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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
sexta-feira, março 23, 2012
A nova caixa registradora das estradas estaduais
Os
liberais brasileiros que tanta estima demonstram pela propriedade
privada, quando no poder nada mais fazem do que tirar proveito dela para
encher os cofres públicos e remunerar seus consorciados do setor
privado.
Esse é o caso do PSDB e sua sanha de onerar o uso do automóvel por meio daquilo que ficou conhecido como a indústria das multas.
A
novidade agora é controlar a velocidade de veículos nas estradas, já
pesadamente tarifadas do Estado de São Paulo, com os mesmo recursos
utilizados pelas concessionárias de estradas para arrecadar numerário: os chips eletrônicos e os pontos de captura de informações sobre velocidade em cada uma das praças de pedágio.
Argumentam
os furibundos coletores de receitas para-fiscais do Estado que a medida
virá no sentido de proporcionar maior segurança ao usuário e reduzir o
número de acidentes nas estradas, alegando sua adoção em algumas cidades
europeias.
Nada
mais falacioso. A incidência de acidentes nas estradas não está
relacionada apenas à velocidade do veículo, mas também a um conjunto de
condições desfavoráveis ao tráfego. A maioria delas fora do alcance dos
motoristas e de inteira responsabilidade do ente estatal que construiu a via ou de seu operador, a empresa privada detentora da concessão.
É
comum nas estradas paulistas o usuário deparar-se com gradientes de
pistas mal concebidos, rampas com declives excessivos e ausência de vias
de escape para emergências. Para não ir muito longe, o exemplo mais
notório é o do trecho sul do rodoanel metropolitano de São Paulo,há
pouco inaugurado.
Nessa
via considerada de última geração, destinada principalmente a veículos
de carga, curvas fechadas demais se mostram incompatíveis com a
velocidade possível de ser desenvolvida nas pistas que lhe dão acesso;
descidas excessivamente íngremes forçam frenagens em fundos de
aterros destituídos de rotas escape; e a falta de sinalização e
iluminação são uma constante.
A comparação com as estradas na Europa soam, nesse sentido, pura galhofa. As impecáveis auto-bhans que
ligam as principais cidades do velho mundo são estradas bem planejadas e
bem assistidas por serviços complementares, onde é possível desenvolver
com segurança velocidades superiores a 150 Km/h sem que passe pela
cabeça de ninguém ir além do limite estipulado.
A
macaquice encenada pelas autoridades rodoviárias estaduais incorre,
também, numa impropriedade matemática. Como o cálculo para imputação da
multa é baseado na velocidade média desenvolvida pelo veículo, nada
impede que o motorista busque ganhar tempo em determinado trecho,
praticando uma velocidade acima do permitido, para depois poder
compensá-lo num restaurante de estrada a meio caminho.
Outro
aspecto que deve ser levado em conta na nova prática diz respeito
ao fato de que para viabilizá-la as concessionárias de rodovias deverão
investir em equipamentos e remunerarem-se dessa despesa de capital com
parcelas das multas impostas aos motoristas, o que oferece questionável
fonte extraordinária de receitas.
Melhor
sopesados os argumetos brandidos pelos representantes do Estado, tudo
indica que a ideia que se busca vender aos contribuintes do imposto
sobre veículos automotores com ares de zelo administrativo, não passa de
estratagema para aumentar o faturamento desses comensais corporativos
do governo e sua cada vez mais evidente cunha para-fiscal.
Tudo
isso ao preço de uma ilegalidade, pois o código nacional de trânsito
não contempla a possibilidade de aplicação de multas com base em
inferências matemáticas. De liberais assim o inferno está cheio.
*Brasilquevai
Marta Suplicy comemora prisão de envolvidos em site que incitava ódio racial e homofobia
Agência Senado
|
A
senadora Marta Suplicy (PT-SP) parabenizou nesta quinta-feira (22) a
Polícia Federal, a Secretaria de Direitos Humanos e o grupo ABGLT pela
prisão de incitadores do ódio e da homofobia na internet. Na Operação
Intolerância, foram presos Emerson Eduardo Rodrigues, morador de
Curitiba (PR), e Marcelo Valle Silveira, morador de Brasília (DF), sob a
acusação de manterem um site com conteúdo discriminatório.
A existência da página havia sido denunciada por internautas brasileiros ao Ministério Púbico e também à ONG SaferNet, onde bateu o recorde de denúncias de cidadãos – foram quase 70 mil. A operação da PF incluiu o cumprimento de mandados de busca e apreensão nas residências e nos locais de trabalhos dos envolvidos. Entre os conteúdos publicados pelos criminosos havia referências positivas ao atirador Wellington, que em 2011, matou vários alunos de uma escola em Realengo, no Rio de Janeiro.
Marta Suplicy comemorou as prisões, dizendo esperar que os responsáveis pelo site passem “um belo tempo na cadeia”. A senadora reforçou a preocupação com a incitação à violência, lembrando que, há poucos dias, um atirador matou soldados muçulmanos, um rabino e três crianças judias em atentados na França.
Para Marta, os atentados são incitados também pela disputa política no país, que terá eleições presidenciais em 22 de abril. Na análise da senadora, o atual presidente francês e candidato à reeleição, Nicolas Sarkozy, estaria se mostrado mais conservador, o que teria criado um clima contrário aos imigrantes. No Brasil, afirmou a senadora, ocorreu um movimento semelhante na eleição presidencial.
– Não queremos esse tipo de clima no nosso país. Nós somos e fomos e sempre espero que continuemos a ser um país onde as divergências não são resolvidas com golpes baixos, com incitamento, com pregação de ódio, porque isso não leva a uma construção de uma sociedade mais justa – afirmou.
Leia mais no post abaixo
A existência da página havia sido denunciada por internautas brasileiros ao Ministério Púbico e também à ONG SaferNet, onde bateu o recorde de denúncias de cidadãos – foram quase 70 mil. A operação da PF incluiu o cumprimento de mandados de busca e apreensão nas residências e nos locais de trabalhos dos envolvidos. Entre os conteúdos publicados pelos criminosos havia referências positivas ao atirador Wellington, que em 2011, matou vários alunos de uma escola em Realengo, no Rio de Janeiro.
Marta Suplicy comemorou as prisões, dizendo esperar que os responsáveis pelo site passem “um belo tempo na cadeia”. A senadora reforçou a preocupação com a incitação à violência, lembrando que, há poucos dias, um atirador matou soldados muçulmanos, um rabino e três crianças judias em atentados na França.
Para Marta, os atentados são incitados também pela disputa política no país, que terá eleições presidenciais em 22 de abril. Na análise da senadora, o atual presidente francês e candidato à reeleição, Nicolas Sarkozy, estaria se mostrado mais conservador, o que teria criado um clima contrário aos imigrantes. No Brasil, afirmou a senadora, ocorreu um movimento semelhante na eleição presidencial.
– Não queremos esse tipo de clima no nosso país. Nós somos e fomos e sempre espero que continuemos a ser um país onde as divergências não são resolvidas com golpes baixos, com incitamento, com pregação de ódio, porque isso não leva a uma construção de uma sociedade mais justa – afirmou.
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*Onipresente
Um crucifixo na parede não é um objeto de decoração
Territórios livres
Imagine que você é o Galileu e está sendo processado pela Santa
Inquisição por defender a ideia herética de que é a Terra gira em torno
do Sol e não o contrário. Ao mesmo tempo você está tendo problemas de
família, filhos ilegítimos que infernizam a sua vida e dívidas, que
acabam levando você a outro tribunal, ao qual você comparece até com uma
certa alegria. No tribunal civil será você contra credores ou filhos
ingratos, não você contra a Igreja e seus dogmas pétreos. Você receberá
uma multa ou uma reprimenda, ou talvez, com um bom advogado, até consiga
derrotar seus acusadores, o que é impensável quando quem acusa é a
Igreja. Se tiver que ser preso será por pouco tempo, e a ameaça de ir
para a fogueira nem será cogitada. No tribunal laico, pelo menos por um
tempo, você estará livre do poder da Igreja. É com esta sensação de
alívio, de estar num espaço neutro onde sua defesa será ouvida e talvez
até prevaleça, que você entra no tribunal. E então você vê um enorme
crucifixo na parede atrás do juiz. Não adianta, suspiraria você,
desanimado, se fosse Galileu. O poder dela está por toda a parte. Por
onde você andar, estará no território da Igreja. Por onde seu pensamento
andar, estará sob escrutínio da Igreja. Não há espaços neutros.
Um crucifixo na parede não é um objeto de decoração, é uma declaração.
Na parede de espaços públicos de um país em que a separação de Igreja e
Estado está explícita na Constituição, é uma desobediência, mitigada
pelo hábito. Na parede dos espaços jurídicos deste país, onde a
neutralidade, mesmo que não exista, deve ao menos ser presumida, é um
contrassenso - como seria qualquer outro símbolo religioso pendurado. É
inimaginável que um Galileu moderno se sinta acuado pela simples visão
do símbolo cristão na parede atrás do juiz, mesmo porque a Igreja
demorou mas aceitou a teoria heliocêntrica de Copérnico e ninguém mais é
queimado por heresia. Mas a questão não é esta, a questão é o nosso
hipotético e escaldado Galileu poder encontrar, de preferência no poder
judiciário, um território livre de qualquer religião, ou lembrança de
religião.
Fala-se que a discussão sobre crucifixos em lugares públicos ameaça a
liberdade de religião. É o contrário, o que no fundo se discute é como
ser religioso sem impor sua religião aos outros, ou como preservar a
liberdade de quem não acredita na prepotência religiosa. Com o
crescimento político das igrejas neopentecostais, esta preocupação com a
capacidade de discordar de valores atrasados impostos pelos religiosos a
toda a sociedade, como nas questões do aborto e dos preservativos,
tornou-se primordial. A retirada dos crucifixos das paredes também é uma
declaração, no caso de liberdade.
*esquerdopata
O dia em que um fotógrafo norte-americano comemorou o triunfo da revolução cubana
©
Foto de Grey Villet. O fotógrafo norte-americano Burt Glinn comemorando
com soldados cubanos o triunfo da revolução. Havana, 1959.
Esta fotografia feita por Grey Villet mostra o fotojornalista norte-americano Burt Glinn
comemorando com soldados cubanos o triunfo da revolução. Em Janeiro de
1959, Fidel Castro e seus homens ocuparam Havana após a fuga do ditador
Fulgêncio Baptista. Burt nasceu em 1925, em Pittsburgh (Pensilvânia),
começou a trabalhar na Agência Magnum em 1951, que por duas vezes
chefiou. Estudante de literatura em Harvard, ele serviu no Exército dos
Estados Unidos entre 1943 e 1946 e começou a trabalhar com a Life
Magazine em 1949 antes de ingressar na agência Magnum. Faleceu em 2008,
aos 82 anos. Também é muito famosa a sua fotografia de Nikita Khruschev
durante a visita deste, em 1959, ao Memorial de Lincoln em Washington.
*Images&visions
O governo e a classificação indicativa
Por Luana Luizy, no Observatório do Direito à Comunicação:
Educar e conscientizar a sociedade sobre a influência da mídia na formação das crianças e adolescentes é o objetivo da campanha ¨Não se Engane", lançada, junto com o Novo Guia Prático da Classificação Indicativa, na última segunda (19), pelo Ministério da Justiça.
Educar e conscientizar a sociedade sobre a influência da mídia na formação das crianças e adolescentes é o objetivo da campanha ¨Não se Engane", lançada, junto com o Novo Guia Prático da Classificação Indicativa, na última segunda (19), pelo Ministério da Justiça.
*Miro
Nazismo à brasileira
Os
dois potenciais terroristas presos na quinta-feira 22 pela Polícia
Federal de Curitiba tinham planos, entre outros, de atacar estudantes do
curso de Ciências Sociais da Universidade de Brasília. Isso porque
aqueles “esquerdistas” tinham ideais liberais sobre sexualidade e
direitos de minorias.
Emerson Eduardo Rodrigues e
Marcelo Valle Vieira Mello (“ambos com mais de 30 anos”, segundo a
assessoria da PF) pretendiam “atirar a esmo” também nos alunos a cursar
faculdades de Direito e Comunicação. Os ataques se dariam em uma casa de
eventos utilizada pelos alunos. Vieira Mello, diga-se, cursou Letras na
UNB.
“As mensagens dizem que dariam um
tratamento especial àquele ‘câncer’, fazendo referência aos estudantes,
quando eles estivessem reunidos no local”, declarou o delegado Wagner Mesquita, da PF no Paraná, em entrevista ao portal Terra.
Sem
direito à fiança, os suspeitos alimentavam um website hospedado na
Malásia com conteúdo extremista. No silviokoerich.org faziam ameaças de
morte ao deputado federal Jean Willys (PSOL-RJ), ofensas à presidenta
Dilma Rousseff, a negros, homossexuais e judeus. Teciam apologias à
violência contra as mulheres, e, ao mesmo tempo, incitavam o abuso
sexual de menores.
Como se dá com psicopatas, as
ideias dois internautas extremistas são permeadas de contradições.
Postavam fotografias de cenas pornográficas a envolver crianças e
adolescentes, e, ao mesmo tempo, consideravam que os alunos de Ciências
Sociais da UNB eram demasiado liberais no quesito sexualidade.
Rodrigues e Vieira Mello também não poupavam críticas a nordestinos.
Embora
ofendessem a mineira Dilma, esse ranço contra o Nordeste é embasado no
antigo preconceito contra Lula. Para conservadores, e por tabela
extremistas, o sucesso do presidente mais popular do Brasil é certamente
algo difícil de engolir. A Bolsa Família não passaria de uma ninharia
para alimentar vagabundos. Houve, claro, o mensalão durante o primeiro
mandato de Lula, e isso serve de munição para os conservadores e
extremistas. Mas para entender governos anteriores aos de Lula seria
recomendável ler A Privataria Tucana, de Amaury Jr.
De
qualquer forma, como explicar essas tentativas de perpetrar ataques
contra as vidas de estudantes e um deputado federal no Brasil? Isso sem
contar o inaudito reacionarismo. Em grande parte, esse fenômeno decorre
da radicalização de uma narrativa nacionalista na “fascistofera” e na
mídia canarinho.
Neste mundo globalizante onde a
tecnologia (leia internet) aproxima cada vez mais os povos, o
conservadorismo a reinar nos tabloides e redes de tevê nos Estados
Unidos e na Europa logo contagia outros países. E, por tabela, esse
discurso neoconservador tem um enorme impacto nos extremistas capazes de
cometer atos de loucura. Esse fenômeno ocorre na Europa, onde a
islamofobia e a judeofobia são uma grande preocupação. Mas, ao contrário
do Brasil, onde a vasta maioria da mídia é neoconservadora, na Europa e
EUA há periódicos liberais que não aderem à essa narrativa, entre eles o
Le Monde, La Repubblica, The Nation, etc. E mesmo diários conservadores como o Corriere della Sera ou Le Figaro fazem o mesmo.
Qual a origem desse discurso nacionalista?
Em recente entrevista a CartaCapital,
o historiador francês Nicolas Lebourg, da Universidade de Perpignan,
disse que a atual narrativa de nacionalistas é uma reação à crise dupla
que vivemos nesses tempos. A primeira foi aquela geopolítica de 11 de
setembro de 2001. A segunda foi a econômica, iniciada em 2008.
A partir do 11 de Setembro, ideais neoconservadores (“neocons”) migraram para a Europa. “São baseados no seguinte quadro bastante simplista: o mundo livre seria o Ocidente, e do outro lado existe o Islã.” Essa narrativa substituiu aquela da Guerra Fria, quando o Ocidente lutava contra o totalitarismo soviético.
No
Brasil, pelo menos por ora, extremistas como os dois detidos pela PF
não parecem estar atrás de muçulmanos. A “luta” deles é contra os
esquerdistas, e todos os outros males que a ideologia deles encapsula.
Aqui os esquerdistas ainda são chamados de “comunistas”, termo
anacrônico mundo afora mas, apesar da globalização, ainda bastante
utilizado. Basta moderar comentários no website da CartaCapital
para descobrir que colunistas a exprimir posições favoráveis à reforma
da Lei da Anistia ou à descriminalização do aborto são catalogados como
comunistas.
Resta saber se tentativas de
atentados como os da dupla Rodrigues e Vieira Mello engatilharão ataques
terroristas como aqueles de Mohamed Merah, autor de sete assassinatos e
morto por policiais em Toulouse.
Por: Gianni Carta, no CartaCapital
*OCarcará
quinta-feira, março 22, 2012
ANP confirma Tijolaço: Chevron economizou no poço
O Tijolaço descumpre sua promessa de silenciar enquanto não há definição sobre os nomes indicados pelo PDT para o Ministério do Trabalho por uma razão que está acima da política: a verdade.Agora à tarde, Sílvio Jablonski, assessor de diretoria da ANP, afirmou que, se a petroleira não tivesse deixado uma área não revestida do poço, estendendo o revestimento por mais 400 metros além do que foi realizado, não teria havido o vazamento de 2.400 barris de petróleo, detectado em 8 de novembro.
Ou seja, que a ela não cumpriu os planos de exploração que haviam sido registrados perante os órgãos fiscalizadores que, obviamente, não podem ter um fiscal “morando” em cada plataforma.
É a primeira confirmação oficial do que foi informado aqui, neste blog, no dia 30 de novembro, ou quase quatro meses atrás:
O que a Chevron não disse à imprensa,
aos deputados e à sociedade é que deveria existir uma segunda sapata
situada algumas centenas de metros abaixo daquela, capaz de sustentar a
coluna de tubos de 9 5/8 polegadas e vedar o espaço entre estes tubos
e a perfuração de 12 1/4 polegadas, impedindo a ascensão do petróleo
por fora da tubulação.
Esta sapata – que seria também
submetida, segundo o plano, a “testes de selo”, para verificar sua
capacidade de vedação – simplesmente não foi construída.
Veja no quadro do projeto apresentado pela Chevron que ela estaria situada entre 2050 a 2600 metros (a sigla TVDSS significa True Vertical Depth Sub Sea,
profundidade real submarina) e deveria ser capaz de resistir a
pressões súbitas (explosões) de mais de seis mil PSI, ou algo como 420
quilogramas-força por centímetro quadrado.
Esta sapata e a vedação jamais
existiram, apesar de o poço já ter atingido 3.329 metros de
profundidade. Evidentemente, também não o teste de selo.
Só a partir daí, segundo o plano
apresentado pela Chevron, é que a perfuração seria feita com a broca de
8 ½ polegadas, que é o diâmetro convencional da chamada “fase final”
de um poço de petróleo, aquela que toca o reservatório subterrâneo de
óleo. Esta fase não possui revestimento, o que é chamado de “poço
aberto” no jargão técnico. No seu depoimento á Comissão de Meio
Ambiente, o presidente da Chevron-Brasil (?), o Sr. Charles Buck,
admitiu que a broca usada no momento do acidente era a de 8 ½
polegadas.
Na perfuração executada pela Chevron,
a situação era de “poço aberto” a partir de 567 metros abaixo do solo
marinho. Embora o ponto provável de ruptura tenha sido abaixo da
sapata situada neste nível, pode ter ocorrido em outro, em razão da
grande extensão – comprimento vertical + horizontal, conhecido
tecnicamente como TD(MD) – aumentada pelo fato de o poço fazer duas
longas curvas (dog legs, na linguagem técnica) e ter um trecho
horizontal. Se os diagramas apresentados pela Chevron tiverem proporção
correta, é possível estimar esta extensão em mais de três quilômetros
sem revestimento ou vedação.
E isso numa formação geológica cheia
de fraturas e fissuras, o que é admitido no estudo e provocou até a
mudança de direção de três poços perfurados em Frade.
Mas o que poderia ter feito a Chevron não implantar a sapata de sustentação e vedação?
Não é possível dizer, mas é natural que se avalie a vantagem de não o fazer: economia.
Uma sapata com esta resistência
custa algo como R$ 1 milhão, o que somado ao tempo de parada na
perfuração, em razão dos custos fixos, pode quadruplicar, pelo menos,
de valor. Só o aluguel da sonda – mesmo a “baratinha” que utilizaram –
é equivalente a cerca de R$ 500 mil por dia e ela não pode perfurar
enquanto não se completa a cimentação, espera-se o tempo de “pega” do
cimento e se realizam os testes de selagem.
Infelizmente, o “jornalismo investigativo” brasileiro parece ter
pouco “apetite” pela apuração de casos que envolvem grandes interesses
privados, como o da indústria petroleira e, sobretudo, a multinacional. Estamos vendo as hipóteses mais absurdas sendo veiculadas pelos jornais para explicar os vazamentos – aparentemente residuais – no campo operado pela empresa americana. Fala-se até em “afundamento” de uma imensa calota de solo marinho por conta de fissuras e- acreditem – em novos “vazamentos naturais”.
Mas ninguém, até agora, se preocupou em comparar o que fez a Chevron e o plano de exploração que ela mesma fez aprovar pelas autoridades públicas, e que está disponível para quem se interessar.
E parece que nossos grandes jornais não se interessam, mesmo.
*Tijolaço
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