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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, agosto 05, 2012

PSDB debocha do povo paulista


ESCÁRNIOS URBANOS

1) Tucanos governam São Paulo há 17 anos. Desde que chegaram ao poder, em 1995, construíram 25 kms de metrô. Média, 1,5 km/ano. Neste sábado, em meio ao aquecimento da campanha municipal, o governador de SP, Geraldo Alckmin, anunciou com pompa e espaço obsequioso na mídia, que construirá 99 kms de metrô nos próximos 8 anos, quase dez vezes mais que a média entregue em todo o ciclo tucano de quase duas décadas;
2) Na prefeitura, o condomínio Serra/Kassab prometeu entregar 66 km de corredores de ônibus até 2012. Nenhum centímetro foi implantado. Mais da metade da quilometragem prometida (34 km) seria composta de monotrilhos, 'com tecnologia e capacidade superior à dos corredores' (implantados por Marta, do PT), arvorava-se a propaganda demotucana. Nenhum quilômetro dessa modalidade foi inaugurado.

(Carta Maior; Domingo/05/08/2012)
*esquerdopata

Vídeo: Zé Dirceu: PIG e a blogosfera no Brasil - 2ºBlogProg

Zé Dirceu participa do 2º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, em Brasília, maio de 2012, e fala da importância da blogosfera, da quadro político e ecômico do país, além da mídia golpista.


*desabafoBrasil

AUTOGRAFA CERRA

 

PiG começa a atacar Joaquim. O futuro presidente do STF


O PiG escolhe a data do julgamento.
Escolhe o juiz que NÃO pode julgar (Toffoli).
Escolhe o que pode julgar apesar de todas as denuncias (Gilmar).
E agora escolhe o Presidente do STF.
O PiG nao gosta do Ministro Joaquim, sucessor de Ayres Britto:
 

PSD é formado basicamente por deputados sem trajetória política de destaque

São 48 deputados em exercício e sete licenciados. É a quarta maior bancada na Câmara, atrás apenas de PT, PMDB e PSDB. Será com eles que o governo terá de negociar nos próximos anos para aprovar qualquer projeto de peso.

Mas os parlamentares do recém-nascido PSD são, em grande parte, uma massa de ilustres desconhecidos, sem trajetórias políticas de destaque ou projetos de lei significativos. A maioria, 28, está no primeiro mandato e os outros estão no exercício do segundo mandato, já que poucos passaram pelo crivo das urnas mais de duas vezes.

A bancada é formada principalmente por empresários , 38 no total, pouco afeitos ao dia a dia do Congresso. Apenas um deputado da legenda figura na lista dos 100 “cabeças” do Congresso, feita anualmente pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Trata-se de Eduardo Sciarra (PR), eleito com apenas um voto, que ele garante não ser dele próprio. “Nem sabia dessa votação”, defende-se.

Sciarra, que está em seu terceiro mandato, deixou o DEM após uma frustrada disputa pela liderança com o atual líder ACM Neto (BA). No início do ano, a contenda lhe rendeu uma derrota de 27 a 16 votos. Foi quando decidiu debandar. “Se eu tivesse ganho essa disputa, estaria hoje no DEM e o grupo do ACM Neto, possivelmente, estaria fora”, afirma o deputado, destacando que queria um partido “que não tivesse caciquismo e não tivesse dono”.

Agora que deixou a oposição, adota o tom pragmático que caracteriza o novo partido. “Somos independentes, não teremos aliança com o governo. Ser de centro-direita não é problema, o PP e o PMDB são mais de direita do que o PSD e compõem a base do governo. A questão ideológica hoje ficou de lado. Vale o pragmatismo”, pontua, ecoando o prefeito paulistano, Gilberto Kassab, fundador e presidente do partido.

Entre os jovens do partido, o deputado Fábio Faria (RN) é um dos que evitam falar em ideologia. Uma pesquisa com seu nome no Google rende fotos suas cercado de celebridades, muitas delas constando de sua lista de conquistas amorosas, como as atrizes Priscila Fantin e Letícia Birkheuer e as apresentadoras Adriane Galisteu e Sabrina Sato. Sua atuação como parlamentar só foi notícia ao se envolver no escândalo das passagens aéreas na Câmara, quando se descobriu que Fábio havia demonstrado seu amor por Galisteu pagando com verba da Casa passagens de ida e volta para a namorada e a sogra.

Casamento

Outro a desfilar nas colunas sociais é o empresário da noite paulistana Guilherme Mussi (SP). O deputado teve seu casamento em 2008, com a herdeira da loja de luxo Daslu, Luciana Tranchesi, aclamado por revistas de fofoca como “a cerimônia mais badalada dos últimos tempos no high society paulistano”. A festa, na Villa Daslu, para 1,3 mil convidados, teve champanhe Taittinger Brut Prestige Rosé, a R$ 270 a garrafa. Mas a união durou pouco mais de um ano. De lá para cá, após breve namoro com uma socialite de São Paulo, Mussi submergiu do noticiário de celebridades, a exemplo de sua atuação parlamentar.

A ala jovem do PSD também tem seu representante no Rio de Janeiro. O deputado Felipe Burnier é um típico menino do Rio. Com sobrenome político, ele é filho do ex-prefeito de Nova Iguaçu Nelson Burnier, frequenta a praia da Barra da Tijuca e usou um funk como jingle da campanha de 2010. Considera-se uma “pessoa do bem”, conforme seu perfil no Facebook, e adora fazer novas amizades. “Vivo a vida intensamente, não me arrependo de nada que tenha feito, somente do que ainda não fiz. Amo a vida!!!”, é a mensagem na comunidade virtual. O jeitão “bon vivant” deu o tom de um projeto enviado no ano passado à Câmara. Burnier propôs que todos os dias de jogos do Brasil na Copa de 2014 sejam feriados nacionais. “Quero mais é que tenha feriado e que o Brasil seja campeão”, exalta.

Problemas na Justiça

Há também no PSD quem tenha problemas com a Justiça. Carlos Souza (PSD-AM), que esteve em cinco partidos nos últimos 20 anos, foi preso em 2009 quando era vice-prefeito de Manaus. Ele responde a processo por associação ao tráfico de drogas e é suspeito de ter encomendado a morte de traficantes. Ele é irmão do falecido deputado estadual Wallace Souza, acusado de ser o chefe de uma quadrilha que comandava o comércio de drogas no Amazonas e que assassinava traficantes para aumentar a audiência de um programa de TV apresentado pelos irmãos Souza. Segundo denúncia do Ministério Público, em um caso que ganhou repercussão internacional, Wallace aproveitava “informações privilegiadas” sobre quem ia ser morto para exibir os crimes consumados em seu programa policial televisivo, o Canal livre, e subir a audiência.

Informações do Correio Braziliense.
*CelsoJardim

Trilha Sonora para uma Revolução / Soundtrack for a Revolution (2009) LEGENDADO




(EUA, 2009, 82 min - Direção: Bill Guttentag, Dan Sturman)

Inspirador, emocionante! 


Momentos em que a barbárie aplicada a uma parcela da sociedade é considerada normal e quando qualquer manifestação contra ela é considerada ilegal podem parecer coisa de séculos atrás ou de pequenos países sob ditadura declarada. Mas não, nos anos 60, nos Estados Unidos da América, havia lugares onde negros não podiam comer, sentar, não tinham direito a voto e muito menos a se manifestar. 
Era comum nos Estados sulistas, negros serem alvejados, mutilados, queimados, surrados, sem que os seus agressores sofressem alguma punição. Neste contexto começa o movimento social mais forte que já aconteceu no país sob a liderança de uma das figuras mais emblemáticas da história ocidental, Martin Luther King. 
Imagens emocionantes, mostram toda a cronologia desse movimento, com depoimentos atuais dos integrantes. Músicas que eram cantadas como hinos, são exibidas com grande produção moderna.
Um grande exemplo de desobediência civil e resistência pacífica. (docverdade)

Torrent TPB (sem legendas)

Agradecimentos a Ozivan Oliveira e Marcus Vinicius Lima de Amorim pela sugestão e links 

CONGRESSO LIVRE REAGE E JILMAR TATTO CHAMA O FRACO PROCURADOR GURGEL DE MENTIROSO



Jilmar Tatto chama Prevaricador Gurgel de mentiroso


Direitona em festa:  Gurgel é ovacionado pelo que existe de mais atrasado e conservador em nível politico no Brasil
O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), chamou de "fraca" e "inconsistente" a manifestação de Gurgel. "Ele não mostrou prova nenhuma, politizou o julgamento. Ele foi contaminado pelo movimento midiático, jogou para a plateia. É um momento triste da história do Ministério Público, que se apequenou".
O pedido de prisão imediata dos condenados foi também criticado. "São os autos e as provas que definem o que vai ser feito, quando ele pede isso é porque não tem elementos", disse Tatto, que protestou ainda contra a afirmação de Gurgel de que sofreu "ataques grosseiros e mentirosos". 
Congressistas livres começam a reagir: Jilmar Tatto contra ataca e denuncia manobra confusa do procurador
Para o líder petista, o procurador mentiu. "Ele disse que foi pressionado, mas não diz quem o pressionou. É mentira. 
Se algum juiz ou procurador é pressionado por alguém tem obrigação de denunciar e ele não fez, então é tudo mentira".
Para ele, os ministros não deverão ser influenciados pelas fortes palavras do procurador. "Essa corte é calejada e vai decidir pela lei, pelos autos, não por palavras". 

Blog do Saraiva
*MilitânciaViva

SENADOR SUPLICY COBRA RESPOSTAS SOBRE O EPISÓDIO PINHEIRINHO

 

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) registrou, nesta quinta-feira (02), no plenário do Senado, cobrança feita ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sobre as investigações dos abusos ocorridos em 22 de janeiro deste ano, na reintegração de posse da região de Pinheirinho, localizado em São José dos Campos (SP).

Do PT


“Mantive hoje cedo com o governador Geraldo Alckmin diálogo telefônico e disse a ele que estava no aguardo da rigorosa apuração que ele determinou sobre os episódios havidos por ocasião da ocupação da área do Pinheirinho pela Polícia Militar e pela Guarda Metropolitana de São José dos Campos”, disse Suplicy, que lembrou determinação do governador de São Paulo, para que houvesse “rigorosa apuração” dos abusos cometidos na ocasião.

O senador ainda destacou que teve a oportunidade de conversar com o Comandante-Geral da Polícia Militar de São Paulo e o Corregedor-Geral da Polícia Militar. De acordo com Suplicy, ambos disseram que a demora na investigação era devida à necessidade de um laudo que seria feito nos Estados Unidos da América.

“No entanto, estamos em agosto e já são passados mais de seis meses daqueles episódios. O novo comandante da PM me disse que o governador estava solicitando aquele relatório. Pois bem! O Governador me disse que tomará as providências. Agradeço, portanto, a atenção do Governador Geraldo Alckmin”, relatou Suplicy, que também disse ter manifestado ao governador seu desejo de conhecer o relatório para registrar o que de fato foi apurado e quais as medidas foram tomadas a respeito”, ressaltou Suplicy.

Drama
O senador Suplicy ainda lembrou que a desocupação do Pinheirinho desalojou mais de 1,5 mil famílias de suas residências. Essas pessoas tiveram os bens destruídos na ação policial e, até agora, a prefeitura de São José dos Campos não apresentou qualquer solução habitacional aos desalojados.
“É importante aqui registrar um apelo ao Prefeito Eduardo Cury e ao próprio Governador Geraldo Alckmin, para verificar as quantas anda essa situação das moradias, a fim de termos um balanço completo de todos aqueles episódios”, concluiu o senador.
*Midiacaricata

Síria: Obama quer guerra e Erdogan geme


2/8/2012, M K Bhadrakumar*, Asia Times Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Em Ancara, a ficha demorou a cair, depois que a Casa Branca distribuiu a foto que mostra o presidente dos EUA Barack Obama empunhando um taco de baseball numa mão enquanto, com a outra mão, segura o telefone no qual fala com o primeiro-ministro da Turquia Recep Tayyip Erdogan, na 2ª-feira à noite. [1]

Presidente Barack Obama ao telefone com o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan da Turquia, dia 30/7/2012 (Foto oficial da Casa Branca, de Pete Souza)
A Casa Branca limitou-se a informar que Obama discutiu com Erdogan como “coordenar esforços para acelerar uma transição política na Síria, que deve incluir a saída de Bashar al-Assad” e partilhou com ele “crescentes preocupações” com a violência na Síria e a “deterioração das condições humanitárias”.
Por que segurar um taco de baseball, em horário de trabalho no Salão Oval – e por que divulgar a foto “documental”? Os turcos analisaram várias possíveis explicações: Obama estaria fazendo pose de grande líder mundial, durão; provavelmente, tentava intimidar Bashar; talvez quisesse impressionar Israel e a Arábia Saudita – ou, talvez, Irã e Rússia. Mas logo, mais calmos, concluíram que Obama enviava clara mensagem a Erdogan para resolver logo o caso da “mudança de regime” na Síria: “Detone Bashar, Erdogan Bey”.
É verdade: o exército turco está deslocando tanques para a fronteira síria. Mas Erdogan ainda não deu o passo (indispensável) de tentar que o Parlamento turco autorize que o exército invada a Síria. No momento, Erdogan dá tratos à bola, furiosamente. Reuniu-se com o Conselho Superior Militar em Ankara na 4ª-feira para atualizar-se sobre o estado das “preparações de guerra”. Atualizou-se na mesma reunião, inter alia, sobre o fato de que as forças armadas turcas estão em estado, de fato, bem lamentável.
68 pashas (título usado por oficiais militares e civis) estão na cadeia, acusados de traição. A reunião da 4ª-feira foi convocada para decidir sobre as promoções anuais no alto escalão militar turco, mas a lista de nomes a serem promovidos resultou surpreendentemente curta, porque, dos 68 generais da “zona de promoção”, cerca de 40 não podem ser promovidos, porque estão na cadeia. Comentarista da política turca, Murat Yetkin resume a escandalosa realidade:
Ano passado, o chefe do comando do Estado-Maior das Forças Armadas general Isik Kosaner renunciou, com três altos comandantes, em protesto contra a prisão dos generais. A pressão é hoje ainda maior sobre o atual comandante do Estado-Maior, general Necdet Ozel, porque também foi preso um ex-comandante do mesmo Estado-Maior, Ilker Basburg. Basburg foi acusado de chefiar “uma organização terrorista”. E outro ex-chefe do Estado-Maior turco, Hilmi Ozkok, deve comparecer ante a corte criminal em Istambul exatamente hoje (5ª-feira, 2/8/2012).
Ozkok já confessou que sabia de duas tentativas de golpe que os pashas preparavam, no período 2003-2004, contra o governo eleito. Mas argumentou:
Quando o AKP [Partido Justiça e Desenvolvimento, de Erdogan] chegou ao poder, o alto comando das forças armadas turcas preocupou-se, inclusive eu mesmo. Considerando o que os membros do AKP diziam no passado, nos preocupava que a Turquia voltasse aos velhos tempos [tradução: de governos islamistas]. Começamos a discutir o problema. No exército, todos são livres para dizer o que pensam, mesmo que pensem diferente dos demais, é normal. Mas no fim, todos obedecem as ordens do comando do Estado-Maior.
Erdogan tem pela frente um desafio formidável – e, nessa hora, Obama o exorta a empreender rápida ação militar para derrubar Bashar, bem quando o próprio exército turco afunda-se em escândalo, com o depoimento de Ozkok exibido pela televisão, nos próximos dias e semanas, por todos os acampamentos militares em toda a Anatólia.
Enquanto isso, os separatistas curdos que a tudo assistem das montanhas abriram outro front próximo de Sendinli, cidade do oriente remoto do país, na tormentosa tríplice fronteira entre Turquia, Iraque e Irã. Há uma semana o exército turco combate naquela área.
Para complicar ainda mais as coisas, semana passada a rixa política entre Erdogan e o presidente Abdullah Gul (que costumava ser aliado de Erdogan no AKP) começou a azedar. Gul detonou uma bomba política, ao divulgar, na 2ª-feira, que considerará a possibilidade de candidatar-se à reeleição, em 2014.
A ação de Gul pôs a girar outra vez, feito louco, o caleidoscópio da política turca. O campo de Erdogan respondeu no mesmo dia: Huseyin Celik, vice-presidente do AKP e confidente de Erdogan, lembrou Gul de que devia seu emprego de presidente a Erdogan; e que faria melhor se retribuísse a gentileza e saísse do jogo, abrindo caminho para a eleição de Erdogan à presidência.
Gul respondeu ele mesmo; disse que ainda havia muito tempo para discutir as ideias de Celik. Dois anos são, sim, muito tempo, e Gul tem razão: não há assunto fechado, em política. Ambos Gul e Erdogan são figuras carismáticas, e a expectativa entre os turcos é que optem pelo modelo russo de revezamento de papéis, para as eleições de 2014. O maior problema é que há também um conteúdo “ideológico” na rixa Gul-Erdogan.
Gul tem ideias próprias sobre as limitações do tipo de reforma constitucional que Erdogan busca atualmente – para fazer da Turquia sistema presidencialistas, com os poderes do Executivo muito reforçados. Nas palavras de SemihIdiz, destacado comentarista político:
Gul opõe-se ao tipo de presidencialismo que o AKP de Erdogan deseja (...). Gul entende que o atual sistema parlamentarista deve ser saneado de algumas limitações e deve ser aprimorado, para aprimorar a democracia turca. (...) Nem o Partido AKP nem Erdogan falam sobre que sistemas de freios e contrapesos haveria, para equilibrar os poderes, no presidencialismo que pregam. Muitos se preocupam com isso, sobretudo se se consideram as notórias tendências autoritárias de Erdogan.
Mas e o que a guerra na Síria tem a ver com isso. Tem muito a ver. Ambos, Obama e Erdogan concordam que a crise síria tem de acabar imediatamente. Obama parece estar convencido de que se Erdogan for convencido a “fazer mais” – ouvindo o que os EUA disseram ao Paquistão – a guerra civil acabará e uma “nova Síria” tomará forma. Assim, como por milagre.
Erdogan tem um problema. Tem um problema, para começar “operacional”, porque os militares turcos estão em absoluto desarranjo. E Erdogan tem também um problema político.
A máquina militar turca tem de ser retificada, para começar; o que leva tempo. E, agora, Gul abriu um front de combate político muito arriscado. A Síria, cada dia mais, se vai convertendo em campo minado para Erdogan. Outro analista experiente e atento, da segurança turca, Nihat Ozcan, espiou com um espelho, na direção da Síria:
Minha opinião é que há quatro questões a serem examinadas, para entender como será, no final do processo, o modelo sírio.
(1) O que significa, para as análises, a modificação pela qual passou a guerra na Síria?
(2) Como a atual guerra por procuração afeta o desenvolvimento político interno e os mandatos eleitorais [na Síria]?
(3) Como a profunda divisão sociológica que há no povo sírio influencia a questão e modela problema e solução?
(4) Se tudo se faz de fora para dentro e não há autoridade ou poder ou desejo suficiente para por fim à intervenção estrangeira, o que será a Síria ao final da “mudança de regime”?
Ozcan vê os combates comandados e provocados pela Turquia convertendo-se rapidamente em guerra civil. É possível que o exército sírio comece a perder cada vez mais seu caráter plurinacional, e passe a ser cada vez mais sectário – com predomínio de alawitas. E, simultaneamente, do outro lado, pode acontecer de reforçar-se uma guerrilha com traços políticos sunitas.
Fato é que os “rebeldes” jamais serão exército disciplinado e regular, o que cria a possibilidade de guerra sem fim “sem front, irregular, brutal, sem qualquer tipo de contenção moral” – e não há ameaça maior do que essa para o futuro da Síria.
Outra vez, trata-se de “guerra por procuração” que envolve interferência externa, o que implica que está além da capacidade de alguém, seja quem for, por fim à guerra no curto e médio prazo. “Essa situação reforça a motivação para a guerra dos dois lados (sírios) e os leva a manter a guerra”. Com o tempo, voltarão à tona preconceitos religiosos, sociológicos e psicológicas adormecidos no fundo de traumas históricos do passado, o que alimentará a guerra civil e a força dos dois lados em guerra.
Ozcan explica que, se se mantiver o processo hoje em curso, a Síria rachará. E qualquer reunificação exigirá muito tempo. Como analista militar e profundo conhecedor das capacidades turcas, Ozcan previu que:
No futuro que se antevê hoje, são difíceis as operações clandestinas, as operações aéreas, os ataques aéreos punitivos, qualquer bloqueio por mar e qualquer tipo de operação de paz ou de negociação para a paz que criem situação de vantagem para qualquer dos lados em relação ao outro. Pelo que se vê hoje, o fogo só se extinguirá na Síria como resultado da própria dinâmica doméstica síria.
Dito de forma mais simples, é alto o risco de que Erdogan acabe preso num labirinto sírio, a menos que exercite a mais absoluta circunspecção nesses telefonemas transatlânticos, cada dia mais raros. (Obama e Erdogan, ao que se sabe, falaram-se 13 vezes por telefone, ano passado; em 2012, até agosto, foram só duas conversas.) O sombrio recado de Ozcan é que “o quadro futuro” da Síria não deixa espaço para que Erdogan permita-se complacências.
Erdogan nunca jogou baseball. Mas foi bom jogador de futebol – chegou a ser semiprofissional, nos anos 90s, defendendo as cores de um time local, em Istambul. Erdogan sabe que, em campo, se se perde o controle da bola, tudo pode acontecer: até gol contra. E também pode acontecer de Gul driblar o zagueiro e mandar a bola para o fundo do gol.



Nota dos tradutores
[1] A foto que ilustra este artigo e divulgada pela Casa Branca foi extraída de: Obama speaks with world leader on phone while holding baseball bat, onde se lê: Essa foto oficial foi publicada no website da CNN, com a legenda: “Presidente Barack Obama ao telefone com o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan da Turquia, dia 30/7/2012 (Foto oficial da Casa Branca, de Pete Souza)”.
Em THE BASEBALL BAT WAS PHOTOSHOPPED IN. HERE'S THE REAL PHOTO  lê-se explicação plausível para a tal foto: ela teria sido modificada. O blog mostra também a foto original não adulterada (imperdível!)
MK Bhadrakumar*  foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

Russas podem pegar até 7 anos de prisão por protesto em catedral

VIDEO NO BLOG Paulo Lopes
por Juliana Sayuri para Estadão

Um protesto de 1 minuto e 52 segundos no dia 21 de fevereiro [vídeo abaixo]. Por esse fato três roqueiras russas podem pagar até 7 anos de prisão. Isso porque o palco escolhido para a performance foi a Catedral de Cristo Salvador de Moscou.
No altar, as garotas da banda Pussy Riot tocaram a prece punk Holy Shit, que intercala hinos religiosos com versos diabólicos como Virgin Mary, hash Putin away. Enquanto umas arranhavam nervosos riffs de guitarra, outras saltitavam, faziam o sinal da cruz e dançavam cancã como possuídas. As freiras ficaram escandalizadas. Os guardas, perdidos. Agora as rebeldes Yekaterina Samutsevich (foto), Nadezhda Tolokonnikova (foto) e Maria Alyokhina (foto) e  ocupam o banco dos réus no tribunal Khamovnichesky de Moscou, acusadas de vandalismo e ódio religioso.

Na catedral, assim como noutras manifestações na Praça Vermelha e no metrô, as meninas usavam máscaras de ski néon e vestidos coloridos à Restart. As balaclavas fluorescentes, aliás, são a marca da banda formada em outubro de 2011. Pussy Riot reúne umas 10 músicas e 15 roadies, uma "equipe técnica" encarregada de gravar os protestos e postá-los no YouTube. Nas influências musicais, o streetpunk britânico Oi!, simbolizado por bandas como Angelic Upstarts. Nas inspirações políticas, Julia Kristeva, Michel Foucault e o movimento feminista underground americano Riot Grrrl, dos anos 90.

Após o protesto na catedral, as cúpulas douradas do templo ortodoxo estremeceram. "É uma blasfêmia. O diabo está rindo de nós", declarou o patriarca Kirill. Putin também deve ter ficado putin, pois mandou um batalhão atrás das moças. Foi feito um relatório de 2.800 páginas e, no dia 4 de março, Maria e Nadezhda foram presas. Onze dias depois, Yekaterina também.

Yekaterina, Nadezhda e Maria Alyokhina na gaiola
As roqueiras ficaram no 
Tribunal dentro de uma gaiola
Yekaterina Samutsevich, 29 anos, é artista formada pela Rodchenko Moscow School. Maria Alyokhina, 24, é poeta, mãe e estudante de jornalismo na capital russa. A bela Nadezhda Tolokonnikova, 23, é artista, estudante de filosofia e mãe também.

A prisão do trio causou frisson internacional. Diplomatas, intelectuais e pop stars saíram em defesa das garotas: estrelas como Franz Ferdinand, Red Hot Chilli Peppers, Stephen Fry e Sting; políticos como o norueguês Thorbjorn Jagland, do Conselho Europeu, a paquistanesa Farida Shaheed, das Nações Unidas, e o diplomata americano na Rússia, Michael McFaul.
 Em Israel, o sociólogo Alek Epstein publicou a coletânea Art on the Barricades. Em Paris, o curador Andrei Erofeev montou a mostra The Case of the Pussy Riot Artists no Palais de Tokyo.
Em carta ao presidente russo em sua visita a Londres nessa semana olímpica, celebridades inglesas reivindicaram um "julgamento justo" para as manifestantes. 
Anistia Internacional e Human Rights Watch também entraram na história, pedindo a libertação das garotas. "Elas são prisioneiras de consciência, pois foram presas por expressar ideias políticas pacificamente", define a campaigner russa Natalia Prilutskaya, radicada em Londres. "São tempos difíceis. Dá para sentir o clima nebuloso que se formou sobre a liberdade de expressão no país desde o affair Erofeev", diz.

Em 2006, Erofeev e o ex-diretor do Sakharov Museum, Yuri Samodurov, organizaram a exposição Russia's Forbidden Art, com pôsteres de Mickey e Lenin como Cristo. Eles foram acusados de incitação ao ódio religioso, mas, depois da pressão internacional, escaparam da sentença de 5 anos de prisão com uma multa de US$ 5 mil. Em 2009, o coletivo anarquista Voina apoiou os réus — e líderes do movimento acabaram na prisão, onde estão até agora. 

De lá para cá, a coisa arrochou. Após os protestos contra as eleições parlamentares em dezembro e as presidenciais em março, Putin promulgou uma lei que pune manifestações não autorizadas com multas estratosféricas. "O totalitarismo russo lembra a Inquisição medieval. A internet é a última zona livre para nós", diz o filósofo Alex Plutser-Sarno, ideólogo do Voina ainda em liberdade.

Embora forte, a mobilização cibernética não adiantou. As três mosqueteiras do Pussy Riot continuam presas. No julgamento, pediram desculpas, mas não admitiram culpa ante as acusações. Para elas, o protesto era político, e não religioso. Mas as testemunhas chorosas complicaram: "Elas cuspiram no meu rosto e na minha alma", disse uma freira. "Estou tentando perdoá-las, mas não sou perfeito", lamentou um coroinha.

O veredicto só deve sair na próxima semana. Mas Stanislav Samutsevich, pai de Yekaterina, já arrisca: "Serão condenadas. Isso é um julgamento político".

Protesto na Catedral contra Putin 

Leia mais em http://www.paulopes.com.br/#ixzz22h2GqHqR
Paulopes