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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Charge foto e frase do dia








CAPOEIRA - The fight for freedom

OS 72 DA USP: DENÚNCIA DA PROMOTORA DIREITISTA É INEPTA

A promotora, que extravasa sua bílis contra os petistas no Twetter,
tem sede de sangue: diz que os 72 "são criminosos e pagarão por isto"
Até o vetusto  Estadão  admite (ver aqui) ser inepta a denúncia de uma promotora direitista (ver aqui) contra 72 estudantes, professores e funcionários que honraram as tradições da Universidade de São Paulo, reagindo à escalada autoritária do Governo Alckmin e à ocupação militar do campus. 

Tamanho era seu ódio ao preparar a peça acusatória, que a promotora Eliana Passarelli cometeu um erro primário: encaminhou o inquérito ao Foro Regional de Pinheiros, que não tem competência para processar e julgar crimes cuja pena seja de reclusão (vide aqui). Repassada ao Foro Criminal da Barra Funda, tudo indica que a denúncia não será aceita.

Mas, a sucessão de aberrações jurídicas que marcou o Caso Battisti nos aconselha cautela: é fundamental que as forças democráticas se mantenham atentas e mobilizadas até que o perigo seja definitivamente afastado.

Neste sentido, reproduzo e apoio integralmente a nota da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores da USP, de repúdio a "esta verdadeira campanha inquisitória que faz reviver as práticas mais sombrias da ditadura militar". Eis os trecho principais:
"As acusações tentam atribuir aos estudantes e trabalhadores que lutavam contra a militarização da universidade a pecha de criminosos, sendo que os estudantes e trabalhadores seriam enquadrados por: danos ao patrimônio público; pichação; desobediência judicial; e formação de quadrilha por lutar contra o projeto privatista e elitista de universidade.
...Chamamos todas as entidades do movimento estudantil e sindical, intelectuais, parlamentares e todos aqueles que se colocam em defesa dos direitos humanos como a Comissão da Verdade da USP a tomar a frente desta campanha pela anulação desta absurda denuncia, pela revogação das suspensões, para não permitir qualquer tipo de punição aos estudantes e trabalhadores. 
Seguimos na luta pela reintegração dos 8 estudantes eliminados, pela reintegração imediata de Claudionor Brandão (diretor do Sintusp), a reintegração dos 270 funcionários aposentados, pela retirada de todos os processos contra estudantes e trabalhadores e pelo fim da perseguição política na USP que passa pelo fim do decreto de 1972, criado sob o regime militar e utilizado nos dias de hoje (pela reitoria) para fundamentar os processos e sindicâncias que ainda vigoram contra estudantes, funcionários e toda a Diretoria de nosso Sindicato".
*Naufragodautopia

FHC bêbado na Marquês de Sapucaí. Já pensou se fosse o Lula?


Já pensou se fosse o Lula? 

No domingo, dia 10, no desfile das escolas de samba do Carnaval carioca, o incauto repórter da Globo entrevista o ex-presidente FHC que diz em rede nacional, com voz um pouco trêmula e com vários “s”, que é “carioca e gosta de samba” para tristeza dos quatrocentões paulistanos. 










Reparem que um assessor retira um copo da mão do ex-presidente. Já pensou se fosse o Lula? 
*cutucandodeleve

Parabéns PT - Partido dos Trabalhadores 33 anos


 
 











O legado miserável de Thatcher e Reagan

http://youtu.be/Y4p6MvwpUeo 

No livro “Doutrina do Choque”, a escritora Naomi Klein mostra que os dois armaram uma bomba relógio.
Naomi Klein
Uma aula brilhante de mundo moderno. É uma maneira sintética de definir o livro A Doutrina do Choque, da escritora, jornalista e ativista canadense Naomi Klein, 44 anos.
Vou colocar, no pé deste artigo, um documentário baseado na obra, com legenda em português. Recomendo que seja visto, e compartilhado.
Naomi, como é aceito já consensualmente, identifica em Reagan e Thatcher, cada um num lado do Atlântico, um movimento que levaria a uma extraordinária concentração de renda no mundo.
Ambos representaram administrações de ricos, por ricos e para ricos. Os impostos para as grandes corporações e para os milionários foram sendo reduzidos de forma lenta, segura e gradual.
Desregulamentações irresponsáveis feitas por Reagan e Thatcher, e copiadas amplamente, permitiram a altos executivos manobras predatórias e absurdamente arriscadas com as quais eles, no curto prazo, levantaram bônus multimilionários.
O drama se viu no médio prazo. A crise financeira internacional de 2007, até hoje ardendo mundo afora, derivou exatamente da ganância irresponsável e afinal destruidora que as desregulamentações estimularam nas grandes empresas e nos altos executivos.
No epicentro da crise estavam financiamentos imobiliários sem qualquer critério decente nos Estados Unidos, expediente com o qual banqueiros levantaram bônus multimilionários antes de levar seus bancos à bancarrota com as previsíveis inadimplências. (Ruiria, com os bancos, também a ilusão de que o reaganismo e o thatcherismo fossem eficientes.)
Tudo isso, essencialmente, é aceito.
a8
Thatcher e Reagan
O engenho de Naomi Klein está em recuar alguns anos mais para estudar a origem da calamidade econômica que tomaria o mundo a partir de 2007.
O marco zero, diz ela, não foi nem Thatcher e nem Reagan. Foi o general Augusto Pinochet, que em 1973 deu, com o apoio decisivo dos Estados Unidos, um golpe militar e derrubou o governo democraticamente eleito de Salvador Allende no Chile.
Foi lá, no Chile de Pinochet, que pela primeira vez apareceria a expressão “doutrina de choque”. O autor não era um chileno, mas o economista americano Milton Friedman, professor da Universidade de Chicago.
Frieman dominou a economia chilena sob Pinochet
Um programa criado pelo governo americano dera, na década de 1960, muitas bolsas de estudo para estudantes chilenos estudarem em Chicago, sob Friedman, um arquiconservador cujas ideias beneficiam o que hoje se conhece como 1% e desfavorecem os demais 99%.
Dado o golpe, os estudantes chilenos de Friedman, os “Chicago Boys”, tomaram o comando da economia sob Pinochet e promoveram a “Doutrina do Choque” – reformas altamente nocivas aos trabalhadores, impostas pela violência extrema da ditadura militar.
Da “Doutrina do Choque” emergiria, no Chile, uma sociedade abjetamente iníqua que anteciparia, como nota Naomi Klein, o que se vê hoje no mundo contemporâneo.
O Brasil, de forma mais amena, antecipara o Chile: o golpe militar, também apoiado pelos Estados Unidos (e pelas grandes empresas de jornalismo, aliás), veio nove anos antes, em 1964. Tivemos nossos Chicago Boys, mas em menor quantidade, como Carlos Langoni, que foi presidente do Banco Central.
Com sua sinistra “Doutrina do Choque”, Friedman, morto em 2006, é o arquiteto do mundo iníquo tão questionado e tão merecidamente combatido em nossos dias.
Um dos méritos de Naomi Klein é deixar isso claro – além de lembrar a todos que situações de grande desigualdade são insustentáveis a longo prazo, como a guilhotina provou na França dos anos 1790. 
*comtextolivre

ESPANHA PARECE QUERER QUE BRASIL PRESTE VASSALAGEM AO SEU REI EM MOEDAS COMEMORATIVAS DA COPA DE 2014


 

 
A insistência da Espanha de associar sua imagem à do Brasil em condições neocoloniais não tem limites. Quebrado, com cerca de 30 bilhões de euros em reservas internacionais, contra quase 400 bilhões de dólares das nossas, e uma dívida total e per capita astronômica, o Reino da Espanha anunciou que está cunhando 14.000 moedas de ouro e de prata de cem e de dez euros, com a menção á Copa do Mundo do Brasil e à conquista da Copa da África do Sul pela Espanha.
Nas moedas de ouro e prata, onde se lê "2012 - Rei Juan Carlos I de España - Copa del Mundo de la Fifa - Brasil 2014" de um lado aparecem, na moeda de prata, o mapa do Brasil e os territórios da África do Sul e da Espanha, assinalado por uma enorme bandeira espanhola, e uma ligação entre a África do Sul e o Brasil, sugerindo a transferência das sedes (e a transposição da vitória da Espanha) de 2010 para 2014, e, na de ouro, o mapa e uma bandeira estilizada do Brasil,tendo, a duas, na outra face, a efígie do Rei Juan Carlos da Espanha.
Como perguntar não ofende, cabe que as autoridades brasileiras responsáveis pela Copa do Mundo, começando pelo Ministério dos Esportes, esclareçam quem deu licença de colocar símbolos de nossa bandeira e a menção à Copa do Mundo do Brasil, 2014, em uma moeda que carrega o perfil do Rei Juan Carlos, cunhada pela “Real Casa da Moeda da Espanha”.
Se o caso é de uma homenagem, ou associação, meramente esportiva, entre uma coisa e outra, cabe colocar nessa moeda apenas a marca da FIFA, e a menção ás Copas de 2010 e 2014. Se a intenção, que está clara, é comemorar a vitória espanhola na Copa da áfrica do Sul, que a Espanha se limite a abordar, em suas moedas, a Copa de 2010. Se entrar a cara do Rei, como a dos antigos césares que afirmavam a sua autoridade sobre os territórios que controlavam com a circulação de moedas com a sua efígie, a questão torna-se política, e é preciso saber se esse absurdo é fruto da irresponsabilidade de alguém que autorizou a cunhagem dessa moeda, no Brasil, ou arrogante provocação, no caso da decisão ter se originado na Espanha, sem autorização brasileira.
País escolhido para a realização do evento é prerrogativa do Brasil ou, quando muito, da FIFA, cunhar moedas relativas à Copa do Mundo de 2014. Não somos vassalos do Rei Juan Carlos e a memória de “nossa” Copa não pode estar associada (e eternizada em ouro e prata) a uma monarquia ridícula, envolvida com nepotismo, corrupção, e, em pleno século XXI, com a caça de elefantes.
*GilsonSampaio
Fora Alckmin! Fora tucanos.
AS LIGAÇÕES OBSCURAS DE ALCKMIN E O “OPUS DEI”

EXTREMA-DIREITA “OPUS DEI” QUER ALCKMIN PRESIDENTE, ESTÁ INFILTRADA NA MÍDIA E NA AMÉRICA LATINA

“A ‘Opus Dei’ atua, também, no monopólio da imprensa. Controla o jornal ‘El Observador’, de Montevidéu, e exerce influência sobre órgãos tradicionais da oligarquia como ‘El Mercurio’, no Chile, ‘La Nación’, na Argentina e ‘O Estado de S. Paulo’, no Brasil.

Por Henrique Júdice Magalhães
21 de novembro de 2012

O elo com a imprensa é o curso de pós-graduação em jornalismo daUniversidade de Navarra em São Paulo, coordenado por Carlos Alberto di Franco, numerário e comentarista do “Estadão” e da “Rádio Eldorado”.

O segundo homem da ‘Opus Dei’ na imprensa brasileira é o também numerário Guilherme Doring Cunha Pereira, herdeiro do principal grupo de comunicação do Paraná (“Gazeta do Povo”).

Os jornalistas Alberto Dines e Mário Augusto Jakobskind denunciam que a organização controla também a “Sociedade Interamericana de Imprensa” (SIP).

Analisando a estrutura de classes dos países latino-americanos, Darcy Ribeiro identificava como segmento hegemônico dentro das classes dominantes o corpo de gerência das transnacionais. Ponta de lança do imperialismo, é ele quem dita ordens e impõe ideologias às demais facções e, em muitos casos, organiza-as politicamente. A desnacionalização das economias latino-americanas na década de 90 agravou esse quadro. A alteração de mais relevo no perfil da classe dominante verificada no bojo desse processo é o crescimento da influência da Opus Dei. 

SUSTENTADA PELO CAPITAL ESPANHOL, A ORGANIZAÇÃO CONTROLA JORNAIS, UNIVERSIDADES, TRIBUNAIS E ENTIDADES DE CLASSE, SENDO HOJE PEÇA CHAVE PARA SE COMPREENDER O PROCESSO POLÍTICO NO CONTINENTE, INCLUSIVE NO BRASIL, ONDE QUER ELEGER GERALDO ALCKMIN [PSDB] PRESIDENTE DA REPÚBLICA.

MAS O QUE É AFINAL, A ‘OPUS DEI’ (EM LATIM, OBRA DE DEUS)?
Em seu campo original de atuação, é a vanguarda das tendências mais conservadoras da Igreja Católica. "Este concílio, minhas filhas, é o concílio do diabo" teria dito seu fundador, Josemaria Escrivá de Balaguer, sobre o Vaticano II, no relato do jornalista argentino Emilio J. Corbiere no seu livro “Opus Dei. El totalitarismo católico”.

Fundada na Espanha em 1928, a organização foi reconhecida pelo Vaticano em 1947. Em 1982, foi declarada uma prelatura pessoal, o que, sob o Direito canônico, significa que só presta contas ao papa e que seus membros não se submetem à jurisdição dos bispos. "A relação entre Karol Wojtyla e a Opus Dei", conta o teólogo espanhol Juan José Tamayo Acosta, "atinge seu êxito nos anos 80-90, com a irresistível ascensão da ‘Obra’ à cúpula do Vaticano, a partir de onde interveio ativamente, primeiro no esboço e depois na colocação em prática do processo de restauração da Igreja católica sob o protagonismo do papa e a orientação teológica do cardeal alemão Ratzinger."

Fontes ligadas à Igreja Católica atribuem o poder da ‘Obra’ à quitação da dívida do Banco Ambrosiano, fraudulentamente falido em 1982.

Obscurantismo e misoginia são traços que marcam a organização. Exemplos podem ser encontrados nas denúncias de ex-adeptos como Jean Lauand, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), que recentemente escreveu, junto com mais dois ex-membros, o juiz Márcio Fernandes e o médico Dário Fortes Ferreira, o livro “Opus Dei - os bastidores”. 

Em entrevista ao programa “Biblioteca Sonora”, da Rádio USP, Jean Lauand conta que a Obra tem um "Index" de livros proibidos que abrange, praticamente, toda a filosofia ocidental desde Descartes. 

Noutra entrevista, à revista “Época”, Jean Lauand denuncia as estratégias de fanatização dos chamados “numerários”, leigos celibatários que vivem em casas da organização: "Os homens podem dormir em colchões normais, as mulheres têm de dormir em tábuas. São proibidas de segurar crianças no colo e de ir a casamentos". É obrigatório o uso de cinturões com pontas de ferro fortemente atados à coxa, como prática de mortificação que visa a refrear o desejo". Mas os danos infligidos pelo fanatismo não se limitam ao corpo.

No site que mantém com outros dissidentes  (http://www.opuslivre.org/), Jean Lauand revela que a ‘Obra’ conta com médicos especialmente encarregados de receitar psicotrópicos a numerários em crise nervosa.

A captação de numerários dá-se entre estudantes de universidades e escolas secundárias de elite. Centros de estudos e obras de caridade servem de fachada. A “Opus Dei” tem forte presença na USP, em especial na Faculdade de Direito, onde parte do corpo docente é composta por membros e simpatizantes,como o numerário Inácio Poveda e o diretor Eduardo Marchi. Outro expoente da organização na USP é Luiz Eugênio Garcez Leite, professor da Faculdade de Medicina e autor de panfletos contra a educação mista. A ‘Obra’ atua, também, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade de Brasília (UnB).

FAZENDO A AMÉRICA
Mas a “Opus Dei” é mais que um tema de saúde pública. Ela tem, desde a origem, clara dimensão política. Durante a ditadura de Franco, praticamente fundiu-se ao Estado espanhol, ao qual forneceu ministros e dirigentes de empresas e órgãos governamentais. No fim da década de 40, inicia sua expansão rumo à América Latina. Não foi difícil conquistar adeptos entre oligarquias como as da Cidade do México, Buenos Aires e Lima, que sempre buscaram diferenciar-se de seus povos apegando-se a um conceito conservador de pretensa hispanidade. Um dos elementos definidores desse conceito é exatamente o integralismo católico.

Alberto Moncada, outro dissidente, conta em seu livro “La evolución del Opus Dei”: "os jesuítas decidiram que seu papel na América Latina não deveria continuar sendo a educação dos filhos da burguesia, e então apareceu para a ‘Opus Dei’ a ocasião de substituí-los - ocasião que não hesitou em aproveitar".

NO BRASIL, A ORGANIZAÇÃO DEITOU RAÍZES EM SÃO PAULO NO COMEÇO DA DÉCADA DE 50, CONCENTRANDO SUA ATUAÇÃO NO MEIO JURÍDICO. O PROMOTOR APOSENTADO E EX-DEPUTADO FEDERAL HÉLIO BICUDO CONTA QUE, POR DUAS VEZES, JUÍZES TENTARAM COOPTÁ-LO. SEU EXPOENTE DE MAIOR DESTAQUE FOI JOSÉ GERALDO RODRIGUES ALCKMIN, NOMEADO MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) POR MÉDICI EM 1972 E TIO DO ATUAL GOVERNADOR DE SÃO PAULO [GERALDO ALCKMIN]. ACONTECE QUE, NOS ANOS 70, O PODER DA “OPUS DEI” ERA EMBRIONÁRIO. TINHA QUADROS EM POSIÇÕES IMPORTANTES, MAS SEM ATUAÇÃO COORDENADA. ALÉM DISSO, DIVIDIA COM A “TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE” (TFP) AS SIMPATIAS DOS CATÓLICOS DE EXTREMA-DIREITA.

Era natural, da mesma forma, que, alguns quadros dos regimes nascidos dos golpes de Estado de 1966 e 1976, na Argentina, e 1973, no Uruguai, fossem também quadros da “Opus Dei”. Mas, segundo se lê no livro de Emilio J. Corbiere, sua atuação era ainda dispersa, o que não os impediu de controlar a educação na Argentina durante o período Onganí (1966-70).

Já no Chile, a “Opus Dei” foi para o pinochetismo o que havia sido para o franquismo na Espanha. O principal ideólogo do regime, Jaime Guzmá, era membro ativo da organização, assim como centenas de quadros civis e militares.

No México, a ‘Obra’ conseguiu fazer Miguel de la Madrid presidente da República em 1982, iniciando a reversão da rígida separação entre Estado e Igreja imposta por Benito Juárez entre 1857 e 1861.

INTERNACIONAL REACIONÁRIA
A “Opus Dei” não criou o reacionarismo católico, antes, teve nele sua base de cultura. Mas sistematizou-o doutrinariamente e organizou politicamente seus adeptos de uma forma quase militar. Hoje, funciona como uma espécie de Internacional Reacionária, congregando, coordenadamente, adeptos em todo o mundo.

Concorrem para isto, nos anos 90, o ápice do poder da ‘Obra’ no Vaticano e a invasão da América Latina por transnacionais espanholas.

A Argentina entregou suas estatais de telefonia, petróleo, aviação e energia à Telefónica, Repsol, Iberia e Endesa, respectivamente. A Telefónica controla o setor também no Peru e em São Paulo. A Iberia já havia engolido a LAN, do Chile, onde a geração de energia também é controlada pela Endesa. Bancos espanhóis também chegaram ao continente nesse processo. No Brasil, o Santander comprou o Banespa e o Meridional, enquanto que o BBVA recebeu os ativos do Excel através do PROER, no governo de Fernando Henrique Cardoso [PSDB].

"A ‘Opus Dei’ tem sido para o modelo neoliberal o que foram os dominicanos e franciscanos para as cruzadas e os jesuítas frente à Reforma de Lutero" compara José Steinsleger, colunista do diário mexicano “La Jornada”.

A organização atua também no monopólio da imprensa. Controla o jornal “El Observador”, de Montevidéu, e exerce influência sobre órgãos tradicionais da oligarquia como “El Mercurio”, no Chile, “La Nación”, na Argentina e “O Estado de S. Paulo”, no Brasil. O elo com a imprensa é o curso de pós-graduação em jornalismo da Universidade de Navarra em São Paulo, coordenado por Carlos Alberto di Franco, numerário e comentarista do “Estadão” e da “Rádio Eldorado”. O segundo homem da ‘Opus Dei’ na imprensa brasileira é o também numerário Guilherme Doring Cunha Pereira, herdeiro do principal grupo de comunicação do Paraná (“Gazeta do Povo”). Os jornalistas Alberto Dines e Mário Augusto Jakobskind denunciam que a organização controla também a “Sociedade Interamericana de Imprensa” (SIP).

Sediada na Espanha, a Universidade de Navarra é a jóia da coroa da “Opus Dei” no negócio do ensino. Sua receita anual é de 240 milhões de euros. Além disso, a ‘Obra’ controla as universidades “Austral” (Argentina), “Montevideo” (Uruguai), de “Piura” (Peru), de “Los Andes” (Chile), “Pan Americana” (México) e “Católica André Bello” (Venezuela).

Dentro da igreja católica, a “Opus Dei” emplacou, na última década, vários bispos e Cardeais na América Latina. O mais notável é Juan Luís Cipriani, de Lima, no Peru, amigo íntimo da ditadura de Alberto Fujimori. Em seu estudo “El totalitarismo católico em el Peru”, o jornalista Herbert Mujica denuncia que, quando o “Movimento Revolucionário Tupac Amaru” tomou a embaixada do Japão, em 1997, Juan Luís Cipriani, valendo-se da condição de mediador do conflito, instalou equipamentos de escuta que possibilitaram à polícia invadir a casa e matar os ocupantes.

Na Venezuela, a ‘Obra’ teve papel essencial no fracassado golpe de 2002 contra Hugo Chávez. Um dos articuladores da tentativa foi José Rodríguez Iturbe, nomeado ministro das Relações Exteriores. Também participou da articulação a embaixada da Espanha, governada na época pelo neo-franquista Partido Popular (PP).

Após os reveses na Venezuela, as esperanças da “Opus Dei” voltaram-se para Joaquím Laví, no Chile, e Geraldo Alckmin [PSDB], no Brasil, hoje seus quadros políticos de maior destaque. Joaquím Laví foi derrotado nas últimas eleições presidenciais chilenas em Dezembro. Resta o Brasil, onde a ‘Obra’ tentou fazer de Geraldo Alckmin presidente e formar um eixo geopolítico com os então presidentes Álvaro Uribe (Colômbia) e Vicente Fox (México), aos quais está intimamente associada.

ENTRANHAS MAFIOSAS
Além das dimensões religiosa e política, a “Opus Dei” tem uma terceira face: a de sociedade secreta de cunho mafioso. Em seus estatutos secretos, redigidos em 1950 e publicados em 1986 pelo jornal italiano “L´Expresso”, a ‘Obra’ determina que "os membros numerários e supernumerários saibam que devem observar sempre um prudente silêncio sobre os nomes dos outros associados e que não deverão revelar nunca a ninguém que eles próprios pertencem à Opus Dei."

Inimiga jurada da Maçonaria, ela copia sua estrutura fechada o que, frequentemente, serve para encobrir atos criminosos.

Entre os católicos, a “Opus Dei” é conhecida como "Santa Máfia". Emilio J. Corbiere lembra os casos de fraude e remessa ilegal de divisas nas empresas espanholas Matesa e Rumasa, em 1969, onde parte dos ativos desviados financiaram a Universidade de Navarra. Bancos espanhóis são suspeitos de lavagem de dinheiro do narcotráfico e da máfia russa. A “Opus Dei” também esteve envolvida nos episódios de falência fraudulenta dos bancos “Comercial” (Uruguai, pertencente à família Peirano, dona de “El Observador”) e de “Crédito Provincial” (Argentina).

Na Argentina, os responsáveis pelas desnacionalizações da petrolífera YPF e das Aerolineas Argentinas, compradas por empresas espanholas, em dois dos maiores escândalos de corrupção da história do país, tiveram sua impunidade assegurada pela Suprema Corte, onde pontificava António Boggiano, membro da “Opus Dei”.

No Brasil, as pretensões de controle sobre o Judiciário esbarram no poder dos Maçons.

A “OPUS DEI” CONTROLA, PORÉM, O TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ATRAVÉS DA MANIPULAÇÃO DE PROMOÇÕES. SEGUNDO FONTES DO MEIO JURÍDICO PAULISTA, DE 25 A 40% DOS JUÍZES DE PRIMEIRA INSTÂNCIA NO ESTADO PERTENCEM À ORGANIZAÇÃO - PROPORÇÃO QUE SE REPETE ENTRE OS PROMOTORES, NO TRIBUNAL, A PROPORÇÃO SOBE PARA 50 A 75%.

RECENTEMENTE, O TRIBUNAL, EM JULGAMENTO SECRETO, DECIDIU PELO ARQUIVAMENTO DE DENÚNCIA CONTRA SAULO CASTRO ABREU FILHO, BRAÇO DIREITO DE GERALDO ALCKMIN, ACUSADO DE ORGANIZAR GRUPOS DE EXTERMÍNIO DESDE A SECRETARIA DE SEGURANÇA, E CONTRA DOIS JUÍZES ACUSADOS DE PARTICIPAÇÃO NA MONTAGEM DESSES GRUPOS.

A fusão dos tribunais de Justiça e de Alçada, determinada pela Emenda Constitucional nº 45, foi uma medida da equipe do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para reduzir o poder da ‘Obra’ no judiciário paulista, cuja orientação excessivamente conservadora, principalmente em questões criminais e de família, é motivo de alarme entre profissionais da área jurídica.”

FONTE: escrito por Henrique Júdice Magalhães na “Rede Democrática”. Transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=199068&id_secao=6). [Título modificado e pequenos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].

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ALCKMIN E A CONSPIRAÇÃO DO OPUS DEI
Altamiro Borges 

O presidenciável Geraldo Alckmin se encaixa perfeitamente nos planos políticos e eleitorais do Opus Dei na América Latina. Desde a sua chegada ao continente, nos anos 50, esta seita planeja ardilosamente a sua ascensão ao poder. O projeto só ganhou ímpeto com a onda de golpes militares na região a partir dos anos 60. Seguidores do Opus Dei presidiram ou assessoraram vários ditadores. Nos anos 90, com a avalanche neoliberal no continente, os tecnocratas fiéis a esta seita voltaram a gozar de prestígio. Agora, o Opus Dei torce e trabalha na “surdina” pela eleição de Geraldo Alckmin no segundo turno da sucessão presidencial. 
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=362


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ALCKMIN E O FANATISMO DO OPUS DEI (2)
Altamiro Borges

O candidato Geraldo Alckmin realmente parece um “picolé de chuchu”, segundo a famosa ironia de José Simão. Mas de inocente ele não tem nada. Conhece bem a história nefasta do Opus Dei e os seus métodos autoritários, tecnocráticos e “discretos” de agir batem com esta doutrina. Numerário ele não é, já que não reside nos casarões da Obra de Deus, não fez voto de castidade e, tudo indica, não usa duas vezes ao dia o cilício nas coxas (cinturão com pontas de metal) e nem a “disciplina”, outro utensílio de autoflagelação utilizado para chicotear as costas. Mas Alckmin se encaixa perfeitamente no figurino do supernumerário, o seguidor da seita com “disfarce civil” e a missão divina de conquistar poder político para o Opus Dei.
http://www.contee.org.br/2turno06/m17.htm

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O GOVERNADOR E A OBRA
 
Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidência pelo PSDB, recebe formação cristã do Opus Dei em encontros noturnos no Palácio dos Bandeirantes
Época: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,,EPT1107598-1664,00.html

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OPUS DEI PROÍBE 79 LIVROS DE AUTORES PORTUGUESES

30 Jan 2013

José Saramago, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Lídia Jorge, Vergílio Ferreira são alguns dos escritores censurados na lista de livros da Opus Dei

A organização da Igreja Católica tem uma listagem de 33 573 livros proibidos, com diferentes níveis de gravidade, sendo que nos três níveis mais elevados encontram-se 79 obras de escritores portugueses, revela o Diário de Notícias. José Saramago e Eça de Queirós são os mais castigados pela “lista negra”.

Além de livros, também há uma lista de filmes. A censura da Opus Dei já tem várias críticas, colocando-se mesmo em causa a legalidade desta proibição.
http://www.ionline.pt/portugal/opus-dei-proibe-79-livros-autores-portugueses

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#ForaAlckmin#ForaTucanos
AS LIGAÇÕES OBSCURAS DE ALCKMIN E O “OPUS DEI”
EXTREMA-DIREITA “OPUS DEI” QUER ALCKMIN PRESIDENTE, ESTÁ INFILTRADA NA MÍDIA E NA AMÉRICA LATINA

“A ‘Opus Dei’ atua, também, no monopólio da imprensa. Controla o jornal ‘El Observador’, de Montevidéu, e exerce influência sobre órgãos tradicionais da oligarquia como ‘El Mercurio’, no Chile, ‘La Nación’, na Argentina e ‘O Estado de S. Paulo’, no Brasil.

Por Henrique Júdice Magalhães
21 de novembro de 2012

O elo com a imprensa é o curso de pós-graduação em jornalismo daUniversidade de Navarra em São Paulo, coordenado por Carlos Alberto di Franco, numerário e comentarista do “Estadão” e da “Rádio Eldorado”.

O segundo homem da ‘Opus Dei’ na imprensa brasileira é o também numerário Guilherme Doring Cunha Pereira, herdeiro do principal grupo de comunicação do Paraná (“Gazeta do Povo”).

Os jornalistas Alberto Dines e Mário Augusto Jakobskind denunciam que a organização controla também a “Sociedade Interamericana de Imprensa” (SIP).

Analisando a estrutura de classes dos países latino-americanos, Darcy Ribeiro identificava como segmento hegemônico dentro das classes dominantes o corpo de gerência das transnacionais. Ponta de lança do imperialismo, é ele quem dita ordens e impõe ideologias às demais facções e, em muitos casos, organiza-as politicamente. A desnacionalização das economias latino-americanas na década de 90 agravou esse quadro. A alteração de mais relevo no perfil da classe dominante verificada no bojo desse processo é o crescimento da influência da Opus Dei.

SUSTENTADA PELO CAPITAL ESPANHOL, A ORGANIZAÇÃO CONTROLA JORNAIS, UNIVERSIDADES, TRIBUNAIS E ENTIDADES DE CLASSE, SENDO HOJE PEÇA CHAVE PARA SE COMPREENDER O PROCESSO POLÍTICO NO CONTINENTE, INCLUSIVE NO BRASIL, ONDE QUER ELEGER GERALDO ALCKMIN [PSDB] PRESIDENTE DA REPÚBLICA.

MAS O QUE É AFINAL, A ‘OPUS DEI’ (EM LATIM, OBRA DE DEUS)?
Em seu campo original de atuação, é a vanguarda das tendências mais conservadoras da Igreja Católica. "Este concílio, minhas filhas, é o concílio do diabo" teria dito seu fundador, Josemaria Escrivá de Balaguer, sobre o Vaticano II, no relato do jornalista argentino Emilio J. Corbiere no seu livro “Opus Dei. El totalitarismo católico”.

Fundada na Espanha em 1928, a organização foi reconhecida pelo Vaticano em 1947. Em 1982, foi declarada uma prelatura pessoal, o que, sob o Direito canônico, significa que só presta contas ao papa e que seus membros não se submetem à jurisdição dos bispos. "A relação entre Karol Wojtyla e a Opus Dei", conta o teólogo espanhol Juan José Tamayo Acosta, "atinge seu êxito nos anos 80-90, com a irresistível ascensão da ‘Obra’ à cúpula do Vaticano, a partir de onde interveio ativamente, primeiro no esboço e depois na colocação em prática do processo de restauração da Igreja católica sob o protagonismo do papa e a orientação teológica do cardeal alemão Ratzinger."

Fontes ligadas à Igreja Católica atribuem o poder da ‘Obra’ à quitação da dívida do Banco Ambrosiano, fraudulentamente falido em 1982.

Obscurantismo e misoginia são traços que marcam a organização. Exemplos podem ser encontrados nas denúncias de ex-adeptos como Jean Lauand, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), que recentemente escreveu, junto com mais dois ex-membros, o juiz Márcio Fernandes e o médico Dário Fortes Ferreira, o livro “Opus Dei - os bastidores”.

Em entrevista ao programa “Biblioteca Sonora”, da Rádio USP, Jean Lauand conta que a Obra tem um "Index" de livros proibidos que abrange, praticamente, toda a filosofia ocidental desde Descartes.

Noutra entrevista, à revista “Época”, Jean Lauand denuncia as estratégias de fanatização dos chamados “numerários”, leigos celibatários que vivem em casas da organização: "Os homens podem dormir em colchões normais, as mulheres têm de dormir em tábuas. São proibidas de segurar crianças no colo e de ir a casamentos". É obrigatório o uso de cinturões com pontas de ferro fortemente atados à coxa, como prática de mortificação que visa a refrear o desejo". Mas os danos infligidos pelo fanatismo não se limitam ao corpo.

No site que mantém com outros dissidentes (http://www.opuslivre.org/), Jean Lauand revela que a ‘Obra’ conta com médicos especialmente encarregados de receitar psicotrópicos a numerários em crise nervosa.

A captação de numerários dá-se entre estudantes de universidades e escolas secundárias de elite. Centros de estudos e obras de caridade servem de fachada. A “Opus Dei” tem forte presença na USP, em especial na Faculdade de Direito, onde parte do corpo docente é composta por membros e simpatizantes,como o numerário Inácio Poveda e o diretor Eduardo Marchi. Outro expoente da organização na USP é Luiz Eugênio Garcez Leite, professor da Faculdade de Medicina e autor de panfletos contra a educação mista. A ‘Obra’ atua, também, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade de Brasília (UnB).

FAZENDO A AMÉRICA
Mas a “Opus Dei” é mais que um tema de saúde pública. Ela tem, desde a origem, clara dimensão política. Durante a ditadura de Franco, praticamente fundiu-se ao Estado espanhol, ao qual forneceu ministros e dirigentes de empresas e órgãos governamentais. No fim da década de 40, inicia sua expansão rumo à América Latina. Não foi difícil conquistar adeptos entre oligarquias como as da Cidade do México, Buenos Aires e Lima, que sempre buscaram diferenciar-se de seus povos apegando-se a um conceito conservador de pretensa hispanidade. Um dos elementos definidores desse conceito é exatamente o integralismo católico.

Alberto Moncada, outro dissidente, conta em seu livro “La evolución del Opus Dei”: "os jesuítas decidiram que seu papel na América Latina não deveria continuar sendo a educação dos filhos da burguesia, e então apareceu para a ‘Opus Dei’ a ocasião de substituí-los - ocasião que não hesitou em aproveitar".

NO BRASIL, A ORGANIZAÇÃO DEITOU RAÍZES EM SÃO PAULO NO COMEÇO DA DÉCADA DE 50, CONCENTRANDO SUA ATUAÇÃO NO MEIO JURÍDICO. O PROMOTOR APOSENTADO E EX-DEPUTADO FEDERAL HÉLIO BICUDO CONTA QUE, POR DUAS VEZES, JUÍZES TENTARAM COOPTÁ-LO. SEU EXPOENTE DE MAIOR DESTAQUE FOI JOSÉ GERALDO RODRIGUES ALCKMIN, NOMEADO MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) POR MÉDICI EM 1972 E TIO DO ATUAL GOVERNADOR DE SÃO PAULO [GERALDO ALCKMIN]. ACONTECE QUE, NOS ANOS 70, O PODER DA “OPUS DEI” ERA EMBRIONÁRIO. TINHA QUADROS EM POSIÇÕES IMPORTANTES, MAS SEM ATUAÇÃO COORDENADA. ALÉM DISSO, DIVIDIA COM A “TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE” (TFP) AS SIMPATIAS DOS CATÓLICOS DE EXTREMA-DIREITA.

Era natural, da mesma forma, que, alguns quadros dos regimes nascidos dos golpes de Estado de 1966 e 1976, na Argentina, e 1973, no Uruguai, fossem também quadros da “Opus Dei”. Mas, segundo se lê no livro de Emilio J. Corbiere, sua atuação era ainda dispersa, o que não os impediu de controlar a educação na Argentina durante o período Onganí (1966-70).

Já no Chile, a “Opus Dei” foi para o pinochetismo o que havia sido para o franquismo na Espanha. O principal ideólogo do regime, Jaime Guzmá, era membro ativo da organização, assim como centenas de quadros civis e militares.

No México, a ‘Obra’ conseguiu fazer Miguel de la Madrid presidente da República em 1982, iniciando a reversão da rígida separação entre Estado e Igreja imposta por Benito Juárez entre 1857 e 1861.

INTERNACIONAL REACIONÁRIA
A “Opus Dei” não criou o reacionarismo católico, antes, teve nele sua base de cultura. Mas sistematizou-o doutrinariamente e organizou politicamente seus adeptos de uma forma quase militar. Hoje, funciona como uma espécie de Internacional Reacionária, congregando, coordenadamente, adeptos em todo o mundo.

Concorrem para isto, nos anos 90, o ápice do poder da ‘Obra’ no Vaticano e a invasão da América Latina por transnacionais espanholas.

A Argentina entregou suas estatais de telefonia, petróleo, aviação e energia à Telefónica, Repsol, Iberia e Endesa, respectivamente. A Telefónica controla o setor também no Peru e em São Paulo. A Iberia já havia engolido a LAN, do Chile, onde a geração de energia também é controlada pela Endesa. Bancos espanhóis também chegaram ao continente nesse processo. No Brasil, o Santander comprou o Banespa e o Meridional, enquanto que o BBVA recebeu os ativos do Excel através do PROER, no governo de Fernando Henrique Cardoso [PSDB].

"A ‘Opus Dei’ tem sido para o modelo neoliberal o que foram os dominicanos e franciscanos para as cruzadas e os jesuítas frente à Reforma de Lutero" compara José Steinsleger, colunista do diário mexicano “La Jornada”.

A organização atua também no monopólio da imprensa. Controla o jornal “El Observador”, de Montevidéu, e exerce influência sobre órgãos tradicionais da oligarquia como “El Mercurio”, no Chile, “La Nación”, na Argentina e “O Estado de S. Paulo”, no Brasil. O elo com a imprensa é o curso de pós-graduação em jornalismo da Universidade de Navarra em São Paulo, coordenado por Carlos Alberto di Franco, numerário e comentarista do “Estadão” e da “Rádio Eldorado”. O segundo homem da ‘Opus Dei’ na imprensa brasileira é o também numerário Guilherme Doring Cunha Pereira, herdeiro do principal grupo de comunicação do Paraná (“Gazeta do Povo”). Os jornalistas Alberto Dines e Mário Augusto Jakobskind denunciam que a organização controla também a “Sociedade Interamericana de Imprensa” (SIP).

Sediada na Espanha, a Universidade de Navarra é a jóia da coroa da “Opus Dei” no negócio do ensino. Sua receita anual é de 240 milhões de euros. Além disso, a ‘Obra’ controla as universidades “Austral” (Argentina), “Montevideo” (Uruguai), de “Piura” (Peru), de “Los Andes” (Chile), “Pan Americana” (México) e “Católica André Bello” (Venezuela).

Dentro da igreja católica, a “Opus Dei” emplacou, na última década, vários bispos e Cardeais na América Latina. O mais notável é Juan Luís Cipriani, de Lima, no Peru, amigo íntimo da ditadura de Alberto Fujimori. Em seu estudo “El totalitarismo católico em el Peru”, o jornalista Herbert Mujica denuncia que, quando o “Movimento Revolucionário Tupac Amaru” tomou a embaixada do Japão, em 1997, Juan Luís Cipriani, valendo-se da condição de mediador do conflito, instalou equipamentos de escuta que possibilitaram à polícia invadir a casa e matar os ocupantes.

Na Venezuela, a ‘Obra’ teve papel essencial no fracassado golpe de 2002 contra Hugo Chávez. Um dos articuladores da tentativa foi José Rodríguez Iturbe, nomeado ministro das Relações Exteriores. Também participou da articulação a embaixada da Espanha, governada na época pelo neo-franquista Partido Popular (PP).

Após os reveses na Venezuela, as esperanças da “Opus Dei” voltaram-se para Joaquím Laví, no Chile, e Geraldo Alckmin [PSDB], no Brasil, hoje seus quadros políticos de maior destaque. Joaquím Laví foi derrotado nas últimas eleições presidenciais chilenas em Dezembro. Resta o Brasil, onde a ‘Obra’ tentou fazer de Geraldo Alckmin presidente e formar um eixo geopolítico com os então presidentes Álvaro Uribe (Colômbia) e Vicente Fox (México), aos quais está intimamente associada.

ENTRANHAS MAFIOSAS
Além das dimensões religiosa e política, a “Opus Dei” tem uma terceira face: a de sociedade secreta de cunho mafioso. Em seus estatutos secretos, redigidos em 1950 e publicados em 1986 pelo jornal italiano “L´Expresso”, a ‘Obra’ determina que "os membros numerários e supernumerários saibam que devem observar sempre um prudente silêncio sobre os nomes dos outros associados e que não deverão revelar nunca a ninguém que eles próprios pertencem à Opus Dei."

Inimiga jurada da Maçonaria, ela copia sua estrutura fechada o que, frequentemente, serve para encobrir atos criminosos.

Entre os católicos, a “Opus Dei” é conhecida como "Santa Máfia". Emilio J. Corbiere lembra os casos de fraude e remessa ilegal de divisas nas empresas espanholas Matesa e Rumasa, em 1969, onde parte dos ativos desviados financiaram a Universidade de Navarra. Bancos espanhóis são suspeitos de lavagem de dinheiro do narcotráfico e da máfia russa. A “Opus Dei” também esteve envolvida nos episódios de falência fraudulenta dos bancos “Comercial” (Uruguai, pertencente à família Peirano, dona de “El Observador”) e de “Crédito Provincial” (Argentina).

Na Argentina, os responsáveis pelas desnacionalizações da petrolífera YPF e das Aerolineas Argentinas, compradas por empresas espanholas, em dois dos maiores escândalos de corrupção da história do país, tiveram sua impunidade assegurada pela Suprema Corte, onde pontificava António Boggiano, membro da “Opus Dei”.

No Brasil, as pretensões de controle sobre o Judiciário esbarram no poder dos Maçons.

A “OPUS DEI” CONTROLA, PORÉM, O TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ATRAVÉS DA MANIPULAÇÃO DE PROMOÇÕES. SEGUNDO FONTES DO MEIO JURÍDICO PAULISTA, DE 25 A 40% DOS JUÍZES DE PRIMEIRA INSTÂNCIA NO ESTADO PERTENCEM À ORGANIZAÇÃO - PROPORÇÃO QUE SE REPETE ENTRE OS PROMOTORES, NO TRIBUNAL, A PROPORÇÃO SOBE PARA 50 A 75%.

RECENTEMENTE, O TRIBUNAL, EM JULGAMENTO SECRETO, DECIDIU PELO ARQUIVAMENTO DE DENÚNCIA CONTRA SAULO CASTRO ABREU FILHO, BRAÇO DIREITO DE GERALDO ALCKMIN, ACUSADO DE ORGANIZAR GRUPOS DE EXTERMÍNIO DESDE A SECRETARIA DE SEGURANÇA, E CONTRA DOIS JUÍZES ACUSADOS DE PARTICIPAÇÃO NA MONTAGEM DESSES GRUPOS.

A fusão dos tribunais de Justiça e de Alçada, determinada pela Emenda Constitucional nº 45, foi uma medida da equipe do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para reduzir o poder da ‘Obra’ no judiciário paulista, cuja orientação excessivamente conservadora, principalmente em questões criminais e de família, é motivo de alarme entre profissionais da área jurídica.”

FONTE: escrito por Henrique Júdice Magalhães na “Rede Democrática”. Transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=199068&id_secao=6). [Título modificado e pequenos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].

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ALCKMIN E A CONSPIRAÇÃO DO OPUS DEI
Altamiro Borges

O presidenciável Geraldo Alckmin se encaixa perfeitamente nos planos políticos e eleitorais do Opus Dei na América Latina. Desde a sua chegada ao continente, nos anos 50, esta seita planeja ardilosamente a sua ascensão ao poder. O projeto só ganhou ímpeto com a onda de golpes militares na região a partir dos anos 60. Seguidores do Opus Dei presidiram ou assessoraram vários ditadores. Nos anos 90, com a avalanche neoliberal no continente, os tecnocratas fiéis a esta seita voltaram a gozar de prestígio. Agora, o Opus Dei torce e trabalha na “surdina” pela eleição de Geraldo Alckmin no segundo turno da sucessão presidencial.
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=362


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ALCKMIN E O FANATISMO DO OPUS DEI (2)
Altamiro Borges

O candidato Geraldo Alckmin realmente parece um “picolé de chuchu”, segundo a famosa ironia de José Simão. Mas de inocente ele não tem nada. Conhece bem a história nefasta do Opus Dei e os seus métodos autoritários, tecnocráticos e “discretos” de agir batem com esta doutrina. Numerário ele não é, já que não reside nos casarões da Obra de Deus, não fez voto de castidade e, tudo indica, não usa duas vezes ao dia o cilício nas coxas (cinturão com pontas de metal) e nem a “disciplina”, outro utensílio de autoflagelação utilizado para chicotear as costas. Mas Alckmin se encaixa perfeitamente no figurino do supernumerário, o seguidor da seita com “disfarce civil” e a missão divina de conquistar poder político para o Opus Dei.
http://www.contee.org.br/2turno06/m17.htm

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O GOVERNADOR E A OBRA

Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidência pelo PSDB, recebe formação cristã do Opus Dei em encontros noturnos no Palácio dos Bandeirantes
Época: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,,EPT1107598-1664,00.html

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OPUS DEI PROÍBE 79 LIVROS DE AUTORES PORTUGUESES

30 Jan 2013

José Saramago, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Lídia Jorge, Vergílio Ferreira são alguns dos escritores censurados na lista de livros da Opus Dei

A organização da Igreja Católica tem uma listagem de 33 573 livros proibidos, com diferentes níveis de gravidade, sendo que nos três níveis mais elevados encontram-se 79 obras de escritores portugueses, revela o Diário de Notícias. José Saramago e Eça de Queirós são os mais castigados pela “lista negra”.

Além de livros, também há uma lista de filmes. A censura da Opus Dei já tem várias críticas, colocando-se mesmo em causa a legalidade desta proibição.
http://www.ionline.pt/portugal/opus-dei-proibe-79-livros-autores-portugueses

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#ForaAlckmin#ForaTucanos
*GilsonSampaio

Os problemas enfrentados por Bento 16 e a renúncia


Do Público

Ambiente de fim de pontificado e um Papa sem mão na Cúria (15/4/2012)

ANTÓNIO MARUJO

No Vaticano, em Novembro de 2010 AFP/ALBERTO PIZZOLI
Papa não controla a Cúria, cartas falam de corrupção e Bento XVI preocupa-se com eventuais cismas. No Vaticano, os últimos meses adensaram o ambiente de fim de pontificado. (Texto publicado na edição de 15 de Abril de 2012)
A Cúria Romana tornou-se um monstro ingovernável que o próprio Papa, de perfil sobretudo intelectual e académico, já não consegue controlar.
No Vaticano, nas vésperas do sétimo aniversário da eleição de Bento XVI, parece viver-se já um ambiente de final de pontificado, semelhante ao que caracterizou a última década de João Paulo II.
O diagnóstico é feito por responsáveis do Vaticano ouvidos pelo PÚBLICO e resulta de diferentes episódios dos últimos meses, onde não faltaram acusações de lutas pelo poder e a divulgação de cartas dirigidas ao Papa a denunciar corrupção. Também há quem relativize, dizendo que os casos apenas traduzem luzes e sombras de uma instituição plural, onde convive o melhor e o pior da natureza humana. O PÚBLICO escolheu nove casos recentes que traduzem este ambiente e falou com vários observadores no Vaticano.
A estrutura central do catolicismo parece colada com cuspo. Bento XVI, que em Fevereiro se tornou o sexto Papa mais velho dos últimos 700 anos, já não tem mão na Cúria. Ao mesmo tempo, tenta evitar a custo um cisma dos católicos germânicos.
E parece ter desistido de conseguir uma unidade apenas aparente com os tradicionalistas, que há 50 anos recusam o Concílio Vaticano II e o diálogo ecuménico e inter-religioso.
O alemão Joseph Ratzinger, eleito Papa a 19 de Abril de 2005, completa amanhã 85 anos de idade. Quinta-feira, assinala o sétimo aniversário da sua eleição. Mas parece que o Papa tem poucas razões para celebrar, tendo em conta os problemas dos últimos meses.
A viagem de Bento XVI ao México e a Cuba, há três semanas, foi um bálsamo a refrescar das más notícias de Fevereiro. "O acolhimento foi espectacular porque os latino-americanos têm uma grande religiosidade.
Mas isso aconteceu por ser o Papa e não por ser Bento XVI em particular", diz um responsável do Vaticano, profundo conhecedor do catolicismo da América Latina.
O cisma
Quinta-Feira Santa, dia em que os cristãos celebram a instituição da eucaristia na Última Ceia de Jesus, o Papa resolveu advertir contra um "apelo à desobediência" que ameaça cavar um cisma no catolicismo austríaco.

A Pfarrer-Initiative (Iniciativa dos Párocos) foi até agora subscrita por 400 dos cerca de dois mil padres do país (disponível, em português, em www.pfarrer-initiative.at/).
No texto, os padres afirmam sete pontos. Entre eles, garantem que irão rezar em todas as missas pela reforma da Igreja, que não recusarão a comunhão aos divorciados em segunda união e a cristãos de outras Igrejas e que não celebrarão mais que uma missa aos domingos para evitar "digressões litúrgicas". Afirmam ainda que recusam a proibição de os leigos falarem nas igrejas, dizem que cada paróquia deve ter um responsável, que pode ou não ser padre. E são a favor da ordenação de mulheres.
Esta não é a primeira manifestação crítica oriunda do mundo germânico.
Há um ano, centena e meia de teólogos de língua alemã (dos 400 que existem) defendia a reforma da Igreja e o fim do celibato obrigatório medida que o próprio Ratzinger advogara há décadas.
Já em 1989, a Declaração de Colónia juntara 200 teólogos na defesa da liberdade de investigação teológica.
Há 17 anos, na Áustria, surgia a Petição do Povo de Deus, depois alargada a vários países e assinada por milhões de católicos, onde se pediam também reformas na Igreja. Foi essa petição que deu origem a grupos como o Nós Somos Igreja.
Agora, o Papa sentiu que a ameaça pode ser séria. Na homilia, Bento XVI afirmou que "um grupo de sacerdotes publicou um apelo à desobediência, referindo ao mesmo tempo também exemplos concretos de como exprimir esta desobediência, que deveria ignorar até mesmo decisões definitivas do magistério, como, por exemplo, na questão relativa à ordenação das mulheres".
Ratzinger afirmava querer "dar crédito aos autores deste apelo, quando dizem que é a solicitude pela Igreja que os move, quando afirmam estar convencidos de que se deve enfrentar a lentidão das instituições com meios drásticos para abrir novos caminhos e colocar a Igreja à altura dos tempos de hoje". Mas perguntava: "Será um caminho a desobediência?" O movimento Nós Somos Igreja (NSI), que apoia os padres austríacos, reagiu, criticando que nunca o Vaticano ou os bispos tinham estado disponíveis para ouvir os católicos críticos: "Bento XVI, tal como o Papa Wojtyla, não quer definitivamente reflectir" sobre questões como o celibato ou a ordenação de mulheres e homens casados. E acrescentava que o arcebispo de Viena, cardeal Cristoph Schönborn, "parece ter tentado, mas não conseguiu levar o debate até Roma".
Talvez para compor a questão, no próprio Domingo de Páscoa o Papa destacou a importância das mulheres na vida de Jesus, já que foram mulheres quem primeiro anunciou a ressurreição. E afirmou: "Naquele tempo, em Israel, o testemunho das mulheres não podia ter valor oficial, jurídico, mas elas viveram uma experiência de ligação especial com o Senhor [e destacam-se] nas narrativas das aparições de Jesus ressuscitado, como de resto acontece nas da sua paixão e morte." As referências de Ratzinger parecem mostrar uma preocupação por aquilo que se passa na Áustria, diz um observador das questões católicas europeias. Schönborn, de acordo com o jornal católico Avvenire, terá convidado recentemente um católico homossexual e o seu companheiro para o debate. O convidado tinha sido eleito para um cargo importante.
Schönborn defendeu que era importante reflectir algumas questões e agir evangelicamente. Mas não conseguiu levar a sua voz ao Vaticano.
A fractura
Amanhã mesmo termina o prazo dado pelo Vaticano para uma resposta da Fraternidade Sacerdotal S. Pio X (FSSPX) a várias exigências da Santa Sé. O silêncio dos últimos dias parece indicar que os integristas estão muito divididos e podem não aceitar o que há muito contestam e está na origem da sua dissidência: a doutrina do Concílio Vaticano II, nomeadamente na ideia da liberdade religiosa e no diálogo ecuménico e inter-religioso.

O caso começou quando Bento XVI decidiu tentar uma aproximação aos integristas, dando-lhes a possibilidade de regressar à Igreja, mediante a criação de um estatuto especial. Como gesto de boa vontade, o Papa retirou a excomunhão sobre os quatros bispos sucessores de Marcel Lefebvre um dos quais, veio a saber-se, negava o Holocausto, o que motivou uma carta do Papa aos bispos do mundo inteiro a pedir desculpa pela falha de informação.
Em França, onde os lefebvrianos são numerosos, muitos responsáveis católicos ficaram preocupados.
Após reuniões e trocas de cartas, o Vaticano entregou ao superior da FSSPX um memorando com os princípios doutrinais para a aceitação dos dissidentes na Igreja. A resposta inicial da fraternidade foi considerada insuficiente "para ultrapassar os problemas doutrinais na base da fractura".
Por isso o Vaticano pediu nova resposta.
O silêncio dos últimos dias apenas foi quebrado por um lamento do superior da FSSPX , o bispo Bernard Fellay: "Ganhamos justamente hábitos de independência e não damos conta. Queremos fazer como queremos." Dizia o La Croix quinta-feira que a convicção, em Roma e em Êcone (sede da FSSPX, na Suíça), é que, se não houver acordo desta vez, ele não existirá nunca. Mas, acrescentava o jornal, se houver acordo, ele suscitará muitas incompreensões no catolicismo francês.
O cardeal
No centro de várias das polémicas recentes parece estar o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano e número dois da estrutura, um dos poucos que merecem a confiança pessoal do Papa. Depois de ter trabalhado com Ratzinger na Congregação para a Doutrina da Fé, a nomeação de Bertone para a Secretaria de Estado foi bem vista no início, por ser alguém oriundo de fora da diplomacia da Santa Sé.

Cedo a escolha se revelou fonte de problemas. Em casos como o discurso em que o Papa falou de Maomé ou na aproximação aos integristas, Bertone não soube prevenir os episódios, nem gerir as crises consequentes.
Agora, é acusado por vários dos seus pares de incapacidade de gestão, de viajar demasiado e de não saber tratar sequer com polidez os seus interlocutores. Ninguém põe em causa a sua honestidade, mas o modo de governar.
Corre mesmo à boca cheia no Vaticano que, no ano passado, por causa de uma questão relativa a um hospital católico de Milão, o então arcebispo da diocese, cardeal Dionigi Tettamanzi, terá dito ao Papa: "Santidade, peça ao seu secretário de Estado para pelo menos ser bemeducado com as pessoas." Bertone é ainda alvo de outra crítica: cada vez que havia nomeações de novos bispos ou responsáveis da Cúria, o jogo era o de adivinhar quantos não eram salesianos Bertone pertence a esta ordem religiosa. Mas a acusação pode não ser muita justa: em 2006, quando foi nomeado secretário de Estado, havia 107 bispos salesianos. Em Outubro de 2011, o número era de 122.
"O Papa só confia nele, mas já há vários cardeais a colocar a questão da sua continuidade", diz outro observador bem colocado. Em Janeiro, as reportagens do Gli Intoccabili, da televisão La Sette, onde foram divulgadas cartas comprometedoras dirigidas ao Papa e a Bertone, apresentavam cardeais de rosto escondido a criticar o secretário de Estado.
Numa entrevista, há três semanas, ao La Stampa, Bertone defendia-se com a "fidelidade ao Papa", que é a sua "estrela polar", dizendo que só depende de Bento XVI a sua continuação ou não no lugar. "Pessoalmente, não consigo explicar esta agressividade, uma vez que não mudei o meu carácter, no espírito de fraternidade que me caracteriza como salesiano, apesar dos meus defeitos", dizia, citado pela AFP. E sobre Viganò afirmava que "em nenhum organismo é possível garantir a honestidade de todos os funcionários".
A glória
Em causa ainda o modelo de comunicação entre os organismos da Cúria.

A 28 de Janeiro, o Papa reuniu todos os responsáveis dos dicastérios, mas alguns deles, como relatava o La Croix nessa altura, pensam que a frequência destas reuniões é demasiado rara. Com Bento XVI, isso acontecera, antes, em Novembro de 2010 e Junho de 2011. No encontro, Bertone pediu mais competência, colaboração mútua, confiança recíproca e reserva na informação.
O próprio Papa tentou alertar para vários perigos, em dois discursos, em Fevereiro. Falando aos seminaristas de Roma, avisou: "O poder da finança e dos meios de comunicação, ambos necessários e úteis, por vezes correm o risco de dominar o homem. (...) O mundo das finanças já não representa um instrumento para favorecer a vida do homem, mas torna-se um poder que o oprime." No discurso do consistório em que formalizou a nomeação de 22 novos cardeais, Ratzinger avisaria contra os "sonhos de glória" nos cargos de responsabilidade da Igreja.
A sucessão
O consistório pode ter marcado também um episódio mais na luta pelo poder. Ao nomear 22 novos cardeais, o Papa acentuou a componente europeia (67) e italiana (30) num futuro conclave. A América Latina, onde está quase metade dos católicos do mundo inteiro, tem apenas 22 cardeais, um quinto dos eleitores de um novo Papa.

Acentuou-se também o peso da Cúria Romana no Colégio Cardinalício.
Praticamente todos os responsáveis de organismos da Cúria foram designados cardeais. O jornal La Croix notava que a maior parte dos chefes dos dicastérios nomeados cardeais são próximos de Bertone.
A sucessão de Bento XVI não aparece ainda com muita premência, mas faz todo o sentido que comece a ser colocada. Na recente viagem ao México e a Cuba, o Vaticano divulgou fotos do Papa usando uma bengala.
Sabe-se em Roma que a constituição física de Ratzinger é frágil e que o Papa tem, desde há anos, uma situação cardíaca delicada.
Bento XVI pode ainda durar vários anos. Mas, pergunta um dos observadores ouvidos pelo PÚBLICO, pode um homem nestas condições e com esta idade levar avante o governo de uma instituição que congrega mais de mil milhões de pessoas? Mais ainda, sabendo-se que ele "não é um homem de governo".
Comentam-se alegadas pressões para que o próximo Papa seja um italiano. Ou que um homem interessado em fazer pontes como o cardeal Schönborn seja afastado da corrida.
O próximo conclave, que pode ainda estar distante, tem todos os ingredientes para não ser fácil.
As cartas
No início deste ano, a divulgação de várias cartas dirigidas ao Papa e ao secretário de Estado fez estalar a polémica. Autor dos documentos: o arcebispo Carlo Maria Viganò, que foi número dois do Governatorato do Estado do Vaticano (espécie de Ministério da Administração Interna) entre Julho de 2009 e Outubro de 2011. Actualmente, Viganò é o núncio (embaixador) da Santa Sé nos Estados Unidos. A mudança em tão pouco tempo não será alheia ao que ele denunciava: corrupção, favores e clientelas no interior do Vaticano.

"Quando aceitei [o lugar], nunca pensei encontrar-me perante uma situação tão desastrosa", escrevia ele, em Abril de 2011, numa carta ao Papa.
Nas missivas, o arcebispo citava exemplos de má gestão e dava a entender que Bertone teria pelo menos fechado os olhos a factos graves.
Entre os episódios, Viganò dizia que havia custos exorbitantes para alguns trabalhos, como os 550 mil euros para o presépio de 2009 na Praça de S. Pedro. No ano seguinte, o custo foi reduzido em 200 mil euros.
Ou as flores que ornamentam as cerimónias, cujo principal fornecedor, Marco Simeon, da cooperativa Il Cammino, seria amigo de Bertone.
Em 2009, o Governatorato tinha um prejuízo de quase oito milhões de euros. Em 2010, com Viganò, o organismo registou um superavit de 34.451 milhões de euros.
Viganò pagou as denúncias com o facto de não ser nomeado cardeal, no consistório de Fevereiro deste ano. O próprio Bertone teria prometido o lugar a Viganò, mas terá retrocedido depois. O núncio em Washington era, entretanto, atacado em vários artigos anónimos no Il Giornale. Numa das cartas ao Papa, o arcebispo dizia-se vítima de "conjura" e pedia um processo para averiguar se errara.
O banco
Esta "Operação Mãos Limpas" no Vaticano, como começou a ser designada, incluiu ainda intervenções no Instituto das Obras da Religião, o banco do Vaticano. Pela primeira vez na história, em Dezembro de 2010, o Papa criou uma Autoridade para a Informação Financeira, que tem como missão garantir mais transparência nas finanças e combater o crime económico, o que foi visto como uma forma de controlar melhor o IOR.

Dos Estados Unidos chegou outra má notícia: em Março, o relatório do Departamento de Estado sobre tráfico de droga no mundo colocava o Vaticano entre 68 Estados susceptíveis de serem atingidos de forma "preocupante" (o segundo de três níveis) pelo branqueamento de capitais a par de Portugal ou Polónia.
Notícia positiva, nesta área, tem sido o entendimento com o novo Governo italiano: pressionado pela crise do sistema financeiro, o primeiro-ministro, Mario Monti, quis acabar com algumas benesses que a Igreja tinha no sistema fiscal. As negociações têm decorrido de forma pacífica, com o Vaticano e a Conferência Episcopal Italiana a aceitarem que qualquer instituição religiosa com actividade comercial pague impostos. De fora ficarão escolas e colégios e edifícios destinados ao culto.
O delírio
Para ajudar à confusão, soube-se também no início de Fevereiro que o cardeal colombiano Castrillón Hoyos, ex-presidente da Congregação para o Clero e considerado um dos mais cardeais mais conservadores, entregara ao Papa uma nota reproduzindo alegadas inconfidências do arcebispo de Palermo, cardeal Paolo Romeo. Numa viagem à China, Romeo afirmara a um grupo de empresários italianos com quem se encontrara que o Papa estaria morto até final deste ano.

A nota dava a entender a existência de uma conspiração, mas não foi levada a sério por ninguém. O portavoz do Vaticano, sem desmentir a sua existência, referiu-se ao conteúdo como "delirante". Mas outro observador comenta: "Qualquer pessoa, ainda mais com 85 anos, pode morrer de um momento para o outro. Criar a ideia de um complot contra o Papa, de forças ocultas como a Máfia ou a Maçonaria, ajuda a criar um fenómeno de idolatria à sua volta." Segundo algumas notícias, o próprio Romeo apresentava-se como um dos dois interlocutores privilegiados do Papa o outro seria o actual arcebispo de Milão, Angelo Scola, que Bento XVI já teria escolhido como sucessor predilecto. Se a história é delirante, a sua existência revela que há, pelo menos, quem se entretenha bastante com estes jogos de poder.
Os abusos
A viagem de Bento XVI ao México e a Cuba foi um bálsamo, mas não ficou isenta de polémicas marginais.

No México, ela sucedeu porque o Papa não se encontrou com vítimas de abusos sexuais do clero. E se havia país onde isso era simbolicamente importante, esse país era o México.
Foi ali que nasceu o padre Marcial Maciel Degollado, fundador dos Legionários de Cristo, acusado de abusos sobre vários menores, além de se ter relacionado com pelo menos duas mulheres, de que resultaram três filhos.
Normalmente, é a conferência episcopal do país que pede e prepara os encontros do Papa com vítimas, justificou o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi. Mas os bispos mexicanos seriam favoráveis ao encontro e o próprio Lombardi defenderia a sua realização. Terão sido alguns responsáveis da Cúria a opor-se.
"Provavelmente, o Papa ou alguém por ele não quis tocar no vespeiro", comenta um observador. Quando era cardeal, Ratzinger insistiu para que o processo contra Maciel fosse adiante. Mas, na última fase do pontificado de João Paulo II, quando o Papa já estava muito doente e não controlava a Cúria, a investigação ficou quase parada.
Pelos 80 anos de Maciel, em Março de 2000, uma missa na basílica de S. Paulo Fora de Muros, em Roma, contava com a presença do então secretário de Estado do Vaticano, cardeal Angelo Sodano, e do secretário pessoal de Wojtyla, o agora cardeal Stanislaw Dziwisz que várias notícias publicadas em jornais italianos já identificaram como alguns dos apoios de Maciel no Vaticano. Foi já com Bento XVI como Papa que o fundador dos Legionários acabou suspenso das funções de padre e remetido a uma vida de oração e penitência, até morrer, em 2008.
A questão da pedofilia tem marcado decisivamente o pontificado de Bento XVI. Ratzinger, criticado por alegadamente não ter agido contra padres acusados de abusos, só no final do pontificado de João Paulo II passou a ter poder para o fazer. Desde que foi eleito Papa, quis limpar a casa, tomando uma série de medidas e, ao mesmo tempo, encontrando-se com pequenos grupos de vítimas em diferentes países.
De tal modo o Vaticano pôs em marcha medidas contra os padres pedófilos que há já quem considere que se está perante alguns exageros.
"A questão foi muito manipulada por alguma imprensa e muito mal administrada pelo Vaticano, que transformou 99% dos padres em delinquentes", diz um outro responsável. "O que se está a pôr em prática é o reino do terror, com processos rapidíssimos de dois meses, dando ouvido a denúncias anónimas." Uma das últimas iniciativas foi uma cimeira realizada em Fevereiro, precisamente para debater estratégias de combate à pedofilia. O Papa enviou uma mensagem aos participantes no encontro que juntou académicos, psicólogos, responsáveis católicos e outros especialistas, dizendo que os casos de abuso são uma "tragédia" para a Igreja e que a atenção às vítimas deve ser uma "preocupação prioritária". No final do encontro, foi anunciada a criação de um centro para a protecção da infância.
Em Março, uma comissão de inquérito do Vaticano saudou os esforços dos responsáveis da Igreja na Irlanda, particularmente atingida pelo caso. Mas notava que havia ainda "muitas feridas abertas" e que muitos padres se sentiam "injustamente desacreditados", por serem associados aos crimes de pedofilia.
*TadeuVezzi