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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
sábado, outubro 06, 2012
Agripino Maia sucumbe em Natal
Por Altamiro Borges
Pesquisa Ibope divulgada nesta sexta-feira à noite sobre as eleições
para a prefeitura de Natal (RN) mostra Carlos Eduardo (PDT) com 44% das
intenções de voto, seguido por Hermano Morais (PMDB), com 18%, e
Fernando Mineiro (PT), com 13%. Ainda há dúvidas se o pedetista, que é
apoiado por uma ampla frente, vencerá a disputa já no primeiro turno.
Uma certeza, porém, já existe. O grande derrotado desta campanha é o
senador Agripino Maia, presidente nacional do DEM.
*Miro
O GRITO PROFÉTICO E LÚCIDO DE FREI LEONARDO BOFF
A espetacularização e a ideologização do Judiciário
É com muita tristeza que escrevo este artigo no final da tarde desta
quarta-feira, após acompanhar as falas dos ministros do Supremo Tribunal
Federal. Para não me aborrecer com e-mails rancorosos vou logo dizendo
que não estou defendendo a corrupção de políticos do PT e da base
aliada, objeto da Ação Penal 470 sob julgamento no STF.
Se malfeitos
foram comprovados, eles merecem as penas cominadas pelo Código Penal. O
rigor da lei se aplica a todos.
Outra coisa, entretanto, é a espetacularização do julgamento transmitido
pela TV. Ai é ineludível a feira das vaidades e o vezo ideológico que
perpassa a maioria dos discursos.
Desde A ideologia Alemã, de Marx/Engels (1846), até o Conhecimento e
interesse, de J. Habermas (1968 e 1973), sabemos que por detrás de todo
conhecimento e de toda prática humana age uma ideologia latente.
Resumidamente, podemos dizer que a ideologia é o discurso do interesse. E
todo conhecimento, mesmo o que pretende ser o mais objetivo possível,
vem impregnado de interesses.
Pois, assim é a condição humana. A cabeça pensa a partir de onde os pés
pisam. E todo o ponto de vista é a vista de um ponto. Isso é
inescapável. Cabe analisar política e eticamente o tipo de interesse, a
quem beneficia e a que grupos serve e que projeto de Brasil tem em
mente. Como entra o povo nisso tudo? Ele continua invisível e até
desprezível?
A ideologia pertence ao mundo do escondido e do implícito. Mas há vários
métodos que foram desenvolvidos, coisa que exercitei anos a fio com
meus alunos de epistemologia em Petrópolis, para desmascarar a
ideologia. O mais simples e direto é observar a adjetivação ou a
qualificação que se aplica aos conceitos básicos do discurso,
especialmente, das condenações.
Em alguns discursos, como os do ministro Celso de Mello, o ideológico é
gritante, até no tom da voz utilizada. Cito apenas algumas qualificações
ouvidas no plenário: o mensalão seria “um projeto ideológico-partidário
de inspiração patrimonialista”, um “assalto criminoso à administração
pública”, “uma quadrilha de ladrões de beira de estrada” e um “bando
criminoso”. Tem-se a impressão de que as lideranças do PT e até
ministros não faziam outra coisa que arquitetar roubos e aliciamento de
deputados, em vez de se ocuparem com os problemas de um país tão
complexo como o Brasil.
Qual o interesse, escondido por detrás de doutas argumentações
jurídicas? Como já foi apontado por analistas renomados do calibre de
Wanderley Guilherme dos Santos, revela-se aí certo preconceito contra
políticos vindos do campo popular. Mais ainda: visa-se aniquilar toda a
possível credibilidade do PT, como partido que vem de fora da tradição
elitista de nossa política; procura-se indiretamente atingir seu líder
carismático maior, Lula, sobrevivente da grande tribulação do povo
brasileiro e o primeiro presidente operário, com uma inteligência
assombrosa e habilidade política inegável.
A ideologia que perpassa os principais pronunciamentos dos ministros do
STF parece eco da voz de outros, da grande imprensa empresarial que
nunca aceitou que Lula chegasse ao Planalto. Seu destino e condenação é a
Planície. No Planalto poderia penetrar como faxineiro e limpador dos
banheiros. Mas nunca como presidente.
Ouvem-se no plenário ecos vindos da Casa Grande, que gostaria de manter a
Senzala sempre submissa e silenciosa. Dificilmente, se tolera que
através do PT os lascados e invisíveis começaram a discutir política e a
sonhar com a reinvenção de um Brasil diferente. Tolera-se um pobre
ignorante e mantido politicamente na ignorância. Tem-se verdadeiro pavor
de um pobre que pensa e que fala. Pois, Lula e outros líderes populares
ou convertidos à causa popular como João Pedro Stedile, começaram a
falar e a implementar políticas sociais que permitiram uma Argentina
inteira ser inserida na sociedade dos cidadãos.
Essa causa não pode estar sob juízo. Ela representa o sonho maior dos
que foram sempre destituídos. A Justiça precisa tomar a sério esse
anseio a preço de se desmoralizar, consagrando um status quo que nos faz
passar internacionalmente vergonha. Justiça é sempre a justa medida, o
equilíbrio entre o mais e o menos, a virtude que perpassa todas as
virtudes (“a luminossísima estrela matutina” de Aristóteles). Estimo que
o STF não conseguiu manter a justa medida. Ele deve honrar essa
justiça-mor que encerra todas as virtudes da polis, da sociedade
organizada. Então, sim, se fará justiça neste país.
* Leonardo Boff, teólogo e filósofo, é professor aposentado de ética da Uerj.
sexta-feira, outubro 05, 2012
Lula pede para não brincar com bolinha de papel, de isopor e nem bolinha de sabão
Uma grande mobilização petista movimentou o centro de São Paulo no
início da tarde desta sexta-feira. Manifestantes caminharam da Praça da
República até a Praça da Sé, onde o ex-presidente Luiz Lula aguardava
para fazer um pronunciamento.
Lula aproveitou o momento para fazer recomendações lembrando o
episódio da bolinha de papel nas eleições presidenciais de 2010, o
ex-presidente pediu tranquilidade aos petistas para evitar algo
semelhante desta vez. "A gente não pode, nesses últimos dias, aceitar
nenhuma provocação. Muito cuidado.(veja o vídeo)
A gente tem que estar de cara muito boa, muito alegre, se for andar
pelas ruas. Mas sem aceitar nenhuma provocação de ninguém", disse Lula
no início do discurso.
Lula se referia ao fato ocorrido durante a campanha presidencial de
2010, no qual Serra, durante uma caminhada, foi atingido por uma bolinha
de papel e se dirigiu ao hospital e depois usou as cenas no horario
eleitoral para se fazer de vítima. Um vídeo exibido no SBT mostrou que
tratava-se de uma bolinha de papel.
"Sabemos que tem um candidato aí que, há dois anos, levou uma bolinha de
papel na cabeça e tentou culpar o PT.
Por favor, nada de bolinha de papel. Nada de brincar de bolinha de
papel, de isopor, nada. Nada, Aliás, nem bolinha de sabão agora pode
fazer. Ele é frágil. Qualquer coisa o machuca", discursou o
ex-presidente enquanto gritavam "olê, olê, olê, olá. Lula, Lula".
Como os candidatos são proibidos de fazer discursos até domingo, Haddad,
juntamente com sua candidata vice, Nádia Campeão (PCdoB), apenas
acompanhou o presidente.
Lula ainda fez um apelo à militância petista em virtude da situação da
eleição da capital, que definiu como "muito delicada porque há um
embolamento" e pediu aos petistas para "conversar com as pessoas cada
vez mais e não esconder as bandeiras e camisetas".Em pouco mais de uma
hora, a caminhada do PT pelo centro da São Paulo ocorreu minutos depois
de Haddad também percorrer o Brás por mais de duas horas.
Em frente ao Teatro Municipal, na Praça Ramos de Azevedo, petistas e tucanos, estes mobilizados por José Serra, se encontraram. Apesar de um natural clima de tensão, seguranças dos partidos e a própria Polícia Militar formaram um cordão de isolamento e os dois grupos, de PT e PSDB, tomaram caminhos distintos.
Em frente ao Teatro Municipal, na Praça Ramos de Azevedo, petistas e tucanos, estes mobilizados por José Serra, se encontraram. Apesar de um natural clima de tensão, seguranças dos partidos e a própria Polícia Militar formaram um cordão de isolamento e os dois grupos, de PT e PSDB, tomaram caminhos distintos.
*osamigosdopresidentelula
Hebe Camargo e o respeito à vida (ou a falta dele)
Dou
aulas de Geografia há 19 anos. Talvez poucos nomes foram tão lembrados
nas minhas aulas quanto o de Hebe Camargo. E tenho certeza de que
jamais disse algo de bom a respeito dela. Muita gente deu risada e, de
vez em quando, alguém não se continha e perguntava: "Mas por que você
não gosta dela?". Para alguns alunos eu dizia as minhas razões. Na
maior parte das vezes respondia com outra pergunta: "Por que deveria
gostar dela?", ou ainda, "Dê-me pelo menos 3 razões para gostar
dela...". Nunca me disseram uma única razão.
Ontem Hebe Camargo morreu e não foram poucos os amigos que me avisaram. Mensagens pelo celular, recados em caixa-postal e mais de 60 notificações no Facebook me obrigaram a dizer qualquer coisa.
A primeira coisa que pensei foi explicar, finalmente, as razões de minha implicância com a falecida. Mas julguei que tão importante quanto isso seria deixar claro que não havia motivo para debochar da sua morte. Quem respeita a vida e luta contra os abusos contra ela não tem o direito de brincar com a morte dos outros. Eventualmente uma piada ou outra acaba saindo, em ambiente privado, descontraído. Publicamente não é bom. E no mundo em que vivemos é preciso cada vez mais separar o que é íntimo, privado, daquilo que pode ser público, aberto.
E eis que aí procuro me diferenciar de Hebe Camargo. A busca pela correção naquilo que tornamos público.
Já disse algumas vezes, para algumas turmas de alunos, que um professor deve ter responsabilidade com aquilo que diz. Brincadeiras à parte, manifestações racistas, preconceituosas ou que preguem qualquer tipo de mal individual ou coletivo, devem ser combatidas, mais do que evitadas. Na minha carreira de professor tive períodos de lecionar, semanalmente, para centenas de alunos. Não tive o direito de pregar ódio. E procurei ser cuidadoso com isso. Sempre, apesar de erros.
Hebe Camargo tinha um alcance maior. Em rede nacional de TV atingia milhões de brasileiros. Era descontraída e tinha uma capacidade de comunicação rara. Reconhecer isso não me traz nenhuma dificuldade. Minha repulsa era justamente o que ela fazia com essa capacidade rara de comunicação.
Quem ler o livro "Autopsia do medo", de Percival de Souza, ficará sabendo de muitas histórias a respeito do maior torturador do regime militar, Sergio Paranhos Fleury. Nele saberá de ao menos uma das relações entre o delegado torturador e Hebe Carmargo.
Fleury se notabilizou pela capacidade de combater opositores do regime militar, em especial os guerrilheiros. Ele era um delegado de péssima reputação na polícia de SP, mas foi útil ao empregar suas "técnicas" para a ditadura. Um promotor público de SP, baixinho e fisicamente frágil, chamado Hélio Bicudo, ousou enfrentar o delegado torturador, assassino e ocultador de cadáveres.
Hélio Bicudo sabia que não podia enquadrar Fleury por crimes de combate a perseguidos políticos. Usou outra estratégia. Resolveu enquadrar o delegado pelos abusos que cometeu ANTES de ser agente da repressão política. Fleury fazia parte de um esquema de assassinatos conhecido como "Esquadrão da Morte", e por ele foi processado e julgado.
A estratégia de Hélio Bicudo foi tão engenhosa que a ditadura não tinha como livrá-lo da cadeia. A solução para a ditadura foi mudar a lei. Inventou que réu primário não precisava necessariamente ser preso. A lei ficou conhecida como "Lei Fleury". Criada para livrar a cara de um delegado torturador.
No processo contra Fleury foram arroladas testemunhas para a sua defesa. Uma delas foi Hebe Camargo. Fleury agenciava policiais que trabalhavam como seguranças para cantores e gente da televisão. Por isso era bem relacionado com gente da TV. A estratégia da sua defesa foi impressionar o tribunal com uma figura conhecida e muito influente.
Muita gente pode ser poupada de críticas pelo que fez ou deixou de fazer durante a ditadura. Hebe Camargo não. Num dos momentos mais tristes da história do nosso país ela escolheu um lado. No caso, o lado de quem não respeitava a vida e a dignidade. E fez isso conscientemente.
No período pós ditadura não me impressionou que Hebe apoiasse Paulo Maluf e atacasse uma figura como Dom Paulo Evaristo Arns. Não foram poucas as vezes em que vi Hebe Camargo protestar contra defensores de direitos humanos.
Também não me causou espanto vê-la no falido movimento "Cansei", aquele que tentou explorar politicamente a dor causada pela queda do avião da TAM. O movimento "Cansei" partiu de uma ação nojenta. Usar a morte e a tristeza para interesses político-eleitorais. Hebe Camargo mais uma vez não respeitou isso.
Num país que valorizasse a vida humana e o respeito ao direito básicos de TODOS, Hebe Camargo não teria público. Não seria proibida de falar as bobagens e as apologias de violência que tanto apreciava. Num país mais civilizado ela simplesmente seria ignorada.
Entendo que uma figura como Hebe Camargo não aparecerá novamente, pela simples razão de que a televisão já não é a mesma. Até poucos anos atrás uma apresentadora de TV tinha um peso muito grande na opinião das pessoas, pois não havia muitas opções. Fico muito feliz hoje em saber que meus alunos ficam mais tempo da internet do que diante da TV. É cada vez menor o número de pessoas que ainda assistem novela e que levam a sério porcarias de programas como os que são apresentados na TV brasileira.
O que lamento nessa história toda é que a saída de Hebe Camargo da TV brasileira se tenha dado apenas por conta da sua morte. O país que desejo para o povo seria capaz de se livrar desse tipo de conduta sem a morte.
O respeito à vida me obriga a continuar lutando e me manifestando nessa direção. O respeito à vida humana que Hebe Camargo jamais demonstrou ter.
Morreu Hebe Camargo e espero que um dia morra esse jeito nefasto e desumano de usar a TV no Brasil. Sérgio de Moraes Paulo
No Assaz Atroz
*comtextolivre
Repórter da Folha relata ameaças depois de denúncia contra a PM
Jornalista
recebeu ameaças após revelar as apologias à violência policial feitas
pelo ex-chefe da Rota e candidato a vereador, comandante Telhada
Após escrever uma matéria sob o título “Ex-chefe da Rota vira político e prega a violência no Facebook”, o jornalista da Folha de S.Paulo
André Caramante passou a receber inúmeras ameaças dos seguidores da
página pessoal do ex-comandante da Rota e também candidato a vereador
pelo PSDB em São Paulo, Adriano Lopes Lucinda Telhada.
Telhada vem usando sua página no Facebook para fazer apologia à
violência policial nas periferias da capital. Como resultado, seus
seguidores têm deixado comentários do tipo: “bandido tem que ir pra
cova” ou então “vamos arrancar o pescoço desses vagabundos”. Uma das
“pérolas” de Telhada diz sem rodeios: “que chore a mãe do bandido,
porque hoje o bote é certo”.
Após Caramante ter feito a reportagem em forma de denúncia, os
seguidores de Telhada – dentre eles muitos policiais – começaram a
ameaçá-lo, através de comentários como “é isso aí Telhada, vamos
combater esses vagabundos” e “esse Caramante é mais um vagabundo.
Coronel, de olho nele”.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
protocolou um documento na terça-feira (17) para a Ouvidoria das
Polícias, a Corregedoria da Polícia Militar (PM) e órgãos públicos
estaduais, além dos diretórios municipal e estadual do PSDB e a
Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República relatando o
problema.
Em um dos trechos do documento, o sindicato solicita às autoridades
resguardar a liberdade de imprensa e a integridade física dos
profissionais da área jornalística. O Sindicato denuncia também a grave
atitude do ex-comandante da Rota de incitar a violência física e moral
contra o repórter através das redes sociais.
Em entrevista ao Brasil de Fato, André Caramante diz que essas
ameaças não atingem somente a ele, mas sim toda a categoria de
profissionais que lutam para levar a verdade até as pessoas.
Brasil de Fato: Por que você optou em trabalhar com esses temas voltados à violência? Você já fazia esses trabalhos antes?
André Caramante: Sim. Eu trabalho aqui no grupo Folha há 12 anos.
Eu já trabalhei em todos os jornais da empresa Folha da Manhã. Comecei
no Notícias Populares, trabalhei no Jornal Agora São Paulo e hoje estou
aqui na Folha. Sempre atuei nessa área de cobertura da questão da
segurança pública.
Os jornalistas, em geral, costumam evitar esses temas. Qual a importância de dar essa visibilidade?
Eu acredito que a sociedade tem o direito de saber, por exemplo, que
essa questão da segurança pública tem que ser tratada de uma maneira
mais séria. As pessoas precisam passar a prestar atenção nisso, não
somente quando a violência atinge alguém da sua família, alguém próximo.
Qual é o maior risco para o jornalista quando faz denúncias contra a polícia como as que você fez?
Não sei ao certo quais são os maiores riscos, mas acredito que o
trabalho pode desagradar algumas pessoas, mas é um trabalho que precisa
ser feito. A gente tem hoje no estado de São Paulo uma guerra entre o
grupo criminoso PCC (Primeiro Comando da Capital) e a polícia, mas no
meio disso tudo a gente acaba se deparando com um alto índice de
letalidade policial, com policiais que também são mortos e, no meio
disso tudo, acontece uma ação e reação de ambos os lados em que as
pessoas vão morrendo. E a morte não é a solução para nada. Acredito que a
polícia eficaz só opta pela morte em últimas circunstâncias, não dá
para achar que isso tem que ser o padrão. Essa sim seria uma polícia de
excelência. Tem muita gente morta por policiais, principalmente
militares, em São Paulo. Ano passado, por exemplo, a gente fez uma
matéria aqui na Folha de S.Paulo que a cada cinco pessoas que foram
mortas na cidade de São Paulo em 2011, uma foi morta por um policial
militar. Então, são números que a gente precisa melhorar. A polícia não
tem o direito de matar, a não ser, claro, no estrito cumprimento do
dever legal. Entre 2005 e 2011, 3.921 pessoas foram mortas por PMs no
estado de São Paulo. Esses são números de guerra.
Sobre o ex-chefe da Rota, o Telhada, você esperava algum tipo de ameaça depois da matéria sobre as postagens dele no Facebook ?
A gente que trabalha nessa área de segurança pública tem os seus poréns,
mas isso é uma questão que o departamento jurídico da Folha de S.Paulo
já está tratando. A solidariedade que eu recebi dos companheiros de
profissão também foi algo muito importante. Não é uma ameaça, não é uma
violência somente contra o jornalista da Folha de S.Paulo, é uma ameaça
contra a imprensa livre. Nós temos leis nesse país de imprensa livre,
então, isso é uma reflexão maior do que um simples fato de um
ex-comandante da Rota ter dito o que ele disse. Existe uma categoria de
profissionais que lutam para levar a verdade até as pessoas. Ele atinge
não só a mim, mas também a todos que trabalham com a informação. Nós
temos o direito de informar as pessoas.
Ele pediu, inclusive, no texto que
publicou no Facebook, para que as pessoas ligassem no jornal denunciando
a sua matéria. Isso de fato aconteceu? Alguém chamou sua atenção por
causa disso?
Ao contrário, o jornal tem me dado apoio e está ao meu lado, isso é
importante. O jornal pede para que eu continue fazendo exatamente o
mesmo trabalho que eu já faço aqui há 12 anos. Isso é a maior resposta
para essa tentativa de mobilização que esse senhor tentou fazer. Meu
trabalho continuará sendo feito da mesma maneira. Hoje, por exemplo, na
cidade de São Paulo a gente teve, infelizmente, a morte de um
publicitário de 39 anos que, segundo alguns policiais militares, furou
uma blitz da PM, fugiu e acabou sendo morto no Alto de Pinheiros, que é
uma região de classe média alta. Então, os fatos por si só têm
demonstrado que essa violência, que essa coisa de atirar para depois
saber quem era a pessoa, está chegando em pessoas que até então não eram
atingidas por essa violência. Isso é para gente refletir bastante.
Qual será seu posicionamento depois das ameaças? Não tem medo de perseguições?
Eu sou repórter há um bom tempo e faço isso para ganhar a vida. Eu não
tenho o porquê mudar, eu não fiz nada de errado, além de noticiar o
fato. Aquilo que aconteceu e que eu escrevi sobre as publicações do
ex-comandante da Rota em sua página pessoal no Facebook, está lá para
todo mundo comprovar e ler. Então, não tem o que mudar em nada.
José Francisco NetoNo Brasil de Fato
*comtextolivre
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