Marcelo Tas reclama de ‘guerrilheiros petistas virtuais’ e faz guerrilha no Facebook
Seria digno de reconhecimento se Marcelo Tas, ao invés servir-se
do humor como um pára-raios bastante conveniente para realizar críticas
levianas, assumisse as suas verdadeiras posições e ideias políticas: o
que defende e quem defende, ao invés do que abomina
Marcelo Tas, apresentador do humorístico CQC, da TV Bandeirantes,
publicou em sua página pessoal da rede social Facebook, para os seus
mais de 1 milhão de seguidores, uma mensagem que gerou controvérsia.
Disse ele: “O PT treina ‘guerrilheiros’ para patrulhar Redes Sociais nas eleições 2012. O treinamento é numa sala de bate papo do orkut?”
Não é possível afirmar com absoluta certeza os motivos que estimularam
Tas a escrever tal questionamento, mas sabe-se que, apesar de atualmente
encabeçar um programa de humor na televisão aberta brasileira, a
mensagem do apresentador não teve propósito humorístico.
Primeiro é preciso esclarecer que o Facebook é uma rede social que
permite ao usuário fazer ou desfazer amizade com quem quer que seja, e
do mesmo modo é fornecida a opção de curtir ou não curtir uma página.
Isso, por si só, desfaz a tese do patrulhamento, na medida em que
ninguém é ou está forçado a aceitar nenhum tipo de imposição. Tas
confunde militância com patrulha: usuário nenhum, não filiado ou filiado
a qualquer agremiação partidária está impedido de discutir ou fazer
campanha política na internet, desde que não infrinja a legislação
eleitoral vigente.
Mas não deixa de ser curioso que Marcelo Tas, um sujeito que se
autoproclama como um dos comunicadores pioneiros em web no Brasil,
esteja incomodado com a liberdade oferecida pelas novas mídias. Marcelo
Tas, o apresentador de um programa que constantemente reclama do
cerceamento da liberdade contra os seus repórteres – sobretudo em
matérias realizadas no Congresso Nacional, em Brasília –, é o mesmo que
agora esperneia contra a liberdade de manifestação num ambiente livre
como é a internet.
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Apresentador do CQC, Marcelo Tas.
Imagem: Arquivo |
Centenas de pessoas reponderam democraticamente a manifestação pública
de Marcelo Tas, com divergências e convergências. A maioria dos que
convergiram preferiram utilizar tons de deboche vazio e de ódio, o que
não surpreende porque reflete fielmente as limitações de pessoas
inspiradas na ‘ótica CQC de enxergar e tratar a política‘, isto é, a perigosa ideia de restringir as discussões políticas ao modo do ‘odeio política‘ ou ‘político bom é político preso‘.
Mas, felizmente, a futilidade não foi fruto exclusivo da polêmica. O
sociólogo Sérgio Amadeu, talvez a figura que melhor representa o
Software Livre no Brasil atualmente, reconhecido também por sua
incessante luta pela inclusão digital como ferramenta crucial para a
democratização da comunicação, respeitosamente deixou o seguinte
comentário:
Sérgio Amadeu.
Grande Tas, faça humor, não faça a guerra.
Você como defensor só da direita festiva está ficando meio sem graça.
De vez em quando seria bom tirar uma da cara dos vampiros tucanos, não
acha? Quem tem tropa de choque formada é a turma da direita brava, Reinaldo Azevedo e os trolls… Volte para a turma dos meio intelectuais, meio de esquerda. Beleza.
Sérgio Amadeu, que conhece Tas pessoalmente, obviamente sabe que a
intenção deste, no âmbito da política, não é e nem será fazer humor, mas
provocar a guerra com a vestimenta disfarçada de humor.
Ao contrário do que possa parecer, é bastante saudável que os seres
humanos manifestem as suas posições políticas abertamente. Marcelo Tas,
registre-se, foi louvado pela juventude do DEM no Encontro Nacional
deste partido em um passado não muito distante ocorrido em Blumenau/SC.
Lá, utilizou de sua língua ferina para falar mal de Lula, do PT e
congêneres.
Chamou atenção outra resposta ao comentário de Tas:
Rui André Souza. Quando vejo muitos reclamando de que
propaganda política era pra ser proibida ou incomoda aqui no facebook,
me pergunto se realmente entendem a política. Acho fundamental e, acima
de tudo, democrático se falar de política aqui no face. Qualquer
ferramenta pode servir de meio para se propagar a política. Pois,
afinal, respiramos política. E o que acontece quando não estamos
interessados em política? Simples: viramos o Brasil.
O posicionamento transparente, portanto, é um dos pre-requisitos
indispensáveis para se abordar a política de maneira salutar. Seria mais
corajoso, honesto e digno de reconhecimento se Tas, ao invés de usar o
humor como um pára-raios bastante conveniente para realizar qualquer
tipo de crítica, assumisse as suas verdadeiras posições e ideias
políticas: o que defende e quem defende, em vez do que abomina.
*Pragmatismo Político