A visão geo-estratégica de Bo
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Obama e o conselheiro estratégico |
Obama, o simpático Obama. Quantas esperanças da altura da sua eleição, alguém se lembra?
Pois.
Cá está o simpático Obama, na véspera das novas eleições presidenciais:
uma longa entrevista, a mais comprida após a eclosão da crise com o
Irão. Porque Obama, tal como o cão dele, o português Bo (ou será
"Boh?"), não esquece do Islão. Nunca.
Quando Barack Obama falou na Universidade do Cairo pronunciou a
histórica frase: O Islão é uma parte da América. O que é verdade, tal
como a lebre faz parte da caça.
Hoje, após as derrotas do Iraque e do Afeganistão, a intervenção da Nato
na Líbia, a guerra civil que irrompeu na Síria, as decepções da
Primavera Árabe, a iminência dum ataque contra o Irão, Obama reafirma: o
Islão faz parte da América. E também de israel. Reafirma isso poucos
dias antes de encontrar o AIPAC, a mais importante lobby judia dos
Estados Unidos e da reunião com o primeiro-ministro israelita Benjamin
Netanyahu.
A entrevista, recolhida pelo jornalista Jeff Goldberg nas páginas da
revista Atlantic, é explicita: a aliança entre Washington e Tel-Avive
não pode ser posta em causa, os objectivos são comuns.
O facto é que fizemos um óptimo trabalho com
israel nos últimos três anos, eu acho que o primeiro-ministro [Benjamin
Netanyahu, ndt] e o ministro da Defesa [Ehud Barak, ndt] reconhecem que
nunca tivemos uma cooperação. militar e de intelligence tão próxima como a actual.
Quando
olharmos para o que eu fiz no âmbito da segurança de israel, os
exercícios os treinos conjuntos que vai além de qualquer coisa que já
fizemos no passado, o apoio financeiro e operacional no Programa Iron
Dome [o sistema famoso anti-míssil israelita, ndt], que garante que as
famílias israelitas sejam menos vulneráveis aos ataques dos foguetes, o
facto de que temos assegurado a superioridade militar de israel, a luta
em favor da legitimação de israel, tanto no Conselho dos Direitos
Humanos quanto na Assembleia Geral da ONU, no caso do relatório
Goldstone [o relatório da ONU que condena duramente as violações
israelitas durante o ataque contra a Faixa de Gaza na Operação Chumbo
Fundido, em Dezembro de 2008], bem como após o incidente [freedom] flotilha, a verdade é que a relação com israel tem funcionado muito bem.
Olé.
Assegurar uma desproporcionada superioridade militar de israel na
região, encobrir os crimes israelitas da Operação Chumbo Fundido, lutar
contra o reconhecimento da Palestina na Assembleia das Nações Unidas,
ajudar no boicote ao fornecimento de géneros de primeira necessidade
para a Faixa de Gaza: tudo isso, que uma pessoa normal tenderia a
esconder com uma certa vergonha, no caso do simpático Obama são "pontos
fortes" da colaboração com israel.
A reivindicação dessa relação especial é explicitamente ligada pelo
Presidente à dura controvérsia que os candidatos republicano, seus
adversários nas eleições presidenciais de Novembro, têm levantado sobre a
questão do Irão, acusando Obama de não ser suficientemente pró-Israel.
Neste ponto, Obama é muito claro, tão claro ao ponto de reconhecer a
enorme influência da lobby israelita na campanha presidencial dos EUA:
Não existem razões válidas para duvidar de mim
sobre este ponto [isso é, a segurança de israel] . Em parte, a questão
tem a ver com o facto de que no nosso País e nos nossos media, o assunto
se tornar inteiramente político. Acho que isso não é um segredo. Se
existir um grupo político que quer criar tensão não entre os EUA e
israel, mas entre Barack Obama e os votos dos judeus americanos, que
historicamente sempre foram muito influentes na candidatura dele, então
torna-se útil tentar criar dúvidas e levantar questões.
É,
portanto, neste contexto eleitoral que devemos colocar a posição da
administração Obama sobre o Irão, directamente influenciada pela
necessidade de interceptar o total apoio da lobby judia que apoia Israel
e exerce pressão directa sobre a política externa de Washington, e não
apenas acerca das questões do Médio Oriente.
O presidente dos EUA reitera a própria determinação no uso da força
militar como uma das quatro opções que compõem a estratégia
norte-americana, juntamente com a política, económica e diplomática. As
razões são bem conhecidas: o risco duma proliferação nuclear na região
(as 2-300 ogivas nucleares de israel não contam, aliás, são ogivas bem
democráticas), o perigo de que não bem identificados "terroristas"
possam fazer uso de armas nucleares (lembramos que até hoje o único a
utilizar tais armas contra civis foi o exército dos Estados Unidos), a
postura do Irão contra a existência de Estado de israel.
A questão iraniana, afirma o simpático Obama, não diz respeito apenas a
segurança do Estado judeu, mas também aos interesses estratégicos dos
Estados Unidos:
Portanto, quando digo que nenhuma opção está
excluída, quero dizer apenas que vamos continuar a exercer uma pressão
até quando o Irão adoptar uma linha diferente.
E quando o
repórter pergunta a opinião do presidente acerca da possibilidade de
israel atacar o Irão? O sentido da resposta nem é demasiado disfarçado:
Acho que, instintivamente, nos Estados Unidos simpatizemos para israel.
Portanto,
não surpreende a conexão que Obama estabelece entre a crise do regime
de Assad na Síria e a necessidade de mudar o curso político do Irão: a
queda do regime de Assad é crucial, pois seria uma "grande perda para o
Irão".
Bastante claro, não é?
Ipse dixit.
*InformaçãoIncorreta