*Nassif
As Malvinas são argentinas! E luta agora é do Continente
Há três anos iniciei neste blog
uma campanha pela unificação política e econômica da América do Sul.
Como frase síntese escolhi, na verdade, um grito: As Malvinas são
argentinas. Era uma forma de mostrar um sentimento de unidade
continental que vai muito além dos interesses comerciais de um Mercado
Comum.
Creio não estar sendo
pretensioso se disser que minha iniciativa foi pioneira. Seja como for,
hoje o grito das Malvinas ecoa de forma comovente e contagiante no
Twitter e outros veículos da Internet, no Brasil e na América do Sul.
Mas,
independente de tudo, isso a luta pelas Malvinas prossegue de forma
efetiva. Há uma solidariedade oficial e prática de quase todas as
nações sulamericanas. Exemplo disso é o fato de que navios britânicos,
com destino às ilhas, estão proibidos de atracar na grande maioria dos
portos do Continente. Sendo que Brasil e Uruguai foram os primeiros a
adotar essa medida.
E agora,
lembrando o 30º Aniversário Guerra da Malvinas, vou apenas destacar a
absoluta coincidência entre o que temos dito neste blog e o discurso
feito ontem pela presidenta argentina, Cristina Fernandez Kirchner:
“As
Malvinas deixaram de ser causa argentina para passar a ser uma causa
da América do Sul”, disse a presidenta em seu discurso. Para ela, o
problema das Malvinas se tornou uma causa regional e global, pois a
Inglaterra está militarizando o Atlântico Sul. “Não podemos interpretar
de outra forma o envio do moderno navio de guerra inglês às ilhas”,
afirmou. Além disso, Cristina aponta outro indício da tentativa da Grã
Bretanha de militarizar a região com o fato de o Príncipe William ter
aparecido em público utilizando roupas militares – e não civis.
A
presidenta afirmou que a Argentina vai denunciar essa militarização
das ilhas no Conselho de Segurança da ONU e na assembléia da
organização. O país já havia levado anteriormente à organização o
problema da disputa pela soberania na região.
Por
outro lado, ela lembrou que os conflitos na América do Sul nunca
necessitaram do apoio de organizações internacionais para serem
solucionados. E aponta o contraste: “Os conflitos que acontecem
atualmente em outras regiões do mundo e que foram levados ao Conselho
de Segurança acabaram por se aprofundar e não foram solucionados”,
acusou.
A presidenta defendeu
uma solução pacífica com a Inglaterra e lembrou a resolução das Nações
Unidas, que determina que ambos os países iniciem negociações para
solucionar a disputa sobre as ilhas que possuem uma quantidade
incalculável de petróleo. “A Inglaterra se recusa a cumprir essa
resolução e usurpa as Malvinas como se fossem troféu de guerra”, disse.
Reflexos na Espanha
O aumento da tensão entre Argentina e Inglaterra em relação às ilhas
gerou reflexos na Espanha, que reabriu o debate sobre a soberania de
Gibraltar, também sob domínio britânico. Assim como a Argentina, a
Espanha mantém há anos uma disputa com o governo britânico para tentar
recuperar território que lhe pertence historicamente.
Pimentel: da inércia à intolerância
Na semana passada, em Nova York, o ministro Fernando Pimentel, da
Indústria e Comércio Exterior, disse a seguinte sandice aos jornais e
agências locais: “Nossas relações com a Argentina são boas, mas na área
comercial eles nos criam muito problemas”.
Só
espero que esta pérola da inconveniência política e diplomática seja
algo que passou pela cabeça do ministro, apenas. E que ela são seja
compartilhada pela presidenta Dilma.
Dificuldades
entre parceiros político e de zonas de livre comércio são naturais,
como atestam as atuais negociações no âmbito da União Européia. E na
própria Federação Brasileira há uma concorrência acirrada entre os
estados. Veja-se a disputa pelos royalties do pré-sal e a permanente
guerra fiscal travada entre estados produtores e consumidores ou que
disputam grandes investimentos privados.
De
resto, é normal que cada país defenda, em primeiro lugar, o emprego de
seus trabalhadores. E, em função disso, assistimos em todos os países a
algumas atitudes protecionistas como as que o Brasil pratica
corriqueiramente.
Finalmente, os
argentinos argumentam que a queixa do ministro brasileiro e descabida,
posto que no ano passando as relações comerciais entre os dois países
deixaram um saldo de US$ 6 bilhões a favor do Brasil.
Se
o Brasil decidiu que o Mercosul, e portanto a Argentina, é nossa
aliança estratégica número 1, é preciso criar mecanismos de
compensações e, sobretudo, programas de integração industrial, com
exploração compartilhada de alguns seguimentos.
Recentemente
o presidente da FIESP, Paulo Skaf fez uma proposta criativa e
construtiva. Ele se dispõe a liderar uma comitiva de industriais
brasileiros para entregar à presidenta Cristina F Kirchner uma
proposta no sentido de que as enormes encomendas da Petrobras, sejam
compartilhadas pelas indústrias navais dos dois países.
Este
é apenas um bom exemplo. Na área da indústria aeronáutica e da aviação
regional, também poderiam ser feitos muitos acordos do mesmo tipo,
bem como no setor da aviação regional, com a utilização de aviões de
médio porte. A EMBRAER poderia instalar, na Argentina, uma unidade onde
seriam montados parte de seus produtos.
Ainda
ontem, o presidente Chávez, da Venezuela, anunciou a possível compra
de aparelhos da EMBRAER, para operar nas linhas regionais de seu país. A
encomenda, da ordem de US$ 800 milhões, contaria com financiamento
parcial do BNDES.
O ministro
Pimentel é pouco criativo e quase inerte, como demonstra o fato de até
hoje não ter apresentado algo nem ao menos parecido com um programa
nacional de desenvolvimento industrial. Se é assim, que ele seja
econômico também com as palavras.
*Turquinho