Em risco a sobrevivência da humanidade
Sanguessugado do Burgos
Raymundo de Oliveira
Não há registro na história da humanidade de uma nação relativamente
tão poderosa quanto os atuais Estados Unidos. Quantas bases militares
tem a China no exterior? E a Rússia? E o Irã? E a Síria? E o Brasil,
Cuba, Venezuela, Japão, Alemanha? Posso afirmar que não têm nenhuma base
militar no exterior. Por quê, com que direito os EUA têm dezenas de
bases militares em todas as partes do mundo?
América Latina
Não
há um só país na América Latina que não tenha sido vítima da agressão
dos EUA, direta ou indiretamente. O golpe de Pinochet, no Chile, foi
diretamente apoiado pelo governo americano. O golpe de 64, no Brasil,
tinha a Quarta Frota norte americana preparada para a eventualidade de
não dar certo.
"O México foi esquartejado pelos
EUA no século XIX e quando Cárdenas resolveu nacionalizar o petróleo, a
pressão foi imediata e direta, ficando célebre a expressão: México,
triste México, tão longe de Deus e tão próximo dos Estados Unidos”. Hoje
a NAFTA está destruindo a indústria mexicana. A ALCA, no restante da
América Latina, tinha o mesmo objetivo, felizmente afastado.
Poderíamos
citar ainda a Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Argentina,
Colômbia, Haiti, Peru, Equador, Bolívia, Uruguai, Paraguai. Cada país
uma história triste, os EUA sempre apoiando os governos repressivos,
onde os interesses das grandes empresas americanas se confundem com
aqueles dos grupos internos de empresários associados a elas. É quase
sempre uma história similar.
E não me referi
ainda a Cuba, onde o domínio americano substituiu o espanhol, na
passagem do século XIX para o XX. Vem daí a excrescência histórica da
base de Guantánamo que os EUA se recusam a devolver a Cuba e que foi
transformada em centro de tortura de militantes árabes. Além disso, até
hoje o Império mantem o criminoso bloqueio a Cuba.
Como
a política venezuelana não é aquela que os americanos gostariam, eles
construíram sete bases militares na Colômbia e armaram fortemente este
país, insuflando a guerra, que todos sabemos seria instrumento da
destruição da Venezuela pelos EUA, tendo como objetivo verdadeiro as
reservas petrolíferas do país.
Quando o Brasil
descobre o pré-sal, num momento em que as multinacionais procuram
desesperadamente novas reservas de petróleo, imediatamente é reativada a
Quarta Frota que, há décadas, estava adormecida. Esse acordar da Quarta
Frota está sendo um aviso aos brasileiros e latino-americanos de que um
poder mais alto está de olho nessa riqueza estratégica.
Oriente Médio
Sem
qualquer simpatia pelo Iraque sob o governo de Saddam Hussein, período
em que os comunistas e a esquerda em geral estavam na cadeia, é preciso
reconhecer que se tratava de um país com uma das melhores qualidades de
vida na região e onde as mulheres tinham mais direitos. Porém, possuía a
terceira maior reserva de petróleo do mundo.
Tendo
perdido a confiança dos EUA, o Iraque é invadido por decisão unilateral
dos norte-americanos, sem, para isso, ter conseguido nem mesmo o apoio
da própria Europa. Alegavam que o Iraque teria armas de destruição em
massa, o que ficou provado que era mentira. São tão fortes que não
precisam dar satisfação a ninguém. Destruído o país, Saddam é preso e
levado a julgamento, durante o qual foram assassinados três advogados de
defesa e trocado o juiz-chefe. Imaginem se isso tivesse acontecido em
Cuba!!!!
Procuraram impedir qualquer
pronunciamento de Saddam Hussein, tendo o julgamento sido interrompido
diversas vezes. Seu depoimento seria perigoso, pois poderia dizer de
quem recebeu os gases tóxicos que usou contra os curdos. Poderia
relembrar o apoio que tivera dos EUA na guerra contra o Irã. Moral de
história: os defensores da “democracia ocidental e cristã”, os
norte-americanos, forçaram seu enforcamento, transmitido ao vivo pela
Internet. Há poucas barbaridades tão graves no passado recente e tão bem
documentadas.
Hoje o Iraque é um país arrasado,
sem infraestrutura de saneamento, sem hospitais, suas estradas
destruídas, escolas fechadas, toda uma juventude, que chegou a ser das
mais instruídas da região, sem condições de assistir às aulas. Mas seu
petróleo está controlado pelos EUA e as empresas americanas contratadas
para reconstruírem o país.
Esse processo se
repetiu na Líbia, que também possui enorme reserva de petróleo, tendo
sido assassinado Muammar Kadhafi pelas forças da OTAN, sob orientação
dos EUA.
Há pouco mais de um ano, as coisas
fugiram do controle no Egito, à época comandado por Hosni Mubarak, homem
de confiança dos EUA. Rapidamente, a Sra. Hillary Clinton deixou claro
que Mubarak era amigo e o defendeu contra os que se levantavam por
eleições livres. Não deu certo, o movimento cresceu, Mubarak caiu. A
palavra final não foi dita, mas os americanos estão apoiando o que
restou da ditadura militar anterior, receosos de que as coisas possam ir
longe demais.
Os EUA querem continuar decidindo
o destino de cada país e controlando suas riquezas estratégicas. Serão
melhores, por acaso, os dirigentes da Arábia Saudita ou eles estão
sobrevivendo porque são submissos e permitem que seu petróleo, a maior
reserva do mundo, seja utilizada livremente pelo maior império da
história da humanidade?
Há quarenta anos os
norte-americanos saíram enxotados do Vietnam, após causarem milhões de
mortes. Hoje estão destruindo o Iraque e o Afeganistão e se preparando
para destruir a Síria.
E, com tudo isso, querem
impedir que o Irã se prepare para a guerra, construindo suas próprias
armas. O que aconteceu no Iraque e na Líbia é incentivo para que se
armem as nações ameaçadas pelos EUA.
O drama é
ainda mais profundo, pois Síria, Irã, Líbia, Afeganistão, Iraque, entre
outros, têm tido governos deploráveis, ditaduras teocráticas, algo que
sonhávamos não seria visto no século XXI. É inconcebível qualquer apoio a
esses governos, por tudo o que têm representado de atraso. Porém, não
se pode dar uma carta em branco para os EUA escolherem que ditaduras
podem ficar e quais as que ele decidiu acabar. A superação desses
governos precisa ser algo vivido por seus povos, nascido de suas
lideranças, superado pelo avanço de seus próprios quadros: cientistas,
mulheres e homens, profissionais liberais, trabalhadores e suas
organizações.
Crise e Guerra
Como
colocado no início, não há registro na história da humanidade de uma
nação tão poderosa. Sua atuação no exterior é suportada pelo desnível
nos armamentos onde os EUA têm larga vantagem sobre todos os outros
países somados. O perigo adicional é que, numa dessas crises cíclicas a
que somos levados pela lógica do Capital, como a que estamos vivendo, o
Império se desespere e faça “bobagem maior”. A história mostra que a
guerra é sempre uma possibilidade nas grandes crises.
Em risco a sobrevivência da humanidade.
Fonte: rededemocratica.org
*Gilsonsampaio