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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
domingo, maio 13, 2012
sábado, maio 12, 2012
La manifestación del 12-M, vista desde un helicóptero
Imágenes tomadas desde un helicóptero de la protesta masiva en la Puerta del Sol durante este 12 de mayor de 2012
O dia das mães é a festa do amor incondicional. Elas
nos deram a vida, nos acolheram e nos colocaram em seu coração. E de lá
nunca mais saímos. Quando desanimados, procuramos o seu seio. Quando
rejeitados, sabemos onde encontrar abrigo. No meio do perigo é a palavra
“mãe” que pronunciamos. E quando nos despedimos desta vida é ainda o
nome “mãe” que nos vem aos lábios. Ela nos introduzirá no grande Útero
da Mãe eterna, de infinita bondade e ternura.
Neste dia das mães não fala a inteligência analítica e funcional mas a
inteligência emocional e razão cordial. Logico, o comércio explora esse
dia, mas o significado da figura da mãe é tão poderoso que não se deixa
nunca desvirtuar totalmente.
É excusado sublinhar a importância da figura da mãe na orientação
futura da vida de uma criança. Baste-nos referir as constribuições
inestimáveis de Jean Piaget com sua psicologia e pedagogia evolutiva e
principalmente as de Donald W. Winnicot com sua pediatria combinada com
psicanálise infantil. Eles nos detalharam os complexos percursos da
psiqué infantil nesses momentos iniciais e seminais da vida que nos
conferem o sentimento de sermos amados, protegidos e sempre acolhidos.
Hoje não cabe esse tipo de reflexão por mais importante que seja. Tem
seu lugar o afeto cujas raizes se encontram há mais de duzentos milhões
de anos, quando surigiram no processo da evolução os mamíferos dos
quais nós descendemos. Com eles nos veio o afeto, o amor e o cuidado,
guardados como informações até os dias atuais pelo cérebro límbico.
Entreguemo-nos brevemente à terna força deste afeto.
Há muitos textos comovedores que exaltam a figura da mãe como o
belíssimo do bispo chileno Ramon Jara. Mas há um outro de grande beleza e
verdade que nos vem da Africa, de uma nobre abissínia, recolhido como
prefácio ao livro Introdução à essência da mitologia (1941),
escrito por dois grandes mestres na área, Charles Kerény e C. G. Jung.
Assim fala uma mulher em nome de todas as mulheres e mães.
“Como pode saber um homem o que é uma mulher? A vida da mulher é
inteiremante diferente daquela dos homens. Deus a fez assim. O homem
fica o mesmo, do tempo de sua circuncisão até o seu declínio. Ele é o
mesmo antes e depois de ter encontrado, pela primeira vez, uma mulher. O
dia, porém, em que a mulher conheceu seu primeiro amor, sua vida se
divide em duas partes. Neste dia ela se torna outra. Antes do primeiro
amor, o homem é igual ao que era antes. A mulher, a partir do dia de seu
primeiro amor, é outra. E assim permanecerá por toda a vida toda”.
“O homem passa uma noite com uma mulher e depois vai embora. Sua vida
e seu corpo são sempre os mesmos. A mulher, porém, concebe. Como mãe,
ela é diferente da mulher que não é mãe. Pois, ela carrega em seu corpo,
por nove meses, as consequências de uma noite. Algo cresce dentro dela,
que jamais desaparecerá. Pois ela é mãe. E permanecerá mãe, mesmo
quando a criança ou todas as crianças tiverem morrido. Pois ela carregou
a criança em seu coração. Mesmo depois que ela nasceu, continua a
carregá-la em seu coração. E de seu coração não jamais sairá. Mesmo que a
criança não viva mais”.
“Tudo isso o homem não conhece. Ele não sabe nada disso. Ele não
conhece a diferença entre o “antes do amor” e o “depois do amor”, entre
antes da maternidade e depois da maternidade. Ele não pode conhecer. Só
uma mulher pode saber e falar sobre isso. É por isso que nós, mães,
nunca nos deixamos persuadir por nossos maridos. A mulher pode somente
uma coisa: ela pode cuidar dela mesma; ela pode se conservar
decentemente; ela deve ser o que a sua natureza é; ela deve ser sempre
menina e mãe. Antes de cada amor é menina. Depois de cada amor é mãe.
Nissso poderás saber se ela é uma boa mulher e mãe ou não”.
Sem dúvida, trata-se se uma visão sublimada da mulher e da mãe. Pois
nelas há também sombras que acompanham sempre a condição humana, também
feminina.
Mas no dia de hoje, queremos esquecer as sombras para apenas
focalizarmos o momento de luz que toda mãe representa. Por isso tantos
se movem nesta data: viajam até para longe para ver sua “mãezinha
querida”, para dar-lhe um abraço filial e cobri-la de beijos.
Elas merecem. Pois não estaríamos aqui se elas não tivessem tido o
infinito cuidado de nos acolher na vida e de nos encaminhar pelos
misteriosos caminhos da existência. A elas, nossas mães, o nosso afeto, o
nosso carinho e o nosso amor: às vivas e aquelas que estão para além da
vida.
Autor do livro em parceria com Rose-Marie Muraro Feminino e Masculino. Uma nova consciência pra o encontro das diferenças (Sextante) 2002.
*LeonardoBoff
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