O Tribunal de Justiça e o comandante da PM, o gov. Geraldo Alkmin, não tinham outra saída além de atender Naji Nahas
Via Marques Casara
A Selecta deve 10 milhões só em IPTU atrasado.
O terreno deveria ter sido desapropriado e inscrito no programa
habitacional do governo federal, o Cidade Legal. Esse assunto,
inclusive, seria tema de uma reunião entre o prefeito e o secretário
geral da presidência da república, Gilberto Carvalho, na quinta feira
19.
Naji Nahas: amigos nos Três Poderes
Com
armas de combate e carros blindados, a Polícia Militar de São Paulo
realizou uma operação de guerra em São José dos Campos. Colocou
helicópteros, cães, armamento, escudos, ROTA, tropa de choque, quase
dois mil homens a serviço da “reintegração” da ocupação Pinheirinho.
Em
2004, com mais de 1 milhão de metros quadrados, Pinheirinho era um
terreno abandonado. Começou a ser ocupado por famílias pobres da região
do Vale do Paraíba – entre São Paulo e Rio de Janeiro. Em 2012, quando
as tropas chegaram, seis mil pessoas viviam no
Pinheirinho. Tornou-se um bairro pobre como qualquer outro, com lojas,
igrejas, esgoto a céu aberto, ruas de terra, biroscas, miséria, casas em
situação precária.
O terreno pertence a Selecta S/A, uma empresa falida controlada por Naji Nahas.
Essa é a informação mais importante até aqui. Logo veremos porque o
Tribunal de Justiça de São Paulo e o comandante da Polícia Militar, o
governador Geraldo Alkmin, não tinham outra saída além de atender Nahas.
Ação entre amigos
Existia
uma negociação avançada para resolver o problema sem o uso da força.
Por conta disso, por duas vezes, o Tribunal Regional Federal (TRF)
cassou a liminar que determinava a reintegração de posse: na sexta feira
e no próprio dia da invasão, domingo.
Nada
disso foi levado em conta. Mesmo no domingo, quando a ordem do TRF foi
enviada diretamente ao comando das operações no Pinheirinho. Quem
recebeu o oficial de justiça foi ninguém menos do que o desembargador Rodrigo Capez, que respondia pela presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Capaz
não estava ali para cumprir seu dever cívico ou suas obrigações como
desembargador. Estava ali para dar uma carteirada no oficial de justiça
do TRF. “A ação da Polícia Militar continua”, anunciou o
desembargador. Segundo a Ordem dos Advogados do Brasil, ao fazer isso
Capez rompeu o “pacto federativo”.
Mas quem se importa? O que acontecia ali era algo mais importante: uma ação entre amigos.
Entenda por quê:
O
desembargador Rodrigo Capez é irmão do deputado estadual Fernando
Capez, do PSDB, o mesmo partido do governador Geraldo Alkmin, o mesmo
partido do prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury.
Essas
pessoas são amigas entre si. Frequentam os mesmos jantares, tem os
mesmos financiadores de campanha, são amigos de gente que é muito, mas
muito amiga de Naji Nahas. E todos tem grandes amigos no Tribunal de
Justiça de São Paulo.
Por isso, o prefeito
Eduardo Cury não fez o que deveria ter feito para proteger o seu povo:
desapropriar o terreno e inscrever os moradores em um programa
habitacional.
De fato, o terreno só pertence a Naji Nahas porque o prefeito Eduardo Cury operou o tempo todo a favor do megainvestidor. Pois da massa falida da Selecta, o único credor que ainda falta ser pago é…
…adivinhe?
Sim, o município de São José dos Campos.
A Selecta deve 10 milhões só em IPTU atrasado.
O terreno deveria ter sido desapropriado e inscrito no programa
habitacional do governo federal, o Cidade Legal. Esse assunto,
inclusive, seria tema de uma reunião entre o prefeito e o secretário
geral da presidência da república, Gilberto Carvalho, na quinta feira
19.
Inesperadamente, o prefeito cancelou a
reunião com Carvalho, sem dar motivos. Ele já sabia da invasão e nesse
momento atuava como homem forte a favor de Naji Nahas. Para defender os
interesses do megapicareta, empastelou a negociação com o governo
federal.
Fora isso, a reintegração de posse nunca deveria ter sido emitida. Está baseada em um documento caduco. A história é mais ou menos assim:
A
primeira liminar de reintegração foi emitida pela 18ª Vara de Falências
de São Paulo. Essa liminar foi cassada, pois a Vara da capital não pode
discutir posse de área em outra cidade.
A massa falida então pediu reintegração à 6ª Vara Civil de São José dos Campos, que negou a ação de reintegração.
A
massa falida então recorreu ao TJSP, que agora autoriza, mas não avisa o
juizado de São José, o que caracterizou erro processual.
Por conta do erro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou todo o recurso da massa falida.
Agora pasme:
baseado no recurso que começou na Vara de Falência de São Paulo e foi
anulado pelo STJ, a juíza Márcia Loureiro, de São José dos Campos,
reabriu o processo que culminou com a invasão da PM. Márcia Loureiro é
uma conhecida e ferrenha militante a favor da reintegração de posse, ou
seja, a favor de Naji Nahas.
Essas coisas não
acontecem por acaso. A começar pelo desembargador irmão do deputado, que
faz parte da base de Alkmin, que é do mesmo partido do prefeito, que
opera a favor de Naji Nahas, que é amigo de Daniel Dantas.
Daniel Dantas???
Mas o que uma coisa tem a ver com outra?
Dantas
e Nahas foram sócios em operações criminosas descobertas pela operação
Satiagraha, posteriormente anulada pelo STJ. A dupla, diziam as
investigações, subornava políticos e juízes como quem troca de camisas.
Mas tudo foi extinto, anulado.
Durante as
privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, Dantas e Nahas,
ganharam rios de dinheiro em esquemas envolvendo estatais. Você sabe,
Fernando Henrique, que é do PSDB, o partido do prefeito, que é o partido
do governador, que é o partido do deputado, que é irmão do
desembargador.
E que são amigos de Nahas e
Dantas, que são amigos de muita, mas muita, mas muita gente que deve
favores a eles, inclusive juízes, desembargadores, políticos…
O
Tribunal de Justiça de São Paulo e o comandante da Polícia Militar, o
governador Geraldo Alkmin, não tinham outra saída além de atender Nahas.
*Gilsonsampaio