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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 04, 2012


Jair Bolsonaro agride servidor e tenta impedir trabalhos da Comissão da Verdade



Para Chico Alencar (PSOL-RJ), Bolsonaro atingiu não só o trabalho da subcomissão, mas também o Código de Ética que diz ser grave falha ao decoro interromper uma sessão “da forma como ele fez”

bolsonaro comissão verdadeDeputados da Comissão de Direitos Humanos e da Subcomissão da Verdade protocolaram hoje (4) na presidência da Câmara representação contra o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) por quebra de decoro parlamentar. Os deputados alegam que Bolsonaro tentou impedir a realização da primeira sessão da subcomissão e ofendeu um servidor da Casa.
De acordo com o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Domingos Dutra (PT-MA), que também é membro da subcomissão, Bolsonaro quebrou o decoro parlamentar ao impedir a realização da reunião. A audiência, fechada à imprensa, estava marcada para ouvir os depoimentos de dois camponeses e dois militares que tiveram participação na Guerrilha do Araguaia. Bolsonaro, segundo Dutra, também tirou foto dos depoentes para tentar constrangê-los.

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“O deputado Jair Bolsonaro, que está acostumado a agredir as pessoas e tentar obstruir os trabalhos do Legislativo e, apesar de não fazer parte da subcomissão, tentou obstruir os trabalhos. Ele agrediu um servidor da comissão, o secretário Marcio Araujo, ameaçou os depoentes, tentou paralisar as atividades da comissão. Como ele não conseguiu, ficou no corredor aos berros ameaçando todo mundo”, contou Dutra.
Para Chico Alencar (PSOL-RJ), Bolsonaro atingiu não só o trabalho da subcomissão, mas também o Código de Ética que diz ser grave falha ao decoro interromper uma sessão “da forma como ele fez”. “Ele também ofendeu um servidor. Isso não pode ficar apenas no folclore do Bolsonaro para satisfazer o nicho fascista dele”, acrescentou o líder da legenda.
Por outro lado, Bolsonaro disse que a confusão começou quando o servidor o impediu de ter acesso à lista com o nome das pessoas que estavam depondo. Segundo ele, uma secretária iria lhe passar o documento e o servidor Marcio Araujo “tomou o papel” da mão dela.
“Estava ouvindo o depoimento e fui pegar a relação dos nomes dos depoentes. Mas um assessor não me deixou ter acesso ao papel. Tomou o papel e correu para um canto. Peguei minha máquina fotográfica e tirei uma foto dele e ele veio atrás de mim para tirar satisfação”, contou Bolsonaro à Agência Brasil.
“Todo os deputados tomaram as dores do servidor e houve bate-boca lá dentro. Não houve xingamento, mas uma discussão pesada. Falei lá dentro que o depoimento teria que ser aberto [à imprensa]”, acrescentou Bolsonaro.
Para o parlamentar que defende os temas de interesse dos militares no Congresso, a representação é uma forma de tentar impedi-lo de participar das reuniões da subcomissão. “Essa é uma comissão da mentira. Eles estão revoltados porque eu falei que vou participar de toda e qualquer sessão da comissão que for dentro da Câmara. Eles querem que eu não adentre a subcomissão, mas se essa for a intenção deles, vão dar com os burros n’água”, provocou Bolsonaro.
A representação foi entregue ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que irá encaminhar o documento à Corregedoria da Casa. Lá, o corregedor, deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), terá prazo de 45 dias para apresentar parecer sobre o caso. Caso considere que houve quebra de decoro, enviará o documento à Comissão de Ética para abertura de processo, que pode resultar na cassação de Bolsonaro.
*pragmatismopolitico

Não esqueceremos jamais.

Protesto contra Comemoração do Golpe de 64 - Rio de Janeiro - 29/03/12.



Protesto contra Comemoração do Golpe de 64 - Rio de Janeiro - 29/03/12

Protesto contra Comemoração do Golpe de 64 - Rio de Janeiro - 29/03/12

Ato Contra o Golpe 64
*tireotubo

Cachoeira é um tsunami na oposição

Agora há pouco, no site da Carta Capital, a revista que, além de desaparecer em Goiânia comprada por um grupo misterioso, ia ser processada pelo governo de Goiás, por ligar o Governo Marconi Perillo ao bicheiro Carlinhos Cachoeira, fonte assídua da Veja, “para limpar o Brasil”.
“Não adiantou negar, espernear, ameaçar processo. Nesta quarta-feira 4, a revelação de que as falcatruas do bicheiro Carlinhos Cachoeira tinha tentáculos no governo de Goiás produziu a primeira baixa na equipe de Marconi Perillo (PSDB).
No centro das suspeitas, a chefe de gabinete do governador, Eliane Gonçalves Pinheiro, pediu exoneração após a revelação de que era citada nas interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal na esteira da Operação Monte Carlo.
Conforme mostrou a reportagem de Leandro Fortes na última edição de CartaCapital, Eliane chegou ao cargo no início do ano passado, depois das eleições de 2010, quando foi responsável pela articulação do tucano para que prefeitos do PP aderissem à campanha do PSDB ao governo estadual.
Segundo as investigações, a filha de um dos padrinhos políticos de Eliane é casada com um irmão de Cachoeira, que comandou o esquema do jogo do bicho e outras irregularidades em Goiás. Ele foi preso pela PF na operação.
Eliane é suspeita de acionar políticos aliados sobre operações policiais na região. As mensagens eram trocadas com o bicheiro, de acordo com outra reportagem, publicada nesta quarta-feira pela Folha de S.Paulo.
Ciente da encrenca em que está metido, Perillo já havia decidido mexer em sua equipe para apagar os rastros de Cachoeira e do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), também implicado no esquema. Assim, a chefe de gabinete de Perillo deveria deixar o cargo, conforme noticiou CartaCapital na semana passada, sob a improvável promessa de mudar de função.
Os arquivos e grampos de Cachoeira são um tsunami.
Perillo, convém lembrar, é a “boa alma” que disse ter ido avisar Lula sobre o “mensalão”, após a gravação da propina nos Correios que, agora se sabe, foi mandada fazer por Carlinhos Cachoeira.
*Tijolaço

Lobos em pele de cordeiro

Fica sensivelmente mais baixo o tom de voz de todos aqueles que nas televisões, revistas e nos novos meios eletrônicos de comunicação apelavam com discurso moralista contra a desfaçatez e a corrupção, que se dizia imperar nas instituições de governo.

O maior símbolo desses moralizadores, o senador por Goiás Demóstenes Torres, revelou-se personagem a serviço do crime organizado como nos mais incríveis filmes de ficção policial.

O prejuízo é enorme para as oposições, que apostaram todas as fichas no campo de batalha parlamentar apelando a um tipo de elemento diferenciador de lógica negativante, que buscava na retirada da credibilidade do oponente a justificativa para a aspiração ao poder político e para a dispensa de embate de propostas a fim de conquistá-lo.

É esse tipo de política de acusação posta em prática pelos principais partidos de oposição desde que Lula da Silva elegeu-se presidente da República – e alçado ao paroxismo com o chamado escândalo do mensalão – que chega a um ponto de inflexão com o desmascaramento do falso tribuno que o oposicionismo instalou no senado.

Evidente que o recurso à desmoralização, como substituto imediato da contraposição de propostas e idéias necessárias ao fortalecimento da democracia no País, não vingaria caso a mídia de maior penetração não lhe desse sustentação, e, como se sabe agora, também a origem. O envolvimento do semanário Veja com os mesmos criminosos que colaboraram com a usurpação do mandato popular pelo senador Demóstenes, é revelador o bastante disso.

A queda do discurso moralizador como forma privilegiada de disputa política faz vítimas no quadro partidário nacional. Mata de vez o partido que fez da tribuna de acusação seu maior triunfo, o DEM, e fere gravemente seu principal parceiro de práticas oportunistas, o partido da socialdemocracia brasileira.

Fica difícil agora para o PSDB fugir à associação da imagem de tucanos a demistas, construída em mais de 20 anos de parcerias políticas. E à dificuldade de dissociação entre os protagonistas da pseudocampanha pelo saneamento da política corresponde também a potencial interdição do discurso de que se utilizaram ao longo de todas as campanhas eleitorais, e que pretendiam ver renovado agora. 

Acusações que antes eram objeto de contemporização na mídia contra outras figuras de grande expressão do mesmo campo político, como José Serra às voltas com uma CPI por evasão de divisas para paraísos fiscais e Agripino Maia acusado de envolvimento com fraudes em licitações no Rio Grande do Norte, não poderão mais ser omitidas nem tomadas por infundadas quando ressurgirem nas próximas  campanhas eleitorais.

Por ocasião das eleições municipais, é hora dos partidos que foram vítimas do ardil da desqualificação moral, encenadas até agora pelos chefes da oposição, tomarem desta vez o palco e bradarem alto e bom som ao distinto público : é gente apta exclusivamente a uivar, lobos em pele de cordeiro. E, é claro, mostrar o por que.
*Turquinho

O documento "Em defesa de José Dirceu"


Em defesa de José Dirceu


do Blog do Zé Dirceu


http://www.zedirceu.com.br/images/stories/defesa/em_defesa_de_jose_dirceu.pdf
*Opensadordaaldeia

Deleite Chico

Reino Unido, laboratório de catástrofes

 

Vladimir Safatle, CartaCapital

Nos últimos 30 anos, o Reino Unido transformou-se em uma espécie de laboratório de catástrofes. Espaço das ideias “inovadoras” que pareciam quebrar consensos estabelecidos, chega hoje a uma situação social e econômica bem exemplificada na frase enunciada desesperadamente por seu ministro das Finanças, George Osborne, há mais de uma semana, à ocasião da aprovação do novo Orçamento: “Nós vamos assistir aos Brasis, às Chinas e às Índias como potências mundiais à nossa frente na economia global ou teremos a determinação nacional de dizer: ‘Não, não ficaremos para trás. Nós queremos liderar?”
Se Osborne tivesse um pouco de curiosidade especulativa, ele perceberia que a crise na qual seu país entrou, de maneira muito mais forte se comparada a vizinhos como a França e a Alemanha, é apenas o último capítulo de uma destruição há muito gestada. Sem parque industrial relevante, sem base agrícola, com a economia reduzida ao setor de serviços e finanças, o Reino Unido é o melhor exemplo de um país completamente vulnerável aos humores da economia mundial nesta época de desregulamentação.
As respostas a tal vulnerabilidade parecem mecanismos autistas de defesa que só conseguem piorar o quadro. Para começar, o primeiro-ministro David Cameron, bastião da moralidade britânica e amigo de cidadãos irrepreensíveis como o magnata da mídia Rupert Murdoch, apresentou um pacto recessivo baseado em cortes de gastos estatais, demissão de 400 mil funcionários públicos e privatização de fato do sistema universitário, com direito a fechamento de departamentos não alinhados ao novo padrão técnico de ensino.
Não é preciso ser um keynesiano radical para perceber que tal política apenas piora a capacidade da economia de contar com seu mercado interno, isto em uma época em que o Reino Unido nada tem a exportar. Sem lembrar que, ao desmantelar ainda mais os aparelhos de seguridade social, Cameron deu sua contribuição para colocar fogo na crise social que a Inglaterra assistiu não faz muito tempo: no ano passado, quando hordas de jovens da periferia quebraram e saquearam lojas.
Seu governo apresenta agora um inacreditável “plano de recuperação” baseado em corte de tributos para os mais ricos (cujo Imposto de Renda cairá de 50% para 45%) e aumento da idade para a aposentadoria. A justificativa para a redução do imposto dos ricos seria “incentivar o aumento do empreendedorismo”. Não, não se trata de uma piada. Cameron quer levar os britânicos a acreditar que os milionários não pegarão tal sobra de dinheiro e a aplicarão no sistema financeiro internacional, principalmente em países como o Brasil, onde eles terão muito mais retorno com juros do que empreendendo em uma economia combalida. O Reino Unido ganharia mais se tivesse um governo com os pés no chão, em vez de indivíduos que deliram mundos possíveis onde ricos investem na produção e bancos trabalham em favor da economia real.
A passividade britânica diante dos desatinos de seu governo vem, entre outras coisas, da sedação pela qual o país passou nestes últimos 30 anos. Primeiro, foi a era Thatcher com a tríade desregulamentação do sistema financeiro, privatização e flexibilização do mercado de trabalho, e a consequente Jihad contra os sindicatos. Estávamos na década de 1980 e Thatcher formava com Ronald Reagan o Casal 20 dos novos tempos. Impulsionada por fatos externos, entre eles a Guerra das Malvinas e o lento colapso do bloco soviético, Thatcher parecia seguir a direção do vento. Ninguém percebia como suas pregações por democracia escondiam amizades pessoais com Augusto Pinochet e afirmações medonhas como “a sociedade civil não existe”. Ninguém queria perceber a transformação da economia britânica em uma tênue vidraça a ser quebrada na primeira crise real.
Depois veio Tony Blair, que passou anos a tentar convencer o mundo sobre o mito da Terceira Via, que transformaria seu reino em uma Cool Britannia moderna e glamourosa. Enquanto Blair se preparava para seguir George W. Bush em suas mais delirantes intervenções internacionais, tínhamos de ouvir seu amigo Anthony Giddens nos dizer que o Estado de Bem-Estar Social havia acabado e que a sociedade de risco viria para ficar. Só faltou explicar que nesta sociedade os riscos são divididos de acordo com a boa e velha lógica de conflito de classe, como vemos claramente agora. Ou seja, riscos são muito diferentes quando estou autorizado a pegar dinheiro que o governo investe em bancos falidos e pagar minhas bonificações e stock options.
Choque neoliberal, Terceira Via: depois de décadas de predomínio de tais absurdos, fica realmente difícil para a sociedade britânica voltar a pensar em alternativas concretas. Resta ver seu governo tentar vender, como remédio, as próprias causas da doença. De nossa parte, diremos ao ministro Osborne: creio que essa história de liderança ficará apenas na vontade.

*esquerdopata

A centralidade ignorada do Pico Petrolífero


Caros amigos:
É um dos paradoxos da nossa época que a questão mais importante do século XXI, aquela que vai marcar a nossa geração e todas as que hão de vir, seja quase totalmente ignorada pela maior parte dos mass media, dos responsáveis políticos, dos economistas e a generalidade da população. Refiro-me ao Pico de Hubbert, ou Pico máximo da produção petrolífera possível no mundo.


Se o petróleo barato e abundante permitiu o desenvolvimento acelerado do mundo no século XX, a situação de penúria no século XXI anuncia um quadro económico totalmente diferente pois não existe qualquer substituto para a quantidade de petróleo agora (ainda), consumida pelo mundo (cerca de 85 milhões de barris por dia).

O fim anunciado da era do petróleo marca um momento crucial e decisivo nos destinos da humanidade, assinala um novo paradigma histórico. Ele provoca problemas muito complicados e que começam desde já. Após o fim, nada será como dantes – mas muito antes do fim o problema começa já a manifestar-se.

Tal como nos romances de mistério, o melhor esconderijo para um objecto é um lugar que está à vista de todos. No caso do Pico Petrolífero, ele também está à vista de todos – mas parece que poucos o vêem. Praticamente TUDO da história contemporânea pode ser explicado e entendido à luz do Pico Petrolífero – é a questão central do nosso tempo.

Na verdade, pode-se classificar todos os países produtores de petróleo do mundo em duas grandes categorias: aqueles que já atingiram o Pico (a grande maioria, México inclusive) e os que ainda não o atingiram. Estes últimos são constituídos por poucos países, a maior parte deles pequenos produtores do ponto de vista quantitativo. Os únicos grandes produtores que ainda não atingiram o pico são o Brasil e Angola.

Muitos entendem (incorrectamente) que a questão do Pico seja a quantidade absoluta de petróleo ainda remanescente no mundo. Não é. A questão crucial é, sim, a da taxa de produção possível. O mundo já atingiu a taxa máxima de produção possível e nada há a fazer quanto a isso. As pseudo soluções apregoadas pelos media, tais como os petróleos não convencionais (como o óleo de Bakker, os xistos betuminosos do Canadá, o deep offshore, o polar, os biocombustíveis líquidos, renováveis em geral, etc) não podem de modo algum colmatar o défice da produção de petróleo convencional que se avizinha.

O rácio EROEI

Na verdade, todas as soluções supletivas para colmatar o défice da produção de petróleo convencional deparam-se com um obstáculo maior e inultrapassável: o do rácio EROEI (Energy Returned On Energy Inputed). Este rácio é inexorável e implacável. Ele tem a grande vantagem de recorrer a unidades puramente físicas, pondo de lado ilusões monetárias. Para cada barril de petróleo investido na produção de petróleo obtém-se um retorno cada vez menor. Na década de 1930 obtinham-se cerca de 100 barris de petróleo por cada barril investido na sua produção. Hoje, esta proporção é muito menor e andará em torno dos 15. Em alguns casos de petróleo não convencional a proporção é ainda pior. Exemplo: a exploração dos xistos betuminosos que só resulta em cerca de três a quatro barris de produção por cada barril investido (sem falar no gigantesco desperdício de gás natural necessário à sua produção).

No entanto, o objectivo desta comunicação não é expor tecnicalidades relativas ao Pico Petrolífero e sim examinar as suas consequências económicas, sociais e políticas. Para as questões técnicas, podem-se consultar os numerosos trabalhos de Colin Campbell, Jean Laherrere, Robert Hirsch, Gail Tverberg assim como os textos da ASPO (Association for Study of Peak Oil).

Quando se fala em Pico Petrolífero toda a gente pensa imediatamente nos aspectos geopolíticos do problema. Este é, naturalmente, o aspecto mais evidente. Basta ver as sucessivas agressões imperialistas para a captura das reservas remanescentes no mundo, com as invasões do Iraque, do Afeganistão, da Líbia, as ameaças actuais à Síria e a Irão, a criação pelo governo dos Estados Unidos de um Comando para a África nas suas forças armadas, etc. As guerras predatórias por recursos são hoje notícias diárias dos jornais.

Esses são os aspectos ostensivos que estão à vista de todos. Mas há também aspectos mais subtis que se estão a verificar neste momento e cujas causas profundas são o Pico Petrolífero. Tomemos um exemplo aleatório, um dentre muitos, para ilustrar: o caso da recente Revolução Egípcia. Pode-se afirmar que teve como causa subjacente a ultrapassagem do pico. Quando a produção de petróleo do Egipto começou a declinar, os rendimentos das exportações do mesmo consequentemente começaram a diminuir. Mas estes constituíam uma fonte de receita importante do Orçamento de Estado egípcio. Grande parte benefícios sociais do seu povo (educação, saúde, etc) era assim financiada e tais benefícios começaram progressivamente a contrair-se. Portanto, teve início aí a insatisfação social, que finalmente chegou à grande revolta popular conhecida de todos. Este exemplo dá uma ideia de algo que se está a passar em muitas partes do mundo.

Entretanto, podemos e devemos generalizar indo um pouco mais além no nível de abstracção. Pode-se também afirmar que o actual endividamento generalizado – Estados, municipalidades, famílias, empresas não financeiras e financeiras – nos principais países capitalistas do mundo tem como causa profunda o início do esgotamento do petróleo no mundo pois o estancamento do crescimento prejudica a capacidade de reembolso.

Marx, no Livro III de "O Capital", explica a lei da renda diferencial de explorações mineiras. Verifica-se que o esgotamento de recursos facilmente extraíveis obriga a buscar aqueles com maior dificuldade de extracção (mais distantes, com teores de minério menores, com mais dificuldades de extracção, etc) e a renda diferencial diminui assim. Isso é válido para toda e qualquer exploração mineira – e também para o petróleo.

Neste momento os campos grandes e antigos do mundo, de extracção fácil (Gawar, Cantarell, ...), já ultrapassaram o pico e estão agora no lado direito da curva de declínio. À medida que este petróleo "velho" se esgota seria preciso substituí-lo por produção de campos novos, de menores dimensões e de extracção mais difícil. Mas a produção mundial já está estagnada há vários anos – apesar dos preços altos . Só, simplesmente, para conseguir manter no futuro os níveis de produção actuais seriam precisos investimentos cada vez mais colossais com perfurações cada vez mais profundas (deep offshore, etc), em lugares cada vez mais inóspitos (zonas polares, etc) e com rácios EROEI cada vez piores. Trata-se portanto de um problema de taxa de extracção e não da dimensão absoluta das reservas remanescentes. Tudo isso indicia um problema sistémico. Deve-se notar que nos referimos aqui a realidades puramente físicas, pondo de lado miragens monetárias.

Examinando o assunto pelo lado das reservas (e não da taxa de extracção), verifica-se ainda que países produtores tenderão a manter para si próprios o petróleo remanescente nos seus territórios. Assim, independentemente da capacidade técnica e financeira para a aumentar a taxa de produção, a quantidade disponível para exportação necessariamente diminui. O exemplo da Indonésia, país que do ponto de vista formal continua na OPEP, é significativo.

A acumulação é inerente ao modo de produção capitalista. Pela sua natureza, este modo de produção tem de criar um excedente pois é isso que garante a sua sobrevivência. O crescimento vertiginoso do século XX deveu-se basicamente à existência de um combustível abundante e barato: o petróleo (assim como a Revolução Industrial do século XIX deveu-se ao carvão). Ora, quando o petróleo começa a escassear surge um problema estrutural: o sistema começa a patinar, a girar em seco, pois não pode "crescer". Isto explica os fenómenos do endividamento e da financiarização. Endividamento porque grande parte do investimento efectuado até agora contava com o crescimento futuro a fim de gerar recursos para poder ser reembolsado. Financiarização porque capitalistas, desesperados na busca do lucro, passaram a tentar obter dinheiro a partir de dinheiro sem actividade produtiva real. Pode-se afirmar que a Crise desencadeada em 2008 tem aí a sua génese real.

O problema sistémico é que 1) as dívidas contraídas no passado contando com o crescimento futuro teriam de ser pagas; e 2) a obtenção de dinheiro a partir de dinheiro, sem a passagem pela etapa intermediária da mercadoria, não pode perdurar para todo o sempre. Em relação ao primeiro ponto, a solução é de uma evidência meridiana e inelutável: dívidas que não podem ser pagas não o serão. Os credores não gostam de tal solução e, portanto, tentam resolver o seu problema de outras formas como a escravização de países (Grécia, ...) e classes sociais devedoras (um neo-feudalismo em que estas seriam servas das suas dívidas). É o que está a acontecer em países de capitalismo "velho", como os Estados Unidos, a Europa e o Japão, agora a caminho da decadência.

Tudo conjugado, verificamos que estamos na iminência de abalos telúricos no sistema mundial. O mundo tal como o conhecemos irá mudar na nossa geração. Os breves cem anos de crescimento (populacional inclusive) proporcionados pelo petróleo estão a acabar e isso significa uma avaria insanável num modo de produção que exige a acumulação indefinida. Não existem remédios tecnológicos que possam resolver o problema. Teremos de mudar de paradigma, com uma dieta forçosa de energia. Na realidade, não é só de energia pois o caso do petróleo é apenas um aspecto particular do caso mais geral do esgotamento dos recursos planetários (urânio, minérios diversos, madeira, a própria água, ...). É preciso revisitar o estudo dos "Limites de crescimento", de 1972, tão vilipendiado por economistas vulgares.

O que fazer?

O primeiro passo para a resolução de um problema é reconhecer que ele existe. Até agora o mundo permaneceu na ignorância do problema ou, pior ainda, na negação do mesmo. Reconhecer a realidade do Pico Petrolífero e trazê-la ao debate público como a questão central do nosso tempo é uma tarefa premente e urgente. O Pico Petrolífero deveria permear todo o discurso político, todos os projectos sociais e económicos que se tem em vista – com o abandono do paradigma dos recursos infinitos. No entanto, a consciência do Pico Petrolífero continua a restrita a círculos especializados e portanto o necessário debate na sociedade ainda está longe de generalizado. Isso é também da responsabilidade daqueles que – como nós – se interessam e participam da vida social e política.

Em segundo lugar, temos de promover medidas que: 1) não agravem o problema com projectos de investimentos ruinosos moldados na ideia dos recursos infinitos (novos aeroportos, auto-estradas, ...); e 2) tendam a amenizar o problema mantendo padrões de justiça equitativa entre os países (sejam ou não produtores de petróleo) e entre as diferentes classes sociais.

Os problemas relacionados com a taxa de extracção são imediatos mas aqueles relativos ao inelutável esgotamento dos stocks existentes no planeta são a prazo mais longo (40 ou 50 anos, talvez). Quanto a este último, devemos ter em mente que há diferentes maneiras de caminhar na curva do declínio. Uma é a forma brutal da guerra por recursos e com uma repartição altamente injusta da dotação existente do ouro negro entre países e classes sociais. Outra, uma forma civilizada em que os problemas inevitáveis serão tão minimizados quanto possível.

A forma civilizada poderia ser um acordo internacional nos moldes do "Protocolo do esgotamento do petróleo", redigido pelo Dr. Collin J. Campbell (ver http://resistir.info/energia/depletion_protocol_p.html) que estabelece bases para um programa de transição (o parlamento português aprovou-o formalmente, mas ele é ignorado pelo governo). O protocolo pretende:
  • Impedir o aproveitamento especulativo da escassez (profiteering), de modo a que os preços do barril possam permanecer num relacionamento razoável com o custo de produção;
  • Permitir aos países pobres arcarem com as suas importações;
  • Evitar desestabilizar fluxos financeiros decorrentes de preços do petróleo excessivos;
  • Encorajar os consumidores a evitar o desperdício;
  • Estimular o desenvolvimento de energias alternativas.
Temos de nos preparar para um mundo cada vez menos energívoro. Hoje, os países que têm governos mais lúcidos já tomam medidas para facilitar a transição. A Suécia por exemplo tem um programa ambicioso para eliminar o petróleo da sua economia, com produção de biometano em grande escala. Os parlamentos da Austrália e da Grã-Bretanha fizeram comissões e estudos acerca do Pico Petrolífero e formas de minimizá-lo. Os governos do Irão e do Paquistão estimulam activamente a substituição dos refinados de petróleo nos transportes por veículos a gás natural (já existem 2,8 milhões em cada um destes países) e o da Índia faz o mesmo (já existem 1,1 milhão). A China e a Austrália já utilizam o gás natural liquefeito (GNL) na camionagem pesada. Os exemplos poderiam multiplicar-se.

Considerando que a maior parte do petróleo do mundo é consumida no sector dos transportes e é desejável reduzir o seu consumo tanto quanto possível – em benefício das gerações futuras e de utilizações imediatas mais prioritárias (fertilizantes agrícolas, agro-defensivos, plásticos, química fina, etc) – será uma boa ideia começar por substituir os refinados de petróleo no sector dos transportes. O combustível mais promissor para isso é o metano, o principal constituinte do gás natural. Nos transportes (camiões, autobuses, ferryboats, navios, etc) ele pode ser utilizado sob a forma comprimida (GNC) ou liquefeita (GNL). Ao contrário do petróleo, o gás natural também pode ter origem não fóssil: é o caso do biometano, uma energia renovável produzida a partir de resíduos e que não compete com a produção alimentar.

 

 

Durante milhares de anos a nossa espécie viveu neste planeta sem recorrer ao petróleo. O seu fim anunciado pode, portanto, não ser uma tragédia se soubermos fazer a transição. A nossa reacção terá de ser adaptativa, como sempre se deu ao longo de toda a história humana diante de abalos fora do seu controle. A verdadeira tragédia não está no fim do petróleo e sim no capitalismo. Este modo de produção e de distribuição é que impede a sustentabilidade do nosso planeta. Se não o ultrapassarmos, nesta fase do mundo pós Pico Petrolífero, teremos a intensificação da barbárie: guerras predatórias por recursos naturais, distribuição cada vez mais injusta da riqueza remanescente e todo o seu cortejo de sequelas. Mas há vários futuros possíveis. Cabe a nós lutar pelos mais justos. 




por Jorge Figueiredo [*]
[*] Comunicação apresentada no XVI Seminário Internacional "Los partidos y una nueva sociedad", 22-24/Março/2012, na Cidade do México. 
*Guerrasilenciosa

Demóstenes e as raposas no galinheiro

Por Maria Inês Nassif, no sítio Carta Maior:

O rumoroso caso Demóstenes Torres (DEM-GO) não é apenas mais um caso de corrupção denunciado pelo Ministério Público. É uma chance única de reavaliar o que foi a política brasileira na última década, e de como ela – venal, hipócrita e manipuladora – foi viabilizada por um estilo de cobertura política irresponsável, manipuladora e, em alguns casos, venal. E hipócrita também.

O mundo maravilhoso do capitalismo



Por Fidel Castro
 

A busca da verdade política sempre será uma tarefa dura, mesmo em nossos tempos, quando a ciência pôs em nossas mãos um grande número de conhecimentos. Um dos mais importantes foi conhecer e estudar o fabuloso poder da energia contida na matéria.
O descobridor dessa energia e seu possível emprego foi um homem pacífico e bonachão que, apesar de seu repúdio à violência e à guerra, solicitou seu desenvolvimento aos Estados Unidos, então presidido por Franklin D. Roosevelt, de conhecida posição antifascista, líder de um país capitalista em profunda crise, que tinha contribuído para salvar com fortes medidas que mereceram o ódio da extrema direita de sua própria classe. Hoje esse Estado impõe ao mundo a mais brutal e perigosa tirania que nossa frágil espécie já conheceu.
 
Os despachos procedentes dos Estados Unidos e seus aliados da Otan se referem aos crimes cometidos por eles e seus cúmplices. As cidades mais importantes dos Estados Unidos e da Europa refletem constantes batalhas campais entre os manifestantes e a polícia bem treinada e alimentada, com carros blindados e escafandros, distribuindo golpes, pontapés e gases contra mulheres e homens, torcendo mãos e pescoços de jovens e velhos, mostrando ao mundo as covardes ações que são cometidas contra os direitos e a vida dos cidadãos de seus próprios países.
Até quando podem durar semelhantes barbaridades?
Para não ser extenso, já que estas tragédias irão sendo apresentadas cada vez mais pela televisão e a imprensa em geral, e serão como o pão que a cada dia se nega aos que menos têm, citarei o despacho recebido hoje, de uma importante agência de notícias ocidental:
“Boa parte das costas japonesas do Pacífico poderiam ficar inundadas por uma onda gigantesca superior a 34 metros se se produzisse um terremoto poderoso, segundo os cálculos revisados de um painel do governo.

Qualquer tsunami desencadeado por um terremoto de magnitude 9 na depressão de Nankai, que vai desde a principal ilha japonesa de Honshu até a ilha sulista de Kyushu, poderia alcançar os 34 metros de altura, assinalou o comitê.

Um cálculo anterior em 2003 estimava que a altura máxima de tal onda seria inferior aos 20 metros.
A usina de Fukushima tinha sido projetada para resistir a um tsunami de 6 metros, menos da metade da altura da onda que a impactou em 11 de março de 2011.”

Mas não há razões para preocupação. Outro despacho, datado 30 de março, pode nos tranquilizar. Procede de um meio realmente bem informado. Sintetizarei em breves palavras: “Se você fosse jogador de futebol, xeique árabe ou executivo de uma grande multinacional, que tipo de tecnología lhe faria suspirar?

Recentemente, umas conhecidas lojas de luxo em Londres inauguraram uma seção inteira dedicada a amantes da tecnologia com carteiras abarrotadas.

Televisores de um milhão de dólares, câmeras de vídeo Ferrari e submarinos individuais são alguns dos fetiches para fazer as delícias do milionário.

O televisor de um milhão de dólares é a joia da coroa.

No caso da Apple, a empresa se compromete a entregar seus novos produtos no mesmo dia do lançamento no mercado.
Imaginemos que saimos de nossa mansão e já estamos cansados de rondar por aí com nosso iate, limousine, helicóptero ou jet. Ainda nos resta a opção de comprar um submarino individual ou para duas pessoas.”

A oferta prossegue com celulares com capa de aço inoxidável, processador de 1,2 Gigahertz e 8 Gigas de memória, tecnologia NFC para realizar pagamentos através do celular, câmera de vídeo de marca Ferrari.

É verdade, compatriotas, que o capitalismo é uma coisa maravilhosa! Talvez nós sejamos culpados de que cada cidadão não tenha um submarino particular na praia.

Foram eles e não eu quem misturou no mesmo saco os xeiques árabes e os executivos das grandes transnacionais com os jogadores de futebol. Pelo menos estes últimos entretêm milhões de pessoas e não são inimigos de Cuba. Devo esclarecê-lo.


Fonte: Cubadebate
*MilitânciaViva