Como se vê, fisiologismo não é privilégio só do Brasil.
Em entrevista ao argentino Clarín, o ex-presidente paraguaio Fernando
Lugo diz que contrariou os interesses do sistema político paraguaio; “O
Estado não é uma torta que se reparte”
O ex-presidente paraguaio Fernando Lugo concedeu entrevista exclusiva ao
Clarín para dizer que caiu por não entrar no jogo político do Paraguai.
As palavras foram a um jornal da Argentina, que é justamente de onde
ele tem conseguido mais apoio – até agora, Cristina Kirchner tem
liderado o discurso contra o governo de Federico Franco. Leia alguns
trechos:
Em uma entrevista com Daniel Vittar, do jornal argentino El Clarín, o
ex-presidente Fernando Lugo falou sobre as razões que levaram ao
impeachment, dizendo que seu governo também tentou mudar a política
paraguaia.
"Tínhamos uma frase inspiradora de Pio XI que dizia que "a política é a
expressão mais sublime do amor". Mas ele se referia à alta política, à
genuína, não à politiqueira, a política a que estão acostumados aqui no
Paraguai. Queríamos romper com isso", disse.
Ele ainda afirma que a religião não deve ser dissociada da política,
embora a Igreja "tenha errado muitas vezes na identificação com projetos
políticos passageiros."
Juízo político por não dar cargos
Questionado sobre a formulação do juízo político que o depôs, Lugo disse
que os cinco fundamentos da acusação não eram argumentos o bastante
para para destituí-lo e que o impeachment ocorreu porque ele não atendeu
aos pedidos de cargos dos partidos políticos.
"Aqui estão acostumados a ter uma atitude de patrocínio. Nós queríamos
quebrar essa ordem e fazer políticas sociais, e isso incomodou", disse,
referindo-se ao PLRA, o partido liberal.
"Eu poderia fazer uma aliança com eles (PLRA), mas o preço seria muito
alto. O que os partidos políticos querem? Eles querem postos e eu disse
'não', o Estado não é uma torta que se reparte, é preciso merecer o
posto. Tínhamos outra visão de como conceber a política. Então, quando
os convidados são muitos e a comida é pouca, sem dúvida há descontentes.
E houve grande descontentamento na classe política tradicional", diz.
Lugo diz que sua administração tocou interesses ao mesmo tempo,
indicando que as partes discutem sobre quem quer ocupar cargos e receber
salário e não para projetos ou programas para o país.
"Meu maior erro foi confiar demais em políticos tradicionais. Confiar
demais e acreditar demais. É como acontece na Igreja: vem um assassino
ou um ladrão e diz que é inocente, e nós acreditamos nele. Acho que
confiei e acreditei demais na classe política. Mas eu confiei porque fui
muito respeitoso com os outros poderes, tanto o legislativo quanto o
judiciário. Poderia fazer acordos, mas depois cobram um preço muito alto
e eu não queria pagar", disse.
Promessas não cumpridas
Quanto à falta de cumprimento das suas promessas, ele se concentrou em questões de terra, culpando o sistema judiciário.
"Nós temos arquivadas mais de 100 ações judiciais para recuperar terras
ilícitas (...) Mas não é um tema que dependa do Executivo, mas do
Judiciário, esses registros estão concentrados em escritórios da
Justiça", observou.
Paternidade e câncer
Questionado sobre as denúncias de paternidade, ele disse que nem isso
nem o câncer afetaram seu trabalho duro, que começava às 5 da manhã.
"Nem a minha doença, o câncer, nem essas questões me fizeram perder um
único dia do meu trabalho. Todos os dias às 5 da manhã eu estava no
Palácio do Governo, doente ou bem, reconhecendo ou não reconhecendo a
paternidade. Nada mudou meu ritmo de entrega, de trabalho duro para o
bem deste país", disse.
Senador Lugo
Lugo confirmou que ele se ofereceu para correr como candidato a senador,
encabeçando a lista, uma proposta que será analisada antes de decidir.
Quanto candidatar-se como presidente disse que ainda não tem "uma
análise jurídica clara" para saber isso é possível.
Sobre a sanção ao Paraguai no Mercosul, disse que os presidentes
indicaram que o bloco "tem muito boa informação" e que se deve recuperar
o caminho perdido.
Franco impopular
Quando o jornalista do Clarin lhe consulta sobre o que poderia dizer
sobre o atual presidente, Federico Franco, Lugo respondeu que falaria de
sua ambição.
"Politicamente, ele pode dizer que ele também teve os votos que eu tive.
Mas nas últimas eleições internas de seu partido (Liberal) ficou em um
cômodo terceiro lugar. Não tem popularidade mesmo em seu partido. Então,
mal poderia ser o líder capaz de devolver a paz e tranquilidade ao
país", conclui.247
*Oterrordonordeste