PM de São Paulo mata 1 a cada 16h
Até novembro, já foram registradas
506 mortes, ante 495 há seis anos; para especialistas, nº é ‘absurdo’ e
exigiria medidas de controle
Marcas de tiro no carro do publicitário Ricardo Aquino, morto por PMs em julho |
Policiais militares mataram em serviço, entre janeiro e novembro, mais
do que em todo o ano de 2006, quando ocorreram os ataques do Primeiro
Comando da Capital (PCC). Em 2012, já são 506 mortos no Estado em
confrontos classificados como resistência seguida de morte, ante 495
daquele ano. Em média, a PM mata uma pessoa a cada 16 horas.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, o número de mortes por
prisões é "relativamente baixo". A escalada dos casos de mortos em
confronto é acompanhada da onda de violência que se intensificou em
outubro e provocou a queda do secretário da Segurança Pública Antonio
Ferreira Pinto, em 21 de novembro - e sua substituição por Fernando
Grella Vieira. "Acho que se demonstra claramente a existência de uma
política institucionalizada para matar. É impossível que se tenha tantas
pessoas dispostas a morrer em confrontos com a PM. É preciso checar no
que deu a investigação a respeito dessas mortes", diz o presidente do
Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Ivan Seixas.
Para o presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos
Advogados Brasil em São Paulo, Arles Gonçalves Júnior, o elevado número é
consequência da política de combate ao crime adotada por Ferreira
Pinto. "Enfrentamento do crime organizado tem de ser feito com
inteligência, não com violência. Senão dá nisso, porque põe ‘pilha’ em
quem está na rua."
Trata-se também do mês de novembro com maior letalidade policial desde
que é possível a consulta eletrônica no Diário Oficial do Estado (a
partir de 2003), com 79 mortos. Em comparação com o mesmo período de
2011, por exemplo, o aumento foi de 75,5%. É ainda o número mais elevado
para o acumulado dos 11 primeiros meses desde 2003.
Segundo o especialista em segurança pública Guaracy Mingardi, houve
descontrole. "Polícia sem controle, que pisa no acelerador, mata mais.
Foi isso o que Ferreira Pinto fez. Não é que ele incentivava (as
mortes), mas não controlava", afirma.
Mingardi diz que muitos policiais perderam o referencial durante a onda
de violência. "Aquele que estava largado, sem saber o que fazer, atirava
na sombra, por não saber de verdade como reagir ou o que estava
acontecendo de fato", diz. Segundo o especialista, a tendência é de
redução nesse número.
Média elevada. Coordenadora auxiliar do Núcleo de Cidadania e Direitos
Humanos da Defensoria Pública, Daniela Skromov observa que a média de
casos de resistência seguida de morte já é, normalmente, bastante
elevada, em comparação com os homicídios. "Já causa espanto, pois são em
torno de 10% a 15% das mortes violentas no Estado. Acima de 3% já
deveria despertar a preocupação das autoridades, segundo índices
internacionais."
Para Daniela, deveriam ser adotados métodos de controle. "Deve-se fazer a
filmagem obrigatória dessas ações. As imagens poderiam absolver ou
condenar o policial. Do que se tem medo?"
No Estadão
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