Depois de terem vasculhado 20.000 páginas de diferentes documentos, a Bloomberg mostra que o Federal Reserve (FED)  emprestou secretamente aos bancos em dificuldade a quantia de 1.200 bilhões a uma taxa incrivelmente baixa de 0,01%.
No mesmo momento, em muitos países, as populações sofrem com os planos de austeridade impostos pelos governos aos quais os mercados financeiros não aceitam emprestar bilhões a taxas de juros inferiores aos 6,7% ou aos 9%. Asfixiados por essas taxas de juros, os governos são “obrigados” a bloquear aposentadorias, subsídios familiares ou salários de funcionários públicos e a cortar os investimentos, e isso faz aumentar o desemprego e logo nos fará afundar numa recessão muito grave.
Será normal que, em caso de crise, os bancos privados, que se financiam normalmente à taxa de 1% junto aos bancos centrais, possam se beneficiar de taxas de 0,01%, enquanto certos Estados, pelo contrário, são obrigados a pagar taxas 600 ou 800 vezes mais altas? “Ser governados pelo dinheiro organizado é tão perigoso quanto ser governado pelo crime organizado”, afirmava Roosevelt. Ele tinha razão. Nós estamos vivendo uma crise do capitalismo não regulamentado que pode se revelar um suicídio para a nossa civilização. Como afirmam o escritor Edgar Morin e Stéphane Hessel, em Le Chemin de l’ésperance (Fayard 2011) (O Caminho da esperança – N.d.T.), nossas sociedades devem escolher: a metamorfose ou a morte?
Será que esperaremos até que seja tarde demais para abrir os olhos? Será que esperaremos até que seja tarde demais para compreender a gravidade da crise e escolher em conjunto a metamorfose antes do colapso das nossas sociedades? Não temos a possibilidade aqui de desenvolver as dez ou quinze reformas concretas que tornariam possível essa metamorfose. Queremos somente demonstrar que é possível discordar de Paul Krugman quando explica que a Europa está entrando em uma “espiral negativa”. Como dar oxigênio às nossas finanças públicas? Como agir sem modificar os tratados, o que vai exigir meses de trabalho e se tornará impossível se a Europa for cada vez mais detestada por seus cidadãos?
Angela Merkel tem razão quando diz que nada deve encorajar os governos a continuar a fuga para frente. Mas o essencial das quantias que os nossos Estados tomam em empréstimo nos mercados financeiros diz respeito a dívidas velhas. Em 2012, a França deve tomar emprestado cerca de 400 bilhões: 100 bilhões que correspondem ao déficit do orçamento (que seria quase nulo se fossem anuladas as reduções de impostos outorgadas nos últimos dez anos) e 300 bilhões que correspondem a velhas dívidas, que vão vencer e que somos incapazes de reembolsar se não nos endividarmos novamente pelas mesmas quantias algumas horas antes de reembolsá-las.
Cobrar taxas de juros colossais para débitos acumulados cinco ou dez anos atrás não ajuda a responsabilizar os governos mas a asfixiar nossas economias, fazendo lucrar os bancos privados; com o pretexto que há um risco, emprestam a taxas muito elevadas sabendo que não há qualquer risco real, porque o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (ESFS)  vai garantir a solvência dos Estados devedores.
É preciso acabar com essa concepção de dois países duas medidas: inspirando-nos naquilo que fez o banco central estadunidense para salvar o sistema financeiro, propomos que “a velha dívida” dos nossos Estados possa ser refinanciada a uma taxa próxima de 0%.
Não é preciso modificar os tratados europeus para colocar em prática essa ideia: certo, o Banco Central Europeu (BCE) não está autorizado a emprestar aos Estados membros, mas pode emprestar sem limite aos órgãos públicos de crédito (artigo 21.3 do estatuto do sistema europeu dos bancos centrais) e às organizações internacionais (artigo 23 do mesmo estatuto). Ele pode, portanto, emprestar a uma taxa de 0,01% ao Banco Europeu de Investimentos (BEI) ou à Caixa dos Depósitos, e esses, por sua vez, podem emprestar a 0,02% aos Estados que se endividaram, para o reembolso de suas velhas dívidas.
Nada impede de atuar esses financiamentos a partir de janeiro! Isso não é suficientemente dito: o orçamento da Itália apresenta um excedente primário. Estaria, assim, em equilíbrio se a Itália não tivesse que pagar pelos custos financeiros cada vez mais elevados. É preciso deixar que a Itália afunde na recessão e na crise política ou devemos aceitar de pôr um basta aos lucros financeiros? A resposta deveria ser evidente para quem age a favor do bem comum.
O papel que os tratados atribuem ao BCE é o de vigiar a estabilidade dos preços. Como é que ele pode não reagir quando alguns países verificam os rendimentos de suas obrigações do Tesouro dobrar ou triplicar em poucos meses? O BCE deve também controlar a estabilidade de nossas economias. Como é que ele pode deixar de agir quando o preço da dívida ameaça nos fazer cair numa recessão que, segundo o governador do Banco da Inglaterra, seria “mais grave que aquela de 1930”?
Se nos atemos aos tratados, nada impede ao BCE de agir com força para fazer baixar o custo da dívida. Não só não há obstáculos que os impeçam de agir como, pelo contrário, cada elemento o leva nessa direção. Se o BCE fosse fiel aos tratados, deveria fazer de tudo para diminuir o custo da dívida pública. É opinião geral que a inflação seja a coisa mais inquietante.
Em 1989, depois da queda do Muro de Berlim, foi suficiente um mês para que Helmut Kohl, François Mitterrand e outros chefes de Estado europeus decidissem criar a moeda única. Depois de quatro anos de crise, o que é que os nossos dirigentes ainda estão esperando para dar oxigênio às nossas finanças públicas? O mecanismo que propomos poderia ser aplicado imediatamente, seja para diminuir o custo da velha dívida que para financiar os investimentos fundamentais para o nosso futuro, como por exemplo, um plano europeu de economia energética.
Aqueles que requerem a negociação de um novo tratado europeu têm razão: com os países que o desejam é preciso construir uma Europa política capaz de agir sobre a globalização: uma Europa verdadeiramente democrática como já propunham Wolfgang Schäuble e Karl Lamers em 1994, ou Joschka Fischer em 2000. Ocorre um tratado de convergência social e uma verdadeira governança econômica.
Tudo isso é indispensável. Mas nenhum novo tratado poderá ser adotado se o nosso continente afundar numa “espiral negativa” e os cidadãos começarem a detestar tudo o que é decidido em Bruxelas. É urgente enviar aos cidadãos um sinal muito claro: a Europa não está nas mãos dos lobbies financeiros.
Está a serviço de seus cidadãos.”
*Tijolaço