Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
“Estamos no universo orwelliano de “1984”. É quase impossível a
alguém andar sem ser monitorado por alguma câmera; vigiado, passo a passo, onde
quer esteja, pelos satélites; localizado quando usa o aparelho telefônico
celular, e assassinado por controle remoto. Todo esse sistema, que deixa
anacrônica a ficção, é dominado, em escala mundial, pelo grande irmão, o
governo norte-americano. O sistema financeiro, industrial e militar, que
manipula o poder, conta com as maiores empresas internacionais de comunicação
eletrônica, por ele controladas.
Contra o voto de pequena minoria, o Congresso dos Estados Unidos acaba de
renovar lei do Governo Bush, autorizando a escuta telefônica e o
monitoramento de comunicação eletrônica sem autorização judicial, incluindo
emails, de cidadãos estrangeiros de todo o mundo, por parte dos serviços
secretos norte-americanos - sobrepondo-se à soberania de todas as outras
nações.
Embora a desculpa seja a luta contra o terrorismo, não há como saber onde acaba
a preocupação com a “segurança nacional” dos Estados Unidos e começa a
espionagem comercial e tecnológica, ou a coleta de informações que sirvam
para pressionar ou chantagear “inimigos” dos EUA, como os ativistas da
democracia ou da transparência, como Julian Assange.
Todos nós, a começar pelos nossos líderes políticos, podemos ser
espionados pelos vários serviços norte-americanos, como a CIA e o NSA. Dentro
da paranóia ianque, qualquer estrangeiro, que não for seu vassalo e
assalariado, é inimigo potencial de seu país.
O monitoramento de “inimigos” dos EUA pelos seus serviços de informação não é
novidade. Ao longo do século XX, jornalistas, políticos, lideranças sindicais e
sociais de todos os continentes foram monitoradas, perseguidas, e, em
muitos casos, diretamente seqüestradas e assassinadas por agentes da CIA, ou
matadores por ela contratados – conforme vários livros de
ex-agentes, que deixaram suas atividades.
Essa legislação de exceção, aprovada logo após 11 de setembro, foi agora
incorporada às leis norte-americanas ordinárias. O que os Estados Unidos estão
dizendo ao mundo é que, ao aprovar essa lei, colocam sob a proteção de seu
poderio militar qualquer assassino a soldo de seus interesses que seja
identificado e detido, em qualquer lugar do mundo. É a velha prepotência,
denunciada pelos seus pensadores mais eminentes, como o Senador Fullbright –
que foi contra a guerra do Vietnã, e se opunha a toda ingerência de seu governo
nos assuntos internos de qualquer outra nação - em seu livro Arrogance of
Power:
“O Poder se confunde com a virtude e tende também a ver-se como onipotente. Uma
vez imbuído da idéia de missão, uma grande nação facilmente assume que ela
possui todos os meios para usá-los como um dever, no serviço de Deus”.
Israel finaliza la construcción del muro de seguridad
Foto: EPA
Israel terminó la construcción del muro de seguridad en la frontera con Egipto.
La ceremonia de finalización de las obras el miércoles contó con la presencia del primer ministro del país, Benjamín Netanyahu, y otros líderes.
El primer ministro dijo que en los últimos siete meses en la ciudad de Israel no ha penetrado ningún inmigrante ilegal.
Como informó el servicio de prensa de Netanyahu, la construcción ha durado solo dos años en vez de los cuatro años previstos. La longitud total de la construcción es de doscientos treinta kilómetros, y su coste de alrededor de cuatrocientos treinta millones de dólares.
La ministra de Servicios Penitenciarios de Venezuela, Iris Varela, anunció en su cuenta en Twitter la expulsión de un ciudadano francés identificado como Frederic Laurent Bouquet, el 29 de diciembre de 2012.
El señor Bouquet (en la foto) había sido arrestado en Caracas el 18 de junio de 2009 junto a 3 ciudadanos dominicanos y en posesión de un verdadero arsenal. En el apartamento comprado por Bouquet, la Policía Científica Venezolana encontró 500 gramos de explosivo plástico C4 (de uso militar), 14 fusiles de asalto - 5 de ellos dotados de miras telescópicas, 5 con sistemas de puntería laser y 1 con silenciador - así como cables especiales, 11 detonadores electrónicos, 19 721 cartuchos de diversos calibres, 3 metralletas, 4 pistolas de diferentes calibres, 11 equipos de comunicación por radio, 3 walkie-talkie y una base de radio, 5 fusiles de caza calibre 12, 2 chalecos blindados, 7 uniformes militares, 8 granadas, 1 máscara antigás, 1 cuchillo de combate y 9 recipientes de pólvora de cañón.
Al ser juzgado, Bouquet admitió haber recibido entrenamiento en Israel y ser un agente de los servicios secretos franceses (DGSE). Reconoció además que estaba preparando un atentado para asesinar al presidente constitucional de Venezuela, Hugo Chávez.
Al término del proceso, Bouquet fue condenado a 4 años de cárcel por «ocultamiento de armas de guerra». Al expirar su condena fue extraído de su celda, en cumplimiento de la orden N° 096-12 de la jueza Yulismar Jaime, y expulsado de Venezuela por «amenaza a la seguridad nacional», en virtud del artículo 39 acápite 4 de la Ley de Extranjería y Migración de Venezuela. *Nina
Montevidéu (Prensa Latina) –
O governo do presidente José Mujica limitou nesta quarta-feira (02), a
quantidade de afiliadas que podem ter as empresas privadas de televisão.
A Secretaria de Comunicação da Presidência criou o decreto que limita
a 25% o total de domicílios que uma empresa pode alcançar em todo o
país e a 35% em cada território.
“Sem afetar direitos adquiridos,
se entende necessário limitar a participação no mercado de operadores
de televisão para afiliadas, evitando a geração de monopólios e
oligopólios’, pontua. O decreto recorda que, no início, o mercado de
serviços de televisão para afiliados se constituiu com base no princípio
de territorialidade. Mas, atualmente, esse mercado está dominado por
operadores que, em sua maioria, prestam serviços em todo território
nacional e as empresas tem influído no desenvolvimento de produções
locais de televisão, acrescenta o texto. *PHA
Um ano perigoso
É bom não esperar muito dos próximos doze meses. Os dissídios
internacionais tendem a crescer e, se não houver o milagre do bom senso,
podem conduzir a novos conflitos armados regionais, com o perigo de que
se ampliem. Os chineses, que têm particular visão de mundo, podem
dissimular sua alma coletiva, mas no interior de seu excepcional
crescimento econômico e tecnológico, militam sentimentos de orgulhosa
desforra. Nenhum povo, ao que registra a História, foi tão espezinhado
pelos invasores armados quanto o chinês.
Durante milênios, senhores dentro de suas fronteiras, sentiam-se os
donos do mundo que conheciam, mesmo que vivessem em guerras internas e
se defendessem de vizinhos hostis.
O enriquecimento dos chineses e sua crescente presença internacional são
fatos novos, que podem ser o fator mais importante da História neste
século, que já entrou em sua segunda década. Eles estão se apropriando,
com perseverança e obstinação, das riquezas naturais do mundo, do
petróleo às terras raras (de que são grandes possuidores em seu próprio
subsolo). Ao mesmo tempo, desenvolvem tecnologia militar própria e
fortalecem seus exércitos.
É difícil pensar que, dispondo de tal poder econômico e militar, os
chineses não o utilizem na defesa de sua cultura e de seus interesses. E
também para cobrar o que lhes fizeram os colonizadores europeus durante
o século 18 – e os japoneses, no século 20, na Manchúria. Como eles se
lembram bem, contingentes do Exército Japonês, em fúria animal, mataram,
entre dezembro de 1937 a fevereiro de 1938, mais de 200 mil militares e
civis na cidade de Nanquim, estupraram as mulheres e meninas, antes de
matá-las, e dilaceraram os corpos dos meninos, entre eles os de
recém-nascidos.
O general Chiang-kai-Chek, que se tornaria anticomunista em seguida, não
ficou bem no episódio. Com a desculpa de que deveria preservar a elite
de seu exército, abandonou a cidade, entregando-a a recrutas mal
treinados e a voluntários civis, além da população, inocente e
desarmada. Foi essa gente, sem treinamento e debilitada, que os
japoneses venceram e trucidaram. Os chineses não esqueceram os mortos de
Nanquim, e os japoneses se esforçam em fazer de conta que não foi bem
assim.
O dissídio, aparentemente menor, entre Beijing e Tóquio, a propósito das
ilhas Senkaku (em japonês) ou Diaoyu (em chinês) pode ser o pretexto
para o acerto de contas de 1937. Nos últimos dias do ano, o Japão
decidiu enviar uma força naval para a defesa das ilhas, cuja soberania
diz manter – o que os chineses contestam. Os chineses advertiram que vão
contrapor-se à iniciativa bélica japonesa. As ilhas, sem importância
econômica, e desabitadas, eram milenarmente chinesas, e foram
incorporadas pelo Japão em 1895, depois da guerra sino-japonesa daquele
fim de século. São ilhotas diminutas, a menor com apenas 800 metros
quadrados (menor do que um lote urbano no Brasil) e a maior com pouco
mais de 4 km2.
Acossados por uma série de vicissitudes, os Estados Unidos começam o ano
combalidos pelo confronto político interno, a propósito do Orçamento.
Mas não perdem a sua velha arrogância imperial. Há mesmo quem veja, na
decisão japonesa de enviar navios de guerra ao diminuto arquipélago, uma
jogada do Pentágono, para antecipar, enquanto lhes parece mais
conveniente, o confronto com os chineses. Há um tratado de paz dos
Estados Unidos com o Japão que prevê a ajuda americana em caso de
conflito regional. É uma partida muito arriscada.
O presidente Obama também acaba de sancionar uma lei do Congresso
determinando que o governo norte-americano tome medidas para impedir a
penetração diplomática do Irã na América Latina, e, no bojo das
justificativas, a Tríplice Fronteira é mais uma vez citada, como área
que financia o Hesbolá. Como se não houvesse, ali e no resto do Brasil,
os que financiam o Estado de Israel. Devemos nos precaver.
Infelizmente, no Brasil, há sempre os vassalos de Washington, que
estimulam o intervencionismo ianque em nossas relações internacionais
(sobretudo com o Irã e a Palestina), entre eles alguns senadores da
República, como revelaram os despachos do Embaixador Sobel, divulgados
pelo WikiLeaks.
O anunciado conflito armado entre Israel e o Irã é também alimentado
pelo ódio da extrema direita judaica contra todos os que criticam Tel
Aviv. O Centro Simon Wiesenthal considerou o cartunista brasileiro
Carlos Latuff o terceiro maior inimigo de Israel no mundo. Os dois
primeiros são o líder espiritual da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, e
Ahmadinejad, o presidente do Irã.
O cineasta Sylvio Tendler, em mensagem de solidariedade a Latuff, lembra
que eminentes judeus, entre eles os jornalistas Ury Avnery, Amira Haas e
Gideon Levy, são mais críticos da posição de Israel contra os
palestinos do que o cartunista brasileiro.
É lamentável que o nome do caçador de nazistas Simon Wiesenthal, que
conheci e entrevistei, em Viena, há mais ou menos 40 anos, para este
mesmo Jornal do Brasil, seja usado para uma organização fanática e
radical, como essa. Wiesenthal, ele mesmo sobrevivente da estupidez
nazista, era um obstinado – e legítimo – caçador de criminosos de
guerra, que haviam cometido todo o tipo de atrocidades contra seu povo.
O governo direitista de Israel é de outra origem. Não podemos fazer de
conta que nada temos contra a ameaça a um cidadão brasileiro, Carlos
Latuff, cuja segurança pessoal deve ser, de agora em diante, de
responsabilidade do governo. Ou que não nos devamos preocupar com a lei
aprovada por Obama. Temos tido bom relacionamento com o governo do Irã,
e a política externa brasileira é decisão soberana de nosso povo.
Uma presença militar maior em Foz do Iguaçu e ao longo da fronteira
ocidental é necessária, a fim de dissuadir os agentes provocadores. As
guerras sempre foram vantajosas para os americanos, desde a invasão do
México, em 1846-48. É provável que seus estrategistas estejam
retornando à Doutrina Bush da guerra infinita.
Diante desse cenário mundial instável, e na perspectiva de uma campanha
sucessória agitada, temos que manter toda serenidade possível. A defesa
de posições políticas eventuais não deve comprometer a segurança nem a
soberania do povo brasileiro. A nação deve sobrepor-se a todos os
interesses, mais legítimos uns e menos legítimos outros, de grupos
econômicos e partidários.
Infelizmente, desde Calabar e Silvério dos Reis, não faltam os que desprezam o nosso povo e traem os interesses da Pátria.
Comunicado do Comitê Clandestino Revolucionário Indígena do EZLN
Ao povo do México
aos povos e governos do mundo.
Somos os mesmos de há 500 anos, de há 44 anos, de há 30 anos, de há 20 anos, de uns dias atrás
Irmãos e Irmãs,
Companheiros e Companheiras:
Dia 21/12/2012, na madrugada, dezenas de milhares de indígenas
zapatistas nos mobilizamos e tomamos, pacificamente e em silêncio cinco
sedes de município no estado de Chiapas, no sudeste do México.
Nas cidades de Palenque, Altamirano, Las Margaritas, Ocosingo e San
Cristóbal de Las Casas, vimos vocês e nos vimos, nós mesmos, em
silêncio.
Não é mensagem de resignação.
Não é mensagem de guerra, de morte e destruição.
Nossa mensagem é mensagem de luta e de resistência.
Depois do golpe de estado “midiático” que impôs, no centro do Executivo
federal, a reles ignorância mal dissimulada e ainda mais mal maquiada,
nos mostramos, presentes, para que fiquem eles sabendo que, se eles não
saem daqui, nós tampouco. Continuamos aqui.
Há seis anos, um segmento da classe política e intelectual resolveu
inventar um responsável pela derrota deles. Naquele tempo, estávamos,
nós, em cidades e comunidades, lutando por justiça para gente que,
naquele tempo, não estava em moda. Naquele momento, primeiro nos
caluniaram; em seguida tentaram nos calar.
Incapazes, desonestos, sem saber ver que carregam neles mesmos o
fermento da própria ruína, tentaram nos fazer sumir mediante a mentira e
o silêncio dos veículos de mídia, sempre cúmplices.
Seis anos depois, duas coisas já se veem, bem claras:
– eles não precisam de nós para fracassar. E nós não precisamos deles para sobreviver.
Nós jamais fugimos, por mais que os veículos de todo o espectro das
comunicações tenham tentado enganar vocês todos. E agora estamos
novamente nas ruas, como somos e jamais deixamos de ser: indígenas
zapatistas.
Durante esses anos nos fortalecemos e melhoramos consideravelmente
nossas condições de vida. Nosso padrão de vida é superior ao das
comunidades indígenas aliadas aos governos de plantão, que ganham
esmolas e as consomem em bebedeiras e para comprar coisas de que não
precisam.
Nossas casas melhoraram, sem ferir a natureza, sem impor-lhe caminhos que a natureza não conhece e dos quais não precisa.
Nos nossos pueblos, a terra, antes usada para engordar o gado de
ocupantes e proprietários, agora nos dá o milho, o feijão, os legumes
que iluminam nossas mesas.
Nosso trabalho é duplamente recompensado: nos dá o que é necessário para
viver com honra e decência e para contribuir para que nossas
comunidades cresçam também coletivamente.
Nossos meninos e meninas vão a uma escola que lhes ensina a verdadeira
história deles, de nossa terra e do mundo; além das ciências e técnicas
necessárias para que se nutram, cresçam e se sintam grandes, sem deixar
de ser indígenas.
As mulheres indígenas zapatistas não são vendidas como mercadorias.
Os indígenas aliados do partido PRI servem-se de nossos hospitais,
clínicas e laboratórios, porque nos do governo não há remédios, nem
aparelhos, nem médicos, nem pessoal qualificado.
Nossa cultura floresce, não isolada, mas enriquecida no contato com as culturas de outros povos do México e do mundo.
Governamos e nos governamos nós mesmos, buscando primeiro, sempre, o acordo, antes de qualquer confronto.
Tudo isso nós obtivemos, não apenas sem precisar do governo, dos
políticos governantes e das empresas e veículos de comunicação comercial
que sempre acompanham os governos, mas, também, resistindo a todos os
ataques deles, contra nós.
Demonstramos, mais uma vez, que somos quem somos.
Nos apresentamos, lá estivemos, nas ruas, com nosso silêncio.
Agora, com nossa palavra, anunciamos que:
Primeiro: Reafirmaremos que pertencemos ao Congresso Nacional
Indígena e reafirmaremos essa pertinência. O Congresso Nacional Indígena
é espaço de encontro dos povos originários de nosso país.
Segundo: Retomaremos o contato com nossos companheiros e
companheiras aderentes da Sexta Declaração da Selva Lacandona no México e
no mundo.
Terceiro: Trabalharemos para construir as pontes necessárias com
os movimentos sociais que surgiram e surgirão, não para dirigi-los ou
superá-los, mas para aprender deles, de sua história, de seus caminhos e
destinos.
Para isso, conseguimos o apoio de indivíduos e grupos em diferentes
partes do México, organizados como equipes de apoio das Comissões Sexta e
Internacional do EZLN, para que se convertam em correiras de
transmissão entre as bases zapatistas de apoio e os indivíduos, grupos e
coletivos aderentes à Sexta Declaração, no México e no mundo que ainda
mantêm sua convicção e o compromisso com construir uma alternativa não
institucional de esquerda.
Quarto: Nos manteremos distanciados – distanciamento crítico – da
classe política mexicana, a qual, em seu conjunto, nada obteve além de
inchar à custa das necessidades e das esperanças de gente simples e
humilde.
Quinto: Quanto aos maus governos federais, estaduais e
municipais, aos Executivos, Legislativos e Judiciários maus, e contra os
veículos e empresas de comunicação que sempre andam com eles, temos a
dizer que:
– os maus governos de todo o espectro político, absolutamente sem
exceção, fizeram o possível para nos destruir, para nos forçar à
rendição. Os partidos PRI, PAN, PRD, PVEM, PT, CC e o futuro partido de
RN, nos atacaram militarmente, politicamente, socialmente e
ideologicamente.
Os grandes veículos e empresas de comunicação tentaram por todos os
meios nos fazer desaparecer. Primeiro, usaram a calúnia servil e
oportunista; depois o silêncio vicioso e cúmplice. Aqueles de cujas
tetas de dinheiro as empresas da imprensa-empresa sempre mamaram e aos
quais sempre obedeceram servilmente já não mandam. E alguns que ainda se
elejam, sobre as ruínas dos que os antecederam, terão vida mais curta
que eles.
Como se viu bem claramente dia 21/12/2012, todos eles fracassaram.
Só falta, pois, que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário federais decidam se
(a) insistirão em sua política de contraguerrilha – que jamais, até
hoje, passou de simulacro patético, torpemente mantida artificialmente
viva pela repetição, nos meios de comunicação –, ou se
(b) reconhecem e cumprem seus compromissos, elevando ao plano de pleno
reconhecimento Constitucional os direitos e a cultura indígenas, nos
termos em que o ordenam os chamados “acordos de San Andrés”, firmados
pelo governo federal em 1996, chefiado então pelo mesmo partido que lá
está hoje.
Falta só o Governo Estadual decidir se
(a) insiste na estratégia desonesta e ruim de seu antecessor – o qual,
além de mentiroso e corrupto, roubou, para enriquecimento privado dele e
de seus cúmplices, dinheiros do povo de Chiapas, para comprar,
desavergonhadamente, vozes e penas nos veículos da imprensa-empresa,
enquanto faziam sumir o povo de Chiapas, mergulhado por eles na miséria.
Ao mesmo tempo, aquele governo estadual usava policiais e paramilitares
para tentar frear o avanço organizacional dos povos zapatistas; ou se,
em vez disso, com justiça e verdade,
(b) aceita e respeita nossa existência e decide ver que aqui, no
território zapatista, em Chiapas, México, floresce uma nova forma de
vida social. Esse florescimento – os governos locais vejam ou não vejam –
já atrai a atenção de pessoas honestas em todo o planeta.
Falta os governos municipais decidirem se continuarão, ou não, a deixar
que girem as rodas da extorsão com que as organizações antizapatistas ou
apresentadas como se fossem “zapatistas” assaltam as municipalidades
para, em seguida, atacarem nossas comunidades; ou só usam o dinheiro das
municipalidades para melhorar as condições de vida, só, dos próprios
governantes.
Falta ainda o povo mexicano, que se organiza em formas de lutas eleitorais e resiste, decidir se
(a) continua a acreditar que o inimigo seríamos nós; se continua a
descarregar sobre nós a frustração nacional pelas muitas fraudes e
agressões de que, de fato, todos os mexicanos somos vítimas; se continua
a aliar-se aos que nos perseguem; ou se
(b), afinal, se dispõe a reconhecer nos zapatistas de Chiapas outra forma de fazer política.
Sexto: Nos próximos dias, o EZLN, pelas suas Comissões Sexta e
Internacional, dará a conhecer várias iniciativas, de caráter civil e
pacífico, para seguir caminhando ao lado dos outros povos originários do
México e de todo o Continente, e ao lado, também, no México e no mundo
inteiro, de todos que resistem e lutam à esquerda e de baixo.
Irmãos e irmãs,
Companheiros e companheiras,
– já conhecemos, antes, a felicidade de receber atenção decente e
honesta de vários veículos de empresas da imprensa-empresa de
comunicações de massa. Quando aconteceu, nós registramos e agradecemos.
Mas é passado, e aquele momento foi completamente apagado pelo que
aconteceu depois, quando os veículos de empresas da imprensa-empresa
mobilizaram-se contra a verdade e contra nós.
Todos os que apostaram que não sobreviveríamos senão no mundo
“midiático” – e que, sob cerco feroz de mentiras e silêncios, nós
desaparecíamos – erraram.
Continuamos a existir – onde e quando não havia câmeras, microfones, comentaristas, olhos e ouvidos.
Continuamos a existir – onde e quando nos caluniaram.
Continuamos a existir – onde e quando nos roubaram nossa voz.
E aqui estamos, sempre existindo, sempre.
Nossa caminhada, como todos viram bem claramente, não depende de
“impacto midiático”. Nossa caminhada só depende de que o mundo e todas
as partes do mundo nos vejam e nos compreendam. Nossa caminhada só
depende da sabedoria indígena ancestral que guia nossos passos; e da
decisão inabalável, da qual brota a dignidade dos de abaixo à esquerda.
A partir de agora, nossa palavra selecionará cuidadosamente os
destinatários e, exceto em algumas poucas ocasiões, só será
compreensível para quem tenha caminhado e caminhe conosco, sem se render
a “modas midiáticas” e conjunturais.
Cá onde estamos, com não poucos erros e muitas dificuldades, já é outra realidade, outra forma de fazer política.
Poucos, bem poucos, viverão o privilégio de conhecê-la e de aprender dela, diretamente.
Há 19 anos, surpreendemos todos, ao tomar a fogo e sangue as suas
cidades. Agora, fizemos outra vez, sem armas, sem morte, sem destruição.
Assim, nos diferenciamos dos que, durante seus governos, repartiram e
continuam a distribuir morte e mais morte entre seus governados.
Somos os mesmos de há 500 anos, de há 44 anos, de há 30 anos, de há 20 anos, de há poucos dias.
Somos os zapatistas, os menores, os que vivem, lutam e morrem no menor
rincão no México, os que não claudicam, os que não se vendem, os que não
se rendem.
Irmãos e irmãs, companheiros e companheiras, somos zapatistas.
Recebam nosso abraço.
¡democracia! ¡libertad! ¡justicia!
Das montanhas do Sudeste Mexicano,
Em nome do Comité Clandestino Revolucionario Indígena – Comandancia General del Ejército Zapatista de Liberación Nacional.