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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
terça-feira, novembro 13, 2012
A guerra em São Paulo
Via CartaMaior
Nessa
guerra os que morrem são sempre os mais pobres, e não beligerantes
diretos. Raramente um oficial é executado por bandidos. Em algumas vezes
são soldados desprotegidos, alvejados quando chegam do trabalho. Da
mesma forma, não são os capitães do PCC e de outras organizações
semelhantes os mortos.
Mauro Santayana
Falta
identificar as forças beligerantes na guerra que se trava em São Paulo,
com baixas diárias que se aproximam das registradas em conflitos
internacionais. Aparentemente – e convém desconfiar das aparências – o
confronto se dá entre os bandidos e a polícia. Os bandidos, na versão
oficiosa, vingam-se da sociedade que os confina ao “executar” policiais
militares em emboscadas. Há, no entanto, a denúncia de que os policiais
militares estão assassinando pequenos bandidos, mas também pessoas
trabalhadoras, a fim de atemorizar as organizações criminosas dos
presídios.
Não há policiais perfeitos, a não
ser na ficção, mas sem dúvida a Polícia Militar, pela sua natureza, é
muito mais violenta do que as corporações civis. O uniforme, os
aquartelamentos, as formações e os treinamentos – semelhantes aos que se
submetem as forças armadas destinadas à hipótese da guerra contra os
inimigos externos – condicionam esses homens ao ato de matar sem a
inibição do sentimento de culpa. Isso não inocenta os policiais civis,
muitos deles tão violentos ou ainda mais violentos do que os
uniformizados.
Organizações brasileiras
denunciaram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em
Washington, que só em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre 2003 e 2009
(não há estatística mais recente), a polícia matou 11.000 pessoas – mais
de vinte vezes as baixas das tropas brasileiras em combate na Itália.
Na quase totalidade dos casos, os próprios matadores redigem um “auto de
resistência”, embora nunca possam provar que os mortos tiveram a
iniciativa do tiroteio.
Isso, apenas nas duas
capitais brasileiras mais populosas. No interior do país, a situação é
semelhante. Ainda agora, acabam de ser identificadas três milícias em
João Pessoa, compostas de policiais militares e civis, acusadas de
constituir um grupo de extermínio, de oferecer proteção a homens de
negócios e de extorquir os traficantes de drogas na Paraíba. Foram
presos 56 suspeitos, entre eles soldados e oficiais da PM, além de
carcereiros e policiais civis. A operação foi realizada por 400 agentes
da Polícia Federal, com o apoio das autoridades estaduais, e sob mandato
judicial.
Nessa guerra os que morrem são
sempre os mais pobres, e não beligerantes diretos. Raramente um oficial é
executado por bandidos. Em algumas vezes são soldados desprotegidos,
alvejados quando chegam do trabalho.
Da mesma forma, não são os capitães do PCC e de outras organizações
semelhantes os mortos, mas delinqüentes menores ou apenas trabalhadores
inocentes, como parecem ser os últimos fuzilados em São Paulo por um
soldado que passeava com a sua família e alegou haver respondido à
ameaça dos mortos. Testemunhas afirmam que se tratou apenas de uma
disputa de trânsito – as vítimas teriam “fechado” o carro do policial.
Por terem assim agido, de acordo com as testemunhas, os rapazes foram
fuzilados pelo militar.
Quando alguém
importante é vítima de um criminoso comum, a sociedade se mobiliza.
Quando os mortos são trabalhadores das favelas – ou pequenos criminosos
levados ao tráfico pela falta de educação, de estrutura familiar sadia, e
de empregos normais – a reação é quase nenhuma. Aqui e ali se
manifestam alguns altruístas, e, pouco depois, as execuções deixam de
ser notícia.
Quando houve, há seis anos, uma
insurreição aberta de bandidos em São Paulo, o então governador Cláudio
Lembo colocou o dedo na ferida, ao culpar pela calamidade “a elite
branca e perversa” de seu estado. É certo que a desigualdade social não é
a única responsável pela violência urbana -a cultura da violência,
importada dos EUA pela televisão, tenha muito dessa culpa- nem pelos
crimes brutais que conhecemos. Bandidos há em todas as classes e,
provavelmente, os mais cruéis sejam os mais dissimulados, como os que
atuam em Wall Street.
Onde há mais justiça social há menos medo nas ruas.
Mauro
Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi
correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima
Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre
eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e
correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.
*GilsonSampaio
Terrorismo nazi-sionista: Israel destrói mais 100 oliveiras palestinas
Sanguessugado do Bourdoukan
Sem dó nem piedade, israel continua com sua política de acabar com as oliveiras palestinas
Não tem jeito mesmo.
Não meus prezados leitores.
Não se trata de matéria velha ou requentada.
Nada disso.
É que mais uma vez são as oliveiras palestinas a pagar pelos desmandos dos governantes de Israel.
Desta vez foram mais de 100 oliveiras despedaçadas da aldeia de Al Sawia, ao sul de Nablus.
É impressionante como os dirigentes de Israel odeiam o verde.
Chega a ser patológico.
Hassan Daglas, chefe da administração local está revoltado.
Já não sabe mais o que fazer para defender as oliveiras.
É importante ressaltar que as oliveiras são a razão de ser de mais de 80 mil famílias palestinas da região.
Todos os dias precisam fazer cordões humanos para evitar a destruição das oliveiras.
De nada adianta reclamar junto as autoridades israelenses.
Mais uma vez o blog pergunta: onde estão as ONGs de defesa da natureza?
Onde está a WWF?
Onde está o Greenpeace?
*GilsonSampaio
JOAQUIM BARBOSA E O ESCÁRNIO EM PARCERIA COM A IMPRENSA
Relator do mensalão diz que condenados não terão direito à cela especial.
Lamentável a atitude do Relator Joaquim Barbosa, de rir, tripudiar e humilhar os RÉUS da Ação PENAL 470.
Lamentável os "cacos" que sua Excelência insere em meio a leitura de seus votos, descambando para o deboche.
Vergonhosa a conduta de se fazer porta voz do "PIG" ao reclamar de "demora" no andamento do julgamento, e afrontosa a tática de jogar para a platéia, inclusive se rebelando contra a opinião de outros ministros, passando a ideia de que alguns ali não desejam ser tão "JUSTOS" quanto ele.
Agora, sua excelência "coloca o carro na frente dos bois" e vem falar do tipo de Cela que os Réus terão de cumprir suas penas.
O RELATOR fala como se o processo de julgamento já estivesse terminado, e fala de uma forma que transforma todos os demais ministros em BONECOS submetidos a sua IMPERIAL VONTADE.
Sempre tive pelo Ministro Joaquim Barbosa a maior admiração, e não é pelo fato de condenar e pedir para condenar integrantes do PT que essa admiração acabou, e sim pela forma como tudo está sendo conduzido.
Vejo que não o conhecia bem.
Os holofotes e a transmissão ao Vivo do julgamento do mensalão, revelaram um homem prepotente, arrogante, cruel.
Alguém que não tem cuidados em não pisar quem está ao seu redor.
Não cai bem essa parceria de um futuro presidente do STF com o PIG, a fazer do escárnio via declarações inoportunas e precipitadas, conduta que não honra a magistratura do Brasil.
do BLOG DO SARAIVA
Lamentável a atitude do Relator Joaquim Barbosa, de rir, tripudiar e humilhar os RÉUS da Ação PENAL 470.
Lamentável os "cacos" que sua Excelência insere em meio a leitura de seus votos, descambando para o deboche.
Vergonhosa a conduta de se fazer porta voz do "PIG" ao reclamar de "demora" no andamento do julgamento, e afrontosa a tática de jogar para a platéia, inclusive se rebelando contra a opinião de outros ministros, passando a ideia de que alguns ali não desejam ser tão "JUSTOS" quanto ele.
Agora, sua excelência "coloca o carro na frente dos bois" e vem falar do tipo de Cela que os Réus terão de cumprir suas penas.
O RELATOR fala como se o processo de julgamento já estivesse terminado, e fala de uma forma que transforma todos os demais ministros em BONECOS submetidos a sua IMPERIAL VONTADE.
Sempre tive pelo Ministro Joaquim Barbosa a maior admiração, e não é pelo fato de condenar e pedir para condenar integrantes do PT que essa admiração acabou, e sim pela forma como tudo está sendo conduzido.
Vejo que não o conhecia bem.
Os holofotes e a transmissão ao Vivo do julgamento do mensalão, revelaram um homem prepotente, arrogante, cruel.
Alguém que não tem cuidados em não pisar quem está ao seu redor.
Não cai bem essa parceria de um futuro presidente do STF com o PIG, a fazer do escárnio via declarações inoportunas e precipitadas, conduta que não honra a magistratura do Brasil.
do BLOG DO SARAIVA
POR ZECA DIRCEU*
José Dirceu, uma das figuras públicas mais conhecidas do país, foi e é um excelente pai. É um ótimo amigo da minha mãe Clara e sempre foi exemplo para mim.
Nossa relação é de amor, amizade e cumplicidade.
Ainda adolescente, quando tive vontade de trabalhar, ele me incentivou a vender sorvete e maçã do amor.
Depois, tornei-me empresário e pude contar com ele.
Ingressei na política e meu pai esteve ao meu lado. Fui prefeito de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, por dois mandatos e hoje sou deputado federal.
Recebi apoio, carinho e compreensão dele em tudo o que me propus a fazer. Amo muito o meu pai. Tenho orgulho dele. Da coragem na juventude, saindo aos 16 anos de Passa Quatro, em Minas Gerais, para São Paulo.
Admiro a luta dele e de muitos outros jovens contra a ditadura, o seu papel na redemocratização do país, o seu engajamento no movimento Diretas-Já.
Inspira-me seu trabalho de construção, organização e modernização do Partido dos Trabalhadores, levando Lula e Dilma Rousseff a três mandatos presidenciais reconhecidos por índices recordes de aprovação pelos brasileiros.
São governos que transformaram o Brasil, num movimento inédito de distribuição de renda e inclusão social que melhorou muito a vida dos que mais precisam da política e do governo.
Obviamente não me sinto bem vendo meu pai condenado. O que tem me tranquilizado é perceber que a grande maioria do povo brasileiro sente o que eu sinto: que esse veredito do STF (Supremo Tribunal Federal) é a maior injustiça já cometida contra um líder político no Brasil.
Um dos sinais disso é que, apesar de toda a publicidade negativa produzida pelo julgamento, o PT, mais uma vez, foi o partido mais votado no primeiro turno das últimas eleições municipais, com 17 milhões de votos.
Tenho recebido mensagens de apoio e solidariedade, vindas desde o mais simples cidadão, que pude encontrar nas mais de 200 cidades paranaenses que visitei durante esta campanha eleitoral, até as mais importantes autoridades, que encontro no dia a dia de Brasília.
A injustiça não é só contra meu pai, é contra a política.
Contra o Brasil, contra o Estado Democrático de Direito.
Principalmente pelos dois pesos e duas medidas que a imprensa e o STF adotam.
O “mensalão” do PSDB é mais antigo, mas não há a mesma pressa nem os atropelos para o julgamento, como foi feito com a ação 470.
O que eu desejo é que esses erros sejam corrigidos no futuro.
Que cidadãos comuns e políticos não sejam condenados sem provas, apenas porque “parecem ser culpados”, ou porque “não tinham como não saber do crime”.
A certeza que carrego comigo é a mesma que minha família e minha avó, dona Olga, hoje com 91 anos, tinham na década de 60, quando meu pai foi preso pela ditadura: será muito difícil.
Muitos não compreenderão isso neste primeiro momento. Mas os anos vão passar. Deus dará saúde ao meu pai e, mesmo que seja após muitos anos, como foi na ditadura, ele, o Zé dos petistas, vai dar a volta por cima.
Sua luta por um Brasil melhor continua, com Lula e com Dilma, de mãos dadas com a ampla maioria do povo brasileiro -um povo de bem, que não se deixa enganar nem pela mídia nem pelos equívocos históricos de um tribunal que julga sob pressão.
Força, pai, para mais uma batalha!
*Zeca Dirceu é deputado federal (PT-PR)
Fonte: PT na Câmara Postado
por BLOG DE UM SEM-MÍDIA
Senhores do STF: onde estavam na ditadura?
O STF faz o Brasil se sentir constrangido pelo seu Judiciário, pela não observância da Lei Penal e da Jurisprudência consolidada da Corte, pelo exibicionismodos juízes que o compõem.
Um país em que ainda sobrevivem tantos vestígios da ditadura – o período mais brutal da sua história – deveria ter um STF cujos membros deveriam ter tido notável atuação na luta contra a ditadura, que tivesse tido a coragem de jogar sua vida na luta pela democracia
Nada disso acontece. Os brasileiros não tem conhecimento de onde estavam esses senhores quando os melhores brasileiros jogavam o melhor que tinham contra a ditadura e pela democracia.
Esses senhores acham que, se por acaso José Dirceu e Genoino quisessem fugir, teriam necessidade de passaporte?
Esses senhores que envergonham o Brasil confirma que não tem ideia do que é a luta clandestina contra a ditadura.
Certamente viviam suas vidas, enquanto outros se jogavam contra o arbítrio, contra o Estado de terror que prendia,torturava, assassinava a tantos brasileiros.
Podem ficar com os passaportes, senhores juízes do STF, o que nao podem tirar é a dignidade de quem lutou contra a ditadura enquanto os senhores gozavam das suas vidas nos seus trabalhos profissionais, no recôndito das suas famílias, do seu conforto familiar, guardando a dignidade que tivessem nos cofres bancários.
Podem tomar lições dos que lutaram contra a ditadura com a Presidenta Dilma, basta rever a resposta dela para o prócer da ditadura, Agripino Maia, no Congresso.
Aí poderão aprender um pouco o que é dignidade, aprender como não é com passaportes que se defende a democracia, que se luta contra os que foram coniventes com a ditadura, por ação ou por omissão.
Fiquem com os passaportes.
A dignidade dos que lutaram contra a ditadura, ninguém tira nem tirará jamais.
Postado por Emir Sader
do blog OLHOS DO SERTÃO
*cutucandodeleve
Zumbi Vive!
Em 20 de novembro de 1695, Nzumbi dos Palmares caía lutando
em mata perdida do sul da capitania de Pernambuco. Seu esconderijo fora
revelado por lugar-tenente preso e barbaramente torturado. Mutilaram seu
corpo. Enfiaram seu sexo na boca. Expuseram a cabeça do palmarino na
ponta de uma lança em Recife. Os trabalhadores escravizados e todos os
oprimidos deviam saber a sorte dos que se levantavam contra os senhores
das riquezas e do poder.
***
Em 1654, com a expulsão dos holandeses do Nordeste, os lusitanos
lançaram expedições para repovoar os engenhos com os cativos fugidos ou
nascidos nos quilombos da capitania. Para defenderem-se, as aldeias
quilombolas confederaram-se sob a chefia política do Ngola e militar do Nzumbi. A dificuldade dos portugueses de pronunciar o encontro consonantal abastardou os étimos angolanos nzumbi em zumbi, nganga nzumba, em ganga zumba. A confederação teria uns seis mil habitantes, população significativa para a época.
Em novembro de 1578, em Recife, Nganga Nzumba rompeu a
unidade quilombola e aceitou a anistia oferecida apenas aos nascidos nos
quilombos, em troca do abandono dos Palmares e da vil entrega dos
cativos ali refugiados ou que se refugiassem nas suas novas aldeias.
Acreditando nos escravizadores, Ganga Zumba deu as costas aos irmãos
de opressão e aceitou as miseráveis facilidades para alguns poucos.
Abandonou as alturas dos Palmares pelos baixios de Cucuá, a 32
quilômetros de Serinhaém. Foi seduzido por lugar ao sol no mundo dos
opressores, pelas migalhas das mesas dos algozes.
Então, Nzumbi assumiu o comando político-militar da confederação.
Para ele, não havia cotas para a liberdade ou privilegiados no seio
da opressão! Exigia e lutava altaneiro pelo direito para todos!
Não temos certeza sobre o nome próprio do último nzumbi que chefiou a confederação após a defecção de Nganga Nzumba. Documentos e a tradição oral registram-no como Nzumbi Sweca.
***
Nos derradeiros ataques aos Palmares, as armas de fogo e a capacidade
dos escravistas de deslocar e abastecer rapidamente os soldados
registravam o maior nível de desenvolvimento das forças produtivas
materiais do escravismo, apoiadas na superexploração dos trabalhadores
feitorizados. As tropas luso-brasileiras eram a ponta de lança nas matas
palmarinas da divisão mundial do trabalho de então.
Não havia possibilidade de coexistência pacífica entre escravidão e
liberdade. Palmares era república de produtores livres, nascida no seio
de despótica sociedade escravista, que surge hoje nas obras da
historiografia apologética como um quase paraíso perdido, onde a paz, a transigência e a negociação habitavam as senzalas. Palmares era exemplo e atração permanentes aos oprimidos que corroíam o câncer da escravidão.
Como já lembraram, nos anos 1950, o historiador
marxista-revolucionário francês Benjamin Pérret e o piauiense comunista
Clóvis Moura, a confederação dos Palmares venceria apenas se espraiasse a
rebelião aos escravizados dos engenhos, roças e aglomeração do
Nordeste, o que era então materialmente impossível.
Palmares não foi, porém, luta utópica e inconsequente. Por longas
décadas, pela força das armas e a velocidade dos pés, assegurou para
milhares de homens e mulheres a materialização do sonho de viver em
liberdade de seu próprio trabalho. Indígenas, homens livres pobres,
refugiados políticos eram aceitos nos Palmares. Eram braços para o
trabalho e para a resistência.
A proposta da retomada da escravidão colonial em Palmares, com Zumbi
com um “séquito de escravos para uso próprio”, é lixo historiográfico
sem qualquer base documental, impugnado pela própria necessidade de
consenso dos palmarinos contra os escravizadores. Trata-se de esforço
ideológico de sicofantas historiográficos para naturalizar a opressão do
homem pelo homem, propondo-a como própria a todas e quaisquer situações
históricas.
Palmares garantiu que milhares de homens e mulheres nascessem,
vivessem e morressem livres. Ao contrário, em poucos anos, os seguidores
de Ganga Zumba foram reprimidos, reescravizados ou retornaram fugidos
aos Palmares, encerrando-se rápida e tristemente a traição que dividiu e
fragilizou a resistência quilombola.
A paliçada do quilombo do Macaco foi a derradeira tentativa de
resistência estática palmarina, quando a resistência esmorecia. Ela foi
devassada em fevereiro de 1694, por poderoso exército, formado por
brancos, mamelucos, nativos e negros, entre eles, o célebre Terço dos
Enriques, formado por soldados e oficiais africanos e afro-descendentes.
Não havia e não há consenso racial e étnico entre oprimidos e
opressores.
O último reduto palmarino, defendido por fossos, trincheiras e paliçada, encontrava-se nos cimos de uma altaneira serra.
***
A serra da Barriga e regiões próximas, na Zona da Mata alagoana, com
densa vegetação, são paragens de beleza única. Quem se aproxima da
serra, chegado do litoral, maravilha-se com o espetáculo natural.
O maciço montanhoso rompe abruptamente, diante dos olhos, no
horizonte, como fortaleza natural expugnável, dominando as terras
baixas, cobertas pelo mar verde dos canaviais flutuando ao lufar do
vento.
Se apurarmos o ouvido, escutaremos os atabaques chamando às armas,
anunciando a chegada dos negreiros malditos. Sentiremos a reverberação
dos tam-tans lançados do fundo da história, lembrando às
multidões que labutam, hoje, longuíssimas horas ao dia, não raro até a
morte por exaustão, por alguns punhados de reais, nos verdes canaviais
dessas terras que já foram livres, que a luta continua, apesar da já
longínqua morte do general negro de homens livres.
Mario Maestri é professor do programa de pós-graduação em História da UPF.
E-mail: maestri(0)via-rs.net
*Turquinho
|
Condenação de José Dirceu, julgamento político e midiático, injustiça bárbara que precisa ser desfeita por cortes internacionais
Condenado sem domínio nem fato
por Paulo Moreira Leite
O futuro dirá o que aconteceu hoje, no Supremo Tribunal Federal.
O primeiro cidadão brasileiro condenado por corrupção ativa num processo
de repercussão nacional se chama José Dirceu de Oliveira.
Foi líder estudantil em 1968, combateu a ditadura militar, teve um papel
importante na organização da campanha pelas diretas-já e foi um dos
construtores do PT, partido que em 2010 conseguiu um terceiro mandato
consecutivo para governar o país.
Pela decisão, irá cumprir um sexto da pena em regime fechado, em cela de presos comuns.
O sigilo fiscal e bancário de Dirceu foi quebrado várias vezes. Nada se encontrou de irregular, nem de suspeito.
Ficará numa cela em companhia de assaltantes, ladrões, traficantes de drogas.
Vamos raciocinar como cidadãos. Ninguém pode fazer o que quer só porque tem uma boa biografia.
Para entender o que aconteceu, vamos ouvir o que diz Claus Roxin, um dos
criadores da teoria do domínio do fato – aquela que foi empregada pelo
STF para condenar Dirceu. A Folha publicou, ontem, uma entrevista de
Cristina Grillo e Denise Menchen com Roxin.
Os trechos mais importantes você pode ler aqui:
É possível usar a teoria para fundamentar a condenação de um acusado
supondo sua participação apenas pelo fato de sua posição hierárquica?
Não, em absoluto. A pessoa que ocupa a posição no topo de uma
organização tem também que ter comandado esse fato, emitido uma ordem.
Isso seria um mau uso.
O dever de conhecer os atos de um subordinado não implica em co-responsabilidade?
A posição hierárquica não fundamenta, sob nenhuma circunstância, o
domínio do fato. O mero ter que saber não basta. Essa construção ["dever
de saber"] é do direito anglo-saxão e não a considero correta. No caso
do Fujimori (Alberto Fujimori, presidente do Peru, condenado por tortura
e execução de presos políticos ) por exemplo, foi importante ter provas
de que ele controlou os sequestros e homicídios realizados.
A opinião pública pede punições severas no mensalão. A pressão da opinião pública pode influenciar o juiz?
Na Alemanha temos o mesmo problema. É interessante saber que aqui também
há o clamor por condenações severas, mesmo sem provas suficientes. O
problema é que isso não corresponde ao direito. O juiz não tem que ficar
ao lado da opinião pública.
*********
Acho que não é preciso dizer muito mais, concorda?
Não há, no inquérito da Polícia Federal, nenhuma prova contra Dirceu.
Roberto Jefferson acusou Dirceu na CPI, na entrevista para a Folha, na
Comissão de Ética. Mas além de dizer que era o chefe, que comandava
tudo, o que mais ele contou? Nenhum fato. Chato né?
Como disse Roxin, não basta. A “pessoa que ocupa a posição no topo de
uma organização tem também que ter comandado esse fato, emitido uma
ordem.”
Chegaram a dizer – na base da conversa, do diz-que-diz — que Marcos
Valério teria ajuda dele para levantar a intervenção num banco e assim
ganhar milhões de reais. Seria a ordem? Falso. Valério foi 17 vezes ao
Banco Central para tentar fazer o negócio e voltou de mãos vazias. Era
assim “controle” de que fala Claus Roxin?
Também disseram que Dirceu mandou Valério para Portugal para negociar a
venda da Telemig com a Portugal Telecom. Seria a “prova?”
O múltiplo Valério estava a serviço de Daniel Dantas, que sequer tornou-se réu no inquérito 470.
Repito: o passado não deve livrar a cara de ninguém. Todos tem deveres e obrigações com a lei, que deve ser igual para todos.
Acho que o procurador Roberto Gurgel tinha a obrigação de procurar
provas e indícios contra cada um dos réus e assim apresentar sua
denúncia. É este o seu dever. Acusar – as vezes exageradamente – para
não descartar nenhuma possibilidade de crime e de erro.
Mas o que se vê, agora, é outra coisa.
A teoria do domínio do fato foi invocada quando se viu que não era
possível encontrar provas contra determinados réus. Sem ela, o pessoal
iria fazer a defesa na tribuna do Supremo e correr para o abraço.
Com a noção de domínio do fato, a situação se modificou. Abriu-se uma chance para a acusação provar seu ponto.
O problema: cadê a ordem de Dirceu? Quando ele a deu? Para quem?
Temos, uma denúncia sem nome, sem horário, sem data. Pode?
Provou-se o que se queria provar, desde o início. A tese de que os
deputados foram comprados, subornados, alugados, para dar maioria ao
governo no Congresso.
É como se, em Brasília, não houvesse acordo político, nem aliança – que sempre envolve partidos diferentes e até opostos.
Nessa visão, procura-se criminalizar a política, apresenta-la como atividade de quadrilhas e de bandidos.
É inacreditável.
Temos os governos mais populares da história e nossos ministros querem
nos convencer de que tudo não passou de um caso de corrupção.
Chegam a sugerir que a suposta compra de votos representa um desvio na vontade do eleitor.
Precisam combinar com os russos – isto é, os eleitores, que não param de dizer que aprovam o governo.
Ninguém precisa se fazer de bobo, aqui. Dirceu era o alvo político.
O resultado do julgamento seria um com sua condenação. Seria outro, com sua absolvição.
Só não vale, no futuro, dizer que essa decisão se baseou no clamor
público. Este argumento é ruim, lembra o mestre alemão, mas não se
aplica no caso.
Tivemos um clamor publicado, em editoriais e artigos de boa parte da imprensa. Mas o público ignorou o espetáculo, solenemente.
Não tivemos nem passeatinha na Praça dos 3 Poderes – e olhe que não faltaram ensaios e sugestões, no início do julgamento…
Mesmo o esforço para combinar as primeiras condenações com as eleições não trouxe maiores efeitos.
Em sua infinita e muitas vezes incompreendida sabedoria, o eleitor aprendeu a separar uma coisa da outra.
*Opensadoraldeia
TIO SAM VERSUS LENNON
John Lennon e Yoko Ono, final dos anos 1960.Documentário: Os EUA contra John Lennon
Por Marden Machado, no Cinemarden.
Depois do fim dos Beatles, no final dos anos
1960, John Lennon decidiu se mudar para os Estados Unidos. Mais precisamente
para Nova York. A fama mundial da banda inglesa permite imaginar que ele seria
bem recebido em qualquer país do mundo. Não foi bem isso o que aconteceu. O
documentário Os EUA Contra John Lennon, da dupla David Leaf e John
Scheinfeld, cobre um período de aproximadamente dez anos, entre 1966 e 1976.
Somos apresentados a um artista que se utiliza do fato de ser uma figura famosa
para protestar em defesa dos direitos civis e da paz mundial e contra a Guerra
do Vietnã. Essa postura ativista de Lennon preocupou o governo americano, na
época presidido por Richard Nixon. O FBI e a CIA monitoraram todos os passos do
músico e montaram um extenso dossiê contra o ex-beatle. Por diversas vezes e de
muitas maneiras tentaram expulsá-lo do país. Composto por raras imagens de
arquivo e com depoimentos de nomes importantes da cultura e da política
americana, Os EUA Contra John Lennon vai além do simples relato de um
artista empenhado em lutar contra injustiças. Os diretores traçam um painel mais
amplo da vida de Lennon mostrando um lado de sua personalidade e de sua vida
pessoal que é pouco conhecido do grande público.
................
OS EUA CONTRA JOHN LENNON (The U.S. versus John Lennon - EUA 2006).
Direção: David Leaf e John Scheinfeld. Documentário. Duração: 99 minutos.
Distribuição: Mostra/Cultura.*dodómacedo
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