Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
domingo, novembro 18, 2012
EQUADOR - Correa: Sem FMI nem Banco Mundial, "estamos melhor que nunca"
do Um Sem-Mídia
O presidente
do Equador esteve numa Universidade em Sevilha para explicar como o país
saiu da crise, auditando e reestruturando a dívida, expulsando a missão
externa do Banco Mundial e FMI e orientando a política para o emprego.
Rafael Correa na visita de Estado a Espanha esta semana. Foto Presidencia do Equador.
O
auditório da Universidade Pablo de Olavide, em Sevilha, foi pequeno
para receber a conferência de Rafael Correa, que acabou por ser
transmitida em vídeo para outras duas salas e mesmo assim deixou muita
gente de fora.
Citado pelo site espanhol
publico.es, o presidente equatoriano descreveu o que considera a "longa
noite neoliberal" que afundou o país na década de 90, coordenada por
políticos corruptos, banqueiros insaciáveis e governos obedientes às
receitas do FMI e do Banco Mundial. E foi mais atrás, a 1982, quando o
Equador se viu incapaz de pagar a fatura do endividamento agressivo dos
anos do boom do preço do petróleo. Aí "entrou em funcionamento a lógica
financeira do FMI que prioriza acima de tudo o pagamento da dívida",
recordou Correa. A espiral do endividamento para pagar juros das dívidas
anteriores levou ao empobrecimento do país. "O objetivo da economia
passou a ser o pagamento da dívida do próprio estado e dos bancos",
acrescentou, comparando a situação do Equador de então com "o círculo
infernal em que estão agora a Grécia e Portugal".
Correa
também disse aos estudantes que quando veio a Portugal há dois anos,
advertiu José Sócrates do risco semelhante que Portugal corria, um
prognóstico que se cumpriu. "Impuseram-nos leis que diziam aumentar a
competitividade e a flexibilidade do trabalho, que é o mesmo que
explorar os trabalhadores" e "diabolizavam a despesa pública quando era
para pagar aos professores, mas não para comprar armas", contou Correa,
sendo aplaudido pelos estudantes.
O colapso
bancário no início deste século teve também uma resposta semelhante ao
que se passa hoje na Europa. "Os políticos, que não representavam os
cidadãos mas sim os poderes económicos, fizeram todos os possíveis para
que fosse o povo a pagar a crise", declarou o presidente equatoriano.
Com
a eleição de Correa em 2007, foram tomadas de imediato medidas para
inverter o rumo do país para a catástrofe económica: reformou o banco
central, auditou e reestruturou a dívida, eliminou a parcela considerada
ilegítima pelos auditores e comprou as obrigações de dívida do Estado
aos credores por 35% do seu valor nominal. Em seguida, pagou a parcela
restante, "para nos livrarmos dos condicionamentos do FMI, como fez o
Brasil ou a Venezuela".
"Expulsei de Quito a
missão do Banco Mundial e desde há seis anos que a burocracia financeira
internacional não regressou ao meu país. Agora estamos melhor que
nunca", concluiu Correa.
*GilsonSampaio
sábado, novembro 17, 2012
"O julgamento de Dirceu acabou; vamos agora ao do Supremo"
Da Carta Maior - 16/11/2012 Este julgamento tem que ser simplesmente anulado. Diante
de um Supremo Tribunal que ameaça as bases do Direito objetivo
brasileiro, o Senado da República deve ser chamado a atuar. A cidadania não pode ficar à mercê de burocratas togados que se servem de interesses políticos, e não da lei. J. Carlos de Assis* O
domínio do fato, a tese central estuprada pelo Supremo Tribunal Federal
para condenar José Dirceu a mais de dez anos de cadeia, é mais ou menos
o seguinte:
alguém com superioridade moral, mesmo que não hierárquica, sobre três
outras pessoas com funções específicas torna-se responsável por qualquer
coisa que essas pessoas façam de irregular. Ou seja, o que se condena é a superioridade moral, não a ação irregular. Portanto, ai daqueles que, ao longo da vida, conquistaram o respeito e a superioridade moral sobre outros. Como dizia o Pequeno Príncipe, “tornam-se eternamente responsáveis por aqueles que cativam”.
De
um ponto de vista estritamente objetivo, Jânio Freitas, comentando uma
entrevista na Folha de S. Paulo do jurista alemão Claus Roxin, que se destaca entre os formuladores da tese do “domínio de fato”, deu um esclarecimento definitivo sobre a deturpação desse conceito pelo Supremo brasileiro em sua sanha de condenar sem provas. É
difícil não se indignar diante do arroubo arbitrário dos que, não tendo
poder oriundo do povo, agem como demagogos para agradar uma opinião
pública claramente manipulada por grupos políticos minoritários e seus
escudeiros na grande imprensa. É em
razão disso que me proponho imediatamente a subscrever a campanha de
opinião pública crítica liderada pelo Blog da Cidadania e apoiada por
Carta Maior. Este julgamento tem que ser simplesmente anulado. Os
caminhos para isso não estão definidos literalmente pela Constituição,
mas o espírito da Constituição Cidadã deve prevalecer sobre o rito
burocrático violado. Diante
de um Supremo Tribunal que ameaça as bases do Direito objetivo
brasileiro, o Senado da República deve ser chamado a atuar. A
cidadania não pode ficar à mercê de burocratas togados que se servem de
interesses políticos, e não da lei.
Não tendo sido unânime a decisão do Supremo, não precisamos de ter
escrúpulos em afirmar que a decisão tomada é tecnicamente equivocada. Ministros,
pelo menos um ministro que examinou cuidadosamente o processo na
qualidade de revisor, pensa dentro da técnica jurídica como nós pensamos
dentro do espírito sociológico. Pois que pensemos seriamente em buscar meios para anular esse julgamento dentro da constitucionalidade. O Congresso, assim como criou uma Comissão de especialistas para rever o Código Penal, deve criar uma Comissão para examinar em que medida as bases jurídicas brasileiras foram violadas pelo julgamento da vergonha. Esse debate serviria para dar à opinião pública o esclarecimento que não teve. Ao contrário, ela foi bombardeada pelo sensacionalismo da grande mídia, principalmente de algumas revistas,
as quais, perdendo terreno para as novas tecnologias de informação, têm
como principal recurso de ganhar leitores e anunciantes a produção de
escândalos, notadamente os fabricados mediante a manipulação de fatos
truncados. Isso
tem levado a que mesmo pessoas pensem, com autêntica boa fé, que algo de
realmente escabroso aconteceu na direção do PT pois, do contrário, não
haveria tanto barulho. Não sabem que não foi o fato que produziu o barulho. Foi o barulho que produziu o fato. Para a
condenação dos importantes líderes políticos do PT – deixo de lado
Delúbio, que honradamente chamou a si a responsabilidade pelo caixa dois
de campanha -, pesou sem dúvida o mantra que penetrou no inconsciente
coletivo brasileiro de que este é o país da impunidade. Como? Este
país colocou para fora um Presidente suspeito de corrupção, cassou
mandato de senadores e deputados, pôs juiz de Direito na prisão,
condenou banqueiro à cadeia, tem condenado e expulso membros de toda a
hierarquia da Polícia Militar, para não falar em gente da elite cultural
e financeira condenada. É claro que não há impunidade. Houve impunidade, sim, no governo militar. Mas
agora o que se faz, com esse julgamento, é saltar da impunidade dos
culpados na ditadura para a condenação exemplar de inocentes na
democracia.
Estou entre os jornalistas que introduziram o jornalismo investigativo na área econômica ao tempo da ditadura. Denunciei
vários escândalos em jornal, escrevi livros, dei palestras. Na época,
não havia Ministério Público independente, que foi uma criação da
Constituinte; a Polícia Federal só cuidava de prender comunistas; o
Judiciário estava amordaçado; o Congresso, submisso. Assim
mesmo, com estrito trabalho jornalístico e sem o sensacionalismo da
televisão, foi possível expor as entranhas dos desvios financeiros sob a
ditadura. Agora o trabalho jornalístico da grande imprensa parece invertido: em vez de investigar por conta própria, ela usa e toma como verdade as investigações de escuta da Polícia Federal. Pior, ela toma como verdade a acusação profissional do Ministério Público, a qual, no caso extremo do chamado mensalão, foi transformada em verdade pelo relator rancoroso do processo. Nessa atmosfera, o que se pode esperar da opinião pública? Assim, para restabelecer a Justiça, é fundamental uma mobilização popular pela revisão do julgamento. É daí que pode surgir uma comissão da verdade com vistas não ao passado, mas ao presente e ao futuro. (*)
Economista e professor da UEPB, presidente do Intersul, autor junto com o
matemático Francisco Antonio Doria do recém-lançado “O Universo
Neoliberal em Desencanto”, Ed. Civilização Brasileira. Esta coluna sai
às terças também no site Rumos do Brasil e no jornal carioca Monitor
Mercantil. do blog ContrapontoPIG
*cutucandodeleve
Israel
genocida, contra o holocausto palestino: quando a Venezuela expulsou o
corpo diplomático de Israel do seu território em solidariedade ao povo
palestino
YPo’i: fazendeiros envenenam rio utilizado por famílias Kaiowá, acusam indígenas
A
Polícia Federal, Força Nacional e Fundação Nacional do Índio já foram
notificadas da ocorrência. Uma amostra da água será encaminhada ao
Ministério Público Federal de Mato Grosso do Sul. Em função do feriado e
do final de semana, nada deverá ser encaminhado até segunda-feira.
Ruy Sposati, de Brasília
CIMI –
Indígenas Guarani Kaiowá de YPo'i, em Paranhos, divisa do Mato Grosso do
Sul com o Paraguai, denunciaram o envenenamento do córrego YPo'i,
principal fonte de água da comunidade. Um vídeo com imagens do riacho
contaminado, registrado por dois professores indígenas, foi publicado
pelo conselho da Aty Guasu – assembleia dos Kaiowá e Guarani – na
sexta-feira, 16.
Segundo
relatos da comunidade, uma crosta de espuma branca se formou em toda a
superfície da água, na manhã da quarta-feira, 14, fechando totalmente o
rio. "As crianças estavam tomando banho quando viram a espuma branca",
contam. "Ela tomou conta do córrego inteiro por dois dias".
"Nós
seguimos a trilha do riacho até a fazenda, onde vimos dois tambores
grandes. Não sabemos o que era. A gente foi pra tirar foto, mas fomos
recebidos a bala. Começaram a atirar pra cima e saímos correndo".
Para a
comunidade, esta foi uma ação deliberada dos proprietários das fazendas
que incidem sobre a área indígena Kaiowá. "Agora não é época de passar
veneno. Veneno se usa na época de colheita. E do outro lado é gado, e
com gado não se usa veneno. Isso não foi um acidente", afirmam os
indígenas.
Os
Kaiowá de YPo'i – "rio estreito", em guarani – contam que esta não é a
primeira vez que o único córrego da área, a 200 metros de distância do
acampamento, é envenenado. "Logo quando a gente retomou, quando
estávamos isolados, os fazendeiros jogaram gado morto no rio, querendo
dificultar nossa vida", relatam.
A
contaminação do rio seria uma continuação de um recado dado pelos
fazendeiros aos indígenas. "Na semana passada, o fazendeiro comunicou à
comunidade que nós não poderíamos mais cruzar [a saída da aldeia] pela
plantação de soja pra sair pra Paranhos", contam.
"Esse
córrego é a nossa principal fonte de água pra beber, tomar banho, fazer
comida, lavar roupa. E agora a gente não pode usar. Ainda tem espuma
boiando nos cantos. Estamos muito assustados".
Em nota,
o conselho da Aty Guasu se disse "chocado e indignado com as ações
cruéis dos fazendeiros (...)", e exigiu que "autoridades federais tomem
prividências cabíveis". A Polícia Federal, Força Nacional e Fundação
Nacional do Índio já foram notificadas da ocorrência. Uma amostra da
água será encaminhada ao Ministério Público Federal de Mato Grosso do
Sul. Em função do feriado e do final de semana, nada deverá ser
encaminhado até segunda-feira.
Desde a
reocupação do tekoha – "lugar onde se pode ser" em Guarani, forma como
eles se referem a seu território tradicional originário -, em 2009, três
Kaiowá já foram assassinados em YPo'i. Dois professores, os primos
Genivaldo e Rolindo Vera, foram mortos três dias depois da retomada. O
corpo de Rolindo permanece desaparecido. O de Genivaldo foi encontrado
no córrego em questão, perfurado, com sinais de tortura e o cabelo
raspado. Em 2010, Teodoro Recalde foi assassinado a golpes de facão por
jagunços.
“Veneno
fedido, química homicida, foi jogado pelos fazendeiros no córrego Ypo’i,
em Tekoha Guarani-Kaiowá Ypo’i , Paranhos, MS. O fato cruel ocorreu no
dia 14 de novembro de 2012. Enquanto as crianças e adultos Guarani e
Kaiowá estavam tomando banho, compareceu espuma branca em cima do
córrego, e todos saíram correndo. As lideranças e comunidades
comunicaram à Funai, PF e MPF, mas fim de semana foram feriados. Nós
todas lideranças da Aty Guasu Guarani e Kaiowá estamos chocados e
indignados com as ações cruéis dos fazendeiros que passaram praticar
esse envenenamento dos nossos córregos que utilizamos dia-a- dia.
Pedimos que autoridades federais tomem providencias cabíveis. Aguardamos
as posições. Passamos os fatos e vídeos para todos (as). No celular,
foi filmado por indígena de Ypo’i”.
Muito discutida e ainda pouco compreendida, a essência do filme “Matrix”
(a hipótese da virtualidade do real) talvez já esteja presente no nosso
dia-a-dia mais do que imaginamos. A pesquisa “Agenda Setting e a Cobertura dos
Casos Mensalão e Cachoeira” feita por estudantes de jornalismo da Universidade
Anhembi Morumbi São Paulo como conclusão do curso “Estudos da Semiótica”
apresenta a constatação de que a mídia corporativa não tem mais o poder de
eleger presidentes ou forçar impeachments como no passado, mas ela é eficiente em estabelecer pautas e agendas
como a do atual julgamento do chamado “Mensalão”. Se a hipótese da agenda setting for correta, o que chamamos de “realidade”
poderia ser uma construção a partir de
percepções e cognições fornecidos por um ambiente midiático em que vivemos.
Virtuosismo tecnológico, capas
pretas, bullet time e todo o visual
ciberpunk marcaram as representações dos mundos virtuais em filmes como
“Matrix”: humanos enredados nos véus da ilusão criada por
computadores/demiurgos que nos escravizam. Mas descontando todo esse
sensacionalismo hollywoodiano em torno da hipótese da virtualidade do real,
podemos nos surpreender ao descobrir que a essência do tema de Matrix já está
presente em nosso dia-a-dia, tão diluído nos temas das nossas conversas e na
indústria de informação e entretenimento que nem nos damos conta: mais do que
uma figura retórica, já há muito tempo experimentamos a Matrix na prática!
Isso é
o que demonstra a pesquisa “Agenda Setting e a Cobertura dos Casos Mensalão e
Cachoeira”, trabalho de conclusão da disciplina Estudos da Semiótica da Escola
de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi – UAM/São Paulo (veja video abaixo). O grupo formado
pelos estudantes da graduação em Jornalismo Ana Carolina Cassiano, Cainã Ito,
Camila Albino, Gustavo Carratte e Renata Corona analisou as capas e primeiras
páginas dos principais veículos de imprensa de alcance nacional e chegou a uma
constatação empírica: até o início do segundo semestre o foco dos veículos como
jornais “O Globo”, “Folha de São Paulo”, “O Estado de São Paulo” e de revistas
como “Veja”, “Isto É” e “Época” “estava concentrado nas repercussões das
denúncias envolvendo o contraventor Carlinhos Cachoeira. O julgamento do
chamado Mensalão ainda era pouco comentado”.
Quase nada de Cachoeira e exaustiva cobertura do mensalão
Com a
proximidade das eleições municipais, esse foco midiático foi invertido: “quase
nada de Cachoeira e exaustiva cobertura sobre o escândalo envolvendo o Partido
dos Trabalhadores (...) Cachoeira permanecia envolvido em acusações, mas já não
tinha seu rosto exposto por tanto tempo na TV, jornais, revistas e sites,
tampouco era comentado nas rádios”.
“Tomando
como exemplo a revista Veja seis de suas capas no segundo semestre de 2012,
quando já estavam próximas as eleições municipais, foram sobre o caso
envolvendo o PT. Além destas, mais três tiveram destaque na capa, com chamadas
para ler mais denúncias páginas adentro”.
Para
além dos evidentes exemplos de manipulação no enquadramento e seleção dos
acontecimentos – desde a tendenciosa pergunta da pesquisa Datafolha no início
de agosto (“os acusados do Mensalão deveriam ser enviados para a cadeia?”) e
todo o exagero da cobertura que invertia os princípios básicos da Justiça (“que
obriga os promotores a comprovarem a culpa do réu e não o contrário”) – a
pesquisa associou a inversão da cobertura no segundo semestre ao fenômeno
conhecido como “agenda setting” ou agendamento: a mídia não apenas manipula a
realidade, mas, principalmente, altera a nossa percepção da realidade. Pode
parecer uma diferença sutil a existente entre os termos “manipulação” e
“percepção”, mas ela é decisiva por ser mais insidiosa e profunda.
A Hipótese do “agendamento”: já vivemos na Matrix
Embora
o conceito de “agenda setting” tenha sido formulada somente na década de 1970
pelos pesquisadores norte-americanos Maxwell McCombs e Donald Shaw em estudos
que analisavam a influência das mídias nas eleições presidenciais dos Estados
Unidos em 1968, seus princípios básicos começaram a ser traçados em 1922 pelas
teses levantada pelo jornalista Walter Lippmann.
Para
Lippmann a opinião pública não reagia diretamente aos fatos do mundo real, mas
vivia em uma espécie de “pseudoambiente” formado principalmente por “imagens em
nossas cabeças” (LIPPMANN, W. Public
Opinion). A mídia teria um papel central na estruturação desse pseudoambiente
e fornecimento das imagens.
Em 1963 Bernard Cohen deu uma
premissa moderna a essa ideia esboçada por Lippmann: “Na maior parte do tempo a
imprensa pode não ter êxito em dizer aos leitores o que pensar, mas é espantosamente exitosa em dizer aos leitores sobre o que pensar” (COHEN, B. Press and Foreign Policy). Em outras
palavras, a mídia seria péssima em impor conteúdos ou persuadir a opinião
pública a tomar um posicionamento “A” ou “B”, mas ela seria ótima em criar uma
hierarquia de temas supostamente com pertinência social para ser discutida.
Dessa maneira, Cohen destacou a
onipresença da mídia como eficiente modificadora e formadora de opinião a
respeito da realidade. Em consequência da pauta de temas criados pelas mídias o
público sabe ou ignora, presta atenção ou descura, realça ou negligencia certos
elementos dos cenários públicos. As pessoas tendem a incluir ou excluir dos
seus próprios conhecimentos aquilo que as mídias incluem ou excluem do seu
próprio conteúdo. Além disso, o público pode atribuir àquilo que esse conteúdo
inclui uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelas mídias aos
acontecimentos, problemas e às pessoas. A pauta de fixação feita pelos meios de
comunicação perdura no público. Os assuntos nela evidenciados serão comentados
pelas pessoas que acabarão julgando os fatos de acordo com essa pauta e
percebendo uma realidade social diferenciada.
O filme “Obrigado por Fumar”
(Thank You For Smoking, 2005) apresenta didaticamente essa estratégia que está
além da manipulação simples pela imposição de determinado posicionamento
ideológico: se as pessoas querem ou não fumar cigarro, essa seria uma questão
que a mídia teria muito pouca influência. Mas ela seria eficiente em fixar a
pauta do tabagismo como tema pertinente para a opinião pública. O filme
ironicamente apresenta como a indústria tabagista estaria por trás tanto de
pesquisas que demonstrem os malefícios como as que refutam os danos maiores do
cigarro. O que importa é que o tema tabagismo ganhe espaço e visibilidade
midiática.
Guerra de percepção e
sociedade do espetáculo
Pela hipótese da agenda setting não se trataria mais
discutir se a mídia influencia ou não determinados conteúdos ideológicos, mas a
forma como ela molda a percepção da própria realidade. A pesquisa do grupo de
estudantes de jornalismo da UAM destaca: “a mídia já não tem força para decidir
quem vai ser o próximo presidente, nem para eleger e forçar o impeachment como no caso de Collor. Mas
isso não significa que a mídia corporativa não siga buscando seu intento,
através da agenda setting, como agora ao conseguir colocar em pauta o mensalão
do PT”.
O mais perturbador nessa
hipótese é a de que se a questão da mídia não é de conteúdo (informação), mas
de forma (pauta, agenda etc.) pouco importaria se durante o julgamento no
Supremo Tribunal Federal ocorresse uma reviravolta, as chicanes jurídicas
fossem derrotadas e o mensalão fosse desconstruído diante das câmeras: o mal já
teria sido feito após a percepção da opinião pública ter aceito a pertinência
do tema “mensalão do PT” como hierarquicamente superior a outros temas.
Filme "Obrigado Por Fumar": um exemplo didático de "agenda setting"
A pesquisa da UAM define a
guerra pelos agendamentos das pautas nas mídias como a própria natureza da
sociedade do espetáculo: embora seus resultados sejam ideológicos, os meios de
comunicação seriam pouco afeitos a ideologias, conteúdos ou informações
(conscientização, formação, inculcação etc.). Essa eficiência de influência
ideológica talvez tenha existido nas antigas sociedades de massa dos tempos da Segunda
Guerra Mundial. Hoje, com sociedades mais segmentadas e complexas onde a
influência pessoal de líderes de opinião (não confundir com “formadores de
opinião” das mídias) como filtros das mídias ganha mais força, a batalha passa
a ser por agendas impactantes que alterem a percepção do que seja a realidade
para as pessoas.
É claro que após o sucesso do
agendamento de um determinado tema, os tradicionais mecanismos de manipulação
da informação entram em cena, como ficou evidente na cobertura do caso do
Mensalão e nos 18 minutos de espaço dado pelo Jornal Nacional da TV Globo para
fazer um “resumo” do julgamento do STF. Isso seria um aspecto
técnico-ideológico da edição da informação (que muitas vezes o público nem
percebe criticamente) e que é mais compreendido por aqueles predispostos à
opinião inquisitorial sobre o PT.
O mais importante é que, em uma
sociedade do espetáculo, a conquista de uma pauta ou agendamento já é, em si,
uma vitória ao fazer o público discuti-la seja a favor ou contra.
Um argumento contra a eficiência
ou existência dessa hipótese seria que apesar de todo o agendamento do caso
Mensalão desde 2005 na mídia Lula foi reeleito e fez seu sucessor, Dilma
Roussef. Mas, poderíamos dizer: “é a economia, estúpido!”. Duas pautas contraditórias
parecem disputar percepção da opinião pública: a moralista da corrupção versus
a do crescimento econômico paradoxalmente partilhada até pela TV Globo, por
exemplo, com o tema da “nova classe média” em novelas como “Avenida Brasil”.
Se a hipótese da agenda setting for correta, o que
chamamos de “realidade” poderia ser um constructu
a partir de percepções e cognições fornecidos por um ambiente midiático em que
vivemos. Essa talvez seja a essência do filme “Matrix”. Um filme muito
discutido, mas ainda pouco compreendido.
Quero o “domínio do fato” no acórdão !
Será isso aqui uma “democracia de fachada” ?
Como se sabe, o Supremo transformou a teoria do “domínio do fato” no turbante da Carmen Miranda: uma extravagância tropical.
Ou um estupro, diria o Bessinha, mais agudo que o ansioso blogueiro.
O
ansioso bogueiro estava comendo umas goiabinhas, quando lhe bateu uma
ideia na cabeça: e se a “bancada do Golpe“ do Supremo retirar o turbante
da Carmen Mirana do acórdão.
E, assim, impedir que a condenação
do Dirceu seja revista em cortes internacionais e, eles, os heróis da
Globo, submetidos ao escárnio universal ?
Impossível ?
Meu querido amigo navegante … eles já fizeram de tudo, não fariam mais essa ?
Eles condenam o Dirceu pelo domínio dos fatos, são desnudados na blogosfera e omitem o domino do fato no acórdão ?
Onde estamos ?
Numa cervejaria de Munique, lá pelos anos 30 do século passado ?
Imaginem se o Juca, advogado do Dirceu, chega de volta da Alemanha com o turbante original ?
Vai sair Ministro a voar pela janela do STF !
Pois, desde já, para conhecimento dessa legião de amigos navegantes, registro:
QUERO O DOMINIO DO FATO NO ACÓRDÃO !
Não fujam ! Paulo Henrique Amorim
Por que Joaquim Barbosa é alma gêmea de Serra
Serra parecia tranquilo no posto de brasileiro mais antipático, até despontar Barbosa, o nosso Batman
Barbosa
Não imaginei que Serra ganhasse concorrência relevante ao posto de brasileiro mais antipático, mas me equivoquei.
O julgamento do mensalão trouxe para o centro dos holofotes Joaquim
Barbosa, o Batman. Barbosa é uma espécie de alma gêmea de Serra: o mesmo
ar superior, a mesma empáfia, a mesma capacidade de se indispor com
seus pares, o mesmo apreço pelos holofotes e pela última palavra.
E acima de tudo: o mesmo fã clube.
Tenho para mim que você pode definir a estatura de um homem pelas
pessoas que a admiram e a louvam. Barbosa, como Serra, é ídolo do 1%,
aquele grupo que está na vanguarda do atraso nacional, as pessoas que se
agarram a seus privilégios como se estivessem na corte de Luís 16 em
Versalhes e dificultam que o Brasil se torne um país socialmente
desenvolvido.
Barbosa, se olharmos pelo lado positivo, deu agora ao país uma grande
contribuição: mostrou involuntariamente quanto o sistema judiciário
brasileiro é capenga. Sequer aplicar direito a agora célebre Teoria do
Domínio do Fato nosso STF conseguiu, a despeito de todo o palavrório
empolado e supostamente erudito.
Barbosa conseguiu o que parecia impossível: transferir uma enorme,
inédita carga de simpatia por Zé Dirceu, que com seu ar doutoral e
arrogante jamais foi benquisto para além das fronteiras do PT e do seu
próprio círculo de amizade.
Como Serra, Barbosa defende Versalhes e seu status quo – e isso os faz,
se é que é possível, ainda mais antipáticos do que naturalmente já
são.
Políticas de austeridade não são a melhor resposta para enfrentar a crise, afirma Dilma
Presidenta Dilma Rousseff discursa durante primeira sessão plenária da XXII Cúpula Ibero-Americana, em Cádiz, na Espanha. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta Dilma Rousseff afirmou neste sábado (17), em Cádiz, na
Espanha, na primeira sessão plenária da XXII Cúpula Ibero-americana, que
as políticas de austeridade implementadas por alguns países europeus
não são a melhor resposta para enfrentar a crise.
“A crise financeira, que hoje afeta a Europa, golpeia de forma
particular a península ibérica (…) Temos assistido, nos últimos anos,
aos enormes sacrifícios por parte das populações dos países que estão
mergulhados na crise. Reduções de salários, desemprego, perda de
benefícios. As políticas exclusivas de austeridade vem mostrando seus
limites: em virtude do baixo crescimento, e apesar do austero corte de
gastos, assistimos ao crescimento dos deficits fiscais”, disse.
No discurso, a presidenta afirmou que o Brasil vem defendendo,
inclusive no âmbito do G20, que a consolidação fiscal exagerada não é a
melhor resposta para a crise mundial – e pode, inclusive, agravá-la,
causando recessão. Segundo ela, sem crescimento será muito difícil a
consolidação fiscal e os ajustes serão cada vez mais onerosos do ponto
de vista político e social.
“O que temos visto são medidas que, apesar de afastarem o risco de uma
quebra financeira, não afastam a desconfiança dos mercados e, mais
importante ainda, não afastam a desconfiança das populações. Confiança
não se constrói apenas com sacrifícios. É preciso que a estratégia
adotada mostre resultados concretos para as pessoas, apresente um
horizonte de esperança e não apenas a perspectiva de mais anos de
sofrimento”, afirmou.
A presidenta disse aos chefes de Estado e de governo presentes ao
encontro que o panorama internacional de hoje é distinto daquele de
1991, quando as nações ibero-americanas se reuniram pela primeira vez,
em Guadalajara, no México. Dilma lembrou que naquele período a América
Latina ainda vivia as consequências da Crise da Dívida e, ao implementar
políticas recomendadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), não
conseguia crescer.
“Levamos assim duas décadas de ajuste fiscal rigoroso tentando digerir a
crise da dívida soberana e bancária e, por isso, neste período, o
Brasil estagnou, deixou de crescer e tornou-se um exemplo de
desigualdade social. Nossos esforços só resultaram em solução quando
voltamos a crescer (…) Hoje, não só o Brasil, mas toda a América
Latina, dá demonstrações de dinamismo econômico, de vigor democrático,
de maior equanimidade social, graças às políticas que privilegiaram o
crescimento econômico com inclusão social”.
PCdoB FIRMA POSIÇÃO ... PRISÃO DE ZÉ DIRCEU E GENOÍNO: REVOGAR A SENTENÇA INJUSTA.
O PCdoB firma posição, em cujo texto destaco os parágrafos finais. É a luta de classes, meus queridos, com oPCdoB apontando os caminhos da resistência.
Prisão de Zé Dirceu e Genoíno: Revogar a sentença injusta
Está fora de questão que a Suprema Corte do País merece respeito e suas decisões devem ser cumpridas. Mas não está vedado o direito de opinar, direito sagrado conquistado com muita luta pelo povo brasileiro e constitucionalmente assegurado. Tampouco é proibido lutar para que decisões injustas, como as que foram tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), na tarde da última segunda-feira (12), sejam revistas e revogadas.
A condenação de José Dirceu e José Genoíno a penas de prisão é uma inominável injustiça, fruto de um julgamento politizado, realizado sob pressões antidemocráticas, por meio de procedimentos e conceitos juridicamente questionáveis, alheios à jurisprudência nacional, de atropelos de normas e, sobretudo, de menosprezo aos mais elementares sentimentos de justiça.
A sentença proferida na tarde da última segunda-feira é o epílogo de um processo que, desde a fase da denúncia, mostrou-se não como o “mais atrevido e escandaloso esquema de corrupção da história do país”, como até hoje é apresentado na mídia, mas como uma mancha de opróbrio na vida democrática nacional desde a promulgação da Constituição de 1988.
Durante todo o processo, partindo de nosso próprio ponto de vista político, pautamos a cobertura dos fatos e a expressão de opiniões pela mais alta consideração, respeito e reverência para com a Corte, e alimentamos a expectativa de que o Supremo Tribunal Federal, no cumprimento de sua missão constitucional, julgaria a Ação Penal 470 com discernimento jurídico, absoluta isenção e rigor técnico, cujo pressuposto era julgar exclusivamente baseado nos autos.
A sentença proferida contra líderes do Partido dos Trabalhadores nada tem de atitude objetiva. Baseia-se em uma teoria estranha à jurisprudência brasileira, como o “domínio funcional do fato”, pune sem que o condenado tenha praticado ato de ofício e ignora um dos princípios elementares dos direitos humanos que é a presunção da inocência.
O processo foi todo ele politizado, desde que o antigo procurador geral, e, depois, o atual e finalmente o ministro-relator do STF, consideraram a priori que houve da parte dos líderes do PT a prática dos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha e que, no caso de um deles, sobressaiu-se como chefe que, como tal, “sabia de tudo”.
A politização do processo atingiu níveis extremos. Pretende-se que com a decisão de trancafiar o companheiro José Dirceu numa prisão, a “República foi refundada”. Difunde-se o conto de que o STF puniu o autor de “um crime de lesão gravíssima à democracia, que se caracteriza pelo diálogo e opiniões divergentes dos representantes eleitos pelo povo”. Em considerações nada condizentes com a verdade dos fatos, referindo-se à articulação política conduzida pelo ex-ministro José Dirceu no início do primeiro mandato de Lula, argui-se que ”foi esse diálogo democrático que o réu quis suprimir pelo pagamento de vultosas quantias em espécie a líderes e presidentes de partidos."
Mais: do plenário do STF, em transmissão direta em rede nacional de televisão, ouviram-se coisas tais como que Dirceu "colocou em risco a independência dos poderes", o que teria “diminuído e enxovalhado pilares importantíssimos de nossa sociedade". Frases de efeito como esta, combinadas com a grandiloquência de pronunciamentos emoldurados por citações doutas e acadêmicas, tentaram convencer a opinião pública de que se praticou a “macrodelinquência no governo” e que os réus eram “marginais no poder”.
Difundidas ad nauseam, essas e outras afirmações foram e são usadas para desqualificar históricos combatentes pela democracia e líderes provados da esquerda como políticos que estavam à frente de manobras para mutilar a democracia no país.
Igualmente, pretende-se macular o governo do ex-presidente Lula - o primeiro de um líder originário das fileiras das lutas operárias e em que foram para o centro do poder forças de esquerda, historicamente massacradas pelos regimes reacionários das classes dominantes – como um governo antidemocrático e corrupto, e assim estigmatizar o PT e o conjunto das esquerdas. O objetivo visado é impedir a continuidade de uma experiência bem sucedida e o exercício de um modo progressista de governar o país.
O pano de fundo é evidente – a luta das classes dominantes retrógradas para retomar o controle da situação política nacional e impedir a evolução do País por meio de reformas estruturais democráticas com conteúdo social e patriótico.
As forças progressistas deste país, incluídos os partidos de esquerda, os democratas, os patriotas, os defensores da Constituição cidadã e os movimentos sociais, respeitando a ordem democrática e as instituições, não podem calar-se diante da ignomínia em que se constituíram as sentenças proferidas, diante da flagrante injustiça contra figuras que integram seus quadros dirigentes, sob pena de também se cobrirem de opróbrio. A solidariedade total aos companheiros apenados há de se traduzir também em uma luta por meios legítimos para que a sentença seja revogada.