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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, abril 20, 2012

A primeira investigação sobre a mídia

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

CPI do Cachoeira, CPI da empreiteira Delta, CPI do Agnelo… A mídia passou dias e dias construindo versões sobre o foco que terá a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que ela mesma disse que não sairia porque, pasme-se, “o governo” teria “medo” da investigação.

As ameaças dos meios de comunicação de inverterem o foco da CPMI e de jogá-lo contra os partidos da base aliada e contra o governo Dilma de fato surtiram algum efeito. Parlamentares de todos os partidos se preocuparam. Mas a preocupação decorreu da campanha midiática. Ponto.

Cristina enfrenta o neoliberalismo

Editorial do sítio Vermelho:

A Argentina foi pioneira, em 1922, na criação de uma empresa estatal do petróleo. Foi naquele ano que nasceu a Yacimientos Petrolíferos Fiscales; depois vieram, informa o ex-diretor geral da ANP, Haroldo Lima, em artigo publicado neste portal, a Pemex, no México (1938), a Petrobrás, no Brasil (1953) e, mais tarde, estatais do petróleo na Inglaterra, Itália, França, Canadá, Japão, Noruega, etc.

As multas abusivas no trânsito de SP

Por Igor Carvalho, no sítio SpressoSP:

No orçamento da prefeitura de São Paulo para 2012 está previsto um aumento de 30% na arrecadação com multas, em relação a 2011, quando já se arrecadou R$ 638 milhões. Ou seja, a previsão é de R$ 832 milhões. No ano de 2006, primeiro da gestão de Gilberto Kassab (PSD), São Paulo aplicou R$ 391 milhões em multa, em relação a 2012 isso representa um aumento de 113%.

Um mundo de incertezas e oportunidades 

 

Por Altamiro Borges

1- O Brasil não é uma ilha apartada do mundo. Ele reflete e interfere – cada vez com mais força – no cenário internacional. A crise capitalista, as mudanças políticas em curso e as guerras imperialistas, entre outros fatores, têm impacto em nosso país e ajudam a determina sua política interna. Neste sentido, analisar o cenário mundial tem grande significado para a definição das estratégias de luta dos trabalhadores brasileiros. De imediato, o que chama atenção é que o planeta atravessa um período de incertezas e de enormes perigos. Ao mesmo tempo, novas oportunidades se abrem para o avanço das conquistas dos que vivem do trabalho.



2- EUA, Europa e Japão, que compõem o bloco dos chamados países desenvolvidos, hoje afundam numa das mais graves crises da história do capitalismo. Nos anos 1980, quando as taxas de crescimento já eram declinantes, eles adotaram o chamado “Consenso de Washington”. Eles impuseram ao mundo o receituário neoliberal, com o desmonte do trabalho (desemprego, arrocho salarial e flexibilização trabalhista), o desmonte do Estado (com privatizações e redução de investimentos públicos) e o desmonte da Nação (com a criminosa desnacionalização das economias periféricas). Este projeto garantiu sobrevida ao capitalismo, mas, no seu bojo, agravou o processo de desregulamentação financeira. Hoje, o capitalismo é dominado pela ditadura dos banqueiros e rentistas.

3- Como consequência da libertinagem especulativa, os países capitalistas desenvolvidos voltaram a sentir o impacto da crise nos anos recentes. Os EUA, epicentro do sistema capitalista, foi o detonador desta nova onda devastadora. Em 2008, a sua economia quase entrou em colapso. Em curto espaço de tempo, faliram 19 dos maiores bancos do país, a maior seguradora mundial (AIG), 22 empresas de crédito imobiliário e duas montadoras de automóveis (GM e Chrysler). A crise no império contagiou a economia mundial. Num segundo repique, a Europa foi duramente atingida. Os países pobres do velho continente – Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, os chamados PIIGS – estão falidos, com a quebradeira das empresas, aumento do déficit público, explosão de desemprego e crescimento vertiginoso da miséria. É triste assistir a morte do cultuado “estado de bem-estar social” europeu.

3- Quem mais sofre com a crise capitalista nos países centrais são os trabalhadores. Os banqueiros, os principais responsáveis pelo caos, são socorridos com generosos pacotes de ajuda financeira. Já os assalariados ficam sem emprego, sem salário e sem direitos. Em fevereiro último, a taxa de desemprego na zona do euro foi de 10,8%, a maior desde 1997, com 17 milhões de trabalhadores sem emprego. O quadro é ainda mais dramático entre a juventude, que não tem qualquer perspectiva de futuro. Na Espanha, por exemplo, o desemprego já atinge quase 50% dos jovens. Nos Estados Unidos, o desemprego também bate na casa dos 10%, um recorde na história deste país. Milhões de estadunidenses foram despejados das suas casas e hoje dormem em automóveis. Para piorar, diante da crise, os governos destas nações, hoje controlados por banqueiros, impõem cortes nos direitos sociais. Numa só tacada, a Grécia reduziu o salário mínimo em 22%, demitiu 150 mil servidores públicos e aumentou o tempo de aposentadoria. O mesmo ocorre em outras nações falidas da Europa. No Reino Unido, o governo direitista cortou os gastos com programas sociais.

4- Diante desta onda destrutiva e regressiva, os trabalhadores tentam resistir. 2011 foi um ano de intensas lutas na Europa e nos EUA. Na Espanha, os jovens desempregados e sem perspectiva ocuparam, a partir de maio, as praças públicas de várias cidades na chamada “revolução dos indignados”. Na Itália, a revolta da sociedade levou à queda do fascista Silvio Berlusconi, logo substituído por um banqueiro no governo. Na Grécia já ocorreram nove greves gerais e os confrontos com a polícia são diários. Em Portugal, uma greve nacional paralisou totalmente o país no final de março. Nos EUA, o movimento “Ocupe Wall Street” evidenciou que a luta de classes está viva no império. A crise econômica também repercutiu no mundo árabe, causando explosões que derrubaram várias ditaduras monárquicas. Infelizmente, toda esta explosão de revolta ainda não produziu alternativas mais progressistas, que evitem retrocessos e garantam avanços sociais aos trabalhadores. A Europa hoje é governada por banqueiros, que nem sequer são eleitos. Nos EUA, Barack Obama foi uma frustração, mas se apresenta como um mal menor na disputa contra os republicanos. No mundo árabe, as potências capitalistas procuram abortar as revoltas populares e manter a sua influência nesta região rica em petróleo. Usam mísseis e soldados da Otan para derrubar governos contrários aos seus interesses na Líbia e Síria. Esta em curso uma escalada belicista no mundo, com o risco de novas e sangrentas guerras. A próxima vítima dos imperialistas deverá ser o Irã.

5- Contraditoriamente, neste mundo em crise e guerra, alguns países emergem e se projetam no cenário mundial. Eles formam o bloco das nações em desenvolvimento – os chamados Brics, com Brasil, Rússia, Índia e China. Enquanto as nações desenvolvidas encolhem economicamente e produzem milhões de desempregados e miseráveis, estes países geram emprego e renda e batem recordes de crescimento. A reunião dos Brics na Índia, no final de março, apontou que é urgente aumentar a cooperação entre os emergentes para se defender da rapina dos impérios falidos. Nela foi aprovada a proposta de criação de um novo banco mundial, independente das antigas potências, e o aumento do comércio entre os países emergentes. O dólar já é tratado como uma moeda descartável nos acordos internacionais. Os países dos Brics também criticaram a corrida expansionista e belicista dos EUA e da Europa no mundo árabe, defendendo a soberania da Síria e do Irã. Na avaliação dos Brics, a crise capitalista pode se transformar numa janela de oportunidades para as nações que sempre foram aviltadas pelas potências capitalistas.

6- Esta perspectiva mais otimista ganha maior alento na América Latina. Os países do nossa região atravessam uma situação ainda mais alvissareira, tanto na economia como na política. Os índices de crescimento na região são positivos, causando a redução das taxas de desemprego, de miséria absoluta, de analfabetismo e de outras chagas do capitalismo periférico. A própria ONU atesta que a pobreza diminuiu neste sofrido continente, há décadas explorado e oprimido pelos EUA. Além disso, a América Latina, que foi o laboratório do neoliberalismo nos anos 90, transformou-se na vanguarda da luta contra este projeto destrutivo e regressivo. A partir da vitória da Hugo Chávez na Venezuela, no final de 1998, o continente vive uma guinada à esquerda, com governos mais preocupados com a soberania nacional, a integração regional, a ampliação da democracia e a resolução das suas graves dívidas sociais. Este cenário produz cenas inimagináveis num passado recente, como a eleição de um operário, retirante nordestino e líder grevista no Brasil (Lula), um camponês e líder indígena na Bolívia (Evo Morales), um economista de esquerda no Equador (Rafael Corrêa), um religioso ligado à teologia da libertação no Paraguai (Fernando Lugo), entre vários outros governantes progressistas. Estes países têm investido na integração regional, cientes que do contrário seriam desintegrados pelas ambições do imperialismo. A fundação da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), no final de 2011, representa um salto neste rumo, somando-se aos esforços de fortalecimento do Mercosul, de criação do Banco Sul e do Conselho de Defesa da América do Sul. As dificuldades ainda grandes na região e as experiências progressistas são embrionárias, mas o sentido é bastante positivo.

* Exposição sobre conjuntura internacional apresentada no IX Congresso dos Comerciários do Rio Grande do Sul - Torres, de 19 a 21 de abril.

O que Fabio Barbosa foi fazer em Brasília? CIRCULOU ONTEM PELA CAPITAL FEDERAL O PRESIDENTE DO GRUPO ABRIL; SUA MISSÃO É ESPINHOSA: EVITAR QUE A CPI SOBRE CARLOS CACHOEIRA CONVOQUE ROBERTO CIVITA; NA EDITORA RESPONSÁVEL POR VEJA TEME-SE QUE ELE SOFRA UMA HUMILHAÇÃO SEMELHANTE À DE RUPERT MURDOCH

 

O que Fabio Barbosa foi fazer em Brasília?

Chiiiiiiiii... Fábio Barbosa, presidente do Grupo Abril: quem deve, teme.
Brasil 247
Com a CPI sacramentada e instalada nesta manhã pelo Congresso Nacional, começam a circular os lobbies políticos, empresariais e midiáticos. Ontem, quem foi visto circulando em Brasília foi o executivo Fábio Barbosa, ex-presidente do Santander e atualmente presidente do grupo Abril, que publica Veja. Bem relacionado em todos os partidos, por ter sido também presidente da poderosa Febraban, Fábio Barbosa foi a Brasília com uma missão delicada: convencer lideranças do Congresso Nacional a evitar a convocação, pela CPI, do empresário Roberto Civita, presidente do grupo Abril.
A tarefa é muito difícil. Primeiro, porque são fortes as ligações entre a revista Veja e o esquema do contraventor Carlos Cachoeira. Além das 200 ligações entre o bicheiro e o jornalista Policarpo Júnior, várias reportagens publicadas pela revista apontam um nexo entre os grampos ilegais do bicheiro e os furos de reportagem da publicação. Segundo, porque Civita acumulou inimigos poderosos nos últimos anos. Além do ex-presidente Lula, que fará de tudo para que o magnata da mídia seja convocado, o senador Renan Calheiros, que terá papel importante na comissão, foi personagem de várias capas seguidas da publicação em 2007 e 2008. Veja trabalhou por sua cassação.
Na Abril, teme-se que Roberto Civita sofra humilhação semelhante à do australiano Rupert Murdoch, que, no ano passado, teve de prestar informações diante do parlamento inglês, em razão dos grampos publicados pelo jornal News of the World, que acabou sendo fechado. Na semana passada, uma ala do comando da Abril defendia o afastamento do jornalista Policarpo Júnior, como forma de estancar os danos e evitar a convocação de Civita. No entanto, Veja decidiu partir para o ataque e, em sua última edição, denunciou uma suposta tentativa do governo de amordaçar e calar a imprensa livre no Brasil.
#vejabandida
Na mesma reportagem de capa, Veja defendeu ainda que jornalistas se relacionem com bandidos para que possam ter acesso a informações de interesse público. Esta posição foi contestada pelo jornalista Janio de Freitas dois dias atrás e hoje defendida pelo professor Eugenio Bucci, que é amigo de Roberto Civita e consultor eventual da Abril.
A situação é tão grave que ontem o assunto mais comentado no Twitter em todo o mundo dizia respeito à hashtag #vejabandida. O tema é popular. Por isso mesmo, dificilmente os parlamentares recuarão no pedido pela convocação de Roberto Civita. Até mesmo porque será inevitável apurar a ligação da revista Veja com grampos de Cachoeira, como os recentes filmes do Hotel Naoum.
Além disso, o ex-presidente Lula já deu o recado. A CPI terá que ser feita “doa a quem doer”.
*Cappacete

Charge do Dia


pic.twitter.com/TeK7vc4N

Sobre o óbvio, com a licença de Darcy

 

Existe uma enorme diferença entre ter idade e ser velho.
Parece o mesmo, ou uma idiotice destas de falar em “melhor idade”. Baboseira
Melhor idade uma pinóia, bom mesmo é ser jovem e ter mais energia do que a cabeça sabe organizar, certinho.
E da cabeça desorganizada que sai o novo, o belo, a arte, a criação, porque nela cada coisa não tem um rótulo ou uma daquelas plaquinhas de alumínio numeradas, que correspondem qualquer coisa ao seu inventário.
Quando amadurecemos demais estamos a um passo da putrefação.
Velho é bolorento, calicento, não tem sabor nem paixão.
Velho é prático, não é apaixonado.
Todos nós, que éramos jovens transformadores, de alguma maneira nos conformamos.
Há os filhos, as contas, há o “toma jeito”, há o juízo. A carreira, a respeitabilidade,  o olhar – não sem inveja – dos “bem sucedidos”, ajustados ao mundo que íamos mudar.
Enquanto isso é uma amarra, não faz mal, porque não se prende senão o que é livre.
Mas quando nos acostumamos ao conforto do lugar comum, quando assumimos os métodos daqueles que queríamos vencer, aí capitulamos, aí nos temos rendido.
É fato que temos de ceder e frustrar sonhos. Mas nem ceder quer dizer aderir, nem frustrar sonhos quer dizer abjurá-los.
Não há mudança sem risco, nem ousadia sem temeridade.
Embora pareça obvio preservar velhas ideias, como já nos ensinou Darcy Ribeiro, o obvio pode ser um grande equívoco.
Esta divagação, o que tem a ver com a política, que é a nossa argamassa aqui?
Não presta para a administração do dia-a-dia, como a utopia não presta para fazer o supermercado do mês.
Mas quando não se olha cada passo como um caminho para o horizonte, para que, diabos, serve aquela desfocada linha azul?
É verdade que os embates agudos, como são os que enfrentamos para que este país  – e a vida de cada um dos seres humanos que nele vive – mude os rumos desastrosos a  que por séculos  vaõ sempre exigir cautela, tática, capacidade de reduzir atritos e ampliar apoios.
Mas não ao preço de nos retirar a identidade, as crenças e os princípios,  nem deles fazer apenas um papel amarelado nos escaninhos da História.
Olhemos os partidos socialistas da Europa. Aceito o papel de gestores da crise do capitalismo neoliberal, preocupados, pragmaticamente em gerir com o máximo de eficácia o drama criado por outros, acabaram por se tornarem os padrastos do desastre que adotaram como seu e foram inapelavelmente varridos do poder.
Assumir a ideologia do inimigo e reduzir o caminho do futuro a medidas administrativas, mesmo lúcidas e corretas, é um pecado fatal.
Nosso compromisso de mudança significa mudar. Antes de tudo, de atitude.
Se prudência é para os sábios, medo é para os covardes e acomodados.
Temos uma década de governos de mudanças.
Fez-se o dever admnistrativo e temos um país mais igual e menos submisso, temos um Brasil com menos injustiça e menos atraso, embora ainda muito atraso.
Mas falta muito ainda do dever político, o de mostrar que essa tarefa vai além da gestão de governo – onde nem sempre o pão é tanto que se possa dá-lo a todos, tanto quanto se deveria,  – mas é uma missão política.
Porque o Brasil do atraso e da injustiça que estamos mudando não é obra de gente morta, embora essas gentes odeiem a vida.
É trabalho de uma classe dominante sabida e ladina, que se apresenta como amiga do progresso fútil e da moralidade hipócrita, que fazem o fútil e o hipócrita essenciais e o progresso e a moralidade fantasiosos.
Um bom governo não apenas governa bem, com atos, decretos e programas de ação. Mas esclarece seu povo, nos inveitáveis embates da mudança.
Por isso, são imensos agora os nossos desafios.
Não temos apenas de vencer, como tem vencido o povo brasileiro na sua intuição.
A oportunidade que esta CPI, provocada pelos negócios cujos milhões não deixam de ser rastaqueras e bandidos, nos dá de expor os métodos de desestabilização de governos eleitos  é uma pérola.
Se tivermos medo do quanto ela ameace nossa tranquilidade política, agiremos como velhos.
Mas se ousarmos, com a juventude do nosso sentir e o saber do nosso viver, temos uma chance de mostrar ao povo brasileiro parte dos esquemas perversos que o fazem cativo.
Talvez com imprudência, que pode nos ferir. Jamais com com conivência. Que, sem talvez, é algo que nos mataria, com o tempo.
*Tijolaço

No PDT, o último a sair que apague a luz

 

 do Um Sem Mídia
Reportagem de Juliana Castro, em O Globo, mostra que a volta de Carlos Lupi à presidência do PDT, em janeiro deste ano, após o escândalo que o derrubou do Ministério do Trabalho, foi a gota d’água para militantes históricos do partido.
Em reunião no último dia 14, no Rio, integrantes do Movimento de Resistência Leonel Brizola resolveram que vão pedir desfiliação da legenda nos próximos dias. A debandada, dizem eles, pode chegar a 40 pessoas. Alguns estão no PDT desde a fundação, há mais de 30 anos. Entre aqueles que entraram na fila da saída, está João Leonel Brizola, sobrinho do ex-governador Leonel Brizola.
O objetivo é fazer uma saída coordenada, com o lançamento de um manifesto com fortes críticas à atuação do comando do partido e ao que chamam de “práticas lupistas”.
- Não há como se manter sob a liderança de um Carlos Lupi, uma pessoa incompetente e que não tem moral – diz João Leonel Brizola, afirmando ainda que presidente do PDT é uma pessoa desqualificada.
Segundo ele, o desânimo é total ao ver que nomes como o do deputado federal Miro Teixeira (RJ) e o senador Pedro Taques (MT) continuam no partido, sob a liderança do ex-ministro do Trabalho.
- Brizola era um líder, não era um homem de acordos e negociatas – completou, ao lembrar as diferenças dos comandos de Lupi e Brizola.
Outros herdeiros de Brizola, como os irmãos Juliana, Carlos e Leonel, ainda continuam do partido, porém já se unem para tentar tirar a presidência de Lupi.
Além do sobrinho de Brizola, estão de saída Vivaldo Barbosa, ex-secretário de Justiça do governo Brizola, o ex-deputado José Maurício e Ronald Barata, ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio.
- Nós vamos agora procurar articular a formação de uma frente de esquerda para atuar daqui para frente – diz Vivaldo Barbosa, no partido desde 1981.
Procurado para falar sobre as críticas do grupo, Lupi evitou comentar o assunto: “Eu acho que no processo democrático você faz o que quiser, desde a critica até a saída do partido”.
*GilsonSampaio

Franceses mudam de rumo domingo


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Reprodução
Sondagens não deixam dúvidas, presidente francês, Nicolas Sarkozy, não será reeleito.
Já não há mais supresa – os franceses votarão domingo contra o atual presidente NicolasSarkozy e confirmarão esse voto, no segundo turno, no começo de maio. A diferença mostrada pelas sondagens de opinião pública é muito grande para poder ser suplantada pelos eleitores de Sarkozy.
O baixinho hiperativo não conseguiu ganhar a confiança dos franceses nestes cinco anos, ao contrário, mesmo eleitores de direita dizem não suportar mais seu irriquieto presidente. Embora, na França, os presidentes costumem ser reeleitos, isso não acontecerá com Sarkozy.
O vencedor e próximo presidente francês será o ex-dirigente do Partido Socialista, François Hollande, ex-marido da candidata derrotada faz cinco anos, a também socialista Segolène Royal. Além da diferença de programa político entre Sarkozy e Hollande, existe uma enorme diferença de personalidade – Hollande não é hiperativo e tem tudo de um francês comum, com sorrisos e gestos controlados de um homem normal.
Parece que os francês aspiram justamente isso – um presidente normal, mesmo um tanto devagar, mais próximo do comum dos mortais, pois isso acaba inspirando mais confiança e segurança. Dizem que, depois da revolta estudantil de maio 68, os franceses elegeram Georges Pompidou, por ter cara de senhor bonachão e tranquilo.
Politicamente Hollande não é também nenhum revolucionário; é um socialdemocrata típico, sem grande arrojos, consciente dos limites de um político na cena nacional, sujeito na maioria das vezes às pressões da máquina do capital e das grandes empresas multinacionais, sem se esquecer as limitações impostas pela União Européia atualmente dominada por uma maioria neoliberal.
Quem quer sonhar com um mundo sem as especulações financeiras, sem a força e vantagens dos bancos e sem os jogos nas bolsas de valores, responsáveis pela liquidação econômica da Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha, como se uma revolução ainda fosse possível, votará domingo no candidato da esquerda unida, Jean-Luc Mélenchon, cuja plataforma considerada anacrônica, consegue entusiasmar centenas de milhares de pessoas nos comícios e irá garantir 15% dos votos.
É ainda possível se mudar o rumo do mundo ocidental neoliberal, baseado num capitalismo faminto de mais lucros e insensível às multidões de desempregados na Europa ?
Mélenchon, certo ou errado, sonhador, visionário ou irrealista, garante podermos chegar a um mundo mais justo e menos desigual, livre dos tentáculos dos grande conglomerados, onde os operários podem ter salários maiores e sem o endividamento colossal dos países. Quem ainda acredita ser possível se mudar o mundo, num utópico novo formato econômico, votará Mélenchon, mas, no segundo turno, terá de cair na realidade, votar Hollande, aceitar algo menos ambicioso para se evitar a reeleição de Sarkozy.
O presidente francês deixará saudades na imprensa people pelo seu gosto do luxo, por sua vida romanesca, pela incrível capacidade de refazer suas próprias propostas e pela sua megalomania. Ninguém esquecerá o presidente na fossa, abandonado pela esposa Cecília, apaixonada por um publicitário, nem de seu rápido amor e casamento com a cantora Carla.
De suas promessas é melhor esquecer, a França com seus sobressaltos pouco mudou depois de seus cinco anos de presidência, que Sarkozy bem gostaria terem sido de reinado.
Publicado originalmente no site Direto da Redação.
Rui Martins, jornalista, escritor, correspondente em Genebra.
*correiodoBrasil