Arquivo Nacional libera 5.000 fotos do extinto SNI
O jornalista Vladimir Herzog, encontrado morto nas dependências do Exército, em São Paulo Divulgação / Agência O Globo
Imagens de horror e luta em fotos da ditadura liberadas ao público
Além de presos políticos, aparecem militantes mortos e artistas pedindo anistiaBRASÍLIA.
O Arquivo Nacional liberou o acesso ao público a cerca de cinco mil
fotografias tiradas por agentes da ditadura militar. O acervo era do
extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) e estava na Agência
Brasileira de Informação (Abin) até 2005, quando foi transferido para o
Arquivo Nacional. As imagens só foram divulgadas agora devido à edição
da Lei de Acesso à Informação. No acervo, há seis fotos, algumas
inéditas, da militante Maria Lúcia Petit da Silva morta, envolta em um
paraquedas na mata. Ela atuava na Guerrilha do Araguaia.
Há ainda outras imagens da guerrilha, como a de Osvaldo Orlando da
Costa, o Osvaldão, quando foi preso pelos militares. Ele foi um dos
primeiros a chegar ao local, com o intuito de organizar o movimento no
Araguaia. Os agentes da ditadura também fotografaram acampamentos
militares e tinham um mapa detalhado da região.
O Arquivo Nacional liberou acesso a fotos de centenas de presos
acusados de subversão ao sistema. Muitos deles foram obrigados a posar
para as lentes da ditadura em roupas íntimas ou até mesmo totalmente
nus. Desses presos, 67 foram fotografados em fevereiro de 1971, momentos
antes de serem transferidos para outros países, na condição de
exilados. Eles foram trocados pela liberdade do embaixador suíço
Giovanni Enrico Bucher, que havia sido sequestrado pela Vanguarda
Popular Revolucionária (VPR) em dezembro do ano anterior.
No grupo que seria libertado estavam o frei Tito de Alencar e Nancy
Mangabeira Unger, irmã do ex-ministro do governo Lula. O frade
dominicano foi encontrado morto no exílio na França em 1974, aos 28
anos. Nancy recebeu indenização do governo federal recentemente pelas
torturas e perseguições sofridas.
Chamam atenção no meio das fotos as imagens de três mulheres
acompanhadas de crianças. Segundo o Arquivo Nacional, os filhos foram
entregues às mães no momento da partida. Uma das mulheres posa com três
filhas — que, segundo a legenda da foto dada pela ditadura militar,
tinham 8, 4 e 3 anos. Há também outras imagens com duas mulheres
acompanhadas de dois bebês com idades não informadas.
No Arquivo Nacional, também há nove fotos do jornalista Vladimir
Herzog morto. Ele foi fotografado nu, de frente e de costas, antes e
depois da necrópsia. O pescoço apresenta uma nódoa escura. O jornalista
foi achado morto em 1975, pendurado pelo pescoço, em uma cela do
DOI-Codi em São Paulo, após uma sessão de tortura. A ditadura alegou
suicídio, versão rejeitada por familiares e amigos.
O Arquivo Nacional também pôs à disposição para consulta pública
imagens da campanha pela “anistia ampla, geral e irrestrita”, em 1979. À
distância, em evento no Rio de Janeiro, foram fotografados o cantor
Milton Nascimento, os atores Sérgio Britto, Osmar Prado e Carlos Vereza,
e as atrizes Renata Sorrah, Lucélia Santos e Bete Mendes. Existem,
ainda, fotos de eventos religiosos com o bispo dom Helder Câmara.
*Nassif