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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Serra e Kassab mentiram ao afirmar que não sabíam da PM na cracolândia



Quando a operação cracolândia repercutiu negaticamente depois de críticos acusaram a ação de ser meramente “higienista”, pela falta de políticas sociais e de saúde, a Folha saiu em socorro do governador de São Paulo Geraldo Alckimin (PSDB) e Kassab, o prefeito paulista do PSD. Segundo matérias publicadas no jornal na semana passada,nenhum dos dois governantes sabíam o que estava acontecendo no centro de São Paulo. Também,desconheciam que a polícia, sob seu comando, estivesse dando cassetetada, usando gás pimenta, cavalaria e bombas de efeito moral para afastar os dependentes de crack da região onde se pretende criar um complexo imobiliário.

Hoje,a Folha resolveu voltar atrás e publicar o que nós ja denunciamos aqui no blog  no dia 11 de janeiro

Ou seja; Alckmin e Kassab mentiram.Eles legalizaram sim a tortura em São Paulo

Foi dos dois a idéia de acabar com cracolândia pela estratégia de 'dor e sofrimento'. 

Dia 07/01, a manchete do jornal O Estado de São Paulo "Alckmin e Kassab não sabiam de ação da Cracolândia" 

Matéria da Folha dessa segunda-feira 16/01


Encontro ocorrido em 1º de dezembro pôs fim à hesitação entre priorizar intervenção policial ou políticas sociais

Começo da operação também foi motivado pelo temor de que a gestão Dilma e o PT se apropriassem do tema

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (PSD) deram aval ao uso ostensivo da Polícia Militar na cracolândia, centro de São Paulo, em reunião no dia 1º de dezembro, no Palácio dos Bandeirantes.Troca de e-mails e uma bateria de reuniões -uma delas com cem homens, na PM- antecederam a ação.

Alckmin e Kassab debateram com secretários da área social e de segurança medidas de combate ao tráfico, incluindo a ação policial ostensiva. Até então, eles hesitavam sobre a polícia. No governo, havia a tese de que era problema social e de Kassab.

Já a prefeitura era palco de disputa entre duas correntes. Uma delas defendia que a solução estava nas políticas sociais, mas, quatro meses depois, prevaleceu a tese, compartilhada pelo secretário Januário Montone (Saúde), de que, sem repressão policial, estariam "enxugando gelo".

O comandante-geral da PM, coronel Álvaro Camilo, defendeu janeiro, pois, com a cidade esvaziada pelas férias, seria possível destinar mais policiais para a ação.

"Definimos com outros órgãos que a operação aconteceria em janeiro", disse.

A vice-prefeita e secretária de Assistência Social, Alda Marco Antonio, exibiu o modelo de tendas para viciados. Os secretários de Saúde listaram vagas para tratamento.

No dia 29 de dezembro, o núcleo de segurança desenhou a operação. A data -terça-feira, 3 de janeiro- foi fixada pelo comandante do centro, coronel Pedro Borges.

"A ação ia começar na segunda-feira. Mas como a segunda é um dia sem véspera, porque domingo é plantão, decidi esperar mais um dia para poder conversar com a tropa", afirma Borges.

Da reunião que decidiu a data participou o presidente do Conselho Municipal de Políticas Públicas de Drogas e Álcool, José Florentino Filho. Alda foi informada nesse dia.

POLÍTICA

A definição de data e hora teve combustível político. No dia 23 de dezembro, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciaram em São Paulo a participação dos movimentos sociais no plano "Crack, é possível vencer".

Atento à movimentação e sob cobrança do eleitorado, Alckmin temia que o PT assumisse a bandeira. Padilha é tido como potencial candidato ao governo em 2014.

Na prefeitura, o medo era que a União se apropriasse do programa municipal de atendimento móvel aos dependentes, hoje com 27 equipes.

Em dezembro, a gestão Dilma lançou o programa de consultórios de rua, que prevê o transporte de profissionais de saúde em uma van com a marca do governo.

A prefeitura só aderiu depois que a União abriu mão da exibição do símbolo. Até hoje, o governo federal se queixa de não ter sido informado sobre a operação.

Após críticas da Promotoria, do Judiciário e da Defensoria Pública, o governo proibiu o uso de bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar usuários. 
*osamigosdopresidentelula

Estudo mostra que o Aquífero Guarani está contaminado por agrotóxicos

O Aquífero Guarani, manancial subterrâneo de onde sai 100% da água que abastece Ribeirão Preto, cidade do nordeste paulista localizada a 313 quilômetros da capital paulista, está ameaçado por herbicidas.
A conclusão vem de um estudo realizado a partir de um monitoramento do Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto (Daerp) em parceria com um grupo de pesquisadores, que encontrou duas amostras de água de um poço artesiano na zona leste da cidade com traços de diurom e haxazinona, componentes de defensivo utilizado na cultura da cana-de-açúcar.
No período, foram investigados cem poços do Daerp com amostras colhidas a cada 15 dias. As concentrações do produto encontradas no local foram de 0,2 picograma por litro – ou um trilionésimo de grama. O índice fica muito abaixo do considerado perigoso para o consumo humano na Europa, que é de 0,5 miligrama (milésimo de grama) por litro, mas, ainda assim, preocupa os pesquisadores, que analisam como possível uma contaminação ainda maior.
No Brasil, não há níveis considerados inseguros para as substâncias. Ainda assim, a presença do herbicida na zona leste – onde o aquífero é menos profundo – acende a luz amarela para especialistas. Segundo Cristina Paschoalato, professora da Unaerp que coordenou a pesquisa, o resultado deve servir de alerta. “Não significa que a água está contaminada, mas é preciso evitar a aplicação de herbicidas e pesticidas em áreas de recarga do aquífero”, disse ela.
O monitoramento também encontrou sinais dos mesmos produtos no Rio Pardo, considerado como alternativa para captação de água para a região no longo prazo. “Isso mostra que, se a situação não for resolvida e a prevenção feita de forma adequada, Ribeirão Preto pode sofrer perversamente, já que a opção de abastecimento também será inviável se houver a contaminação”.
Aquífero ameaçado
O Sistema Aquífero Guarani, que faz parte da Bacia Geológica Sedimentar do Paraná, cobre uma superfície de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, sendo 839., 8 mil no Brasil, 225,5 mil quilômetros na Argentina, 71,7 mil no Paraguai e 58,5 mil no Uruguai. Com uma reserva de água estimada em 46 mil quilômetros quadrados, a população atual em sua área de ocorrência está em quase 30 milhões de habitantes, dos quais 600 mil em Ribeirão Preto.
A água do SAG é de excelente qualidade em diversos locais, principalmente nas áreas de afloramento e próximo a elas, onde é remota a possibilidade de enriquecimento da água em sais e em outros compostos químicos. É justamente o caso de Ribeirão, conhecida nacionalmente pela qualidade de sua água.
Para o engenheiro químico Paulo Finotti, presidente da Sociedade de Defesa Regional do Meio Ambiente (Soderma), Ribeirão corre o risco de inviabilizar o uso da água do aquífero in natura. “A zona leste registra plantações de cana em áreas coladas com lagos de água do aquífero. É um processo de muitos anos, mas esses defensivos fatalmente chegarão ao aquífero, o que poderá inviabilizar o consumo se nada for feito”, explica.
Já para Marcos Massoli, especialista que integrou o grupo local de estudos sobre o aquífero, a construção de casas e condomínios na cidade, liberada através de um projeto de lei do ex-vereador Silvio Martins (PMDB) em 2005, é extremamente prejudicial à saúde do aquífero. “Prejudica muito a impermeabilidade, o que atinge em cheio o Aquífero”, diz.
Captação
Outro problema que pode colocar em risco o abastecimento de água de Ribeirão no médio prazo é a extração exagerada de água do manancial subterrâneo. Se o mesmo ritmo de extração for mantido, o uso da água do Aquífero Guarani pode se tornar inviável nos próximos 50 anos em Ribeirão Preto.
A alternativa, além de reduzir a captação, pode ser investir em estruturas de captação das águas de córregos e rios que, além de não terem a mesma qualidade, precisam de investimentos significativamente maiores para serem tratadas e tornadas potáveis. A perspectiva já é considerada pelos estudiosos do chamado Projeto Guarani, que envolveu quatro países com território sobre o reservatório subterrâneo. O cálculo final foi entregue no fim do ano.
O mapeamento mostrou que a velocidade do fluxo de água absorvida pela reserva é mais lenta do que se supunha. Pelas contas dos especialistas, a cidade extrai 4% mais do que poderia do manancial. A média de consumo diário de água em Ribeirão é de 400 litros por habitante, bem acima dos 250 litros da média nacional. Por hora, a cidade tira do aquífero 16 mil litros de água. Vale lembrar que a maior parcela de água doce do mundo, algo em torno de 70%, está localizada, em forma de gelo, nas calotas polares e em regiões montanhosas.
Outros 29% estão em mananciais subterrâneos, enquanto rios e lagos não concentram sequer 1% do total. Entretanto, em se tratando da água potável, aproximadamente 98% se encontram no subsolo, sendo o Aquífero Guarani a maior delas. A alternativa para não desperdiçar esses recursos é investir em reflorestamento para garantir a recarga do aquífero, diz o secretário-geral do projeto, Luiz Amore.
*comtextolivre

Não, não é piada: Brasil importou 1 bilhão de álcool dos EEUU

Etanol importado dos EUA para o país dispara em 3 anos: 54.900%
Desnacionalização, monopolização e câmbio arrasam a produção nacional de etanol e fazem o de milho invadir o Brasil
    Em 2011, o país importou 1 bilhão e 100 milhões de litros de etanol de milho dos EUA, um aumento de 1.384,8% em relação a 2010.
Nesse ano (2010), o ex-ministro Delfim Netto, com aquela verve que às vezes lhe caracteriza, disse aos empresários da Federação de Comércio de São Paulo:
... parece que com a taxa de câmbio de R$ 1,60 já podemos importar o etanol de milho dos EUA...” (ver HP, 23/11/2010).
Delfim provocou frouxos de risos entre os empresários. Era muito absurda a ideia de que um país que cultiva cana-de-açúcar há 500 anos, que até foi o primeiro a introduzir seus derivados no mercado mundial, que tem 2,9% de sua imensa área agricultável ocupada pela cana, e que há 40 anos inventou o uso do álcool como combustível automotivo, pudesse importar etanol de milho dos EUA – até porque o custo de produção deste é bem maior que o nosso: como apontou o diretor da Embrapa Agroenergia, Frederico Durães, para produzir a mesma quantidade de etanol, a produção a partir do milho dispende, no mínimo, oito vezes mais energia do que a produção a partir da cana.
Infelizmente, o ovo da serpente bêbada já tinha saído da casca: naquele mesmo ano de 2010, o Brasil importou 74,084 milhões de litros de etanol de milho dos EUA, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). Não era muito significativo, quando comparado ao nosso consumo, mas era um sinal.
Agora, em 2011, aumentamos em 1.384,8% as importações de etanol dos EUA, alcançando 1,1 bilhão de litros. Um verdadeiro grande salto para trás.
Num país como o nosso, levantar que o problema foram as condições climáticas parece piada numa cultura, como a cana-de-açúcar, que existe do Sul ao Nordeste. E, antes que alguém (na verdade, já aconteceu) levante que esse é um grande negócio para o Brasil, pois ao mesmo tempo que importamos etanol dos EUA, também exportamos para lá (?!), observemos que as exportações de etanol do Brasil, de 2008 a 2011, caíram nada menos do que 70% - de 4,7 bilhões de litros para 1,4 bilhão de litros (cf.  UNICA, Marcos Jank, “The rise of ethanol imports: trends in Brazil’s ethanol market”, set./2011, p. 23).
Enquanto isso, as importações de etanol, que eram desprezíveis em 2008 (2 milhões de litros) cresceram para 1,1 bilhão de litros em 2011. Ou seja, de 2008 a 2011, cresceram 54.900% e estão quase empatando com as exportações (cf. UNICA, trab. cit., mesma p.).
A SECEX informa de onde vêm essas importações: 97,6% delas vêm dos EUA.
O que aconteceu com o setor de etanol, que há poucos anos era uma verdadeira grife brasileira, um anunciado e já carimbado passaporte para o futuro?
Primeiro, ele foi brutalmente desnacionalizado. Na apresentação da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) que acabamos de citar, realizada nos EUA, isso aparece com o nome nada sutil de “strong consolidation”: a Shell é agora proprietária da Cosan e da NovaAmérica; a British Petroleum é agora dona da CNAA e da Tropical Bioenergia; a Bunge tomou o Grupo Moema; a Louis Dreyfus tomou o Grupo Santa Elisa; o Noble Group levou o Grupo Cerradinho; a Shree Renuka Sugars pegou o Grupo Equipav; a Tereos tomou parte do Grupo Guarani, a Vertente e a Mandu (cf. “The rise of ethanol imports: trends in Brazil’s ethanol market”, p. 10).
Dos grupos e empresas importantes no setor, só não são estrangeiros a ETH, que pertence aos monopolistas da Odebrecht, a São Martinho, que a Petrobrás adquiriu, e a sociedade da mesma Petrobrás com os franceses da Tereo, no Grupo Guarani.
Notemos que o setor de etanol cresceu 10,4% ao ano de 2003 a 2008. Depois da desnacionalização, o crescimento anual caiu para 3,6% de 2009 a 2011, período em que o aumento da frota de carros flex atingiu 40% (UNICA, op. cit., p. 7 e 8).
Multinacionais são sempre monopólios. Investem o mínimo para lucrar mais. Assim, o que elas fizeram foi se apoderar do que as empresas brasileiras já tinham construído – a construção de novas usinas, que havia crescido de nove (2005) para 19 (2006), 25 (2007) e 30 (2008) caiu para 19 (2009), 10 (2010) e 5 (2011). Portanto, deixaram de investir, apesar da generosidade do BNDES com essas multinacionais.
Mas não foi um mecanismo econômico inconsciente que estrangulou a produção nacional de etanol. Segundo o sr. Paulo Costa, secretário-executivo da IETHA (International Ethanol Trade Association – a entidade das multinacionais do setor), “a concentração e consolidação do segmento em mãos de empresas financeiramente sólidas e melhor conhecedoras dos fundamentos de mercado fizeram com que o consumo fosse administrado através de uma oferta controlada por preços elevados” (ver HP, 24/06/2011).
Em suma, o que houve foi monopólio, cartelização do setor. O sr. Costa, um ex-executivo da Cargill, não se referiu ao estancamento dos investimentos após a desnacionalização do setor. Mas isso faz parte do perfil de sua especialidade. Para que as multinacionais iriam investir? Para baixar o preço do etanol com o aumento da produção?
Por tudo isso, parece algo delirante a estimativa do presidente da UNICA, Marcos Jank, de que os estrangeiros construirão, até 2020, mais 120 usinas (cf. Jank e Perina, “O Movimento Mais Etanol”, OESP, 14/12/2011).
Porém, mesmo que as multinacionais fizessem isso, em oito anos isso significaria apenas 15 novas usinas por ano – um número, portanto, inferior aos de 2006, 2007 e 2008.
Segunda questão: o câmbio. Com as taxas de câmbio vis-à-vis o dólar que os altos juros provocam no Brasil, até importar etanol de milho dos EUA no país da cana-de-açúcar (e do etanol) torna-se vantajoso. Como o ex-ministro Delfim Netto já havia tocado na questão, resta-nos apenas enfatizar: se a Groenlândia tivesse esses juros e essa taxa de câmbio, alguma multinacional iria importar sorvete para vender aos esquimós.
CARLOS LOPES
*Gilsonsampaio

Em apoio à Argentina, Brasil mantém decisão sobre navios procedentes das Ilhas Malvinas

Via Hora do Povo
O governo brasileiro, através do Itamaraty, confirmou o apoio à Argentina e manteve a decisão, aprovada na Cúpula dos Países do Mercosul, realizada em dezembro, de não autorizar que embarcações com bandeiras das Ilhas Malvinas atraquem em seus portos. A manifestação, comunicada pelo Itamaraty ao governo argentino, é uma resposta às pressões feitas pelo ministro das Relações Exteriores britânico,William Hague, contra o pleito de soberania da Argentina sobre a região.
Os governos do Chile e do Uruguai acompanharam a posição brasileira e também anunciaram solidariedade à Argentina. A decisão tomada na reunião do Mercosul foi de apoio à reivindicação da Argentina sobre o território, atualmente ocupado pela Grã-Bretanha. Em 1982 a Argentina decidiu retomar as Ilhas Malvinas ocupadas pela Inglaterra desde 1833. Houve uma guerra entre os dois países e a Inglaterra, com superioridade militar, insistiu em manter a ocupação sobre a região.
Em comunicado conjunto, após os ataques feitos pelo ministro britânico ao governo argentino, o Brasil, o Uruguai e o Chile confirmaram que não modificaram sua decisão de apoio ao país vizinho, tomada na última cúpula do Mercosul. Na época foi acordado que nenhum país do bloco permitiria a entrada de navios das Ilhas Malvinas em seus portos. 
*Gilsonsampaio

O Irã não é nosso inimigo.


*vodpod.com

domingo, janeiro 15, 2012

93 anos do assassinato de Rosa Luxemburgo

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Na noite de 15 de janeiro de 1919, em Berlim, foi detida Rosa Luxemburgo: uma mulher indefesa de cabelos grisalhos, enrugada e exausta. Uma mulher velha, que aparentava muito mais que os 48 anos que tinha.

Um dos soldados que a rodeavam, obrigou-a a seguir aos empurrões, e a multidão burlona e cheia de ódio que se amontoava no vestíbulo do Hotel Eden saudou-a com insultos. Ela ergueu sua face diante da multidão e olhou os soldados e os hóspedes do hotel que se mofavam dela com seus olhos negros e orgulhosos. E aqueles homens em seus uniformes desiguais, soldados da nova unidade das tropas de assalto, sentiram-se ofendidos pela olhada desdenhosa e quase compassiva de Rosa Luxemburgo, "a rosa vermelha", "a judia".
Insultaram-na: "Rosinha, aí vem a velha puta". Eles odiavam tudo o que esta mulher representou na Alemanha durante duas décadas: a firme crença na ideia do socialismo, o feminismo, o antimilitarismo e a oposição à guerra, que eles haviam perdido em novembro de 1918. Dias antes, os soldados haviam esmagado o levante dos trabalhadores em Berlim. Agora eles eram os amos. E Rosa os havia desafiado em seu último artigo:
«A ordem reina em Berlim! Ah! Estúpidos e insensatos verdugos! Não vos dais conta de que vossa ordem está levantada sobre a arena. A revolução se erguerá amanhã com sua vitória e o terror assomará nos vossos rostos ao ouvir anunciar com todas suas trompetas: Eu fui, eu sou, eu serei!».
Empurraram-na e golpearam. Rosa levantou-se. Nesse então, quase haviam alcançado a porta traseira do hotel. Fora, esperava um carro cheio de soldados, os quais, segundo haviam-lhe comunicado, conduziriam-na à prisão. Mas um dos soldados foi para cima dela levantando sua arma e golpeou-lhe a cabeça com a culatra. Ela caiu no chão. O soldado lhe desferiu um segundo golpe na têmpora.
O homem chamava-se Runge. O rosto de Rosa Luxemburgo jorrava sangue. Runge obedecia ordens quando golpeou Rosa Luxemburgo. Pouco antes ele havia derrubado Karl Liebknecht com a culatra do seu fuzil. Também a ele haviam-no arrastado pelo vestíbulo do Hotel Eden.
Os soldados levantaram o corpo de Rosa. O sangue brotava da sua boca e do seu nariz. Levaram-na ao veículo. Sentaram Rosa entre dois soldados no assento de trás. Fazia pouco que o carro havia arrancado quando lhe dispararam um tiro a queima roupa. Se pode escutar no hotel.
Na noite de 15 de janeiro de 1919 os homens do corpo de assalto assassinaram Rosa Luxemburgo. Lançaram seu cadáver de uma ponte para o canal. No dia seguinte toda Berlim sabia já que a mulher que nos últimos vinte anos desafiara todos os poderosos e que cativara os assistentes de inumeráveis assembleias, estava morta. Enquanto se buscava o seu cadáver, um Bertold Brecht de 21 anos escrevia:
A Rosa vermelha agora também desapareceu.
Onde se encontra é desconhecido.
Porque ela aos pobres a verdade há dito
Os ricos do mundo a extinguiram.
Poucos meses depois, em 31 de maio de 1919, encontrou-se o corpo de uma mulher junto a uma eclusa do canal. Podia-se reconhecer as luvas de Rosa Luxemburgo, parte de seu vestuário, um brinco de ouro. Mas a cara era irreconhecível, já que o corpo fazia tempo que estava podre. Foi identificada e se a enterrou em 13 de junho.
No ano de 1962, 43 anos depois de sua morte, o Governo Federal alemão declarou que seu assassinato fora uma "execução de acordo com a lei marcial". Faz doze anos que uma investigação oficial concluiu que as tropas de assalto, que haviam recebido ordens e dinheiro dos governantes social-democratas, foram os autores materiais de sua morte e da de Karl Liebknecht.
Rosa Luxemburgo foi assassinada pelas tropas de assalto a serviço da socialdemocracia. Junto com ela morreu seu camarada Karl Liebknecht. Nasceu em 5 de marzo de 1871. Muita gente segue a tradição da Alemanha oriental de assistir à manifestação para recordá-la, seu respeito demonstram-no depositando cravos vermelhos no monumento dedicado a «Rosa Vermelha» e aos socialistas e comunistas que trabalharam por un mundo melhor.
A atualidade do pensamento de Rosa Luxemburgo
"Que extraordinário é o tempo que vivemos", escrevia Rosa Luxemburgo em 1906. "Extraordinário tempo que propõe problemas enormes e espolia o pensamento, que suscita a crítica, a ironia e a profundidade, que estimula as paixões e, antes de tudo, um tempo frutífero, prenhado".
Rosa Luxemburgo viveu e morreu num tempo de transição, como o nosso, no qual um mundo velho se afundava e outro surgia dos escombros da guerra. Seus companheiro tentaram construir o socialismo, seus assassinos e inimigos ajudaram Adolf Hitler a subir ao poder.
Hoje, quando o capitalismo demonstra uma vez mais que a guerra não é um acidente, senão que uma parte irrenunciável de sua estratégia. Quando os partidos e organizações "tradicionais" se vêem na obrigação de questionar suas formas de atuar ante o abandono das massas. Quando a esquerda transformadora advoga exclusivamente pelo parlamentarismo como via para a mudança social. Quando nos encontramos ante una enorme crise do modelo de democracia representativa e os argumentos políticos se reduzem ao "voto útil".
Hoje, dizemos, Rosa Luxemburgo se converte em referência indispensável nos grandes debates da esquerda. Não é senão sua voz a que se escuta sob o lema, aparentemente novedoso: "Outro mundo é possível". Ela o formulou com um pouco mais de urgência: "Socialismo ou barbárie".
Seu pensamento, seu compromisso e sua desbordante humanidade nos servem de referência em nosso luta para que este novo século não seja também o da barbárie.
Com informações da Fundação Lauro Campos e do Mundo Obrero.


Fonte: www.diariodaliberdade.org
Che aceitaria essas desculpas?: Mercedes-Benz pede desculpas por usar a imagem de Che Guevara em sua propaganda 




Mercedes Benz con la imagen del Che Guevara
Especial para Cubadebate
La empresa emblemática de los vehículos de lujo, Mercedes-Benz se disculpó esta semana por haber utilizado la imagen del Che Guevara en una campaña publicitaria. Su disculpa, sin embargo, es por razones equivocadas. La controversia surgió esta semana después de que el gerente de la Mercedes-Benz, Dieter Zetsche, presentó con bombos y platillos en Las Vegas una serie de comerciales para promover la venta de sus lujosos autos.
Uno de estos anuncios publicitarios incluía una gigantografía de la famosa imagen del Che Guevara en La Habana, tomada en 1960 por el fotógrafo cubano Alberto Korda. La idea de Zetsche era promover un nuevo proyecto ahorrador que Mercedes Benz llama: CarTogether. La idea es estimular la venta de los costosos vehículos con el fin de que los dueños trasporten algunos pasajeros, usando el Mercedes como si fuera un taxi particular gratuito. O sea, un almendrón ostentoso.
El gerente de Mercedes Benz dijo en su presentación: “Algunos piensan que compartir automóviles se parece al comunismo. Si es así que viva la revolución.” Y con eso proyectó en la pantalla la imagen del Che entre dos de los más lujosos automóviles que ofertan al consumidor.  El uso de la imagen del Che desató contra Mercedes-Benz una feroz campaña política lidereada por un pequeño grupo de cubanoestadounidenses.
Por ejemplo, un tal Ernesto Ariel Suárez lanzó una página en Facebook en la que expresa: “Dile a Mercedes Benz que no es correcto usar la imagen de un asesino de masas”. A la contienda contra Mercedes-Benz también se sumó la ultraconservadora fundación Heritage que caracterizó al Che como “un sicópata… que mata por placer”.   Los periódicos y blogs miamenses se sumaron a la cruzada. Los críticos lograron su meta. Mercedes Benz recogió pita y se disculpó.
Explicó en un comunicado: “No estábamos apoyando la vida o las acciones de este personaje histórico o la filosofía política que defendía. Les pedimos disculpas a aquellos que se sintieron ofendidos”. Verdaderamente Mercedes-Benz tiene mucho por cual disculparse, pero no por las críticas de los enemigos del Che, aquel revolucionario valiente y puro que dio su vida para que los demás vivan mejor. No.
La automotriz de origen alemán debiese disculpar por utilizar sin autorización la icónica fotografía de Korda. También disculparse ante la viuda e hijos del Che Guevara por haber asociado su imagen con la venta y compra de suntuosas pacotillas. La filosofía política que el Che defendió con su vida dice que “el hombre realmente alcanza su plena condición humana cuando produce sin la compulsión de la necesidad física de venderse como mercancía”.
Es muy conocido que la automotriz alemana colaboró con el régimen nazi, y que su más celebre empleado fue Adolf Eichmann durante sus años de exilio en Argentina. No es tan conocido que esta empresa también colaboró estrechamente con la dictadura militar argentina, durante los años de la guerra sucia en el Cono Sur. Los familiares de algunas de sus víctimas –los trabajadores desaparecidos de la Mercedes Benz en la provincia de Buenos Aires: Oscar Alberto Alvarez Bauman, Miguel Grieco, Diego Núñez, Estaban A. Reimer, Alberto Francisco Arenas, Alberto Gigena, Fernando Omar del Conte, Jorge Leichner y Héctor Belmonte- tienen un proceso legal pendiente contra la empresa ante un tribunal federal estadounidense. (Descargue la querella judicial, en PDF- 106 Kb)
Los familiares alegan en su querella que Mercedes Benz hizo desaparecer a los sindicalistas para romper la huelga. La demanda también incluye los nombres de otros sindicalistas de la planta que sobrevivieron la represión de Mercedes Benz –Héctor Ratto, Eduardo Olasiregui, Ricardo Martin Hoffman, Eduardo Estivill, Alfredo Manuel Martín, Juan Jose Martín, José Barreiro, y Alejandro Daer. Ellos alegan que fueron secuestrados, detenidos clandestinamente y torturados con electroshock por la Seguridad del Estado argentino bajo la dirección y el control de Mercedes Benz.
Los crímenes de Mercedes Benz en la planta de Buenos Aires contra los sindicalistas ocurrieron entre 1976 y 1977.  Después de una investigación interna, la compañía matriz de Mercedes Benz — Daimler AG- concluyó en diciembre de 2003 que los directores de la automotriz en Argentina le habían proporcionado los nombres y apellidos de sus trabajadores “subversivos” al régimen militar, y que el objetivo fue, sin ninguna duda, romper una huelga laboral en la planta que había paralizado la producción de automóviles.
Sin la información proporcionada por Mercedes Benz, las fuerzas de seguridad no habrían podido secuestrar, torturar y desaparecer a los sindicalistas. Evidentemente satisfecho con los métodos extraoficiales de la Seguridad de Estado para colaborar con Mercedes Benz y romper la huelga del ´77 en su planta, los ejecutivos de la empresa escribiendo un memorando interno fechado el 22 de marzo de 1977, el cual concluye: “El resultado de los métodos del gobierno fue favorable y nos abre una buena perspectiva para el desarrollo del país”. Uff.
Fragmento del memorando de la Mercedes Benz citado en la demanda judicial.
Fragmento del memorando de la Mercedes Benz citado en la demanda judicial.
Los “métodos” que alaba Mercedes Benz son los de lesa humanidad: Torturar, desaparecer y asesinar a los que se atreven a exigir un salario justo, mejores condiciones de trabajo y el fin a la desigualdad social.  La querella alega que Mercedes Benz atropelló en Argentina la Declaración Universal de los Derechos Humanos, la Carta de las Naciones Unidas, la Convención Internacional de los Derechos Civiles y Políticos, la Convención Internacional Contra la Tortura, el Acta para Proteger a las Víctimas de la Tortura, la ley llamada Alien Tort Claims Act y varios estatutos, leyes y regulaciones argentinos e internacionales. Es cierto que Mercedes Benz debe disculpas, pero no a los que odian al Che y calumnian su nombre ante los medios corporativos.
La disculpa se la deben a Korda, a la viuda del Che (Aleida), a sus hijos y muy especialmente a los familiares de los trabajadores argentinos que Mercedes Benz torturó, desapareció y asesinó en la década de los 70.  La querella contra Mercedes Benz lleva más de 7 años pendiente ante el Juez Ronald M. Whyte,del tribunal federal de primera instancia en San Francisco. La táctica de la defensa es demorar y entorpecer el proceso lo más posible. Mientras tanto, los querellantes siguen esperando que se haga justicia.
¿Qué diría el Che de todo esto?
*MariadaPenhaNeles

Cracolândia: Edu vai ao
“Vestíbulo do Inferno”





Churrascão no Vestíbulo do Inferno


O “Vestíbulo do Inferno” aparece na primeira parte da Divina Comédia, obra monumental do escritor, poeta e político italiano Dante Aligheri (Florença, 1265 — Ravenna, 1321). As outras duas partes são “Purgatório” e “Paraíso”.


Divina Comédia versa sobre odisséia do Poeta no inferno conceitual da Idade Média. O périplo de Dante Aligheri pelos nove círculos infernais é guiado pelo poeta romano Virgílio, que vivera quase dois mil anos antes.


Tive uma edição italiana do Inferno de Dante de capa dura (revestida de couro entalhado a mão), primorosamente ilustrada por Gustave Doré. Presente da mãe. Durante anos, vez após outra, degustava cada sílaba do verso do Poeta e cada traço da imaginação do artista.


Lembrei-me da obra medieval ao participar do “churrascão” que ONGs e movimentos sociais promoveram ontem na esquina da rua Helvétia com a alameda Dino Bueno, no olho do furacão, na Cracolândia de São Paulo.


O “Vestíbulo” é para onde vão as almas dos que não são aceitos no céu, mas que não merecem ir para o inferno. Exatamente como aqueles farrapos humanos prisioneiros de seus infernos particulares aos quais se pretendeu mostrar que nem todos os esqueceram.



Mas não foi só aos condenados que a iniciativa se deveu. Pretendeu-se mostrar ao governo do Estado (policial) de São Paulo e às suas forças de repressão que há quem não aceite os métodos que estão empregando contra aqueles que continuam sendo seres humanos.


Quem esteve lá sabe o que viu e ouviu. E eu sei. Os raros relatos de prisioneiros do crack desconfiados de que aquilo que ali acontecia não poderia ser em seu benefício – pois nada jamais é – tratam de supostos crimes cometidos por seus algozes.


Relatam que apanham até quando estão dormindo. Um deles disse que a polícia espancou alguém de seu grupo, jogou a pessoa no meio da rua e atropelou. E quando perguntados sobre o que gostariam de dizer à sociedade, dizem que apenas gostariam de parar de apanhar.


A presença da polícia, pois, era ameaçadoramente ostensiva. Entendo que até deveria estar lá para proteger os manifestantes, pessoas de classe média, a grande maioria jovem. Mas se o objetivo fosse proteger não deveria ter ficado tão longe – a uns cem metros de distância.


Então percebo que do teto de uma das bases móveis da polícia estão filmando tudo. Decido ir até lá perguntar a razão.


– Boa tarde, policial.


– O que você quer?


– O senhor poderia me informar a razão da filmagem?


– Não posso. Só o capitão (…).


– Onde ele está?


– Atrás do furgão.


Contorno a base móvel da PM.


– O sr. é o Capitão (…)?


– Eu mesmo.


– Gostaria de saber por que os senhores estão filmando o ato público.


– Em primeiro lugar, quem é você?


– Sou do Blog da Cidadania. Vim cobrir a manifestação.


– Não podemos falar.


– Por que não?


– Ordens.


– De quem?


– Não posso dar informações.



Distancio-me alguns metros do furgão e, naquele momento, sucede uma cena no mínimo curiosa: enquanto fotografo o equipamento de filmagem e o aparato policial em seu entorno, sou fotografado. Travei uma guerra de câmeras com a PM.


A atitude pouco amistosa dos policiais, o interesse inexistente ou proibido de dar satisfações à sociedade sobre seus métodos de atuação, tudo isso deixa ver uma paranóia contra não se sabe o que. Era como se temessem um atentado terrorista.


A quem filmavam? Será que alguém iria traficar drogas em um local que tinha tantas câmeras e tanta polícia? Para que filmariam aqueles farrapos humanos que tão bem conhecem, pois de lá não saem?


Quem foi filmado, portanto, foram aqueles que levaram alento e comida a esfaimados. Mas por que? Que crime poderíamos cometer ao levar um sopro de humanidade ao inferno?




Refleti, naquele momento, que o Estado está completamente divorciado da sociedade, em São Paulo. O cidadão que diverge das autoridades locais é visto como inimigo. Por isso a polícia paulista é tão grosseira, autoritária e violenta.


As constatações deprimentes que aquela descida ao inferno causou, porém, não parariam por ali. Os zumbis do crack e os visitantes solidários pouco se misturavam. Os receptivos eram moradores de rua, mas não necessariamente usuários daquele veneno.


Alguns usuários de fato atravessavam a multidão dando encontrões de raspão, aparentemente contrariados. Fiquei imaginando se não temiam que tudo aquilo lhes fosse cobrado pelos opressores quando fôssemos embora.


Aqueles filhos de Deus rescendendo a morte, a excrementos, a álcool, com bocas desdentadas, feridas espalhadas e olhares mortiços… Como ir embora e deixá-los lá? Como sair dali sem ter feito nada? E o que é mais: como purgar a culpa por fazê-lo?


Moças e rapazes tentavam puxar canções, instilar alguma alegria no entorno – como se fosse possível –, mas não repercutia. Não havia espaço para outro sentimento além da perplexidade. E a separação tácita entre visitantes e anfitriões, mesmo estando misturados, tornava tudo pior.


Após resistir por cerca de uma hora, não suportei mais. Despedi-me de amigos que lá encontrei e saí em fuga daquele inferno. E sem olhar para trás.


Perdi a noção de tempo e espaço. Caminhei debaixo de chuva por quilômetros. Só então parei um táxi. Chegando em casa, tomei uma dose de cachaça. E mais outra. Lá pela terceira percebi o que estivera fazendo: tentara, sem sucesso, redimir-me da culpa.

*PHA

Carro movido a Ar cadê?