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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
domingo, outubro 14, 2012
sábado, outubro 13, 2012
Jornal critica Serra por se aproximar do conservadorismo evangélico
Em seu editorial de hoje (13), com o título “kit evangélico”, a Folha
criticou o candidato tucano José Serra à prefeitura de São Paulo por ter
se aproximado do conservadorismo evangélico. Observou que a imagem de
Serra “já foi mais associada a valores liberais”.
“Sua atual peregrinação por templos e a aceitação graciosa de apoiadores que flertam com a intolerância indicam um caminho sem volta”, afirmou o jornal.
A Folha aponta como um desses apoiadores o pastor Silas Malafaia, que “defende com o espírito de cruzados medievais a candidatura de Serra”.
Malafaia tem dado a apoio a Serra, com a gravação inclusive de vídeos, porque o adversário do tucano, o petista Fernando Haddad, foi o mentor do chamado kit gay, um projeto abortado pelo Ministério da Educação por pressão de religiosos. Para o jornal, contudo, o duvidoso kit gay não tem nenhuma importância para a administração pública.
“O ‘kit gay’, por qualquer ângulo que se olhe, é assunto de somenos na política pública federal. Que dirá na municipal, em que os destinos da ocupação do solo, do transporte, da assistência à saúde e do ensino assumem peso avassalador na lista de prioridades.”
O jornal disse que religiosos têm emprestado seu apoio a candidatos com o propósito de obter um “kit evangélico”, que consiste, entre outros interesses, do tratamento diferenciado aos templos, de modo “que possam ultrapassar os níveis de ruído exigidos de outros estabelecimentos e fixar-se onde e como queiram, a despeito das normas urbanísticas”.
Íntegra do editoral
A imagem do candidato tucano José Serra já foi mais associada a valores liberais, cultivados por grupos tanto à esquerda quanto à direita do espectro partidário.
Tais valores informam que preferências sexuais e religiosas são assunto da órbita privada; ao homem público caberia manter equidistância de lobbies que, na defesa legítima de seus interesses, acabam por conferir relevo exagerado a temas da esfera íntima.
Na corrida presidencial de 2010, ao explorar contradição da petista Dilma Rousseff -que se dizia favorável à descriminalização do aborto, mas recuou na campanha de maneira oportunista-, Serra já havia selado uma aliança com o conservadorismo evangélico. Sua atual peregrinação por templos e a aceitação graciosa de apoiadores que flertam com a intolerância indicam um caminho sem volta.
Tal rota pode render-lhe resultado nas urnas, sem dúvida. Pesquisas, como a realizada pelo Datafolha em setembro, indicam que convicções conservadoras são partilhadas por amplos setores da sociedade paulistana. Mas não há como comer do bolo conservador e, ao mesmo tempo, passar-se por liderança moderna, arejada.
Daí um certo cansaço, misturado a frustração, que se nota nos círculos mais liberais. Tanto mais quando um pastor, Silas Malafaia, defende com o espírito de cruzados medievais a candidatura de Serra. "Vou arrebentar em cima do Haddad", jactou-se o líder religioso.
O pretexto é o famigerado "kit gay", tentativa desastrada do então ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), de produzir um material -de formulação discutível- contra intolerância sexual nas escolas. Como já se tornou hábito no petismo, após o estrago e a grita dos religiosos, recuou-se completamente, e o próprio Haddad tentou desvencilhar-se da proposta.
O "kit gay", por qualquer ângulo que se olhe, é assunto de somenos na política pública federal. Que dirá na municipal, em que os destinos da ocupação do solo, do transporte, da assistência à saúde e do ensino assumem peso avassalador na lista de prioridades.
Ocupação do solo, aliás, integra o "kit evangélico" real, a agenda de interesses que religiosos apresentam aos candidatos. Desejam tratamento diferenciado para os templos -a fim de que possam ultrapassar os níveis de ruído exigidos de outros estabelecimentos e fixar-se onde e como queiram, a despeito das normas urbanísticas.
É preocupante a atitude amistosa de Serra com esses lobbies, bem como a disposição de Haddad de também acomodar-se a eles.
Malafaia diz que vai ‘arrebentar’ candidatura do petista do ‘kit gay’.
outubro de 2012
Religião na política.
“Sua atual peregrinação por templos e a aceitação graciosa de apoiadores que flertam com a intolerância indicam um caminho sem volta”, afirmou o jornal.
A Folha aponta como um desses apoiadores o pastor Silas Malafaia, que “defende com o espírito de cruzados medievais a candidatura de Serra”.
Malafaia tem dado a apoio a Serra, com a gravação inclusive de vídeos, porque o adversário do tucano, o petista Fernando Haddad, foi o mentor do chamado kit gay, um projeto abortado pelo Ministério da Educação por pressão de religiosos. Para o jornal, contudo, o duvidoso kit gay não tem nenhuma importância para a administração pública.
“O ‘kit gay’, por qualquer ângulo que se olhe, é assunto de somenos na política pública federal. Que dirá na municipal, em que os destinos da ocupação do solo, do transporte, da assistência à saúde e do ensino assumem peso avassalador na lista de prioridades.”
O jornal disse que religiosos têm emprestado seu apoio a candidatos com o propósito de obter um “kit evangélico”, que consiste, entre outros interesses, do tratamento diferenciado aos templos, de modo “que possam ultrapassar os níveis de ruído exigidos de outros estabelecimentos e fixar-se onde e como queiram, a despeito das normas urbanísticas”.
Íntegra do editoral
A imagem do candidato tucano José Serra já foi mais associada a valores liberais, cultivados por grupos tanto à esquerda quanto à direita do espectro partidário.
Tais valores informam que preferências sexuais e religiosas são assunto da órbita privada; ao homem público caberia manter equidistância de lobbies que, na defesa legítima de seus interesses, acabam por conferir relevo exagerado a temas da esfera íntima.
Na corrida presidencial de 2010, ao explorar contradição da petista Dilma Rousseff -que se dizia favorável à descriminalização do aborto, mas recuou na campanha de maneira oportunista-, Serra já havia selado uma aliança com o conservadorismo evangélico. Sua atual peregrinação por templos e a aceitação graciosa de apoiadores que flertam com a intolerância indicam um caminho sem volta.
Tal rota pode render-lhe resultado nas urnas, sem dúvida. Pesquisas, como a realizada pelo Datafolha em setembro, indicam que convicções conservadoras são partilhadas por amplos setores da sociedade paulistana. Mas não há como comer do bolo conservador e, ao mesmo tempo, passar-se por liderança moderna, arejada.
Daí um certo cansaço, misturado a frustração, que se nota nos círculos mais liberais. Tanto mais quando um pastor, Silas Malafaia, defende com o espírito de cruzados medievais a candidatura de Serra. "Vou arrebentar em cima do Haddad", jactou-se o líder religioso.
O pretexto é o famigerado "kit gay", tentativa desastrada do então ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), de produzir um material -de formulação discutível- contra intolerância sexual nas escolas. Como já se tornou hábito no petismo, após o estrago e a grita dos religiosos, recuou-se completamente, e o próprio Haddad tentou desvencilhar-se da proposta.
O "kit gay", por qualquer ângulo que se olhe, é assunto de somenos na política pública federal. Que dirá na municipal, em que os destinos da ocupação do solo, do transporte, da assistência à saúde e do ensino assumem peso avassalador na lista de prioridades.
Ocupação do solo, aliás, integra o "kit evangélico" real, a agenda de interesses que religiosos apresentam aos candidatos. Desejam tratamento diferenciado para os templos -a fim de que possam ultrapassar os níveis de ruído exigidos de outros estabelecimentos e fixar-se onde e como queiram, a despeito das normas urbanísticas.
É preocupante a atitude amistosa de Serra com esses lobbies, bem como a disposição de Haddad de também acomodar-se a eles.
outubro de 2012
Religião na política.
Leia mais em http://www.paulopes.com.br/#ixzz29DFqSvgM
Paulopes
A tropa de choque de José Serra
Por Saul Leblon, no sítio Carta Maior:
Os primeiros passos de Serra na largada do segundo turno em São Paulo
ilustram o ponto a que está disposto chegar para reverter o prenúncio da
derrota que nem o Datafolha dissimula mais.
O tucano reuniu-se nesta 3ª feira com um interlocutor cirurgicamente
escolhido para reforçar a musculatura do vale tudo na disputa: o pastor
radialista, Silas Malafaia, que veio diretamente do Rio de Janeiro
apresentar armas à campanha. Acompanhado do pastor Jabes Alencar, do
Conselho de Pastores de São Paulo, teve um encontro fechado com Serra.
O pacto do além com o aquém foi festejado em manchete do caderno de
política da 'Folha de SP'. Assim: "Líder evangélico diz que vai
'arrebentar' candidato petista -- Silas Malafaia afirma que Haddad apoia
ativistas gay".
O título em 3 linhas de 3 colunas, ladeado de um foto imensa de Serra
(meia pág. em 3 colunas), empunhando uma criança adestrada em fazer o
'45', inspira calafrios.
Deliberadamente ou não, o conjunto ilustra um conceito de harmonia que
envolve arrebentar a tolerância, de um lado, para preservar a pureza, de
outro. Concepções assemelhadas levaram o mundo a um holocausto eugênico
de consequências conhecidas.
A hostilidade beligerante de Serra em relação a adversários --inclusive
os do próprio partido-- incorporou definitivamente uma extensão
regressiva representada pela restauração do filtro religioso na
política. Como recurso de caça ao voto popular, que escapa maciçamente
ao programa do PSDB --liquefeito na desordem neoliberal--, é mais uma
modernidade que devemos ao iluminismo dos intelectuais de Higienópolis.
O pastor Malafaia foi importado do Rio de Janeiro exatamente com essa
finalidade. Veio dizer aos fiéis de São Paulo em quem votar e a quem
amaldiçoar. Os critérios escapam aos valores laicos da independência
democrática em relação às convicções religiosas. Mas isso não importa à
ética de vernissage de certa inteligência paulista. Faz tempo que em
certos círculos incorporou-se a licença do vale-tudo para vencer o PT, a
quem se acusa de sepultar os princípios éticos de esquerda...
Serra aperfeiçoa, não inova na promoção do eclipse das consciências e
dos valores laicos que sustentam a convivência compartilhada.
Na campanha presidencial de 2010, a água benta da sua candidatura foi o
carimbo de 'aborteira' espetado contra Dilma Rousseff. A esposa do
tucano, culta bailarina Mônica Serra, pregava nas ruas da Baixada
Fluminense, como uma mascate da intolerância: 'Ela (Dilma) é a favor de
matar as criancinhas'.
Não era uma voz no deserto. Recorde-se que Dom Bergonzini, um bispo de
extrema direita, da zona sul de São Paulo, já falecido, encomendou então
20 milhões de panfletos com o mesmo calibre.
Os impressos falseavam a chancela da Igreja católica para atacar,
caluniar e desencorajar o voto na candidata da esquerda nas eleições
presidenciais.
Um lote do material foi descoberto na gráfica da irmã do coordenador de campanha de Serra.
A imprensa sem escrúpulos teve então, curiosamente, todo o escrúpulo,
omitindo-se de perguntar: - De onde veio o dinheiro, Dom Bergonzini?
Tampouco se cogitou indagar se o bispo e os donos da gráfica tinham
contato com outro personagem sombrio da campanha tucana, Paulo Preto -
que o candidato da hipocrisia conservadora chamava de 'Paulo
afro-descendente'.
Apontado como o caixa 2 da campanha, Paulo, fixemos assim, teria
desviado R$ 4 milhões em doações para proveito próprio. Mas
compartilhava segredos protegidos por recados ameaçadores: - 'Não se
abandona um líder no meio do caminho'. A senha era enfática o suficiente
para obrigar Serra a interromper a campanha e convocar os jornais,
declarando-o um cidadão acima de qualquer suspeita.
A transformação do eleitor em rebanho, a manipulação do discernimento
político pela mídia e o retorno das togas a uma simbiose desfrutável
pelo estamento conservador, configuram hoje os requisito de uma
sociedade capaz de dar a vitória a Serra neste 2º turno.
Não se trata de uma denúncia. São os ingredientes mobilizados pelo
candidato tucano que arredonda assim a biografia com um toque de Tea
Party tropical. O pacto da intolerância selado com o eloquente bispo
Malafaia ilustra a travessia edificante de um quadro originalmente tido
como o zangão desenvolvimentista da colméia neoliberal.
A intelectualidade iluminista que ainda apoia José Serra tem condições
de enxergar essa marcha batida que empurra São Paulo para um Termidor de
malafaias.
A intelectualidade iluminista tem, sobretudo, a co- responsabilidade nos
desdobramentos dessa distopia obscurantista que a candidatura tucana
enseja, agrega, patrocina e encoraja. A tentativa algo desesperada de
evitar a derrota desenhada em São Paulo tem um preço --os intelectuais
honestos que orbitam em torno do PSDB vão rachar a conta? A ver.
Amor em visita
por Herberto Helder
Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.
(...)
(In: O corpo o luxo a obra, São Paulo: Iluminuras, 2009, p. 17)
Em sua cavalgada insana, Serra tem tudo para se tornar o homem mais amplamente detestado da história política nacional.
O que Serra fez, concretamente, por São Paulo?
Por Marco Antonio L.
O que Serra fez, concretamente, por São Paulo?
Paulo Nogueira, No Diario do Centro do Mundo
Veja os dramas paulistanos, das enchentes às favelas, e procure a mão do ‘grande administrador”
Serra, atrás das pesquisas, é capaz de qualquer coisa. Ele já está nos livros de história como protagonista do espetacular atentado da bolinha de papel. Em seu arrastão do vale-tudo, Serra conseguiu o apoio na marotagem cínica de sua mulher, Monica. Quem não se lembra de Monica dizendo a eleitores simples que Dilma era a favor de matar criancinhas? Monica fez aborto na vida, soube-se depois, mas ela fingiu que defender o aborto era defender a morte de criancinhas.
Sabemos todos no que deram todos os truques sujos.
Agora Serra, que como era de esperar está vários pontos abaixo de Haddad por causa de seu enorme índice de rejeição, volta ao jogo baixo. Associa Haddad a um Dirceu demonizado de uma forma absurda, despropositada e obtusa.
A quem Serra espera que vai convencer com isso? Só se comoverão com seu desvario aqueles que jamais votariam em Haddad ou em qualquer pessoa ligada a Lula ou ao PT. Converter convertidos é uma das maiores asneiras que você pode cometer: se cansa sem resultado nenhum. Aos demais, a desonestidade intelectual afugenta em vez de conquistar.
Serra deveria mostrar o que fez por São Paulo quando governador e prefeito. Não é um homem preparadíssimo?
Façamos o abc dos dramas urbanos paulistanos.
a) A quantidade inaceitável de favelas e favelados;
b) A vulnerabilidade patética da cidade a chuvas fortes;
c) O trânsito caótico, fruto de um transporte público cheio de falhas.
O que Serra fez, concretamente, para melhorar – não estamos falando eliminar — tudo aquilo? A resposta esta em algum ponto entre o nada e o abaixo do esperado.
Na falta de realizações, e também de argumentos, Serra se desconecta dos limites da ética e do pudor.
O que impressiona, sendo ele presumivelmente um homem brilhante, é Serra não perceber que o tipo de comportamento em que se especializou nas últimas campanhas apenas aumenta o exército dos que o rejeitam.
Em sua cavalgada insana, Serra tem tudo para se tornar o homem mais amplamente detestado da história política nacional.
*Nassif
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