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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, fevereiro 13, 2012


Dilma a Graça:
enxotamos os privatas !

 



Saiu na Carta Maior:

Felizmente, Petrobras sobreviveu a ventos privatistas, afirma Dilma


Na posse da nova presidente da Petrobras, Dilma Rousseff destaca importância do caráter estatal da empresa, elogia ‘estadista’ Getúlio Vargas e festeja que companhia escapou de ‘todos os ventos privatistas’. Para Dilma, Petrobras estatal é fundamental no projeto de nação do Brasil. Declaração sobre ‘ventos privatistas’ vem após polêmica política sobre leilão de aeroportos.


Da Redação


Brasília – A presidenta Dilma Rousseff empossou, nesta segunda-feira (13), a nova presidente da Petrobras, a amiga e funcionária de carreira da empresa Maria das Graças Foster, com um discurso nacionalista e estatista. Disse que a Petrobras é “parte relevante” do esforço de construção do país, saudou o “estadista” Getúlio Vargas, patrono da companhia, e festejou que ela tenha escapado de “ventos privatistas”, sem, no entanto, fazer referência explícita ao governo Fernando Henrique.


Para Dilma, a Petrobras, hoje a segunda maior petroleira de capital aberto do mundo, é “fruto de um movimento popular, de um movimento cívico, nacional, que mobilizou nosso país” e “surgiu graças à visão de um estadista, Getúlio Vargas, a quem devemos sempre render a nossa homenagem”.


A combinação de “movimento popular” e “visão de um estadista” foi fundamental, disse Dilma, para dar origem a “uma parceira do povo brasileiro” e a “uma das partes mais relevantes do esforço desse país de se constituir em uma grande nação”.


Hoje, depois de quase seis décadas de vida, assinalou a presidenta, a estatal tornou-se “poderosa” globalmente, num mercado “assimétrico e agressivo”, como o do petróleo. Também ajuda a gerar emprego e renda para brasileiros, apoia a indústria brasileira ao manter uma política de compras mínimas dentro do país.


Até 2015, a companhia vai investir US$ 224 bilhões, volume que, para José Sérgio Gabrielli, substituído por Graça Foster, a primeira mulher a presidir a Petrobras e a comandar uma gigante petroleira no mundo todo, tem “escala necessária para fazer prosperar a indústria nacional”.


Na avaliação de Dilma, a Petrobras conquistou, nos últimos nove anos (governos Lula e dela), um gigantismo que é difícil resumir em números.


“A Petrobras é poderosa em escala mundial e é estratégica dentro do Brasil”, afirmou Dilma. “Felizmente, sobreviveu a todos os ventos privatistas e persistiu como empresa brasileira, sob controle do povo brasileiro, e hoje exerce papel fundamental em nosso modelo de desenvolvimento.”


A referência de Dilma a “ventos privatistas” foi feita dias depois de governo e PT terem sido alvo de tentativa de desgaste político por adversários de PSDB e por alguns setores com um perfil mais à esquerda, por conta do leilão que transferiu três aeroportos federais à gestão privada.


Para os tucanos, houve privatização e foi bom que o PT tenha se rendido à tese. Para os setores descontentes da esquerda, houve privatização e foi ruim que o PT a tenha praticado.


Já governo e petistas rebatem que não houve privatização, pois os aeroportos serão administrados pelo Estado de novo quando a concessão ao setor privado terminar, daqui 20 anos a 30 anos.


Dizem ainda que o motivo do leilão foi diferente das privatizações da era FHC – não se quis enxugar o Estado, apenas contornar a falta de recursos para investir e os entraves burocráticos próprios da gestão pública à realização dos investimentos, que a Copa do Mundo de 2014 impõe que sejam ágeis.

*PHA

Crise na Grégia vem de gregos preguiçosos?

Os gregos, retratados como "escuros" e indolentes, pela direita austríaca
Publiquei, há pouco, no blog Projeto Nacional:
É frequente vermos na imprensa os comentários de que é crise grega é resultado da “gastança” feita pelos gregos, que teriam se acostumado a exigir muito e trabalhar pouco.
Um partido austríaco de direita chegou a espalhar out-doors racistas retratando os gregos como entregues ao descanso perdulário, que a gente reproduz no post.
Hoje,  artigo publicado pelo jornal romeno Criticatac mostra que, apesar de o preconceito contra os gregos estar se espalhando pela Europa, mostra, com números, que o motivo da crise pode ser tudo, menos isso.
Os gregos, segundo os números da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OECD, trabalham em média 2090 horas por ano, 48,6% mais que as 1.419 horas anualmente trabalhadas pelos alemães e  35,7% mais que as 1554 horas anuais do trabalhador francês médio.
É irônico que, na longa lista de países que compõe a estatística da OECD, os gregos só percam – e de pouco – para a maior jornada média anual apurada: a dos sul-coreanos,  com 2.193 horas, 4% a mais ou, dividindo-se por uma média de 230 dias úteis por ano, 22 minutos diários de trabalho em relação aos gregos.
Não é exato fazer comparações com o Brasil, para não mudar os critérios de apuração, sobretudo porque é difícil equacionar a questão do emprego rural e do informal neste cálculo, mas andamos por volta de 2.000 horas  anuais, embora este número venha se reduzindo em razão da formalização do emprego. Ainda assim, segundo dados do Censo de 2010, 28% dos brasileiros trabalhavam mais de nove horas por dia.
De qualquer forma, há algo positivo nesta história deprimente.
É o fato de vermos como o “mito da indolência”, tantas vezes usados contra nós, brasileiros, encobre desde os interesses de dominação, passando pelo racismo e , sobretudo, pelo encobrimento de sistemas econômicos injustos e empobrecedores, generosos com o capital e mesquinhos com o trabalho.
Ou, como brincava um amigo, nos anos 80  , dando um sentido amargamente irônico ao conceito marxista de “mais -valia”: “meu irmão, a mais-valia aqui é diferente: é que para ganhar esse salário-mínimo, mais valia ficar à toa”
*Tijolaço

Marx queria a realização total do indivíduo, fora dos circuitos mercantis




O liberalismo se transformou em um novo totalitarismo

Entrevista com Dany-Robert Dufour, antropólogo francês, estudioso do ultraliberalismo e suas consequências dramáticas, via DIÁRIO GAUCHE


Alguns já o vêem no ocaso, outros a ponto de cair no abismo, ou em plena derrocada, ou em vias de extinção. Outros analistas prevêm o contrário, que mesmo que o liberalismo atravessa uma séria crise, seu modelo está longe, muito longe da conclusão. Apesar das crises e suas fundas consequências, o liberalismo segue em pé, produzindo seu pedaço insensato de benefícios e desigualdades, suas políticas de ajuste, sua irrenunciável impunidade. No entanto, mesmo que ainda siga vivo, a crise tem deixado como nunca a nu os seus mecanismos perversos e, sobretudo, colocou no centro da cena não só o sistema econômico, mas o indivíduo que o liberalismo acabou por criar: hedonista, egoísta, consumista, frívolo, obcecado por objetos e pela imagem fashion que emana destes objetos.

A trilogia da modenidade liberal é muito simples: produzir, consumir e enriquecer.
Em seu último livro, “O indivíduo que vem depois do neoliberalismo” [sem tradução para o português, ainda], o filósofo francês Dany-Robert Dufour (foto) propõe uma pergunta que poucos se fazem: “Como será o indivíduo que surgirá depois dos cataclismos e das intervenções globais do liberalismo?”

O liberalismo, que se apresentou como salvador da humanidade, terminou levando o ser humano a um caminho sem saída. Você projeta o seu fim, e se pergunta que tipo de ser humano surgirá depois do ultraliberalismo.

No século passado conhecemos dois grandes caminhos sem saída histórica: o nazismo e o stalinismo. De alguma maneira, e entre parênteses, depois da Segunda Guerra Mundial fomos libertados desses dois caminhos sem saída pelo liberalismo. Mas essa libertação acabou sendo uma nova alienação. Nas suas formas atuais, quer dizer, ultra e neoliberal, o liberalismo se molda como um novo totalitarismo porque pretende administrar o conjunto das relações sociais. Nada deve escapar da ditadura dos mercados e ele converte o liberalismo em um novo totalitarismo que substitui os dois anteriores. É, então, um novo caminho sem saída histórica. O liberalismo só fez explorar o ser humano. O historiador húngaro Karl Polanyi, em um livro publicado depois da Segunda Guerra Mundial demonstrou como, antes, a economia estava incluída em uma série de relações: as sociais, as políticas, as culturais, etc. Mas com a irrupção do liberalismo a economia saiu desse círculo de relações para converter-se no ente que procura dominar todos os demais. Desta forma, todas as economias humanas submetem-se à lei liberal, quer dizer, à lei do aproveitamento onde tudo deve ser rentável, incluídas as atividades que antes não estavam sob o mandato do rentável. Por exemplo, neste momento você e eu estamos falando mas não estamos submetidos à rentabilidade, mas sim para produzir sentido. Neste momento estamos em uma economia discursiva. Mas hoje até a economia discursiva está submetida a "quem ganha mais". Cada uma das economias humanas está sob a mesma lógica: a economia psíquica, a economia simbólica, a economia política, daí ao aniquilamento da política. O político só existe para obedecer ao econômico. A crise que atravessa a Europa mostra que quanto mais ela se aprofunda, mais a política deixa a gestão sob o controle da economia. A política renunciou ante a economia e esta tomou o poder. Os circuitos econômicos e financeiros se apoderaram da política. Por conseguinte, a crise é geral.

O título do seu livro, "O indivíduo que vem depois do liberalismo", implica a dupla ideia de uma frase triunfal e do fim do liberalismo.

Paradoxalmente, no momento de seu triunfo absoluto o liberalismo dá sinais de cansaço. Nos damos conta de que nada funciona e as pessoas vão tomando consciência deste colapso e têm uma reação de incredulidade. Os mercados se propõem a ser panaceia para todos os males. Você tem um problema? Pois então procure o Mercado e este lhe concederá a riqueza absoluta e a solução dos problemas. Mas agora nos damos conta que o Mercado acarreta devastações. Agora vemos do quanto esse remédio que deveria propiciar riqueza infinita acaba nos trazendo miséria, pobreza e destruição. Desde sempre, o capitalismo produz a riqueza global mas pessimamente dividida. Sabemos que há 20, 30 anos as desigualdades têm aumentado no planeta inteiro. A riqueza global do capitalismo subtrai direitos de milhões de indivíduos: os direitos sociais, o direito à educação, à saúde, em suma, todos esses direitos conquistados com as lutas sociais estão sendo engolidos pelo liberalismo. O liberalismo foi como uma religião cheia de promessas. Nos prometeu a riqueza infinita graças ao seu operador, o Divino Mercado. Mas nada cumpriu.

Na sua crítica filosófica ao liberalismo você põe em relevo um dos seus danos principais causado pelo pensamento liberal: os indivíduos estão submetidos aos objetos, não a seus semelhantes, ao outro. A relação em si, a sensualidade, foi deslocada pelo objeto.

As relações entre os indivíduos ficam em segundo plano. O primeiro é ocupado pela relação com o objeto. Essa é a lógica de mercado: o mercado pode a cada momento indicar-nos o objeto capaz de satisfazer nossos apetites. Pode ser um objeto manufaturado, um serviço e até um fantasma sob medida construído pelas indústrias culturais. Estamos em um sistema de relações que privilegia o objeto ao invés do sujeito. Isso cria uma nova alienação, uma relação viciada com os objetos. Esse novo totalitarismo que é o liberalismo, põem em mãos dos indivíduos os elementos para que se oprimam a si mesmos, através dos objetos. O liberalismo nos deixa a liberdade de nos alienarmos a nós mesmos.

Você localiza o princípio da crise nos anos '80 através da restauração do que você mesmo chama de relato de Adam Smith. Você cita uma de suas frases mais espantosas: para escravizar a um homem há que dirigir-se ao seu egoísmo, e não à sua humanidade.

Adam Smith remonta ao século 18 e a sua moral egoísta se expandiu um século e meio depois com a globalização do mercado em todo o mundo. De fato, Smith demorou muito, porque houve outra mensagem paralela, outro Século das Luzes, que foi o trancendentalismo [idealismo. Nota do tradutor] alemão. Ao contrário das Luzes de Smith, os alemães propunham a regulação moral, a regulação trancendental. Essa regulação podia manifestar-se na vida prática, através da construção de formas como as do Estado a fim de regular os interesses privados. A partir do Século das Luzes há duas forças que se manifestam: Adam Smith e Kant. Estes dois campos filosóficos coexistiram de maneira conflitiva ao longo da modernidade, quer dizer, através de dois séculos. Mas, em algum momento, o transcendentalismo alemão desmoronou e deixou lugar ao liberalismo inglês, que por sua vez passou a assumir a forma ultraliberal. Se pode datar esse fenômeno a partir do princípio dos anos '80. Há inclusive uma marca histórica que remonta ao momento em que Ronald Reagan e Margaret Thatcher na Grã-Bretanha chegam ao poder e instalam a liberdade econômica sem regulação alguma. Essa ausência de regulação destruiu imediatamente as convenções sociais, quer dizer, o pacto entre os indivíduos.

Daí advém a trilogia"produzir, consumir, enriquecer". Você chama a essa trilogia de pleonexia [desejo exagerado de ter posses, grande avidez material. Nota do tradutor].

O termo pleonexia eu encontrei na República de Platão, e quer dizer "sempre ter mais". A República grega, a Polis, se construiu sobre a proibição da pleonexia. Pode-se dizer então que, até o século 18, uma parte do Ocidente funcionou na base dessa proibição, e se libertou dela nos anos '80. A partir daí, foi liberada a avidez mundial, a avidez dos mercados, a avidez dos banqueiros. Recorde o discurso pronunciado por Alan Greenspan (o ex-presidente do Federal Reserve, o banco central dos EUA) ante a Comissão do Congresso norteamericano depois da crise de 2008. Greenspan disse: "Eu pensava que a avidez dos banqueiros era a melhor regulação possível. Mas me dou conta que isso não funciona mais, e não sei por quê". Greenspan confessou dessa maneira que o que orienta as coisas é a liberação da pleonexia. E já vemos agora aonde tudo isso nos conduziu.

Chegamos no momento do depois, ao hipotético 'ser humano de depois do liberalismo'. Você o vê sob a condição de um indivíduo simpático. Que sentido tem o termo simpático, neste contexto?

Ninguém é bom ao nascer, como pensava Rousseau, nem tampouco mau, como pensava Hobbes. O que podemos fazer é ajudar as pessoas a serem simpáticas, quer dizer, a não pensar só em si mesmas, e a pensar que para viver com o próximo há que contar com ele, o próximo. O outro está em mim, as imagens dos outros estão em mim, e me constituem como sujeito. A ideia mesma de um individuo egoísta é um sem-sentido, porque obriga a que nos esqueçamos de que o indivíduo está constituído por partes do outro. E quando falo de um indivíduo simpático não emprego o termo em sua acepção mais trivial, digamos alguém simplesmente simpático. Não. Se trata do sentido que tinha a palavra no século 18, onde a simpatia era a presença do outro em mim. Necessito, então, da presença do outro em mim e o outro necessita de minha presença nele para que possamos constituir um espaço onde cada um seja um indivíduo aberto ao outro. Eu cuido do outro como ele cuida de mim. Isso é um indivíduo simpático.

Vamos com a simpatia, mas sobre que bases se constitui o indivíduo que vem depois do liberalismo? A razão, a religião, o esporte, o ócio, a solidariedade, outra ideia de mercado?

Neste livro fiz um inventário sobre relatos antigos: o relato do logos [consciência cósmica em Heráclito. Nota do tradutor.], da evasão da alma dos gregos, o relato sobre a consideração do outro nos monoteísmos. Me dei conta de que em ambos relatos havia coisas interessantes e também aterradoras. Por exemplo, a opressão das mulheres no patriarcado monoteísta equivale à opressão da metade da humanidade. Acaso queremos repetir essa experiência? Não, certamente. Outro exemplo: no logos, para que haja uma classe de homens livres na sociedade é preciso que haja uma classe oprimida e escravizada. Queremos repetir isso? Não. Refundar nossa civilização depois dos três caminhos sem saída que foram o nazismo, os stalinismo, e o liberalismo requer uma fundação sobre bases sólidas. Por isso levei a cabo o inventário, para ver o que poderíamos recuperar e o que não poderíamos recuperar, quanto do passado podia servir-nos e quanto não podia servir-nos. A segunda consideração poderia ajudar o indivíduo a ser simpático antes que egoísta. É preciso reconstruir um meio onde se possa ser simpático e não egoísta. Neste contexto, a ideia de reconstrução do político, de uma nova forma de Estado que não fique dedicado a conservar os interesses econômicos, e sim que preserve os interesses coletivos, é central.

Qual é então o grande Relato que podería nos salvar?

Temos deixado à beira do caminho os grandes relatos anteriores e acreditamos cada vez menos no grande relato do mercado. Estamos a espera de algo que unifique o indivíduo, quer dizer, uma grande narrativa. Eu proponho o relato de um indivíduo que deixou de ser egoísta, mas que não seja o indivíduo coletivo do stalinismo, nem tampouco o indivíduo afogado na raça que se crê superior, como no nazismo e no fascismo. Se trata de um relato alternativo a tudo isso, de um relato que persiste no fundo da civilização. Creio que o valor da civilização ocidental reside na ênfase na individuação, quer dizer, na ideia da criação de um indivíduo capaz de pensar e agir por si mesmo. Não se pode esquecer a noção de indívíduo, mas é preciso reconstruir essa ideia. Contrariamente ao que se diz, não creio que nossas sociedades sejam individualistas, não. Nossas sociedades são lamentavelmente egoístas. Isto me faz pensar que o individuo como tal tem uma boa margem existencial, que há muitas coisas dele que não conhecemos. Temos que fazer existir o indivíduo fora dos valores de mercado. O indivíduo do stalinismo foi dissolvido na massa do coletivismo, o indivíduo do nazismo e do fascismo foi dissolvido na raça, o indivíduo do liberalismo foi dissolvido no egoísmo. O indivíduo liberal é um escravo de suas paixões e pulsões. Devemos superar este caminho liberal sem saída para recriar um indivíduo aberto ao outro, capaz de realizar-se totalmente. Há textos filosóficos de Karl Marx, que não são muito conhecidos, e nos quais Marx queria a realização total do indivíduo fora dos circuitos mercantis: no amor, na realização com os outros, na amizade, na arte. Poder criar o máximo a partir das disposições de cada um. Talvez tivéssemos que recuperar esse relato de Marx filósofo e esquecer o do Marx marxista. 
 

Publicado no diário portenho Página 12, edição de hoje, 13 de fevereiro de 2012. A entrevista foi concedida ao jornalista Eduardo Febbro. Tradução de Cristóvão Feil. 
*turquinho

Deleite Gil e Chico e Gal

PT: UMA HISTÓRIA DE LUTA PELO BRASIL

 

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Fruto da “necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida social e politica do país para transformá-la”, nascia há 32 anos o Partido dos Trabalhadores.

*+historiavermelha

Os seguidores de Jair Bolsonaro

Por Altamiro Borges

Nesta semana, o preconceito tomou conta da cena política. Não foi somente o grosseiro bispo de Assis, dom José Benedito Simão, que acusou a nova ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, de ser “uma pessoa mal-amada” por sua defesa do direito ao aborto. Outros trogloditas também esbanjaram fanatismo com seus ataques medievais, reacionários.

Charge do Dia

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Cientistas descobrem possível tratamento contra o Alzheimer

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Um estudo publicado esta sexta-feira (10) no jornal Science conta resultados surpreendentes da droga Bexaroteno, já usada no tratamento contra câncer de pele


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Os testes estão programados para iniciar o quanto antes, mas levará tempo até que saibamos se ela pode atrasar o progresso do Alzheimer. Para uma doença que afeta uma enorme parcela da população, e sem nenhum tratamento, essa descoberta poderá ser um grande avanço 
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Todos nós esperamos envelhecer algum dia. Na medida em que vamos nos aproximando dos 80 anos, nossas chances de sofrer Alzheimer aumentam drasticamente. Quase 50% das pessoas acima de 85 anos podem ser afetadas por ela. Há progresso no entendimento da doença, que aparentemente é causada por “placas” que se formam no cérebro, mas ainda não existem tratamentos ou cura.
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Porém, um novo estudo pode oferecer a primeira esperança real para o tratamento. Na pesquisa publicada hoje no jornal Science, a equipe de pesquisadores liderados por Gary Landreth, da Universidade Case Western, e seu aluno graduado Paige Cramer, descobriu que um medicamento chamado Bexarotene apresenta efeitos surpreendentes em camundongos que sofriam de uma condição similar a pacientes com Alzheimer. Esses ratos possuem placas similares em seus cérebros, compostas de proteínas beta-amilóides, e apresentaram danos comportamentais e cognitivos iguais aqueles experimentados por vítimas de Alzheimer.
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Poucas horas após receberem Bexaroteno, as placas nos cérebros dos camundongos começaram a dissolver-se. Como consequência, dentro de alguns dias os ratos apresentaram a recuperação de habilidades cognitivas que haviam perdido. Em particular, eles recuperaram a habilidade de fazer ninhos, um comportamento que apenas ratos saudáveis possuem. Eles também readquiriram parte de suas habilidades olfativas.
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Bexaroteno (TargretinTM) é uma droga aprovada para o uso em seres humanos no tratamento de linfoma cutâneo das células T, uma tipo raro de câncer de pele. Ele funciona bloqueando o gene RXR, que é envolvido na produção das proteínas beta-amilóides. Cramer, Landreth e seus colegas partiram da hipótese de que se o Bexaroteno pode ultrapassar a barreira sanguínea do cérebro, poderia auxiliar na dissolução das placas associadas ao Alzheimer. Aparentemente eles estão corretos.
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Uma grande ressalva é que muitas drogas potencialmente úteis funcionam em camundongos mas falham em seres humanos. Essa droga é diferente, pois seu uso já é aprovado em humanos, mas nunca foi testada em pacientes com Alzheimer. Os teste estão programados para iniciar o quanto antes, mas levará tempo até que saibamos se ela pode atrasar o progresso do Alzheimer. Para uma doença que afeta uma enorme parcela da população, e sem nenhum tratamento, essa descoberta poderá ser um grande avanço.


Fonte: Universia Brasil/art&ilustration militanciaviva   


mviva


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Carmen Sampaio:“Pinheirinho, show de horror não acaba nunca”

 por Conceição Lemes via VIOMUNDO

O doutor Marcio Sotelo Felippe, procurador do Estado de São Paulo, enviou-me por e-mail esta dica:
Dá uma olhada nesse vídeo.  Terrível. Acho que é um documento e tanto. Foi feito por uma moça chamada Carmen Sampaio, que vai todos os dias lá levar ajuda humanitária.
Conferi.  Cenário de catástrofe. Um show de horror, mesmo. O olhar sensível e diferenciado de Carmen, as denúncias retratadas e seu pedido de ajuda me fizeram ir atrás dela.
Pensei que fosse de São José dos Campos. Mas não é. Mora no Jardim América,  bairro de classe média alta de São Paulo, capital. Desde 23 de janeiro, dia seguinte à violenta desocupação do Pinheirinho,  ela vai quase diariamente aos abrigos dos ex-moradores levar sua solidariedade. É astróloga, ativista de meio ambiente e direitos humanos.
Algumas observações de Carmen:
“Os despejados do Pinheirinho vivem um pesadelo muito maior do que podemos imaginar”.
“O poder público e parte da mídia tentam passar a impressão de que o Pinheirinho era área de traficantes, drogados, arruaceiros. Mas não é verdade. As pessoas que lá moravam eram trabalhadores, trabalhadoras, com suas famílias”.
“Parece que só agora os moradores de São José dos Campos começam a se dar conta da atrocidade que ali aconteceu. Por anos, foram educados para olhar Pinheirinho como ” o gueto”, aqueles que não são parte da cidade. A sensação é de que criaram uma cidade, dentro da cidade”.
“O Pinheirinho não era uma favela com barracos de madeira. Eles tinham casa de alvenaria, com  fogão, geladeira, TV, móveis, etc. Agora, estão na miséria, amontoados em espaços insalubres, sem nenhuma privacidade, dormindo no chão. Num dos abrigos, há apenas TRÊS banheiros para mais de mil pessoas”.
“Há muitas grávidas e muitas crianças; estas ficam ao léu, pois não têm espaço adequado para brincar. Vi criança chorando de fome”.
“Estão desesperados pois o aluguel social é inferior aos valores cobrados na região. Além disso, imobiliárias exigem dois, três meses adiantados, que eles não têm como pagar. Alguns estão caindo na bebida”.
“É impressionante como têm vocação para a felicidade. Apesar das adversidades, eles mesmos começam a se organizar e buscar saídas. Só que a prefeitura não quer que eles se organizem, propositalmente logo trata de mudar alguns de lugar”.
Por tudo isso, Carmen está fazendo campanha para angariar doações de:
*Roupas  — para bebê,  crianças, jovens e adultos; é importante que estejam limpas e em bom estado.
* Produtos de higiene — escova de dente, creme dental, sabonete, xampu, papel higiênico, lenços umedecido
* Fraldas descartáveis, chupetas, mamadeiras, banheira de dar banho em bebê.
* Material escolar — caderno, lápis de cor, caneta esferográfica.
* Sandálias havaianas.
* Brinquedos.
Carmen já conseguiu juntar umas 600 pessoas nessa campanha. Quem quiser fazer alguma doação, pode ligar diretamente para ela no celular 011 9620-2079. Já existem oito pontos de coleta na Região Metropolitana de São Paulo.

Carmen com  crianças do Pinheirinho no dia 6 de fevereiro por volta de 21h30
*Amorannato